duas ou três coisas
notas pouco diárias de Francisco Seixas da Costa
sábado, maio 17, 2025
Soajo
Coisas do muito tempo
Ontem, durante uma conversa telefónica com um amigo jornalista (cujo nome não interessa mas que todos conhecem), referi que estava a ler as memórias de um seu colega francês, Jean-François Kahn, onde ele fala do caráter "trotskizante" do regime argelino, logo após a independência do país, em 1961. Como esse meu amigo tinha navegado nessas mesmas águas políticas, perguntei-lhe o que sabia ele disso. Ele logo lembrou o "camarada" Pablo/Michel Raptis, envolvido no apoio aos independentistas e que teria sido depois um conselheiro de Ben Bella. (Por minutos, passámos então ao "fine tuning" do mundo dos admiradores de Trotsky, com a sua conhecida propensão para a cissiparidade. E, entre outros, vieram a jogo os lambertistas e a corrente de Frank, que fiquei a saber que tinha como coroa de glória ter reunido com o próprio Trotsky, antes dos tempos mexicanos). Aí, eu interroguei-me se teria sido Pablo o interlocutor trotskista de um representante da oposição portuguesa, numa congeminação que sabia montada em Bruxelas, que iria permitir a posterior instalação em Argel da FPLN, a frente anti-fascista portuguesa criada em Roma. O meu amigo disse ser provável e adiantou que, nesse caso, nessa conversa, pelo lado português, poderia ter estado Manuel Sertório, figura relevante no início da FPLN, ele próprio ligado ao trotskismo. E logo fez uma pausa de bom senso: "Não acha que isto é uma conversa muito estranha! Já imaginou quantas pessoas ainda a poderiam acompanhar?" E rimo-nos. Aventei que, aqui em Arcos de Valdevez (ou "nos Arcos", para quem é do Minho), onde me encontro a banhos de preguiça, a menção a Sertório talvez trouxesse à baila o nome de Viriato, que imagino que ainda se deva aprender na escola. E acrescentei: "Conhecerão esse Viriato mas, com toda a certeza, nunca ouviram falar de Viriato da Cruz", o poeta e revolucionário angolano que passou as passas do Algarve na China. E daí a nossa conversa transbordou, por largos minutos, para o MPLA, de Neto a Mário de Andrade, e coisas assim. Depois, cada um de nós foi à sua vida, que, como é sabido, são dois dias: amanhã já é sábado e jogam para o título dois clubes que nos dividem, a mim e ao meu amigo, e depois é domingo e há eleições em que, por vias diferentes, juntamos vontades e esperanças contra os mesmos.
O meu pai chamava a isto "conversas arbóreas": de um ramo saem outros e assim sucessivamente. De facto, é uma evidência que há cada vez menos gente capaz de acompanhar estas conversas de gente já com muito tempo na vida. Mas eu gosto delas, confesso. E acho que o Zé também.
sexta-feira, maio 16, 2025
Sorry, mas é verdade
"The meeting itself was a tactical victory for Putin, who managed to start the negotiation process without prior agreement to a ceasefire, which Ukraine and almost all of its supporters in the West had tried to make a precondition for the talks", The New York Times.
quinta-feira, maio 15, 2025
Trump ou a orgia de poder
Sempre achei bastante frágil a ideia de que os Estados Unidos da América vivem um período de inexorável declínio, no sentido de que a ascensão da China e a multi-polaridade têm nas mãos os destinos do mundo.
Do risco
Um amigo, há minutos: "Arriscaste muito, ao afirmares, desde há dias, que Putin não iria à Turquia". Acho que não arrisquei nada. Dei uma opinião, à base do bom senso. E se Putin tivesse ido? Eu teria errado. Infalível só papa, mas em matéria de fé. No resto, sabe tanto como nós.
