terça-feira, abril 25, 2023

Lapelas

Os líderes do Chega e da IL não colocaram um cravo ao peito, na cerimónia do 25 de Abril. Há coincidências que só são surpresas para quem anda distraído. Apenas comemora a data quem se sente  próximo dos valores de Abril. Assim, fica tudo muito mais claro. Parabéns, Joaquim Miranda Sarmento.

Circo

As palhaçadas de Ventura e dos seus arruaceiros pode criar a falsa ideia de que tudo aquilo é uma mera comédia. É, mas não só. Há um país mal-disposto e desiludido que, se não tiver respostas credíveis para os seus reais problemas, pode acabar por ir por ali. Foi assim que nasceu o fascismo, lembrem-se.

... e chega!

O Chega, na liberdade que a democracia lhe concede, tem todo o direito de atuar fora do sistema. Não havendo, ao que parece, razões constitucionais para ilegalizar o partido, nada impede que o sistema, de que o Chega ostensivamente se considera fora, o marginalize por todos os meios legais.

Basta

O Presidente da República deveria tirar as necessárias consequências dos acontecimentos que hoje ocorreram no modo como, no futuro, virá a relacionar-se com o Chega. As forças políticas cujo comportamento põe em causa os interesses externos do Estado não podem ser tratadas da mesma forma que as outras.

"Um olhar fardado"

 

Ler aqui o artigo em "A Mensagem de Lisboa".

Viva!


Começar bem a agenda de trabalho, num dia chuvoso e cinzento, aqui na Polónia. Viva o 25 de Abril, sempre!

segunda-feira, abril 24, 2023

O meu 24 de abril


Saí de manhã de casa, em Santo António dos Cavaleiros, onde vivia, desde que casara, quatro meses antes. De carro, entrei na Escola Prática de Administração Militar, na Alameda das Linhas de Torres, em Lisboa. Às nove horas, iniciei a primeira aula de "Ação Psicológica", ao meus instruendos. Era aquela a minha tropa.

Pelo meio-dia, recolhi à biblioteca. Além de "oficial de Ação Psicológica" e coordenador do curso de formação de oficiais milicianos nessa especialidade, era também bibliotecário e diretor do jornal da unidade, "O Intendente".

O António Reis bateu à porta. O António, mais tarde um consagrado historiador e professor universitário, era o nosso contacto com os oficiais do quadro, na clandestina articulação que, desde há meses, íamos mantendo com o setor profissional militar.

Conhecíamo-nos desde 1969, ao tempo da articulação da oposição democrática para o ato eleitoral desse ano. Ele tinha tido um papel destacado, como candidato oposicionista por Santarém, eu trabalhara ativamente na Comissão Democrática Eleitoral de Vila Real. Nessas últimas semanas, encontrávamo-nos regularmente na "Seara Nova", a revista oposicionista que, à época, acolhia várias correntes políticas.

Para espanto de muitos e do próprio, António Reis havia sido escolhido, meses antes, para a especialidade de Ação Psicológica, que eu coordenava. A máquina das informações militares, na sua articulação com a PIDE (ninguém dizia DGS), tinha óbvias lacunas. Só há poucas semanas, o Exército mandara "reclassificá-lo", devendo regressar a Mafra, onde o esperava um destino como Atirador de Infantaria. Por esses dias, tentávamos atrasar os efeitos dessa transferência.

Notei que o António vinha com ar grave. Pediu-me para reunir o pequeno grupo de oficiais milicianos que estavam no segredo das movimentações. Minutos depois, informou-nos que o golpe militar, de que há semanas falávamos, estava previsto para essa noite.

Ficámos tensos, confrontados com o peso da informação recebida. Aos pedidos de detalhes que colocámos, no tocante ao âmbito da nossa ação, adiantou explicações vagas. Ele próprio não tinha muitos mais pormenores.

Ao final do dia, quando saí da unidade, não tive dúvida de partilhar a informação com o meu pai, que, vindo de Vila Real, estava de visita a Lisboa. Democrata dos sete-costados, alimentava, contudo, uma desconfiança persistente sobre a capacidade dos militares para derrubarem o regime que ele sempre detestara.

Jantei com os meus pais e com um tio. Foi uma ocasião estranha: se a operação militar que iria decorrer, horas depois, tivesse sucesso, o futuro desse meu tio - um imenso amigo de todos nós, a começar por mim - iria sofrer uma grande mudança. Ele era deputado, por Vila Real, à Assembleia Nacional...

À mesa, apenas eu, o meu pai e a minha mulher estávamos a par do que iria ocorrer, pelo que a conversa, para nós os três, não deixou de ter sempre isso como pano de fundo.

Acabado o jantar, deixei os meus pais na Feira das Indústrias, à Junqueira, onde havia uma exposição de antiguidades. À saída, ao deparar com o Rolls-Royce que transportara o presidente da República para a inauguração do evento, o meu pai disse à minha mãe uma frase enigmática, que ela lembraria até ao fim da vida: "Se uma coisa que o nosso filho me disse vier, de facto, a acontecer, amanhã o Américo Tomaz já não volta a entrar neste carro".

Nenhum de nós teve então a presciência de intuir que esse amanhã iria passar a ser conhecido como "o 25 de Abril".

domingo, abril 23, 2023

Segundo o "Financial Times"...


 

Lugar à mesa


O serviço do Protocolo de Estado está sedeado no Ministério dos Negócios Estrangeiros mas, na realidade, serve todas as grandes instituições do Estado, a começar pela Presidência da República.

Um dia, em 1987, trabalhava eu nos Assuntos Europeus, o secretário-geral do MNE chamou-me e pediu-me se eu não me importava de ir chefiar, por duas semanas, o serviço do Protocolo. Tinha havido um qualquer problema, envolvendo conjunturalmente a disponibilidade das chefias regulares, e era-me solicitado que tomasse conta do serviço nesse período. 

Nunca me considerei um especialista em protocolo, mas, como diplomata "generalista", sempre tive a pretensão de ser capaz de operar em qualquer área da atividade do ministério, sem exceção. E, movido também por alguma curiosidade, disse que sim à tarefa.

Mudei-me assim, por quinze dias, da Visconde Valmor para os dourados do "palácio velho" das Necessidades, última morada dos reis portugueses, até ao 5 de Outubro.

Tive o gosto de trabalhar, nesse tempo, num serviço pelo qual tenho o maior respeito e cuja ação, através de alguns profissionais altamente responsáveis que por lá têm passado, se tem revelado, ao longo dos anos, numa âncora essencial para o bom curso da vida das instituições nacionais, em especial das relações externas do país. 

O comum dos cidadãos está longe de saber o que o país deve, em termos de crises evitadas e de soluções discretamente encontradas para inesperados problemas, a essa estrutura que tem sabedoria para conseguir induzir bom-senso comportamental aos atores políticos, bem como racionalidade e modos civilizados à máquina governativa. Das posses a funerais de Estado, passando por visitas de dignitários estrangeiros ou pela organização de deslocações internacionais dos nossos governantes de topo, até à gestão da vida do corpo diplomático estrangeiro em Portugal, o Protocolo de Estado é responsável por uma multiplicidade de tarefas, algumas de elevada delicadeza. O protocolo é, um pouco, como os árbitros de futebol: só se fala dele quando falha.

