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segunda-feira, agosto 13, 2012

América, América

Os Estados Unidos são um país que não para de surpreender.

Depois da relativa desilusão que havia sido a sua prestação nos jogos olímpicos de Pequim, a América desportiva renasce, mais forte do que nunca, nas jornadas londrinas que ontem se encerraram, com a Europa num lugar secundário.

Mas há surpresas de outra natureza que também surgem do outro lado do Atlântico. Quando todos presumiam que o candidato presidencial republicano, Mitt Romney, ia "compensar" a sua imagem de conservadorismo com um companheiro de "ticket" que pudesse abrir caminho ao voto do centro, eis que surge nesse lugar uma figura de uma direita que está próxima do Tea Party, o que pode ser uma inesperada boa notícia para a recandidatura de Barack Obama. Será que o efeito de um candidato de um modelo ideológico tipo Sarah Palin vai beneficiar o atual presidente? Ou será que, em caso de vitória de Romney, poderemos ter uma reedição de uma "escola" de vice-presidentes como Spiro Agnew ou Dan Quayle? Ou será que somos nós, para quem o desfecho do que se passar em Washington não é nada indiferente, quem está a ler a realidade americana à maneira europeia?

quinta-feira, novembro 24, 2011

America! America!

Não está muito na moda citar Elia Kazan. Mas quase que me apetece colocar pontos de admiração no seu admirável "America, América" para expressar a minha perplexidade em face da pobreza (chamemos as coisas pelo seu nome) do nível do debate, sobre temáticas de política internacional, que se processa entre os candidatos à investidura republicana. O que tem sido dito nesse contexto é, no mínimo, surpreendente e chocante, no tocante à impreparação da maioria dos atores políticos que se perfilam para a corrida à Casa Branca.

Alguns dirão que isso não tem a menor importância, que, a seu tempo, o mundo republicano produzirá "wise men" que darão conteúdo programático em matéria de política externa às candidaturas e que, como se viu no passado, por menos habilitados em temas internacionais que os candidatos inicialmente se mostrem, acabarão por ser enquadrados por "think tanks" que produzirão doutrina sólida, para o caso de virem a ascender ao poder. Alguns lembrar-se-ão de Reagan, outros de George W. Bush. A alguns, isso sossegará, a outros isso preocupará.

Confesso que, com anos desta vida internacional, e com os riscos que hoje existem, o panorama atual não me sossega. Kennedy disse, em 1963, face à fronteira da Guerra Fria que eram as portas de Brandeburgo, "Ich bin ein Berliner" (um amigo meu sempre apostou em como, se estivesse em Hamburgo, ele não se atreveria a dizer "Ich bin ein Hamburger"...). Dada a importância que os Estados Unidos têm para a nossa vida, pelo peso que as suas decisões no plano internacional têm sobre todos nós, eu atrever-me-ia a dizer que, meio século depois, quando um novo presidente entrar em funções, "todos seremos americanos". Uma vez mais. Queiramos ou não. E, por essa razão, a substância dos debates a que me refiro neste post está longe de me ser indiferente.

sábado, setembro 10, 2011

11 de setembro

Nestes que foram os dez anos passados sobre o 11 de setembro, e porque vivi então a data em Nova Iorque, quando aí era embaixador português junto da ONU, fui chamado a dar testemunhos em diversos jornais, rádios e televisões. 

Não procurei ser original, até porque há muito que sedimentei aquilo que penso sobre o que se passou nessa data e no que se lhe sucedeu.  

Correndo o risco de ser repetitivo, e para quem possa estar interessado, deixo "links" para três textos: aqui, ali e acolá. Hoje, escrevi no "Correio da Manhã" isto.

Mas é isto é o que eu gosto de recordar de Nova Iorque, com um abraço aos amigos que por lá deixei.

quinta-feira, junho 23, 2011

"Back home"

O presidente Barack Obama acaba de anunciar uma retirada de parte das tropas americanas presentes no Afeganistão. Trata-se de uma decisão que, seguramente, deve ter assentado numa avaliação positiva da evolução da situação securitária no país e, do mesmo modo, deve estar ligada aos recentes contactos empreendidos por Washington com os "taliban".

A ninguém escapa que, por detrás desta decisão, estão também razões de política interna americana, em tempos de crise económica, de impopularidade dos compromissos militares externos e, "last but not least", quando se aproximam eleições nos Estados Unidos.

A operação liderada pelos EUA no Afeganistão foi executada sob a legitimidade de um mandato das Nações Unidas e com um importante empenhamento dos parceiros da NATO, que plenamente partilharam as razões de segurança que justificaram aquela ação militar. Agora, os governos desses países, colocados perante esta decisão americana, não poderão furtar-se à pressão das respetivas opiniões públicas, que os tentarão conduzir no mesmo sentido da posição tomada pelo presidente Obama. Prouvera que tudo isto se não faça em detrimento de todo o esforço coletivo desenvolvido desde há quase uma década no Afeganistão. 

terça-feira, maio 03, 2011

Diálogo transatlântico

Não faço ideia se nos Estados Unidos as pessoas se preocupam tanto com a relação transatlântica como nós, europeus, o fazemos. Mas, francamente, não me parece mal. A capacidade da Europa para fazer passar e executar, com eficácia, a sua agenda política depende, em muito, do modo como conseguir articular-se com o seu parceiro do outro lado do Atlântico - com o qual partilha muitos princípios comuns, embora dele pontualmente divirja. Mas continuo convicto que, entre a Europa e os EUA, e para utilizar uma terminologia maoísta, só haverá "contradições não antagónicas".