Estatísticas
Da Michelin
Nos tertulianos da mesa havia belíssimos cozinheiros, dos que sabiam da poda e do polme, tal como havia meros usufrutuários gustativos da arte alheia, de que eu era um insigne e incorrigível exemplar. Cada um de nós mandou então solenes bitaites sobre pataniscas - no meu caso centradas na sua deglutição, outros no processo de produção a montante da fase no prato. Nomes de restaurantes, chefes com fama e até mães dos alguns presentes que "as cozinhavam como ninguém", foram chamados a terreiro.
A certo ponto, um comentário de um dos até então silenciosos membros à mesa chamou a nossa atenção, pelo seu caráter imperativo: "Conheço um sítio onde se servem umas pataniscas dignas do Michelin". No meu caso, porque gosto muito dessa forma de honrar o bacalhau, que até nem tem de ser "de primeira", logo pedi o endereço dessa casa. Outros mostraram intenção de também tomar nota.
Generoso e sorridente, o nosso informador deixou então as coisas mais claras: "Quando me refiro ao Michelin, não me refiro às estrelas, mas à consistência: as pataniscas que se servem naquela casa parecem borracha de pneu!"
Ontem à noite, no Porto, fui jantar ao último dos restaurantes clássicos da cidade que ainda não conhecia. O que é obra, acreditem! Há anos que andava para visitar esta casa. Esperava mesmo poder sair dali com umas notas que me permitissem escrever uma apreciação positiva, para uso e proveito dos leitores que fazem o favor de aqui me ler. E até previa ir penitenciar-me por só agora ter feito esta visita.
Mas de boas intenções está a Baixa portuense cheia! Entre outras coisas que se provaram, que estavam razoáveis mas nada de excecional, caí na asneira de mandar vir umas pataniscas. Uma desilusão: altas, maçudas, sem sabor, fritas por fora e desgostantes por dentro. Michelin? Mabor e é um pau! O arroz de feijão, num tacho a acompanhar, estava bom, vá lá!
E assim se não fez uma crónica gastronómica que a simpatia da empregada, as sobremesas e até o espaço talvez merecessem. Mas umas más pataniscas põem-me fora de mim!
quarta-feira, maio 14, 2025
O periscópio
O senhor almirante tem todo o direito de se candidatar à Presidência da República. Mas ficamos a conhecê-lo melhor, depois do tempo das agulhas. É que é de muito mau gosto democrático içar o periscópio no meio da campanha para a escolha parlamentar em curso.
terça-feira, maio 13, 2025
Com amigos destes...
Numa entrevista concedida a televisões na noite de hoje, Macron disse que ucranianos já estão convencidos de que não vão conseguir recuperar os territórios ocupados pela Rússia. Ora aqui está uma estranha maneira de ajudar a Ucrânia, ainda antes das negociações terem começado.
Terroristas e oficios correlativos
Um terrorista é alguém defende por meios violentos e inaceitáveis causas de que não gostamos. Um dia, a ação desse terrorista começa a "dar jeito" aos nossos interesses estratégicos: passa a "freedom fighter" enquanto luta, quando chega ao poder é "one of us". Síria 2025.
Hipocrisia
Os ditadores de vestes longas do mundo árabe dão, por estes dias, a imagem mais hipócrita da sua "solidariedade" com a causa palestina e de repúdio do genocídio israelita em Gaza: traficam contratos milionários, entre sorrisos e tâmaras, com o protetor de Netanyahu.
Pepe Mujica
Com 89 anos, morreu Pepe Mujica, estimabilíssimo antigo presidente uruguaio. Um dia, disse: "Yo me dediqué a cambiar el mundo y no cambié un carajo, pero estuve entretenido y le di un sentido a mi vida".
Influencer?
Hoje, fui buscar o meu carro que há dias tinha deixado numa loja, de que já me haviam falado bem, e que tem como "arte" ajudar a recuperar os automóveis, no plano estético, exterior e interior. O trabalho que requeri era de pequena dimensão. Mas fui muito bem tratado, com profissionalismo, fiquei satisfeito com o resultado final, que naturalmente paguei, e vim para casa a pensar: se um "influencer" pode dizer bem de uma loja ou de um produto e ainda por cima recebe por isso, não tenho eu o direito de falar na satisfação por um trabalho que foi bem feito, que paguei e me agradou?