Num dos primeiros dias dessas minhas episódicas funções, fui informado de que um velho embaixador, há muito reformado, figura com nome histórico nos anais da casa, pedia para ser recebido por mim. Anuí, de imediato, e fui buscá-lo à porta do gabinete que ocupava. 

Após alguns circunlóquios, o vetusto diplomata explicou a razão por que queria falar com a pessoa que estava a dirigir o Protocolo, na circunstância eu: tinha surgido, na véspera, na imprensa, a notícia de que, meses depois, se deslocaria a Lisboa, em visita de Estado, o presidente de um país onde esse embaixador tinha, em tempos, chefiado a nossa missão diplomática. E disse-me: "Eu imagino que o meu nome irá surgir na lista dos convidados do senhor Presidente da República para o banquete na Ajuda. Mas como já fui embaixador há muito tempo, achei que era melhor lembrar o meu nome, até para evitar algum lapso por parte do Protocolo". Não deixava de ter graça ele insinuar de que estava quase a fazer um favor ao Protocolo...

O costume protocolar é convidar, por vezes, para os banquetes de Estado, antigos embaixadores portugueses que tenham servido nas capitais dos países cujos chefes de Estado nos visitam, embora sem que tal seja um imperativo e uma regra absoluta. Disse ao embaixador que ele podia estar seguro de que eu deixaria uma nota para que o seu nome viesse a ser incluído na futura lista de convites. E cumpri o prometido. Se foi ou não convidado, isso já não sei.

Essa conversa acabou por ser uma bela lição pela negativa: achei a cena tão triste, tão pouco compatível com a dignidade de um servidor público daquele nível, que jurei a mim mesmo que, quando me aposentasse, jamais cairia na fragilidade de vir a "mendigar" para que não se esquecessem de mim, para recolher, enfarpelado, algumas vitualhas em cerimónias de Estado. 

Cumpri sempre isso escrupulosamente. Mas, naturalmente, quando as autoridades de turno do país me convocam para essas ocasiões, nunca cometo a indelicadeza de não estar presente. Como ainda ontem aconteceu. Mas, repito, sempre sem que antes me tenha feito lembrado.

sábado, abril 22, 2023

Lula cá

Lula teve razão quando disse, esta manhã, que houve membros permanentes do Conselho de Segurança que iniciaram guerras à revelia da ONU. E fez bem em citar os EUA no Iraque e a Rússia na Ucrânia. Mas enganou-se quando referiu a intervenção da França e do Reino Unido na Líbia. Essa ação teve aval da ONU e do seu Conselho de Segurança. É um facto indiscutível. Se bem conheço o tropismo de alguns comentadores, alguns vão agora partir para a análise do que ocorreu depois da intervenção. Só que - tenho muita pena! - essa não é a questão.

Prémio científico Mário Quartin Graça


Tive a honra de ser convidado pela Casa da América Latina para presidir ao júri do Prémio científico Mário Quartin Graça, apoiado pela consultora Cunha Vaz & Associados e que distingue anualmente "trabalhos de estudantes portugueses e latino-americanos que tenham, preferencialmente, concluído a dissertação" na área das Ciências Sociais e Humanas, "numa universidade ibérica, latino-americana, ou norte-americana". 

Mais informações sobre o prémio podem ser consultadas aqui: https://casamericalatina.pt/premios/premio-cientifico/.

Mário Quartin Graça morreu em 2014, com 74 anos, como na altura assinalei neste blogue.

Conheciamo-nos mal, mas apreciávamo-nos. Vivemos em circuitos diferentes, mas tínhamos amigos comuns que nos fizeram aproximar, em especial nos seus últimos anos de vida, em que trocámos diversa correspondência, onde emergiram interesses comuns, experiências partilhadas em tempos diversos. Em comentários neste blogue, deixou notas sempre agradáveis, atentas e interessantes.

Mário Quartin Graça era um homem do mundo da cultura, com passagens de muito mérito pelo espaço diplomático. Ler as suas memórias, "Páginas Amarelas", um livro que guardo com uma sua amável dedicatória, ajuda-nos a perceber melhor um homem que gostava muito da vida, das coisas e das pessoas, que teve o grande mérito de não se ter apenas passeado, indiferente ou lúdico, pelos lugares por onde andou e trabalhou. Estudou e interpretou, com argúcia não isenta da graça que lhe estava no nome, esses mundos que frequentou e que tão bem retratou. Comungávamos um interesse agudo pelo Brasil, eu invejava-lhe a experiência espanhola que profissionalmente me ficou a faltar.

Ser convidado a coordenar o júri do prémio criado com o seu nome será, além de uma agradável responsabilidade, um imenso gosto.

Ainda o Brasil e a Ucrânia


Aqui fica o que, há umas horas, eu disse na CNN Portugal sobre a iniciativa de Lula da Silva no caso ucraniano. Na imagem, fica claro que o presidente brasileiro não está a concordar com o que eu estou a dizer...

Ver e ouvir aqui.

sexta-feira, abril 21, 2023

21 de abril

Foi no dia 21 de abril de 1947, na igreja de São Martinho, nas Pedras Salgadas. Oficiou o padre Domingos, que recordou o evento, por ocasião do almoço que organizei, 50 anos depois. Era o dia do casamento dos meus pais.

O meu pai, originário de Viana do Castelo, funcionário da Caixa Geral de Depósitos, tinha sido transferido para Vila Real, um ano antes. Num baile do Clube de Vila Real, ter-se-á encantado com uma jovem solteira que ali conheceu, quase oito anos mais nova. 

Como as regras da época mandavam, foi ter com o meu avô, antigo magistrado e então conservador do Registo Predial na cidade. "Vamos até minha casa conversar", contava o meu pai ter-lhe sido dito pelo meu avô, durante esse encontro no café Excelsior. 

Beberam um cálice de "vinho fino". E falaram. Era voz corrente na família que, através de amigos de confiança, o meu avô terá depois "tirado informações" sobre quem era aquele pretendente à mão da filha, se era de "boas famílias", lá por Viana. E, isso constatado, deu o seu "nihil obstat" ao casamento. 

Os meus pais não foram felizes: foram imensamente felizes. Quem os conheceu sabe isso bem. Sem grande dinheiro mas sem problemas financeiros, levaram uma vida agradável, longa e, quase até ao fim, com saúde. Cuidaram em cultivar sempre ambas as famílias, onde o destino também quis - felicidade puxa felicidade - que nunca tivesse emergido o mais leve conflito de relação pessoal. Os meus pais gozaram bem a existência cómoda que tiveram, passearam bastante pelo mundo, fizeram muitos e bons amigos. O seu único filho teve a sorte de poder herdar, essencialmente, essa sua felicidade.

A cada dia 21 de abril, lembro-me desse momento fundacional da minha família, do qual, naturalmente, não fui testemunha presencial.

quinta-feira, abril 20, 2023

"A Arte da Guerra"


Esta semana, no podcast do "Jornal Económico", "A Arte da Guerra", converso com o jornalista António Freitas de Sousa sobre as polémicas declarações de Lula da Silva, as eleições presidenciais e legislativas na Turquia e, finalmente, o recrudescer da guerra civil no Sudão.

Pode ver e ouvir aqui.

quarta-feira, abril 19, 2023

João Serra


Acabo de saber que morreu o João Serra. Tinha 74 anos. 