Ontem, em Lisboa, durante várias horas, numa excelente iniciativa do Observatório de Imprensa, em articulação com o gabinete da Comissão Europeia em Portugal, dirigido por Margarida Marques, o embaixador europeu em Washington, João Vale de Almeida, e eu próprio lançámos um debate com jornalistas portugueses especializados em temas económicos (com a curiosa presença de um membro da delegação do FMI, incluído na "troika" que negoceia com o governo português o programa de ajuda financeira). O convite foi-nos formulado por Joaquim Vieira e Teresa Moutinho, tendo Nicolau Santos e Helena Garrido como condutores da discussão.

O "menu" tinha por título: "Relações Europa-América: veja as diferenças". Três tópicos essenciais serviam de base às nossas intervenções, bem como ao período de questões que se lhes seguiu:
  • Reação da UE e dos EUA à crise financeira e económica. As diferentes formas de abordagem do problema e a posição do euro perante a disputa cambial sino-americana.
  • Relações com os países emergentes. Prioridades das políticas externas de Bruxelas e de Washington.
  • Perspetivas sobre as mudanças no Mediterrâneo sul. Como enfrentar as revoltas árabes e qual o papel da NATO em caso de intervenção. A relação entre os dois lados do Atlântico continua firme ou é hoje menos sólida?
Foi muito interessante ouvir a visão privilegiada do chefe da missão europeia em Washington, decantando analiticamente, com grande lucidez, a forma como a América nos "lê" e revelando o modo como a diversidade/unidade europeia é oficialmente explicada do outro lado do Atlântico.

Pela minha parte, entre algumas outras coisas que por ali disse, procurei "trabalhar" o estado atual da União, quer no tocante à sua relação com o mundo, quer na tentativa de nela desconstruir a diferente proeminência dos 27 no processo comum de ação externa.

Mas de muito mais se falou naquelas mais de três horas, desde a Líbia à Rússia, das agências de "rating" à reforma do Conselho de Segurança, da posição do Brasil à atitude alemã. O euro, o dólar e a crise, bem como os números do mundo, foram estudados e debatidos. E falou-se da França, evidentemente. Porque a notícia era "fresca", as perspetivas abertas pela desaparição de Bin Laden foram também especuladas.

Tive um grande gosto em colaborar, uma vez mais, com o Observatório de Imprensa. Recordei que, a primeira vez que o fiz havia sido já em 1994, num debate sobre a Europa, lado a lado com Paulo Portas. Como o tempo passa...

quarta-feira, abril 13, 2011

O "11 de setembro"

O Grémio Literário, em Lisboa, é uma instituição de grandes tradições na vida intelectual e social do país. Nunca tive a tentação de dele ser sócio, mas tenho sempre um grande prazer em passar por lá, como aconteceu na terça-feira, correspondendo a um simpático convite da administração da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, através do Dr. Mário Mesquita.

O pretexto, que me fez dar uma "saltada" de menos de 24 horas a Lisboa, era discutir o modo como o mundo se terá transformado, depois do atentado de 11 de setembro de 2011, acontecimento sobre o qual passa, este ano, um década.

O embaixador americano em Lisboa, Alan Katz, e eu próprio lançámos o debate com duas exposições. Ser americano ou ser europeu, na análise de um acontecimento como este, não é indiferente, como o tom de ambas as exposições o provou.

Confesso que me impressionou que uma das perguntas colocadas pela audiência, maioritariamente composta por estudantes universitários de Coimbra e Lisboa, fosse sobre a "possibilidade" do 11 de setembro não ter passado de uma mera montagem, com os atentados a serem planeados dentro dos Estados Unidos, para justificar muito do que se lhes sucedeu. É chocante verificar como teorias absurdas conseguem criar um mínimo aceitação e sobrevivem no tempo. Quem nelas acredita, e perde tempo a propagá-las, deve preparar-se, nas próximas férias, para ir visitar Elvis Presley na ilha onde alguns dos seus fãs pensam que ainda vive... Mas, nestas coisas ridículas, também temos a nossa quota-parte: quer eu quer o Dr. Macedo e Cunha, presidente da direção do Grémio, lembrámos, em conversa, os nossos cultores das teorias conspirativas, que, em tempos, registei aqui.

