Foi no dia 21 de abril de 1947, na igreja de São Martinho, nas Pedras Salgadas. Oficiou o padre Domingos, que recordou o evento, por ocasião do almoço que organizei, 50 anos depois. Era o dia do casamento dos meus pais.
O meu pai, originário de Viana do Castelo, funcionário da Caixa Geral de Depósitos, tinha sido transferido para Vila Real, um ano antes. Num baile do Clube de Vila Real, ter-se-á encantado com uma jovem solteira que ali conheceu, quase oito anos mais nova.
Como as regras da época mandavam, foi ter com o meu avô, antigo magistrado e então conservador do Registo Predial na cidade. "Vamos até minha casa conversar", contava o meu pai ter-lhe sido dito pelo meu avô, durante esse encontro no café Excelsior.
Beberam um cálice de "vinho fino". E falaram. Era voz corrente na família que, através de amigos de confiança, o meu avô terá depois "tirado informações" sobre quem era aquele pretendente à mão da filha, se era de "boas famílias", lá por Viana. E, isso constatado, deu o seu "nihil obstat" ao casamento.
Os meus pais não foram felizes: foram imensamente felizes. Quem os conheceu sabe isso bem. Sem grande dinheiro mas sem problemas financeiros, levaram uma vida agradável, longa e, quase até ao fim, com saúde. Cuidaram em cultivar sempre ambas as famílias, onde o destino também quis - felicidade puxa felicidade - que nunca tivesse emergido o mais leve conflito de relação pessoal. Os meus pais gozaram bem a existência cómoda que tiveram, passearam bastante pelo mundo, fizeram muitos e bons amigos. O seu único filho teve a sorte de poder herdar, essencialmente, essa sua felicidade.
A cada dia 21 de abril, lembro-me desse momento fundacional da minha família, do qual, naturalmente, não fui testemunha presencial.
7 comentários:
E muitos parabéns lhe dou, porque melhor herança não se pode ter. Que felicidade! Seja este, em sua casa, um dia alegre, este e os outros que hão-de vir, e muitos sejam. Uma saúde à memória dos senhores seus Pais que, segundo a minha Fé, o veem e acompanham.
Margarida Palma
Lindas memórias! As minhas felicitações.
O "naturalmente" da última frase está um pouco datado até porque agora é mais difícil definir qual foi o "momento fundacional" duma família.
http://www.cm-vilareal.pt/gremio/images/publicacoes/rua_direita.pdf
Sr. Embaixador,
Provavelmente já conhece, mas aqui vai:
http://www.cm-vilareal.pt/gremio/images/publicacoes/rua_direita.pdf
Bonita ode ao amor.
"Os meus pais não foram felizes: foram imensamente felizes. (...) O seu único filho teve a sorte de poder herdar, essencialmente, essa sua felicidade."
É a mais rica herança que se pode deixar.
Parabéns! É um privilégio olhar para trás e ver que os nossos pais viveram uma boa vida. E um grande motivo de felicidade para nós, os filhos.
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