Conheci-o há quase meio século, no Movimento de Esquerda Socialista (MES). Depois disso, fomo-nos encontrando aperiodicamente pela vida, muitas vezes em circunstâncias em que também estava envolvido Jorge Sampaio, de quem ele era grande amigo e que assessorou em Belém, chegando a seu chefe da Casa Civil. 

O João e eu coincidimos, por cerca de dois anos, na Fundação Cidade de Guimarães, na preparação de Guimarães - Capital Europeia da Cultura, de que ele foi presidente e eu conselheiro. 

João Bonifácio Serra era historiador e foi professor e investigador em diversas instituições de ensino superior, tendo obra publicada nesse domínio. Nos últimos anos, estava muito ligado às questões culturais da cidade de Leiria. 

Deixo um abraço de pesar à sua Família.

Partido Socialista



Faz hoje 50 anos o Partido Socialista. 

Criado na clandestinidade, em 1973, o Partido Socialista é, a meu ver, a formação política que, de forma mais determinante, ajudou a dar corpo e a consolidar o regime democrático português. Se apenas o sectarismo pode querer retirar ao Partido Comunista Português o papel central e admirável que teve na luta contra a ditadura, o Partido Socialista, que ficará representado na História de Portugal pela figura ímpar de Mário Soares, é, sem a menor dúvida, a força política estruturante do regime democrático, embora não devamos esquecer que o PSD, desde os tempos em que se chamou PPD, teve também, e faço votos para que possa continuar a ter, um papel importante na consagração do regime.

Não vou poder aceitar o simpático convite que recebi para estar presente na festa dos 50 anos do Partido Socialista. Porém, com a maior sinceridade, desejo o melhor para o futuro da força política portuguesa da qual continuo a sentir-me mais próximo.

segunda-feira, abril 17, 2023

Propriedades


O direito absoluto à propriedade privada deveria poder incluir o nosso próprio espaço aéreo...

Amigos, amigos...

A diplomacia portuguesa, na questão ucraniana, tem uma posição definida, da ONU à NATO, passando pela União Europeia. Não serão os argumentos do Brasil que a vão mudar. E posso imaginar que, em Brasília, se pense de forma simétrica. Amigos, amigos, Ucrânia à parte!

Fresquinhas!


Recebi novas análises, "fresquinhas", saídas do laboratório. Olho para os números com a ignorância atrevida do hipocondríaco que sou. As normais dão-me alibi para novas comezainas, as desviantes só apelam a mais medicação. Tudo exceto mudar de vida: caminhadas, dietas, privações.

Pessoa


Não conheci Joaquim Pessoa, um "rapaz" da minha idade que hoje partiu. Mas devo-lhe belas palavras.

Lula, a Ucrânia e o resto


Disse ontem na CNN Portugal o que penso sobre as consequências das tomadas de posição de Lula a propósito da guerra da Ucrânia e da China.

Pode ver aqui.

domingo, abril 16, 2023

Lula, o Brasil e nós

Nos últimos 200 anos, as relações entre Portugal e o Brasil atravessaram momentos muito complexos. Chegou mesmo a haver um corte de relações. Em tempos de dessintonia política entre os dois lados do Atlântico, foi sempre possível salvaguardar um módico de entendimento, mesmo no plano retórico, que conseguiu dar continuidade favorável ao património de relação histórica existente. Seria, assim, de uma imensa irresponsabilidade se, por virtude de uma questão circunstancial na ordem internacional, por muito importante que ela seja, pudessem vir a emergir efeitos, com consequências gravosos e duradouras, para o curso do entendimento bilateral. O Brasil não se esgota em Lula, como não se esgotou em Bolsonaro ou nos sinistros presidentes militares da sua ditadura, que, recordo, coexistiram com o Portugal de Abril, a partir de 1974. Portugal pode não gostar, pontualmente, de atitudes internacionais tomadas pelo Brasil , mas manda o bom senso - e o sentido de Estado - que saibamos viver com as nossas diferenças e, em especial, que assumamos a prevalência da importância histórica da relação luso-brasileira sobre tudo isso.

sábado, abril 15, 2023

Chegados à bóia..


... vira-se à direita.

¿

É minha impressão ou os hispanofalantes utilizam cada vez menos, na sua escrita, o ponto de interrogação invertido (¿), a iniciar as frases interrogativas? É um sinal que dá imenso jeito, porque antecipa o sentido da frase. É uma pena que, na língua portuguesa, o sinal nunca tenha vingado.

... e, com este sol,

 


... volto a ter mais uma assoalhada!

"A Arte da Guerra"


Esta semana, no "A Arte da Guerra", o "podcast" de temas internacionais do "Jornal Económico", converso com o jornalista António Freitas de Sousa, sobre o caso dos documentos secretos desviados do Pentágono e as polémicas de Macron, na sua visita à China, a continuação da crise política em Israel e os equilíbrios interpartidários em Espanha, no caminho para as eleições locais de maio.

Poder e ouvir aqui.

Outro assédio


- O embaixador vem? Ó diabo! Então temos carro, telhado ou contínuo!

Não percebi logo a observação irritada do governante português, que eu acompanhava, em resposta à indicação, dada pelo seu chefe de gabinete, de que o nosso embaixador naquela capital europeia, onde mudaríamos de avião, iria aparecer na sala VIP, durante a escala de cerca de duas horas que aí faríamos, vindos sei lá de onde, a caminho de Lisboa. Passava-se a cena nos anos 80.

O nosso avião estava prestes a aterrar, pelo que o governante das Necessidades, ao ver a perplexidade que a sua observação provocara em mim, explicou:

- É que os seus colegas diplomatas, sempre que me apanham de passagem por algum país, fazem de mim uma espécie de "muro das lamentações", trazendo-me os problemas que não conseguem resolver diretamente com os serviços, lá em Lisboa. Como se eu pudesse andar a despachar pelo caminho! Ou é o carro que está velho, ou é o contínuo que falta, ou é o orçamento para as obras no telhado! Começo a estar farto!

Nessa como em outras ocasiões, eu notara já que os governantes perdiam a paciência, com frequência, quando apanhados para questões de intendência, no decurso de uma viagem. Muitas vezes cansados, sem nenhumas respostas à mão, reagiam mal a terem de tomar conta do pedido ou chamar os membros dos gabinetes que os acompanham para apontar a questão. Embora, muitas vezes, verdade seja, os problemas com que os diplomatas se defrontam nos postos sejam bem reais.

Nos anos em que estive no governo, fui eu, algumas vezes, a vítima desse "assédio". Talvez por isso, aprendi: como embaixador, gabo-me de nunca ter incorrido nesse pecadilho, precisamente porque sabia bem "do que a casa gasta"...

Assim, nessa madrugada, à saída do avião, a cara com que o nosso governante olhou para o pobre do meu colega, que se havia tirado dos seus cuidados e dos seus lençóis àquela indigesta hora matutina, estava longe de ser a mais simpática. 

Seguimos para a "sala vip". Um boa meia-hora depois, vejo o embaixador debruçado sobre o ouvido do governante, que continuava com um ar de poucos amigos.

Regressados ao avião, não me contive:

- Desculpe a minha curiosidade, se calhar não devia estar a perguntar isto. Mas, afinal, o que queria este embaixador? Vi-os numa longa conversa...