Por isso, aqui fica a nota: a Mr. Cap. (vejam contactos na net) tratou lindamente do que pedi para fazerem no meu carro. Recomendo.
Passei, com isto, a "influencer"? Embora seja uma designação que detesto (vinha no carro e ouvi que vai haver uma reunião de "influencers" internacionais em Lisboa), já me chamaram coisas piores. (Ah! o automóvel da fotografia não é meu, esclareço.)
Conversas
Parece-me haver um imenso equívoco na questão das negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia. Está criada a ideia de que delas poderão sair resultados que possam pôr fim à guerra. Não tenho essa ideia. Com efeito, sabendo-se as posições de partida das partes, à luz daquilo que tem sido afirmado por ambas, não descortinei até hoje qualquer margem de flexibilidade que permita indiciar uma convergência mínima.
Senão vejamos.
A Rússia entende que está fora de causa recuar, um milímetro que seja, das posições que tem na Crimeia e nos quatro "oblasts" que integrou posteriormente na Federação, parte dos quais, aliás, não ocupa totalmente. Além disso, considera essencial a renúncia formal da entrada da Ucrânia na NATO e tem um discurso, embora não muito claro, sobre a desmilitarização da Ucrânia (curiosamente, hoje um dos países mais militarizados do mundo...) e a sua "desnazificação" - conceito pouco preciso, na forma de levar à prática, e que, para muitos analistas, começaria pela saída do poder de Zelensky. O discurso sobre novas eleições presidenciais, que Trump parecia ter "comprado" até ter conseguido o "acordo das terras", poderia ir nesse sentido, embora, se as eleições fossem "a sério", nada pudesse garantir à Rússia que a eleição de um sucessor de Zelensky iria necessariamente significar um futuro equilíbrio político em Kiev muito diferente. Finalmente, e aqui seguindo a racionalidade subjacente ao que estava na carta de Lavrov aos seus homólogos ocidentais, em finais de 2021, e que agora seria importante revisitar, a Rússia teria como ambição (máxima, embora dificilmente exequível) um "reset" no sentido do "status quo" existente antes dos alargamentos da NATO aos países do Centro e Leste europeus. Isso incluiria, naturalmente, o fim das ambições de entrada na NATO para a Moldova e para a Geórgia. Esta, porém, é uma questão que pouco tem a ver com a Ucrânia e que releva da leitura de Moscovo de que, no fundo, esta guerra é uma mera sequela do conflito político-estratégico que mantem com os poderes ocidentais, tutelados pela América pré-Trump. Do mesmo modo, Moscovo não aceitaria qualquer acordo que não conduzisse ao levantamento total da sanções unilaterais que impendem sobre a Rússia, bem como a devolução dos bens russos congelados, por exemplo pela UE. Esta seria a agenda maximalista russa.
Por seu turno, a Ucrânia, que não reconhece qualquer legitimidade à secessão do Donbass, muito menos de Kherson e Zaporizhzhya, e que nunca se conformara com a anterior tomada da Crimeia (embora a aparente complacência ocidental com a sua inclusão na Rússia tivesse atenuado, por algum tempo, o seu protesto), pretende, muito simplesmente, o regresso ao "status quo ante", isto é, às fronteiras de 1991, definidas aquando da implosão da URSS. A Ucrânia não se compromete sequer a retomar as previsões do acordo de Minsk II, que criava, entre outras coisas, alguma autonomia para o Donbass. Verdade seja, o regresso ao acordo de Minsk não tem hoje qualquer atualidade, depois da Rússia ter incorporado essas regiões na Federação. Essas são, na linguagem diplomáticas de Moscovo, as "novas realidades geopolíticas" de que nunca deu ar de poder abrir mão. A Ucrânia quer também reparações de guerra e a sujeição de Putin à justiça internacional. Para se ver a agenda maximalista da Ucrânia é necessário reler o seu "plano da vitória", de 2024, uma evolução dos anteriores "dez pontos".
