terça-feira, abril 04, 2023

Finlândia

A prova de que a Federação Russa persiste numa narrativa completamente desligada da realidade é o facto de não saber ler, fora dos clichés habituais, as razões da adesão da Finlândia à NATO e o que motivou a profunda mudança do paradigma estratégico daquele país.

9 comentários:

Anónimo disse...

Sem ironia, palavra de honra que gostava de saber quais são as razões que refere.

MRocha

Francisco Seixas da Costa disse...

MRocha. Leia as declarações finlandesas sobre o assunto. Estão por todo o lado.

Joaquim de Freitas disse...

Um dia, forte da minha recente « referência” na Volvo, fui convidado a visitar a Saab Valmet finlandesa, em Uusikaupunki…

Voltei lá uma dezena de vezes, consegui fazer negócio. E fiz alguns amigos, que viriam mais tarde a França para a formação.

As refeições ao meio-dia eram na cantina…Não havia tempo para mais. Mas fizemos alguns jantares, no decurso dos quais discutimos muitos temas. Havia entre nós um finlandês russófono. Recordo bem as nuances quando discutíamos da situação da Finlândia.

A Finlândia, colonizada pela Suécia, cedida à Rússia durante um século, independente após 1917, graças aos bolchevistas.
Guerra civil depois, entre os “Brancos” apoiados pela Alemanha e os “Vermelhos” apoiados pela Rússia. Ganham os “Brancos”, pró Alemanha.

Influência alemã, “porque” a União Soviética era (já!) uma grande ameaça à segurança do Estado. Mas na década de 1930, direita e extrema-direita eram populares, como em Portugal e na Europa. Ah, quantas vezes tive de explicar por que nessa época tínhamos Salazar!

1939, a Alemanha nazista e a União Soviética concordaram que a Finlândia fazia parte da esfera de influência da União Soviética. E portanto, durante a Segunda Guerra Mundial, a Finlândia lutou ao lado dos nazis, duas vezes contra a União Soviética. A Finlândia perdeu as duas guerras, que custaram caro aos russos, mas a União Soviética nunca ocupou a Finlândia.


1948, Acordo de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua, celebrado entre a Finlândia e a União Soviética, segundo o qual os Estados se comprometem a defender-se conjuntamente contra ameaças externas. Durante todo o período da Guerra Fria,, a Finlândia estava na zona de influência da União Soviética.

Anos 1990 Queda da URSS, recessão finlandesa, entrada na EU.

Semelhança entre a situação de 1939-1940 e a de 2022: em 1939: a opinião pública ocidental (francesa, britânica, americana, canadense, sueca, dinamarquesa...) a favor da Finlândia (mas sobretudo, contra a URSS) e a exclusão da URSS da Liga das Nações.

Em 2022, as opiniões públicas da Europa, da América do Norte e dos aliados dos Estados Unidos, a favor da Ucrânia e contra a Rússia, excluída de uma série de organizações políticas, económicas, culturais e políticas internacionais.

Em 1940, franceses e ingleses planejavam desembarcar no porto de Narvik, na Noruega atravessar toda a Escandinávia (portanto, a neutra Suécia) para dar uma mão aos finlandeses.
Em 2022, tropas da NATO e tropas francesas foram enviadas para os países da NATO mais próximos da Ucrânia. Em caso...

A Finlândia justifica a sua entrada na NATO pela presença do urso russo na sua fronteira…

A Rússia não deve temer a presença dos 31 países da NATO à sua volta…Creio que a Finlândia, perdeu, mais uma vez, uma bela ocasiao de "rester tranquille" !

Joaquim de Freitas disse...



PS) Escrevi "mais uma vez", porque quando a Finlândia recusou aos russos a criação duma zona tampão na fronteira, na previsão dum ataque de Hitler, e para proteger São Petesburgo dos canhões alemães, a Finlândia recusou. Staline invadiu esse território e criou essa zona. Esse "osso" ainda continua na garganta dos finlandeses ...e dos russos ! o engenheiro russofono que encontrei na Saab perdeu a sua familia no cerco e bombardeamento de Sao Petesburgo.

caramelo disse...

Os russos podem ser o diabo, mas não são estúpidos. Não acredito muito que os russos, que estão logo ali ao lado e tantos séculos têm de contacto com a Finlândia, não conheçam a Finlândia e como eles pensam...

Joaquim de Freitas disse...

Caramelo: Tanto mais que mais de 100 000 russofonos vivem na Finlândia.

Anónimo disse...

Seixas da Costa,

Conheço as justificações publicitadas ; o que não alcanço é o racional ( as razões ) do processo. Suponho que esse não seja público, mas posso estar errado.

MRocha

Paulo Guerra disse...

A mudança de paradigma da Finlandia é real e é um problema dos filandeses. Não da Russia.

Paulo Guerra disse...

Concordo com a expressão fora dos clichés habituais. A adesão da Finlandia à NATO para oS Governantes da Finlandia não tem nada a ver com a Russia mas com o que quer que lhe tenha sido oferecido. Só alguém com uma fixação muito grande com a Russia como os EUA é que pode pensar que Moscovo hoje representa mais perigo para a Finlandia do que quando estendia o seu soft power por meia Europa! Quando a Finlandia prosperou com uma boa relação com a Russia. Veremos como propera daqui em diante! Um dos poucos casos onde nunca vão conseguir justificar a ausencia de um referendo quando está em causa, como diz o post e muito bem, uma total mudança de paradigma estratégico. Aliás, eu também gostava de ver hoje a Dinamarca a bater-se pelos seu petroleo no mar do norte contra as grandes corporações petroliferas dos EUA! Com Govts que até ajudam os EUA a espiar a UE! Assim como foram para o Iraque em 2003 sem pensar duas vezes. Todo o norte da Europa está hoje completamente irreconhecível. E basta olhar para os Parlamentos. E como já foi um dos nossos modelos de desenvolvimento.

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