O governante sorriu:

- Queria apenas outro posto. E nem pediu muito. Sempre é mais "barato" do que querer reforço do orçamento, mais pessoal ou um carro novo.

sexta-feira, abril 14, 2023

Itamaraty

Posso estar enganado - e gostaria de estar - mas tenho a sensação de que gestos recentes da diplomacia brasileira, nos factos e no tom, vão rapidamente entrar em conflito com a posição americana. O Brasil de Lula mostra coragem externa, mas pode vir a correr fortes riscos.

Lula na China

Não parece terem surgido informações concretas sobre o resultado das conversas entre os presidentes chinês e brasileiro quanto a uma eventual iniciativa de paz para a Ucrânia.

O que Luís Montenegro NÃO disse à CNN

"Sob a minha liderança, o PSD não fará nunca qualquer acordo com o Chega, do qual possa decorrer o seu apoio parlamentar a um governo por mim chefiado e, por maioria de razão, para a participação conjunta num qualquer executivo".

quinta-feira, abril 13, 2023

Lama

O nojento episódio ocorrido com o Dalai Lama vai ficar por ali ou haverá um movimento internacional para retirar consequências criminais para aquele indiscutível ato de pedofilia? E será que o Dalai Lama vai prosseguir os seus circuitos promocionais pelo mundo, como se aquilo se não tivesse passado? 

Caramba!

Um tribunal anulou extinção da Fundação José Berardo, porque o órgão administrativo do Governo que tomou a decisão não teria competência para tal.

Não haverá maneira de, por uma vez, alguém neste governo fazer as coisas que tem de fazer de uma forma inatacavelmente correta, sem correr o menor risco de estar a pisar ... o risco? Será assim tão difícil ser competente?  

quarta-feira, abril 12, 2023

Biden nas Irlandas


Fica aqui o que disse, esta noite, na CNN Portugal, sobre a visita que Joe Biden está a fazer à ilha da Irlanda.

Ulster

Por favor, senhoras e senhores jornalistas e comentadores, não usem Ulster como sinónimo de Irlanda do Norte! Não é. O Ulster é composto por nove condados, três dos quais estão fora da Irlanda do Norte e se situam na República da Irlanda.

Que diabo!

Às vezes, pergunto-me se é por inépcia ou por descaso que, na política nacional, se adubam os problemas. Depois da polémica em torno da possível presença de Lula na sessão do 25 de Abril, que necessidade havia de fazer coincidir a visita com esse mesmo dia? "Fishing for trouble"?

terça-feira, abril 11, 2023

"Vaut le détour"


Desde há vários anos que, praticamente, deixei de fazer as deslocações ao Norte pela perigosa e tensa A1. Viajo, em descanso e sem pressões, pela combinação da A8/A17. Para quem não saiba, informo que a quilometragem é exatamente a mesma. E, ali perto de Óbidos, quando vejo o desvio para Peniche e estou cerca da hora de jantar, lembro-me de ir ao "Tribeca". 

O que é o "Tribeca"? O "Tribeca" é um excelente restaurante situado em Serra d'El-Rei, a menos de meia dúzia de quilómetros da A8. Os guias Michelin utilizam a classificação de "Vaut le détour" para identificar locais que, podendo estar fora dos eixos principais, justificam o desvio para serem visitados. O "Tribeca" merece amplamente uma saída da auto-estrada.

Por que é que se chama assim? Quem conhece Nova Iorque saberá que Tribeca é uma zona no sul de Manhattan cheia de restaurantes e belas lojas. Tribeca significa "triangle below Canal Street". 

O "Tribeca" de Serra d'El-Rei é uma espécie de brasserie, com uma agradável decoração, uma carta magnífica e um serviço a condizer. Há horas, jantei lá muito bem, com quantos me acompanhavam a terem a mesma opinião. 

Há anos que sou cliente do "Tribeca" e, de todas as vezes que por lá fui, saí sempre satisfeito e nunca me arrependi do "détour". Confesso que não tenho na minha agenda muitos restaurantes dos quais possa dizer o mesmo.

Saiba aqui mais sobre o "Tribeca": https://www.tribeca-restaurante.com/index.html

segunda-feira, abril 10, 2023

Liberdades

A Avenida da Liberdade vai mudar o sentido do trânsito. É pena que o especialista que decidiu a medida no passado não faça uma auto-crítica ou, em alternativa, nos não explique, com os seus argumentos, a irracionalidade da nova decisão. O contraditório enriquece sempre.

Como é?

O Ministério da Agricultura contratou uma empresa privada para controlar os preços. Foi um aqui d'el rei! Mas então a doutrina liberal não é adepta de entregar tarefas especializadas, em "terceirização", à iniciativa privada?

O aero-riso

 


Ler coisas como esta cria uma imensa tristeza.

domingo, abril 09, 2023

Pelo ar

Se a comissão que está encarregada do "novo" aeroporto vier a pedir um prolongamento do prazo que lhe foi dado para análise das propostas ficará claro, em definitivo, que não haverá nunca um aeroporto. É com este tipo de procedimentos dilatórios que as coisas, por cá, nunca se fazem.

sábado, abril 08, 2023

"A Arte da Guerra"


Esta semana, no podcast "A Arte da Guerra", do Jornal Económico, converso com o jornalista António Freitas de Sousa sobre os tempos mais recentes na Rússia e na Ucrânia, as mudanças políticas o ingresso da Finlândia na NATO e, finalmente, as atribulações judiciárias de Trump, com as respetivas consequências políticas.

Pode ver aqui.

sexta-feira, abril 07, 2023

Zinha


Há uns tempos, falei por aqui do Vicente, um corvo (de que eu tinha algum medo, confesso agora) que, na minha infância, pousava pelo largo de S. Pedro, em frente às lojas do Borrão e do Taboada, junto à escola industrial e à Rosa das castanhas. Na Vila Real de então, o Vicente foi tão popular como o foram Bertelo e o Honório (desista de entender isto quem não for dessa cidade). A Zinha foi das poucas pessoas que, num comentário, aqui recordou comigo essa ave. 

A Zinha nasceu na mesma rua que eu, a Avelino Patena, chamada pelos antigos de rua da Travessa e que alguns vila-realenses menos atentos, que não ela, ainda hoje confundem com a rua das Pedrinhas. 

Eu era da idade de um irmão da Zinha, o Quim, que o tempo já levou. Mas já não de outro, mais velho, que sabia desenhador de mérito e que, na cidade, rivalizava, na arte da construção dos tapetes de flores, com o Lima do café Imperial. A família da Zinha, a família Claro, teve no passado um lugar bastante importante na história política e social de Vila Real, para quantos não saibam mas ficam agora a saber.

A nossa rua, a rua onde eu e a Zinha nascemos, trazidos ao mundo pelas mãos hábeis da dona Judite, que também era ali nossa vizinha, era, em si mesmo, um mundo! 