Para os mais curiosos, deixo a minha intervenção sobre o 11 de setembro aqui.

terça-feira, dezembro 14, 2010

Richard Holbrooke (1941-2010)

A morte de Richard Holbrooke é uma perda importante para a diplomacia americana. Embora alguns discutam a eficácia efetiva da ação que recentemente vinha a desenvolver no Afeganistão e Paquistão, o seu passado de cidadão da diplomacia revela uma vida de intenso trabalho, com papéis importantes em vários cenários geopolíticos. No seio da administração democrática americana foi sempre um defensor do uso ponderado da força, atitude que, algumas vezes, não soube gerir com total equilíbrio. Mas ficam-se-lhe a dever os acordos de Dayton-Paris, sobre a Bósnia-Herzegovina, que permitiram estancar uma tragédia que já parecia eterna, embora eu saiba, por antecipação, que entre os leitores habituais deste blogue há quem não coincida comigo na avaliação da "bondade" desta ação diplomática.

Conheci-o pessoalmente num interessante almoço, em Nova Iorque, em 1999, ao qual, enquanto membro do governo português de então, acompanhei o presidente Jorge Sampaio e José Ramos Horta, que era amigo de sua mulher. Estávamos num tempo muito complexo da vida de Timor Leste e essa refeição fazia parte de uma estratégia de abordagem da diversificada da administração americana, essencial para alguns aspectos entendidos como vitais para uma solução positiva do problema. Holbrooke era então chefe da missão americana junto das Nações Unidas, função que ocuparia até Janeiro de 2001. Por pouco mais de um mês, não coincidi com ele em funções no "palácio de vidro".

A biografia de Holbrooke está hoje por todos os jornais. O seu papel de grande negociador foi central na sua vida pública e - disse-me quem o conheceu bem - Richard Holbrooke era uma homem de palavra firme, o que lhe garantia uma grande credibilidade nos momento complexos de decisão.  O facto de representar uma grande potência e de se saber adepto de soluções musculadas também deve ter ajudado à eficácia prática de alguns dos seus êxitos. Fica a sensação que Holbrooke esperaria ter uma função nesta administração americana muito superior à que acabou por ter. Isso ter-se-á ficado a dever à escolha de Obama, em detrimento de Hillary Clinton.

Gostaria de destacar um dos seus "feitos", que pode parecer lateral mas que teve uma importância decisiva na facilitação do funcionamento da máquina da ONU: a resolução do diferendo que envolvia as contribuições americanas para a organização, a que ele ajudou a pôr termo, no final de 1999. Com habilidade, utilizou nessa difícil negociação a contribuição dada por Ted Turner, o patrão da CNN, que assim financiou parte da dívida, através de uma milionária doação às Nações Unidas. A convite pessoal de Kofi Annan, tive o prazer de ser um dos dois embaixadores escolhidos para integrar o "board" executivo do "United Nation Fund for International Parnerships", que selecionava os projetos a financiar por esse fundo. Indiretamente, fico a dever a Holbrooke essa magnífica oportunidade.

Finalmente, gostava de mencionar que Holbrooke deixou um livro muito interessante, que vivamente recomendo: "To end a war", sobre a sua experiência na Bósnia-Herzegovina.

domingo, dezembro 12, 2010

WikiLeaks

Ao olhar para alguns dos "telegramas" americanos que têm vindo a ser divulgados, sou levado à conclusão que o estilo de sua escrita acaba por ser bem mais "solto" do aquele que marca a grande maioria da cultura diplomática tradicional. Sem perder o "template" daquilo que é a liturgia da profissão, nota-se que essa escrita largou já o "colete de forças" formal, saindo do modelo de textos muito enxutos, quase tecnocráticos, que faz parte de uma certa tradição britânica e que tem o seu auge na "telegrafia" das missões junto das organizações multilaterais. 

Naquilo que o WikiLeaks tem revelado, é visível uma espécie de escrita quase jornalística, que marca, por exemplo, muitos dos retratos de personalidades produzidos pelos diplomatas americanos, o que não deixa facilitar a sua leitura pelos decisores políticos, a quem, em última instância, o resultado desse trabalho se destina. Contrariamente a uma velha escola, felizmente em progressivo desuso, os textos são corridos e sonoramente adjetivados, abandonando o refúgio em bordões e ambiguidades. Não quero elaborar muito sobre isto, mas quem conhece a escrita diplomática tradicional sabe bem aquilo a que me refiro. 

Num outro registo bem diferente, ao ler alguma dessa "telegrafia" americana sou levado a concluir que a diplomacia dos EUA desenvolve hoje um excelente trabalho de pesquisa e análise, muito mais "nuancé" e muito menos maniqueísta do que se poderia, à partida, esperar. Além disso, e não excluindo que algumas surpresas possam ainda surgir, a verdade é que, com escassíssimas exceções, vejo muito clara a linha distintiva entre aquilo a que os meus colegas americanos se dedicam e o trabalho da "intelligence" - esse sim, muitas vezes estereotipado e reduzido a caricaturas funcionais. Devo dizer - porque é verdade - que essa foi uma positiva surpresa para mim.

