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quarta-feira, abril 18, 2012

Ardiles e Messi

Em Londres, em 1982, durante a guerra entre o Reino Unido e a Argentina, a propósito do arquipélago das Falkland/Malvinas, testemunhei o facto do fantástico jogador argentino Oswaldo Ardiles ter de ser cedido temporariamente pelo Tottenham, em face do ambiente hostil que se criou à sua volta.

A crise política que agora se instalou entre Madrid e Buenos Aires, por virtude da nacionalização conflitual de uma empresa petrolífera com capitais espanhóis, está, felizmente, muito longe de ter a dimensão do conflito desse mês de abril, há precisamente 30 anos. Por isso, tenho esperança em que um outro génio argentino do futebol, como Lionel Messi, não veja a sua brilhante carreira afetada por esta nova tensão. 

Será que o futebol pode escapar, por completo, à política?

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Falkland/Malvinas

Foi já há 30 anos. Na velha lógica segundo a qual um conflito exterior se constitui num útil fator de reforço da unidade nacional e contribui para o esquecimento dos problemas internos, a ditadura militar argentina decidiu ocupar as ilhas Malvinas, o arquipélago adjacente ao seu território, que o Reino Unido mantém, desde há muito, sob a sua soberania (e a que chama ilhas Falkland). Tratava-se de dar concretização a um sentimento histórico que de há muito atravessa o imaginário argentino, que considera como um injustificável resquício colonial a presença britânica nas suas costas (um pouco como sucede com Gilbraltar, perante a Espanha, ou sucedia com Hong-Kong, perante a China).

A reação britânica acabou por ter uma dimensão inesperada. Meses antes, o vice-ministro Nicholas Ridley havia tentado convencer a população das ilhas a aceitar uma compensação financeira, em troca do seu acordo com um modelo de "leaseback" que permitiria a retoma, a prazo, da soberania argentina. Esta atitude parecia indiciar uma fragilização da vontade de Londres de manter a presença no arquipélago. Mas os argentinos "leram" mal a disposição britânica: o Reino Unido reagiu, "à antiga", à tentativa de invasão e enviou uma imensa esquadra que, embora com significativo custo, mas com um reconstituído orgulho, retomou o controlo das ilhas. A primeira-ministra Margareth Thatcher obteve uma retumbante vitória militar, que acabou por funcionar como um "boost" político para a manutenção dos conservadores no poder.

Eu vivia então na Noruega e recordo bem as lágrimas do meu colega argentino, Miguel Angel Cuneo, num final de tarde em minha casa, comentando a humilhação a que o seu país fora sujeito, dividido entre o que era um desiderato nacional e as consequências pesadas de uma iniciativa mal sucedida. O afundamento do cruzador "General Belgrano", a "jóia" da armada argentina, foi talvez a imagem mais dramática dessa imensa e histórica derrota, que acabou por representar o princípio do fim da ditadura militar de Buenos Aires.

Ao tempo da preparação do envio das tropas britânicas, o Reino Unido fez, em Lisboa, uma diligência junto do MNE, no sentido de poder utilizar facilidades nos Açores, como ponto de apoio da sua frota marítima. O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros de então, o embaixador Leonardo Mathias, solicitou que o pedido fosse feito, formalmente, "à luz do tratado de Windsor", procurando, desta forma hábil, assegurar, de um modo implícito, que os britânicos se sentiam vinculados ao espírito da "oldest alliance". O embaixador britânico Hugh Byatt, não sem uma visível relutância, acedeu a apresentar uma nota com o "wording" exato que o nosso governo pretendia, referindo o tratado de Windsor. Ora esse era exatamente o mesmo tratado que Londres se havia recusado a considerar como invocável, quando, exatamente duas décadas antes, o governo português o havia lembrado, ao solicitar a ajuda de Londres, aquando da ocupação, pela União Indiana, das possessões portuguesas na costa malabar.

Dizia Disraeli, antigo primeiro-ministro britânico, que "a Inglaterra não tem amigos, tem interesses". Neste caso, a diplomacia portuguesa provou a Londres que, às vezes, pode ter interesse em ter amigos...

Confesso os figos

Ontem, uma prima ofereceu-me duas sacas de figos secos. Não lhes digo quantos já comi. Há poucas coisas no mundo gustativo de que eu goste m...