Ao alto, por debaixo da casa dos imensos Mota e Costa, havia a loja de fazendas do pai do Quim Rato, seguido da do senhor Olívio das bicicletas, cujo filho, com o mesmo nome, foi um dos meus grandes amigos de vida. Em frente, era o João Albardeiro, com os tiques que não são para aqui chamados, o seu inconfundível chapéu de abas e que era o organizador, sem falhas, por esta época, da "queima do Judas", rito que, por um tanto sinistro, nunca apreciei por aí além. Logo após, ficava o armazém do senhor Fernandes, com a casa da família ao lado, cheio de sacos de farinha e milho amontoados, por onde gostávamos de trepar e nos esconder. A barbearia do pai do Augusto (na rua, eu conhecia essencialmente os filhos das pessoas), que, ia jurar!, se situava ao lado da casa dos Claro, era quase em frente da tasca do senhor António (que será feito da filha Lucília?). Logo depois, vivia eu com os meus pais e os meus avós e, a seguir, era a casa de uma tal menina Adelaide, que me lembro de já não ser tão menina como isso, que punha fados na rádio muito alto e aguçava apetites aos meus tios solteiros. Na esquina, em frente à tipografia do senhor Agostinho, viviam o Vítor e o Carlos Almeida. Ali por perto, nas Pedrinhas, por cima do latoeiro, havia o dr. Lisboa com o filho Mário e, um pouco mais acima, depois do armazém do senhor Lito, habitava o imenso "rancho" dos Barreto, seguido da família Teixeiró. Saí com sete anos daquela rua, para ir viver com a minha família para outra, mas, como se pode observar, fui sempre passando por lá e dela fiquei com muitas memórias. 

Escrevi isto com a certeza de que a Zinha teria achado alguma graça a esta geografia afetiva dos nossos mútuos lugares da infância, mas com a antecipada tristeza de saber que ela acaba de desaparecer. Vai-se com a Zinha aquela alegria boa com que sempre nos cruzávamos na Gomes, o imenso e permanente sorriso com que nos dava as boas-vindas de regresso à cidade onde ambos nascemos e onde, no dia de hoje, eu estou de chegada e ela de partida definitiva.

Lula e Amorim

O presidente Lula, que vai a Pequim dentro de dias, diz esperar poder convencer Xi Ji Ping a que a China integre um grupo de países - com o Brasil, a Indonésia e a Índia - que tentariam uma paz negociada para a Ucrânia. 

Nas declarações que entretanto fez, o presidente brasileiro foi adiantando que a Crimeia poderá ter de ser cedida por Kiev à Rússia e que esta deve ponderar a possibilidade de renunciar à integração de território ucraniano que unilateralmente decidiu fazer.

Em diplomacia, está-se sempre a aprender e tenho forte esperança de que o presidente Lula, ao utilizar este método de trazer para a praça pública estas propostas, a montante de uma visita oficial a uma potência que sobre o assunto deve já ter algumas ideias bem assentes, saiba o que está a fazer e, no final, acabe por nos dar uma lição negocial, trazendo uma boa surpresa. 

Não esqueço, contudo, e espero que o Brasil também não tenha esquecido, a humilhação que a diplomacia brasileira sofreu em 2010, quando, com a Turquia, procurou imiscuir-se, com alguma ligeireza, na questão nuclear com o Irão e acabou a ser tirada de jogo, sem honra nem glória. Nessa altura, o Brasil deveria ter aprendido que é arriscado tentar "to punch above one's weight", isto é, que, às vezes, a areia é demasiada para a carroça que se tem.

Dito isto, que fique claro: se o Brasil viesse a conseguir desbloquear uma solução de paz para a Ucrânia, o mundo ficar-lhe-ia imensamente grato e a esplêndida diplomacia brasileira ficaria muito prestigiada. Mas se tal não acontecer, Lula talvez devesse colocar isso a débito dos conselhos da pessoa que já o conduziu ao erro de cálculo de 2010: Celso Amorim.

João Semana


Ontem, em Ovar, onde passei a buscar pão-de-ló para esta Páscoa, deparei-me com uma rua chamada "Dr. João Semana". É de imenso bom gosto um município ter decidido dar o nome de uma artéria da cidade a uma simpática figura de ficção criada pelo romancista Júlio Dinis, o qual, embora portuense, ficou fortemente ligado à terra. Deixo um imaginado retrato da personagem da autoria de Roque Gameiro.

quarta-feira, abril 05, 2023

Dignidade e falta dela

Que necessidade têm alguns deputados, em comissões parlamentares, durante as inquirições às pessoas convocadas, de assumirem um tom cáustico, intervalado com regulares esgares para a plateia? Por que razão não assumem um tom neutro e respeitoso? Por saberem que estão na TV?

Poirot em S. Bento

Há comissões parlamentares que parecem filmes do Poirot: uns entram como vilões e passam a vítimas, os bons afinal não eram tão bons assim e, vai-se a ver, o delito, afinal, tem vários progenitores. E é tudo na TV! É um fartote para o país do "eles são todos iguais!"

Aviso à navegação

Há alguns (muito poucos, felizmente) comentadores que, pelas razões há dias referidas, deixaram de poder opinar sobre o que aqui é publicado. É assim escusado tentarem fazê-lo de novo.

E agora, Manuela?




A minha amiga Manuela Júdice, uma mulher "dos sete instrumentos" que, entre montes de outras coisas que fez e faz (bem) na sua vida, organizou, magistralmente, por Portugal, a Temporada cultural cruzada Portugal-França 2022, foi ontem justamente condecorada pelo Estado francês, numa cerimónia que teve lugar na respetiva embaixada em Lisboa, ao final da tarde.

Tive o gosto de ser convidado, já há semanas, para essa cerimónia, por indicação da Manuela. E tive agora o desgosto de constatar que, inadvertidamente, faltei ao evento, porque, por uma qualquer razão, ele sumiu da minha agenda eletrónica. Estou mesmo a pensar regressar ao confiável Moleskine.

E agora, Manuela? Os meus sinceros parabéns e as minhas imensas desculpas. Sei que vais acabar por me perdoar...

(Aqui fica uma fotografia da Manuela Júdice que tirei no Alvor, em dia de céu chamuscado).

terça-feira, abril 04, 2023

Finlândia

A prova de que a Federação Russa persiste numa narrativa completamente desligada da realidade é o facto de não saber ler, fora dos clichés habituais, as razões da adesão da Finlândia à NATO e o que motivou a profunda mudança do paradigma estratégico daquele país.

Habitação

Haverá algum estudo académico - sério, independente e não tributário de agendas politiqueiras - que ajude a explicar o estado da arte da questão habitacional em Portugal em 2023, com ponderação serena das razões que conduziram às principais disfunções agora evidenciadas?

Congresso da Oposição Democrática - 1973

 


Dia 19 de abril, no Centro Cultural de Belém.



segunda-feira, abril 03, 2023

Hi ! Donald !

Tinha acabado de falar dele na televisão e logo Donald Trump me mandou este email. Como dizia alguém, não há coincidências, mas sei lá!



Mistério


Quando Tarja Hallonen, que conheci como uma excelente ministra dos Negócios Estrangeiros da Finlândia, foi a primeira mulher a ascender à chefia do Estado naquele país, não se falou tanto dela como agora se fala de Sanna Marin.

Na terra de Steinbroken

Sanna Marin sofreu a síndroma Gorbachev: afinal, gostam mais dela cá fora do que dentro da Finlândia.

Grande Estado!