Finalmente, lidos e relidos muitos comentários na imprensa e na blogosfera sobre o tema do WikiLeaks, julgo que é de meridiana honestidade concluir que muito do "gozo" sobre esta falha séria no secretismo do governo de Washington deriva, essencialmente, da permanência de um sentimento residual de anti-americanismo, aqui e ali adubado pelo "voyeurisme" deslumbrado de quem acha que o mundo se defende com pombas, até ao dia em que na sopa lhe caiam umas bombas. Só o tempo e as más experiências ajudará essa gente a perceber que a diplomacia discreta é, muitas vezes, a melhor forma de evitar a guerra.

sexta-feira, setembro 10, 2010

Duas cidades

"O 11 de Setembro de 2001 não derrubou apenas o World Trade Center e uma ala do Pentágono. Fez ruir também o sentimento de confiança que a América mantinha na sua própria intocabilidade, com profundas consequências no modo como a maior potência olha hoje o mundo e o seu papel dentro dele.

Uma das grandes linhas divisivas que afectam a política mundial prende-se precisamente com a impossibilidade, para a Europa, de interiorizar o sentimento de profunda angústia que hoje atravessa a América, face à sua inesperada impotência perante perigos de contorno desconhecido. E isso tem consequências com expressão política, num país onde a agenda pública segue de muito perto o sentimento colectivo, muito em especial quando este coincide com os grandes interesses estratégicos.

Desde há muito, a Europa habituou-se a viver com o perigo. Teve duas guerras trágicas no seu seio, sofreu o nazi-fascismo, os temores da Guerra Fria e os “anos de chumbo” das acções radicais extremistas. Os europeus têm consciência da sua própria fragilidade, mas convivem com ela com alguma naturalidade.

Para os Estados Unidos, o mundo exterior sempre fora um lugar perigoso, de que faziam uma caricatura à medida da suas vivências internas. E se a segurança interna não conseguira prever alguns actos tresloucados, os riscos políticos profundos estavam afastados do quadro de probabilidades, com a rede securitária concentrada na criminalidade, com a droga como inimigo público.

Tive a experiência de viver em Nova Iorque, antes e depois do 11 de Setembro. É sabido não ser a cidade americana típica. Alguém dizia que os europeus sempre tiveram Nova Iorque como a sua principal imagem da América, enquanto, pelo contrário, para a generalidade dos americanos, aquela cidade aparece já como uma espécie de primeira aproximação à vida europeia. Mas, talvez por isso, estando Nova Iorque “mais próxima” de nós, talvez a mudança da atitude de vida nessa cidade nos seja mais perceptível. E a ideia que me ficou do pré e do pós-11 de Setembro é que vivi em duas cidades diferentes.

Fui a Nova Iorque, pela primeira vez, há mais de 30 anos, com o World Trade Center por acabar. Daí para cá, visitei a cidade várias vezes, dela sempre recolhendo a mesma matriz trepidante, palco da ambição individual, de alguma agressividade egoísta, mas com uma indefinível cordialidade, com a assunção de um escasso número de regras de convivência urbana como chave para nos sentirmos em casa.

Em 2001, quando fui viver para Nova Iorque, a cidade recuperara o usufruto pleno de muitas zonas para os seus cidadãos, por virtude da queda do desemprego e de um eficaz combate à criminalidade. Passear à noite, em antigas “no-go areas”, tornou-se rotina. Restaurantes e galerias apareciam e desapareciam no West Village e em Chelsea, com as esplanadas cheias e um ar de prosperidade geral, embora distante do auge do Nasdaq.

Como em todas as sociedades em que a precariedade do vínculo laboral é a lei que reflecte as crises, Nova Iorque reagiu ao 11 de Setembro com brutalidade. Desemprego, encerramento de actividades e retracção de consumo, com a queda vertical do turismo e o afundar temporário da Broadway.

E, também, com a emergência da angústia com a segurança, que nunca mais terminou. Foram os tempos do “antrax”, das ameaças constantes das “dirty bombs”. Os novaiorquinos passaram à “vigilância popular”, a olhar o vizinho, o “diferente” como uma ameaça potencial. O uso da bandeira americana passou a factor de credibilitação, nas lapelas, nas portas ou nas montras, com os não seguidores da regra a serem vistos com anti-patriotas. O “nine-eleven” (fórmula americana para o 11 de Setembro), o terrorismo, Bin-Laden e Al-Queda monopolizaram os discursos, com uma comunicação social marcada por um jingoísmo que abafava reticências.

Com o 11 de Setembro, aprendi que os americanos estão dispostos a sacrificar o mais sagrado da sua liberdade – e poucos povos haverá com um sentimento de liberdade mais arreigado – em favor da restauração, ainda que limitada ou mesmo virtual, da sua própria segurança. Por muitos e menos bons tempos, a América está prisioneira de si própria, pelo temor e pela desconfiança. Mas América que eu conheço e admiro vai, estou certo, conseguir fazer sair o país desta psicose colectiva. E todos ganharemos com isso."


Nota: Este texto foi publicado no "Jornal de Notícias" em 11 de Setembro de 2003. Embora datado, achei que podia ser interessante recordá-lo hoje.

sábado, setembro 04, 2010

Ainda Israel

Na primeira metade de 2001, estive presente num jantar anual organizado por uma associação de amizade Estados Unidos-Israel, cujo nome exato não posso precisar. Por uma qualquer razão, um grupo restrito de embaixadores junto das Nações Unidas era convidado para esse evento. A cada um competia a presidência de uma das mesas, com cerca de uma dúzia pessoas, pelas quais se desdobrava o imenso jantar, num local luxuoso de Nova Iorque. A bandeira portuguesa, tal como a americana e a israelita, figurava no centro da nossa mesa.

