Aqui fica o que, há umas horas, eu disse na CNN Portugal sobre a iniciativa de Lula da Silva no caso ucraniano. Na imagem, fica claro que o presidente brasileiro não está a concordar com o que eu estou a dizer...
Leio por aí, em mais de um sítio, que no Brasil ninguém deu qualquer importância ao que se tem passado por cá à volta da visita e das declarações do presidente Lula da Silva. De vez em quando, perante situações semelhantes, lá nos informam que no país A ou no país B, ninguém deu importância e nem sequer noticiou um acontecimento que nos envolvia ou um diferendo entre os dois países que aqui enchia jornais e telejornais há quinze dias. Esta necessidade permanente de nos acharmos o “centro do mundo” por dá cá aquela palha quando é evidente que o mundo passa bem sem nós é algo entre o ridículo e o doentio. Tivéssemos outra “maneira de estar” sobre os assuntos, outra “grandeza” no olhar o que acontece à nossa volta, poderíamos ser parceiros procurados e até talvez influenciadores respeitados. Mas não temos, nunca tivemos e já não nos cresce. Como também já aqui escrevi, será que àqueles que tanto se ralam com o não termos essas atenções e sermos objecto de uma maior consideração, passa pela cabeça que, se não as temos, é porque se tornou evidente que o país vive cada vez mais entretido com “erros de percepção mútua” internos e cada vez menos com a afirmação de uma personalidade na cena internacional?
Em 7 de Setembro de 2022 um dos nossos semanários tinha este título:
"Relações Brasil-Portugal resistem a Bolsonaro: "São excecionais", garante Marcelo".
Suponho que por uma questão de coerência devia por estes dias trazer:
"Relações Brasil-Portugal resistem a Lula da Silva: "São excecionais", garante Marcelo".
Mas enquanto as leituras das relações internacionais continuarem a ser feitas conforme gostamos mais ou menos dos legítimos representantes dos outros povos, qualquer esperança de sermos alguma vez uma voz que deve ser ouvida é algo de muito remoto.
Guardo dos meus tempos por terras de Vera Cruz a memória de um certo distanciamento do cidadão médio brasileiro em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia. Os comentários iam desde a ideia de que se tratava de mais um conflito entre muitos outros que assolavam o mundo até ao mais radical “a Ucrânia sempre pertenceu a Rússia”. O facto de os EUA e a UE estarem do mesmo lado ao contrario de funcionar como um elemento de moderação da posição brasileira tinha mesmo um efeito oposto. O Brasil tinha presente o antagonismo latente entre a UE e o Brasil durante o governo Bolsonaro como a rispidez da administração Americana após a eleição de Biden.
Já agora a propósito da visita de Lula a Huawei convém recordar que apesar da retórica anti-China do presidente Bolsonaro e da sua entourage próxima nunca a Huawei foi marginalizada pelo governo apesar dos esforços da administração Trump. O ministro das comunicações cessante Fábio Faria protagonizou uma visita aos fabricantes de equipamento 5G que incluiu a Huawei além das Europeias Ericsson e Nokia, a NEC Japonesa e a Samsung Coreana. E ainda em 2022 antes das eleições a Huawei fazia alarde da sua capacidade tecnológica ao demonstrar em Brasília o 5G no dia de lançamento da rede na capital do Brasil com a presença de individualidades do governo federal.
O que nem a UE nem os EUA conseguem assimilar é que o Brasil já não se contenta com o estatuto de aliado bem comportado tolerado com algum paternalismo pelas chamadas “grandes potências” do ocidente. As reações as declarações de Lula são precisamente vão ter por efeito um reforço do ressentimento e empurrar ainda mais o Brasil para a órbita dos BRICS.
Ainda durante o governo Bolsonaro foi patente uma vaga de fundo no establishment político que ia em favor duma crescente aproximação do Brasil das economias emergentes e da Ásia beneficiando dum contexto político e económico percepcionado como mais favorável por parte de vários círculos políticos (da esquerda e da direita) e económicos com destaque para agro-negocio.