Ah! Grande Estado! Ou te condenam porque tudo o que fazes é para esmagar o pobre do cidadão ou te batem à porta, por tudo e por nada, para que possas responder aos anseios mais ínfimos de cada um. Afinal, inimigo ou amigo, o Estado está sempre contigo.

Ó diabo!

O autor de um blogue russo foi ontem pelos ares. Isto da blogosfera começa a ser um terreno perigoso...

O nabal e a eira

 


Não há almoços grátis. Não é possível andarmos anos e anos a tentar atrair estrangeiros, acenando-lhes com as amenidades deste país à beira-praia hipotecado, apelando a que viessem para aqui largar os carcanhóis, encher os restaurantes que quisemos cada vez mais estrelados, esportular em roupas finas na Liberdade, enfrascando-os em quintas requintadas do Douro e ensoleirando-os em golfes regados com água cara no Allgarve do Pinho, sem, ao mesmo tempo, não lhes dar o direito de comprarem casas por aí, ou de os estimularmos ao uso do Alojamento Local, em face da penúria de hotéis na estação alta. Ou será que queremos voltar às ruas da amargura da Nazaré, ao ala-arriba do xaile e do chambres/zimmer/rooms? Face ao défice de capital caseiro, é bom ter gente de fora a estimular a nossa economia? Ah! Pois é, mas, para isso, convençam-se!, essa gente tem de andar por aí, a abarrotar o Chiado, a atulhar-nos as filas do SEF da Portela e as do Gomes da Comporta, com as suas reformas altas que inflam os nossos preços e compram, por uma tuta e meia, aquilo a que o portuga médio não consegue chegar. É escolher! Ou uma coisa ou outra! Só mais uma coisa, para que não restem dúvidas: reagir contra os da estranja tem um nome, chama-se xenofobia.

domingo, abril 02, 2023

O cozido do Chiringuito


Em Lisboa, aos domingos, há algumas casas que servem "cozido à portuguesa". Há excelentes, como é o caso do Nobre e do Faz Figura. E há um caso sério de qualidade e merecida popularidade, como é o cozido do Chiringuito, em Campo de Ourique.

Para o almoço dominical no Chiringuito, no pico do inverno, há que reservar com imensa antecedência. Mas também há bambúrrios, desistências de última hora, para gente com sorte, como me aconteceu para o almoço de hoje, com o dono da casa a informar-me, horas antes, da vaga de uma mesa para quatro, como eu pretendia. 

O Chiringuito, convém dizê-lo a quem não conheça a casa, é muito mais do que o cozido do domingo. Nos outros dias, é um belo restaurante, num improvável espaço, onde é recriado um ambiente quase rústico, bastante acolhedor. Aconselho a que, em lugar de consultarem a carta de vinhos, os clientes se inspirem na prateleira do corredor entre as duas salas. Fica-se logo com uma imensa e sofisticada sede.

Notícias do caos

Tenhamos alguma esperança de que o resultado do referendo parisiense sobre as trotinetes urbanas acabe por ter também algum efeito por cá. O caos a que se assiste, neste domínio, na cidade de Lisboa configura um imenso escândalo. Quererá Carlos Moedas tentar um referendo?

Os cromos

Este blogue tem mais de catorze anos de publicações diárias. Estou certo que me creditarão alguma experiência no tratamento dos imensos comentadores que por aqui têm surgido, que deixaram mais de 70 mil comentários publicados. 

Alguns foram visitantes fugazes, outros mantêm-se por bastante tempo. Alguns são parcimoniosos na escrita, outros são prolixos nos comentários. Uns gostam daquilo que escrevo, outros não gostam. Uns são "de um lado", outros são "do outro". É assim que deve ser. 

Há, dentre os meus comentadores, um grupo, a que intimamente chamo os cromos, que acabam, um dia, por ver a porta de saída apontada. Acontece depois de um ciclo. 

Começam por uma linguagem crítica face àquilo que o autor do blogue propõe nos seus posts. Ora isso é sempre de estimular, porque, sem contraditório, mesmo forte, isto não tem a menor graça. Depois, adquirida que foi alguma "confiança", ensaiam tiradas cada vez mais agressivas, mais provocatórias, o que, dentro de um certo limite, até acho graça publicar, para surpresa de muitos. Finalmente, um escasso e muito pequeno grupo não consegue controlar, mantendo-se num registo de urbanidade, o facto de se sentir em contradição insanável com quase tudo o que escrevo. Gente desse núcleo, um dia, descamba e entra pelo insulto e - limite dos limites para mim, que sou, há que convir, o "dono da bola" - tem expressões de desrespeito, já de cariz pessoal, que não me apetece tolerar. Nos últimos dias, dois cromos, gente ácida e triste, foram mandados dar uma volta ao bilhar grande, como se diz na minha terra. 

Reis

A coroação do novo rei inglês, com todo o fausto protocolar que implicará, pode vir a ser percecionada como estando em flagrante contraciclo com o tempo político turbulento que a Europa e o próprio Reino Unido atravessam, nos dias de hoje, pelo que talvez se recomendasse alguma contenção festiva. Se o funeral de Isabel II foi um tempo de óbvia e excecional união para o reino, este evento pode não sê-lo, em especial se a mobilização popular não vier a ser significativa. A acontecer, isso teria um efeito detrimental na imagem e autoridade do rei e, por essa via, no futuro da monarquia, já tão fustigada por reais "fait divers".

sábado, abril 01, 2023

A verdade de cada um

Pergunto-me se uma comunicação social dita independente não terá os seus dias contados. Com as pessoas a confiarem, cada vez menos, em quem não pensa como elas, em quem lhes não conforte os preconceitos, a tendência não será caminhar para órgãos de imprensa "de seita"?

Era mas não é

Para a China, a construção de uma aproximação com o Brasil seria um passo importante na sua estratégia de composição de um poder alternativo aos Estados Unidos. Contudo, o que poderia configurar uma mudança decisiva a nível global seria um entendimento geopolítico com a Índia. Que não vai acontecer.

Jantar no Snob


Consta que o João Botelho tem aparecido menos, depois de ser proibido fumar por ali. O senhor Albino (que está na cozinha, onde, em tempos idos, reinava a dona Maria) diz-me que já se conformou com o facto do seu Porto, este ano, só poder lutar pelo segundo lugar. O costumeiro bife, nas suas várias declinações, mantém um preço adequado à sua qualidade. E o menu Snob, a €15, é uma excelente opção.

Gosto (mas só às vezes e moderadamente) de lugares decadentes. O Snob está decadente desde que o conheço, e eu conheço-o há décadas. O Snob não está na moda. Esta é, portanto, uma boa época para se ir mais ao Snob.

Mentiras

Há pouco, dei-me conta de que, afinal, há uma coisa de que tenho alguma saudade: das inócuas mentiras do primeiro de abril que a nossa imprensa trazia, connosco a acordar "à procura das petas". 

(Por favor, poupem-nos à estafada "graça" de que agora os jornais só trazem mentiras).

sexta-feira, março 31, 2023

Américas

Tenho a convicção de que Jair Bolsonaro vai estar muito atento ao percurso de Donald Trump pelos corredores da justiça. É que algum tropismo seguidista do parceiro yankee que, desde sempre, fez escola no Brasil, deve inquietá-lo. Com razão.

quinta-feira, março 30, 2023

"A Arte da Guerra"


Esta semana, no "podcast" sobre temas internacionais do Jornal Económico, ' A Arte da Guerra", falo com o jornalista António Freitas de Sousa sobre a atualidade da guerra na Ucrânia, da nova liderança independentista na Escócia e das atribulações do primeiro-ministro israelita.