O convidado de honra desse jantar era Shimon Peres, então vice-primeiro ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros de um governo israelita chefiado por Ariel Sharon. Peres teve uma intervenção de grande sensatez, com elevado sentido de compromisso, sublinhando os riscos que havia se se viesse a provocar o isolamento de Yasser Arafat e da Autoridade Palestiniana. O futuro, aliás, veio a dar-lhe completa razão.

O ambiente que recebeu as palavras de Peres, nesse encontro que juntava uma elite da comunidade judaica americana, foi de um progressivo gelo. Passados os primeiros minutos do discurso, as palmas que tinham começado por sublinhar algumas das suas frases esmoreceram, até desaparecerem por completo. No final, notei que, na minha mesa, eu tinha sido o único a aplaudir. Na cara e nos comentários secos dos meus vizinhos senti a rejeição profunda da mensagem de Peres. Ouvir alguém falar de perspetivas de negociação com os palestinianos, com cedências na política de expansão dos colonatos, na lógica do "land for peace", era um visível sacrilégio para aquelas pessoas, que aparentemente consideravam que, das suas "trincheiras" de Manhattan, defendiam melhor os interesses de Israel do que um seu líder histórico. Nessa noite, confirmei muito do que pensava sobre o papel da comunidade judaica americana na questão israelo-palestiniana.

Lembrei-me ontem desta história, ao ler notícias de que o comissário europeu do comércio foi alvo de fortes críticas e de acusações de anti-sionismo por ter lamentado que o lóbi judaico americano estivesse a condicionar a posição do seu governo e acabasse por limitar Washington na sua possível pressão sobre Tel-Aviv, para a conclusão de um novo acordo de paz.

Cada vez mais me convenço que a atitude radical de alguns dos amigos externos de Israel, que induzem o país a políticas que contribuem para o seu progressivo isolamento, acaba, muitas vezes, por ajudar à estratégia dos seus piores inimigos. Provavelmente, também isto não pode ser dito. Mas eu digo.

sexta-feira, setembro 03, 2010

Ainda o Iraque

Vale a pena notar o que hoje escreve, num artigo publicado na imprensa internacional, o antigo MNE alemão, Joschka Fischer, a propósito do Iraque, após a saída das tropas norte-americanas:

"Nenhum dos problemas políticos urgentes originados pela intervenção americana - a repartição do poder entre shiitas e sunitas, entre curdos e árabes e entre Bagdad e o resto do país - foi verdadeiramente resolvido. O Iraque continua a ser um Estado sem uma verdadeira nação. Poderá, aliás, tornar-se num campo de batalha para os interesses opostos dos seus vizinhos. O combate entre o principal poder sunita, a Arábia Saudita, e os shiitas do Irão, pelo controlo do golfo Pérsico ameaça transformar de novo o Iraque num campo de batalha, cumulado por uma nova guerra civil. As vizinhas Síria e Turquia seriam provavelmente aspiradas para um tal conflito. Esperemos que o vazio deixado pela retirada americana não produza uma implosão de violência".

Não deixa de haver algo de tragicamente irónico nesta perspetiva, que é partilhada por muitos analistas. Quem, como Fischer, foi abertamente contra a intervenção americana, reconhece agora que, tendo-se ela produzido, tinha a obrigação de ter levado mais longe a sustentação da situação que acabou por criar.

quarta-feira, setembro 01, 2010

Iraque

O presidente Obama anunciou ontem o fim das operações militares americanas no Iraque. As forças armadas dos EUA permanecerão, a partir de agora, naquele país, apenas para ações de formação, até ao termo de 2011.

Em 2003, o governo americano decidiu invadir o Iraque e derrubar o regime dirigido por Saddam Hussein. A sombra dos ataques terroristas cometidos contra a América, menos de dois anos antes, estava bem clara por detrás dessa decisão. Contudo, o argumento então utilizado foi a existência no país de armas de destruição maciça, que ameaçariam a segurança internacional. Washington considerou, embora sem grande convicção, ter cobertura legal para promover essa invasão, à luz de uma anterior resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esta tese não foi, como é sabido, maioritariamente aceite pela comunidade internacional, que se dividiu entre a rejeição e o apoio à iniciativa americana, fratura que acabou por se refletir dentro da própria União Europeia. As autoridades portuguesas de então optaram por transformar Portugal num sujeito ativo nessa polarização, adotando, na circunstância, uma atitude que afetou o tradicional consenso político interno em matéria de ação externa.

Veio a verificar-se, entretanto, que não havia no Iraque quaisquer armas de destruição maciça, que tudo não havia passado de uma invenção para criar fundamentos para a invasão. Muitos de quantos haviam apoiado a intervenção à luz daquele argumento acabaram, sem surpresas, por reconverter o pretexto, sublinhando depois a importância de eliminar um regime ditatorial e instaurar um sistema político democrático. Tomando o mundo por ingénuo, evitam lembrar que romperam, dessa forma, as regras mínimas do direito internacional e que, por alguma razão, não mostram idêntico zelo face a outras ditaduras cuja sustentação estrategicamente lhes convem. Alguns, entre nós, fazem patéticos atos tardios de contrição, alijando as graves responsabilidades que tiveram na aventura em que envolveram o nome de Portugal, atitude que só não foi mais trágica porque lhes não foi permitido o envolvimento dos nossos militares.