3 comentários:
Leio por aí, em mais de um sítio, que no Brasil ninguém deu qualquer importância ao que se tem passado por cá à volta da visita e das declarações do presidente Lula da Silva.
De vez em quando, perante situações semelhantes, lá nos informam que no país A ou no país B, ninguém deu importância e nem sequer noticiou um acontecimento que nos envolvia ou um diferendo entre os dois países que aqui enchia jornais e telejornais há quinze dias.
Esta necessidade permanente de nos acharmos o “centro do mundo” por dá cá aquela palha quando é evidente que o mundo passa bem sem nós é algo entre o ridículo e o doentio.
Tivéssemos outra “maneira de estar” sobre os assuntos, outra “grandeza” no olhar o que acontece à nossa volta, poderíamos ser parceiros procurados e até talvez influenciadores respeitados.
Mas não temos, nunca tivemos e já não nos cresce.
Como também já aqui escrevi, será que àqueles que tanto se ralam com o não termos essas atenções e sermos objecto de uma maior consideração, passa pela cabeça que, se não as temos, é porque se tornou evidente que o país vive cada vez mais entretido com “erros de percepção mútua” internos e cada vez menos com a afirmação de uma personalidade na cena internacional?
Em 7 de Setembro de 2022 um dos nossos semanários tinha este título:
"Relações Brasil-Portugal resistem a Bolsonaro: "São excecionais", garante Marcelo".
Suponho que por uma questão de coerência devia por estes dias trazer:
"Relações Brasil-Portugal resistem a Lula da Silva: "São excecionais", garante Marcelo".
Mas enquanto as leituras das relações internacionais continuarem a ser feitas conforme gostamos mais ou menos dos legítimos representantes dos outros povos, qualquer esperança de sermos alguma vez uma voz que deve ser ouvida é algo de muito remoto.
Guardo dos meus tempos por terras de Vera Cruz a memória de um certo distanciamento do cidadão médio brasileiro em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia. Os comentários iam desde a ideia de que se tratava de mais um conflito entre muitos outros que assolavam o mundo até ao mais radical “a Ucrânia sempre pertenceu a Rússia”. O facto de os EUA e a UE estarem do mesmo lado ao contrario de funcionar como um elemento de moderação da posição brasileira tinha mesmo um efeito oposto. O Brasil tinha presente o antagonismo latente entre a UE e o Brasil durante o governo Bolsonaro como a rispidez da administração Americana após a eleição de Biden.
Já agora a propósito da visita de Lula a Huawei convém recordar que apesar da retórica anti-China do presidente Bolsonaro e da sua entourage próxima nunca a Huawei foi marginalizada pelo governo apesar dos esforços da administração Trump. O ministro das comunicações cessante Fábio Faria protagonizou uma visita aos fabricantes de equipamento 5G que incluiu a Huawei além das Europeias Ericsson e Nokia, a NEC Japonesa e a Samsung Coreana. E ainda em 2022 antes das eleições a Huawei fazia alarde da sua capacidade tecnológica ao demonstrar em Brasília o 5G no dia de lançamento da rede na capital do Brasil com a presença de individualidades do governo federal.
O que nem a UE nem os EUA conseguem assimilar é que o Brasil já não se contenta com o estatuto de aliado bem comportado tolerado com algum paternalismo pelas chamadas “grandes potências” do ocidente. As reações as declarações de Lula são precisamente vão ter por efeito um reforço do ressentimento e empurrar ainda mais o Brasil para a órbita dos BRICS.
Ainda durante o governo Bolsonaro foi patente uma vaga de fundo no establishment político que ia em favor duma crescente aproximação do Brasil das economias emergentes e da Ásia beneficiando dum contexto político e económico percepcionado como mais favorável por parte de vários círculos políticos (da esquerda e da direita) e económicos com destaque para agro-negocio.
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