Pode ver aqui.

quarta-feira, março 29, 2023

Allons, enfants!

Um amigo dizia-me, há pouco, sem se rir, que a França talvez não tenha enviado tanques para a Ucrânia porque tem dúvidas sobre se não precisará deles, em breve, na Praça da Concórdia. E, também sem se rir, chamava assim à praça.

É desta!

A Arábia Saudita decidiu tornar-se parceiro da Organização de Cooperação de Xangai.

É desta que os Estados Unidos vão apoiar (e, se não existir, vão criar) um movimento republicano em Riade.

Ora bem!

 


A Inteligência Artificial a provar que não é tão artificial como isso.

É assim:

"À quelque chose malheur est bon", dizem os franceses. Um cruel assassinato em Lisboa fez surgir à tona a canalhice xenófoba de alguns políticos e comentadores e destacou a dignidade humanista das instituições da comunidade ismaelita em Portugal.

terça-feira, março 28, 2023

Saudar

Um abraço solidário para a comunidade ismaelita em Portugal.

Ricos

Se há terreno em que este país é de uma imensa riqueza é na produção de "especialistas" disponíveis para o comentário público. Seria curioso fazer-se uma verificação dos currículos de toda essa infinita plêiade de notáveis conhecedores das mais microscópicas áreas do saber.

Pois!

Porque a medida de redução do IVA foi popular, a crítica teve de mudar de patamar: agora, passa a ser vista como uma decisão de dimensão insuficiente, com consequências práticas limitadas e que chegou tarde.

segunda-feira, março 27, 2023

"Uma bela amizade"


Dia após dia, a relação entre Costa e Marcelo faz recordar aquela que o "Casablanca" consagrou nas suas derradeiras imagens, com o avião para Lisboa ao fundo.

Uma confissão

E, pronto: Sem fazer nada, lá tenho outra vez a hora certa no meu Smart! Há seis meses que aquilo me fazia confusão, mas não tinha paciência para ir outra vez às instruções...

domingo, março 26, 2023

O Piauí de Juca Chaves


O atual ministro do Desenvolvimento do Brasil, Wellington Dias, era governador do Estado do Piauí, no Brasil, quando, em 2008, lhe fiz uma visita. Tinha ido a Teresina, a capital, para apoiar a apresentação de uma companhia portuguesa de teatro, aproveitando para assistir à abertura um congresso com a participação de juristas nacionais.

Na conversa, Wellington Dias perguntou-me o que é que eu sabia do seu Estado. Ficou surpreendido quando lhe disse que conhecia, de nome, o Piauí, desde há várias décadas: "Foi Juca Chaves quem me ensinou a existência do Piauí", esclareci. O Piauí é, muitas vezes, utilizado pelos brasileiros como nome caricatural para significar um lugar distante: "Isso é lá para o Piauí..." 

O músico, cantor e humorista brasileiro, Juca Chaves, que chegou a ser bastante popular em Portugal, onde esteve exilado, ao tempo da ditadura militar, criou uma canção que veio a ficar famosa: "Take me back to Piauí" ("Adeus Paris tropical/adeus Brigite Bardot/o champanhe me fez mal/caviar já me enjoou/Simonal que estava certo/ na razão do Patropi/eu também que sou esperto/vou viver no Piauí") E, em outras ocasiões, também usou o nome do Estado em piadas, nem sempre com agrado dos piauienses. Juca Chaves dizia, numa dessas histórias, que, no Piauí, o calor era tal que as aves batiam uma das asas para refrescar a outra... O meu amigo José Pereira, o mais antigo funcionário da nossa embaixada em Brasília, contava, com gosto, esta graça sobre o seu Piauí natal.

Wellington Dias disse-me então que o Piauí, ao reagir negativamente às referências caricaturais de Juca Chaves, não se dava conta de quanto elas tinham contribuído para a difusão do nome do seu Estado, como eu próprio ali confirmara. E estava grato por elas.

Juca Chaves morreu agora, com 84 anos.

sábado, março 25, 2023

Cafeína


Há quantos anos conheço o Cafeína, o restaurante na Foz do Porto? Há muitos. E nunca me recordo de lá ter comido mal. Há uns tempos, queixei-me da música demasiado alto, em outra ocasião de um pormenor do serviço, que me pareceu algo ligeiro para um restaurante daquele nível. Mas, da comida, não tenho na memória a menor reclamação - e foram muitas as vezes em que por ali me sentei.

Regressei para jantar, no domingo passado. A refeição correu sobre rodas. Tudo estava a preceito, a senhora que nos atendeu era de um profissionalismo rigoroso (creio que era a mesma que, na outra ocasião, acorrera a salvar a honra da casa, perante a imperícia de um colega sem formação), o ambiente tinha a serenidade que me habituei a ter como fazendo parte da identidade da casa. A conta tinha uma relação satisfação/preço razoável. Saímos muito satisfeitos. E com vontade de regressar. O Cafeína continua a ser, no Porto, um porto muito seguro.

sexta-feira, março 24, 2023

O país ideal

O país ideal seria aquele em que, num dia como o de hoje, em que foram apresentados excelentes resultados macro-económicos, os políticos da oposição viriam a terreiro, com galhardo civismo democrático, reconhecer - sem usarem qualquer "mas", "porém" ou "no entanto" - aquilo que foi conseguido e que muito se repercute sobre a credibilidade externa do país.

O país ideal não existe, como sabemos. Nem agora nem nunca. É que todos temos a absoluta certeza de que quem está hoje no poder, se acaso estivesse na oposição, comportar-se-ia de forma simetricamente idêntica. Custa-me ter de assumir isto, mas todos sabemos que assim seria.

Digam lá!

Depois de ter chamado aos tercios o tema Touradas, que, em especial no Facebook, acabou de sair em ombros pela porta grande, com direito a rabo e orelhas, que outro tema fraturante, daqueles que excitam pela certa os teclados, acham que suscite neste fim de semana, para usufruto dos nossos comentadores mais emocionáveis: a TAP, Salazar, Ucrânia, Acordo Ortográfico, Cavaco, Monarquia / República, Sócrates, a Catalunha ou o quê mais? Ou o Passos? Até já pensei fazer ressuscitar o Varufakis e o Syriza, que, no passado, provocaram por aqui tantos suspiros derretidos e taquicardias balzaquianas? Estas redes sociais são sempre uma animação!

Polícia com arte

Haverá um concurso de criatividade, dentro da Judiciária, entre quem dá o nome às operações policiais? Chamar "Última Edição" à ação levada a cabo contra o detentor de um grupo de comunicação social é muito bom!

"A Arte da Guerra";


Em "A Arte da Guerra" desta semana, o podcast sobre temas internacionais do "Jornal Económico", converso com o jornalista António Freitas de Sousa sobre as atribulações do presidente Putin, em face do mandado de captura determinado pelo TPI, e a visita que lhe fez o presidente chinês, sobre o difícil diálogo entre a Sérvia e o Kosovo, mediado pela União Europeia, para acabar na análise à complexa situação social e política que a França atravessa.