O que se passou depois pode ajudar, cada um de nós, a fazer a avaliação do saldo político e humano desta intervenção: mais de 100 mil mortos entre a população iraquiana, um regime político frágil instalado em Badgad e, muito particularmente, uma indireta contribuição para o imenso reforço do regime iraniano, visto agora, por grande parte da comunidade internacional, como uma real ameaça à segurança coletiva.  Mas, mais do que isso, a invasão acabou por favorecer a consolidação da máquina de terror montada pelo extremismo islâmico, que passou a poder apresentar a agressão externa ao Iraque como tendo sido feita sob uma falsa base.

Nos últimos anos, a questão iraquiana esteve no centro de um debate que os Estados Unidos tiveram consigo mesmos, sobre o seu papel no mundo e sobre o modo como este os passou a olhar. A eleição de Barack Obama foi também, de certo modo, um reconhecimento do erro da estratégia seguida a partir da aventura no Iraque.

A história não volta atrás, mas é hoje muito claro que não são apenas os Estados Unidos quem está a expiar os seus erros passados. A instabilidade acrescida induzida naquela zona do mundo - e que tem, repita-se, a invasão americana do Iraque no seu eixo - é um dado com que todos temos agora de contar, no desenho da nossa segurança coletiva.    

sexta-feira, agosto 27, 2010

Carter

O antigo presidente americano, Jimmy Carter, acaba de obter a libertação de um cidadão do seu país, que havia sido condenado na Coreia do Norte. Para além do efeito político que os seus anfitriões possam ter tido como objetivo nesta ato, a verdade é que esta não é a primeira vez que a intervenção de Carter proporciona a resolução de certos casos complexos, na ordem internacional.

Jimmy Carter, que foi presidente entre 1977 e 1981, não é uma figura que tenha ficado gravada de forma muito positiva no imaginário histórico americano, talvez por não ter assumido a atitude jingoísta que muito dos seus concidadãos esperavam, em casos como a tomada de reféns na Embaixada americana em Teerão ou a invasão russa do Afeganistão. 

Talvez o mundo, mais do que os EUA, tenha apreciado o fantástico êxito que consistiu a assinatura dos acordos de Camp David, que acabaram com a conflitualidade entre Israel e o Egito e lhe valeram o prémio Nobel da paz, o ato de devolução do canal do Panamá ao panamenhos, a distensão com Cuba, que permitiu a abertura da secção de interesses em Havana, bem como a assinatura do tratado de desarmamento SALT II. E, mais do que isso, parte da América talvez não tenha gostado do seu "puxar de tapete" a certas ditaduras latino-americanas, num recuo em relação à lógica subjacente à "doutrina Monroe".

Carter é um homem de bem, o presidente que trouxe os Direitos Humanos para a primeira linha da agenda externa americana. De certo modo, pode dizer-se que Barack Obama, sem o poder assumir, é um herdeiro da linha de Carter, o qual talvez tenha tido razão cedo demais.

sexta-feira, setembro 04, 2009

Obama

O que se está a passar nos Estados Unidos, com a emergência de uma forte resistência às propostas do presidente Obama para garantir uma cobertura em matéria de saúde para alguns milhões de deserdados da fortuna, é um forte sintoma político. A ideologia americana enraizou um culto extremo do individualismo, que continua a ser incompatível com políticas de solidariedade colectiva assumidas pelo Estado. Nada, aliás, que seja de espantar: uma modesta proposta no mesmo sentido havia já constituído a primeira derrota da administração Clinton.

Não deixa de ser chocante ver hoje alguns chamar a Obama "nazi" ou "socialista", por querer titular uma reforma social moderada. Trata-se, contudo, de uma reacção que tem, atrás de si, algo mais. É um sinal claro de que, afinal, a sua eleição, essa fantástica ruptura que o mundo saudou como símbolo de que outra América era possível, havia provocado um quase inédito mal-estar em muitos sectores do seu país, que calaram por algum tempo o preconceito, mas cuja raiva silenciosa durou pouco. A crise e o desemprego terão feito o resto e transformado, em poucos meses, uma onda de esperança num mar de dúvidas.

Resta o campo internacional. Obama e a sua equipa tiveram a coragem de colocar em causa a política seguida, num passado recente, em várias frentes, algumas das quais tradicionalmente delicadas. Com o Afeganistão a revelar-se um atoleiro complexo, sem saída à vista, com a "bomba-relógio" do Paquistão escondida momentaneamente sob o tapete, com o Iraque a mostrar-se um falso sucesso, com o não surgimento imediato de êxitos claros como resultado da notável moderação com que os EUA estão a lidar com a Rússia, o Irão, a Coreia do Norte ou Cuba, o grande teste, uma vez mais, acabará por ser Israel. É por aí que vai ser medido o grau de coragem final desta nova administração em termos externos, porque essa é também uma questão interna americana.