Perante estas duas posturas, qualquer acordo só poderá vir a fazer-se por flexibilização de atitude de uma das partes. E essa evolução de posições só surgirá se e quando uma das partes considerar que não tem condições para sustentá-la, por exaustão de recursos ou por consciência de derrota irreversível no campo de batalha. É aqui que ainda não estamos. Qualquer conversa que não incorporar isto na sua agenda servirá para muito pouco.
"The American way..."
segunda-feira, maio 12, 2025
Ucrânia ("à suivre")
1. A Rússia ignorou a iniciativa de cessar-fogo e propôs um encontro bilateral com a Ucrânia na Turquia, na quinta-feira. Na ocasião, não ficou claro se seria apenas um face-a-face ou se incluiria um mediador, neste caso a Turquia. A Rússia parece não querer perder o simbolismo de regressar à mesma mesa de onde a Ucrânia saiu, por pressão ocidental, quando estava prestes a assinar um acordo que equivaleria à sua parcial rendição, ainda em 2022. Na altura, com mediação turca, recorde-se.
2. Trump reagiu: "President Putin of Russia doesn't want to have a Cease Fire Agreement with Ukraine, but rather wants to meet on Thursday, in Turkey, to negotiate a possible end to the BLOODBATH. Ukraine should agree to this, IMMEDIATELY. At least they will be able to determine whether or not a deal is possible, and if it is not, European leaders, and the U.S., will know where everything stands, and can proceed accordingly! I'm starting to doubt that Ukraine will make a deal with Putin, who's too busy celebrating the Victory of World War ll, which could not have been won (not even close!) without the United States of America. HAVE THE MEETING, NOW!!!"
3. Este "tweet" de Trump (e, provavelmente, algo mais, em termos de pressão de Washington e dos "minders" europeus da Ucrânia), levou Zelensky a anunciar estar disposto a reunir-se pessoalmente com Putin em Istambul, sabendo perfeitamente que o líder russo nunca poderia estar disponível para isso - não era a um encontro de presidentes que Putin se referia. É curioso que parece estar ainda em vigor uma lei ucraniana que, em princípio, impede Zelensky de se encontrar com Putin, mas foi ignorada. A jogada de Zelensky é interessante, fazendo regressar a bola ao campo russo. Se Putin não for, e com toda a certeza não vai, a Istambul, abre-se a caixa de Pandora anunciada no "tweet" de Trump.
4. Note-se a ironia de Trump no "tweet", ao referir que Putin esteve "demasiado ocupado" nas celebrações do 9 de Maio - com uma "bicada" histórica suplementar sobre o papel dos EUA na Segunda guerra mundial. O tom de Trump face à Rússia está claramente a mudar. O efeito nisto do acordo assinado com Kiev sobre as "terras raras" é muito evidente e a "cimeira" comemorativa em Moscovo não lhe foi indiferente e deve ter soado aos seus ouvidos como um evento irritante. Se a isso se somar a luz verde entretanto dada ao envio de mais material militar para a Ucrânia, parece estar criado um "mood" em Washington cada vez menos simpático para Putin. Veremos agora como o presidente americano vai reagir à, mais do que provável, recusa de Putin de ir a Istambul.
5. O que mudou na atitude americana face à questão ucraniana? No início, havia a ideia de que Trump faria um "diktat" à Ucrânia, anunciando o congelamento da ajuda militar e impondo-lhe a aceitação de uma derrota (parcial) face à Rússia: perda de território (desde logo, a Crimeia), impossibilidade de entrada na NATO, eleições internas (com afastamento de Zelensky). Era o Trump "fazedor de paz"... em 48 horas. Putin esfregava as mãos de contente. Lentamente - porque foi algo lentamente - as coisas foram mudando. O efeito da imagem "Trump-está-no-bolso-de-Putin" deve ter-se começado a sentir naquele ego sem limite, tanto mais que o tempo de Moscovo era muito mais lento do que os sucessos rápidos que o presidente americano queria obter para dourar a sua imagem pública. A Zelensky, depois de o humilhar, Trump comprou o subsolo a preço de saldos. Com Putin, passou agora à fase do encosto à parede, com a cena do cessar-fogo a servir de pretexto. Não fosse isto trágico e teria a sua graça como jogo. É que não é evidente o "script" para as cenas dos próximos capítulos.