Pode ver aqui.

Ou ou

Sobre a questão da guerra da Ucrânia, a avaliar pelas redes sociaus, a maioria das pessoas apenas aprecia os comentadores televisivos que confortem as suas ideias ou, na falta delas, os seus preconceitos. Os outros ou são "lacaios" de Washington ou são "marionetas" de Moscovo. Não há meio termo.

Conselhos

Vejo abrir por aí restaurantes, bares e outro tipo de lojas em locais e com um perfil que se percebe, logo à partida, que estão condenados ao fracasso e à falência a curto prazo. 

Às vezes, isso é tão, mas tão, evidente que até  já pensei em abrir uma empresa de aconselhamento, que produzisse estudos sobre a viabilidade potencial desses projetos, por forna a procurar evitar que as pessoas façam investimentos ruinosos. 

Mas, depois, dei comigo a refletir melhor e interrogar-me sobre se seria uma boa ideia. Mas não tenho quem me aconselhe...

quinta-feira, março 23, 2023

Veremos!

Não há absoluta certeza de que Napoleão tenha dito a célebre frase: "Laissez donc la Chine dormir, car lorsque la Chine s'éveillera le monde entier tremblera". Desde então, com variantes, a expressão tem sido repetida. Napoleão teria razão? Veremos.

O senão da bela


Nesse ano de 1976, com menos de um ano de experiência como diplomata, após uns meses de destacamento no efémero Ministério da Cooperação, fui chamado a prestar serviço nas Necessidades. 

Colocaram-me numa obscura Repartição, embora com bastante serviço. Entre outras tarefas, cabia-me redigir correspondência, que manuscrevia para, depois, as dactilógrafas passarem a papel de ofício, após o que as coisas seguiam para o chefe de Repartição assinar.

Escassos dias após ter entrado naquele serviço, fui chamado a esse meu chefe. Dizia-se que estava de saída, o que, efetivamente, se confirmaria ser verdade. Poucas semanas depois, foi colocado num consulado nos Estados Unidos.

Era um homem muito formal, que criava uma deliberada distância, embora sem deixar de ser educado e correto. Para mim, que vinha do ambiente técnico na área da Cooperação, olhei-o logo como um paradigma de uma certa carreira diplomática, com um formalismo que me irritava, mas com que ia passar a ter de conviver, a partir daí. 

"Quero dizer-lhe que apreciei o trabalho que fez nestes dias, Seixas da Costa. Entrou bem no estilo da casa e vê-se que está habituado a escrever". 

Eu já tinha então 28 anos, cinco anos de funcionalismo público anterior e, posso agora confessar, alguma auto-suficiência, quiçá mesmo, ao que lembro, uma certa arrogância. O elogio satisfazia-me, era simpático, mas não me comovia demasiado. 

"Mas não há bela sem senão! Você cometeu aqui um erro de palmatória".

Mau! O que é que ele queria dizer com aquilo?

"Você escreveu 'durante a estadia do ministro'. Ora, como devia saber, a forma correta é 'estada'. A palavra 'estadia' é para embarcações".

Apanhado de surpresa, sem dicionário à mão, esclareci que, de facto, achava que as palavras eram sinónimos. Que não, que não se podiam confundir os conceitos, retorquiu-me. Saí do gabinete do homem intrigado. 

À noite, liguei para o meu pai, em Vila Real, que era orgulhoso possuidor do melhor dicionário de Português que continua a existir à face da terra, o inigualável "Moraes Silva", e pedi-lhe para ir ao volume quarto dos doze que compõem a obra (que vai da palavra "Desvalora" à palavra "Eza", porque, desde criança, sei de cor as palavras limites de cada volume, que surgem na lombada...) comparar "estada" com "estadia". Em tese, o meu chefe tinha alguma razão, mas ali também ficava claro que as palavras podiam ser tidas como sinónimas uma da outra, tal como eu pensava.

O tempo passou. Uma noite de 1990, no bar de um hotel de Maastricht, perante o olhar espantado de Durão Barroso e do meu colega António Monteiro, re-suscitei o assunto como o nosso embaixador na Holanda, que era, nem mais nem menos, aquele meu antigo chefe. Ficou espantado com o facto de eu me lembrar do episódio. Continuava a teimar na sua e eu fiquei na minha, embora nos ríssemos da nossa divergência.

Tenho, na realidade, boa memória. De tal maneira que, ontem, logo me ocorreu esta historieta, quando soube do funeral do meu colega embaixador Francisco Moita, que havia sido aquele meu primeiro chefe nas Necessidades, a quem deixo esta modesta homenagem de lembrança, no termo da sua estada - ou estadia - por este mundo.

quarta-feira, março 22, 2023

Ó diabo!

Posso estar enganado (e às vezes estou), mas tenho a sensação de que, depois do que foi dito por Marcelo Rebelo de Sousa e por António Costa, há algumas coisas que não voltarão a ser iguais, daqui em diante. Gostava de ser mosca e estar na reunião entre os dois, nesta quinta-feira.

Olé!

Há apenas oito países no mundo (dentre os 193 membros da ONU) onde as corridas de touros são permitidas: Espanha, França, Portugal, México, Colômbia, Venezuela, Perú e Equador. Na Colômbia, o assunto está em discussão parlamentar. Há medalhas mais honrosas para Portugal.

terça-feira, março 21, 2023

Tamames e Cavaco


A maioria dos leitores deste espaço está farta (não sei se a palavra é bem escolhida) de saber quem é Cavaco Silva, mas o mais certo é que muitos ignorarão o nome de Ramón Tamames. 

E, isso com absoluta certeza, não fazem a menor ideia da razão por que eles aparecem juntos no título deste texto.

Começo por deixar uma pista: ambos são economistas. 

Cavaco Silva, agora com 83 anos, esteve em recente evidência, por ser o quarto (contei bem!) dos antigos líderes do PSD que, nas últimas semanas, surgiram a terreiro a atacar o governo PS, substituindo-se ao presidente atual do partido, o qual, coitado!, se debate com as aparições destas figuras "sombra", que assim contribuem para a sua dificuldade de afirmação.

Ramón Tamames é um caso de transmutação política radical. Quase patética. Depois de ter sido um opositor ao franquismo, tendo estado nas prisões da ditadura, ingressou no Partido Comunista nos anos 50, após o que iniciou um inexorável percurso para a direita. Agora, nas últimas horas, acaba de surgir como o putativo "primeiro-ministro", proposto pela extrema-direita, pelo VOX, por ocasião da apresentação da moção de censura, nas Cortes, ao governo socialista. Aos 89 anos...

Cavaco e Tamames são duas velhas figuras da direita, opostas aos dois líderes socialistas ibéricos. É isso? 

Não, não é apenas isso. 

Em 1975, quando fiz concurso pública para entrar para a diplomacia, tive como arguente, na prova oral de Economia Política, um jovem professor, convidado pelo MNE, recém-regressado do seu doutoramento em Inglaterra. Chamava-se Aníbal Cavaco Silva. 

Para esse exame, lembro-me muito bem, estudei um único livro: "Estrutura da Economia Internacional". Autor: Ramón Tamames, à época um óbvio marxista. 

Foi com base no que aprendi no livro de Tamames que Cavaco Silva me aprovou. E como ele nunca se engana...

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...