O rápido desencanto de uma certa América face ao seu presidente, que já o vê como fragilizante da imagem que tem de si própria e do seu destino como potência à escala global, poderá, rapidamente, acelerar-se se, por um infeliz acaso, uma qualquer nova ameaça à segurança dos EUA vier a ter lugar. Nesse caso, Obama correria o risco de ser colado à imagem de um Jimmy Carter e esse, como se sabe, foi em Washington o início de mais um insuportável ciclo de arrogância.

Compete à Europa aliar-se a Obama. A Europa, que não existe ainda como entidade política, atravessada como está por uma indefinição do seu projecto colectivo e com a crise económica a potenciar a emergência de soluções nacionais ou de potencial "directório", bem como a fragilização das suas instituições colectivas, deveria mostrar, à sua medida, que consegue ser capaz de ajudar a nova administração americana a ter sucesso nalguns dossiês internacionais importantes.

É que, como já se percebeu, um eventual êxito de Obama iria muito para além das fronteiras americanas: significaria um tempo novo para o multilateralismo e para a possibilidade de prevalência de certos valores que também estão na matriz constitutiva do projecto europeu. E esse projecto, gostem alguns europeus ou não, só tem condições de se implantar com projecção na ordem externa, com sustentabilidade, credibilidade e capacidade de influência, se e quando conseguir garantir um sólido e são diálogo com o seu parceiro do outro lado do Atlântico.

Uma versão sintetizada deste texto foi publicada no "Semanário Económico", de hoje, podendo ser lida aqui.

quinta-feira, julho 09, 2009

Robert McNamara (1916-2009)

Julgo que foi a primeira das várias vezes em que, por dever de ofício, tive de passar longas horas num já célebre barracão de conferências que existe em Maastricht, cidade holandesa encravada na Alemanha, que dá pela sigla de MECC. E nunca pela melhor razão: a excelente feira de antiguidades que lá tem lugar, no primeiro semestre de cada ano.

Estavámos em meados de 1990 e recordo-me que se tratava de uma qualquer conferência sobre questões de cooperação para o desenvolvimento, tema a que então especialmente me dedicava. Robert McNamara era um dos conferencistas e, devo confessar, a minha atenção ao que iria dizer havia sido mobilizada na razão directa da imagem, quase fotográfica e caricatural, que eu dele tinha - uma figura de cabelo oleadamente penteado para trás, qual ministro de Salazar. Lembrava-me, e lembro-o aqui, a mostrar um mapa do Vietnam, nos seus tempos de secretário da Defesa dos EUA, com um ponteiro que devia assinalar bombardeamentos e "santuários", no auge dessa carnificina sem sentido, para a qual a lógica cega da Guerra Fria tinha conduzido a América. E da qual o orgulho do país saiu com uma profunda ferida, que veio a conduzir à posterior eleição de Ronald Reagan.

Ao meu lado, lembro-me bem, estava sentado Abdul Magid Osman, então ministro das Finanças de Moçambique, velho amigo dos tempos em que ambos trabalhávamos na Caixa Geral de Depósitos, no início dos anos 70. E foi com Abdul que comentei aquilo que já sabíamos ser a surpreendente transfiguração de McNamara: do infatigável "warrior" anti-vietcong, tínhamos perante nós um homem sensível à situação do mundo em desenvolvimento, atento às suas necessidades, titulando a alteração da matriz dos estáticos "programas de ajustamento estrutural" do Banco Mundial, o organismo a que McNamara agora presidia. O jingoísta McNamara era agora um homem quase sereno, a caminho da reconciliação com o seu passado.

Seis anos mais tarde, Robert McNamara publicou "In Retrospect - The Tragedy and Lessons of Vietnam", um livro que aconselho vivamente a quem não tiver a fraqueza de se não querer enfrentar com a verdade. Um livro que honra um homem que não teve o receio de reconhecer os seus erros, por mais trágicos que hajam sido.

Em 2001, tive o privilégio de ouvir de novo McNamara no Council on Foreign Relations, em Nova Iorque, apontar, a tempo e horas, os perigos que detectava na equipa do recém-eleito George W. Bush. Recordo a sua lucidez, que não era minimamente incompatível com o seu patriotismo, que alguns neo-mccaristas, num certo momento, quiseram pôr em causa.

McNamara morreu agora, com 93 anos. Desconheço se chegou a ter a consciência da esperança que Obama representa para uma certa América. Porque Obama é hoje - e esperamos que possa continuar a sê-lo - a América que a contrição de McNamara também ajudou a construir.

quinta-feira, junho 18, 2009

Obama

O presidente americano tem vindo a demonstrar, para surpresa de muitos, que a política de diálogo construtivo no quadro internacional, que havia anunciado durante a sua campanha, era... para levar a sério.

Na questão de Guantánamo, no Próximo Oriente, no Iraque, na atitude face ao mundo islâmico e quanto ao Irão, ninguém poderá dizer que o presidente Obama não está a cumprir o que prometeu. E sem arrogância, procurando perceber as razões dos outros, com uma contenção face a certas provocações que representa um registo quase inédito na política externa americana contemporânea.

Dentro dos Estados Unidos, há muitos sectores positivamente motivados com este comportamento, enquanto outros parecem, cada vez mais, aguardar por um desastre desta estratégia internacional, havendo já quem a apelide de uma "carterização" da acção externa - sabendo-se o que isso significa aos ouvidos de quem só sentiu o seu orgulho pós-Vietname resgatado pela agressividade reaganiana.

Porque o presidente Obama tem de manter internamente uma forte credibilidade para poder prosseguir com a sua ousada agenda reformista externa é que mais importante se torna que Estados com especiais responsabilidades à escala global - e, entre estes, em especial, a China e a Rússia - venham a perceber a importância de ajudarem a "nova América" a não se sentir tentada a subordinar-se à agenda da "velha América". É que esta última está já à espreita de algo que possa ser lido como uma humilhação de Washington ou uma qualquer crise grave que consiga imputar a uma suposta fragilização introduzida por Obama na defesa dos interesses americanos.

sexta-feira, junho 05, 2009

Obama

O poder é algo que, por vezes, não precisa de se afirmar para ser reconhecido. O modo como o mundo em geral - e Israel e os árabes em particular - aguardou o discurso no Cairo do presidente Obama foi a prova provada de que os EUA continuam a ser o dono do jogo estratégico à escala global, com ou sem crise, goste-se ou não. Com a Europa a ver, claro.

quarta-feira, junho 03, 2009

GM

"What's good for the country is good for General Motors, and vice-versa" - disse um dia, para a História, Charles E. Wilson, antigo presidente da General Motors e, mais tarde, responsável pela pasta da Defesa nos Estados Unidos.

Ao ler-se hoje, em toda a grande imprensa americana, uma patética carta do sucessor de Wilson aos actuais clientes da empresa, no dia em que se consagra a sua falência e a aquisição de parte por uma obscura firma chinesa, não podemos deixar de reflectir nas partidas que o destino pode pregar àquele que já foi um dos grandes emblemas da América.

Notas americanas


1. Referências em vinhos na lista de um restaurante em Washington: "Organic grapes", "Biodynamic solar powered winery", "Sustainable viticulture". Uma percentagem das receitas da venda dos vinhos é dedicada a "to help disadvantadge women transition into work place". A América é, de facto, outro mundo.

2. Magnífico (e tentador...) o hábito americano de manter abertas as livrarias de "bargains" e usados até bem tarde.

3. Pululam novas edições elogiosas da política securitária da administração Bush e sente-se que a administração Obama está sujeita a um fogo crítico pouco comum, num período que costuma ser de "estado de graça". Se há um azar...

4. Reencontro a "Dissent", a revista liberal que faz as delícias do "Upper West Side" nova-iorquino, da qual já fui assinante e leitor atento. Tal como muitas congéneres, permanece muito centrada na perspectiva americana, com o mundo islâmico e a China como focos prioritários de interesse. O crédito de Obama no seio do radicalismo liberal está claramente sob teste.

5. Não é só impressão minha: confirmam-me a crescente presença de locutores de cor nas televisões americanas.

6. Cada vez é mais comum encontrar falantes de espanhol nos EUA. Em 2050 serão um terço da população. Hoje, os avisos em espanhol fazem já parte da paisagem pública.

7. O grande tema mediático é a nova candidata hispânica à Corte Suprema, uma aposta de Obama já sujeita a críticas, algumas com laivos preconceituosos.

8. O voo da Air France no qual, daqui a pouco, vou atravessar o Atlântico oferece imensos lugares vagos. Sem surpresas.

terça-feira, junho 02, 2009

Brasil

Há ocasiões em que se percebe melhor o êxito de um país como os Estados Unidos da América. São as mesmas ocasiões em que não se entende como esse mesmo país pode, por vezes, cometer erros históricos de uma dimensão inimaginável. A capacidade que os EUA têm de gerar informação de alta qualidade não condiz com o ocasional tropismo que Washington tem para a não utilizar devidamente na suas opções de política.

Um seminário sobre as relações entre os EUA, a Europa e o Brasil, em que me coube o papel de "keynote speaker" sobre a perspectiva europeia, lado a lado com um investigador alemão, numa mesa com 20 pessoas, foi também uma ocasião para ouvir excelentes análises feitas por personalidades de 8 países, entre os quais professores de Bolonha, Sciences-Po/Paris, Munique, S. Paulo, MIT, Columbia, etc., para além de figuras do Banco Mundial e de diversos "think tanks" americanos.

O Brasil está na moda e a Johns Hopkins University conseguiu congregar especialistas da área económica, do mundo académico e de centros de estudo de relações internacionais que nos proporcionaram visões profundas, despreconceituadas e - o que é reconfortante - genericamente bastante positivas sobre o futuro do Brasil.

Confesso os figos

Ontem, uma prima ofereceu-me duas sacas de figos secos. Não lhes digo quantos já comi. Há poucas coisas no mundo gustativo de que eu goste m...