Comércio
Em política, o que parece é. E parece muito claro, ao olhar o "backtrack" dos EUA na guerra comercial com a China, que a resistência de Pequim acabou por compensar. No fim de contas, temos de olhar para o início desta crise e perceber aquilo que quem a lançou efetivamente ganhou.
domingo, maio 11, 2025
Um jogo de habilidades
Zelensky tinha sido hábil ao colar-se a um cessar-fogo que, nos moldes em que foi avançado, ele sabia que Putin nunca poderia aceitar. Com efeito, dar o seu acordo a uma suspensão de hostilidades sem ter garantida a cessação do fornecimento de armamento ocidental à Ucrânia seria um gesto suicida por parte de Moscovo. No final desse período, a Ucrânia estaria muito melhor equipada e a Rússia teria perdido toda a dinâmica ofensiva dos últimos meses, levada a cabo com fortes custos. Além disso, os aliados europeus da Ucrânia poderiam sentir-se tentados a levar à prática, ainda durante esse período, a sua intenção de colocar tropas no terreno ucraniano. Se isso acontecesse, e com as mãos atadas pelo cessar-fogo, a Rússia não teria condições para reagir a esse rápido desequilíbrio do poder militar ucraniano.
Mas Putin tem uma imensa preocupação: a absoluta necessidade de não dar um qualquer passo que possa alienar a boa vontade de Trump. O presidente americano, que acabou por perceber que afinal pôr termo à guerra não é uma coisa tão simples como pensava, por sua vez, tem também um crescente problema: não pode ser visto a arrastar os pés por muito mais tempo, sob pena de isso afetar a sua imagem de decisor-mor do mundo. Trump precisa de resultados e já dava sinais de começar a achar que Putin podia estar a tentar enganá-lo, prolongando as coisas para ter mais ganhos no terreno. À sua volta, parece haver gente a tentar convencê-lo disso.
Em face de tudo isto, a proposta de Putin de iniciar negociações a 15 de maio, na Turquia, parece ser uma escapatória bastante hábil. Com ela, pode dizer a Trump: não aceitamos o cessar-fogo nos termos propostos mas estamos de acordo para nos sentarmos já à mesa com a Ucrânia.
A bola passou assim para o lado de Zelensky? Não é totalmente evidente, porque isso só seria assim se o presidente ucraniano deixasse cair a proposta de cessar-fogo. Zelensky pode vir a dizer que uma coisa não é incompatível com a outra, pelo contrário, até pode ser complementar: parar as hostilidades e começar negociar. Soa bem, não soa? Soa, mas, repito, a Rússia não pode aceitar esse cessar-fogo. Só se Putin fosse louco e já provou que não é.
Agora volta ao jogo Trump. Como olhará para a proposta russa? Deixará cair o cessar-fogo? As próximas horas dar-nos-ão a resposta.
sábado, maio 10, 2025
Maré (Guincho)
Come-se muito bem no "Maré". Já lá tinha ido antes e ontem confirmei essa ideia. Em regra, come-se bastante bem nas casas assinadas com o nome do José Avillez. É seguramente um dos raros cozinheiros "estrelados" pelo Michelin que sempre cuidou um criar espaços de restauração de natureza (e preços) diferente. Todos de boa ou mesmo muito boa qualidade.
Nesta onda de "dicas" em que ando, aqui fica mais uma: vá ao "Maré". É um restaurante barato? Não é, ao que recordo da vez anterior em que lá estive. Ontem, o jantar foi oferecido por um amigo aniversariante que, há dias, deixou de poder cantar o "When I'm sixty-four". Não podia haver melhor relação qualidade - preço...
sexta-feira, maio 09, 2025
Outra dica
Presenças
Moscovo
Putin investiu muito, diplomaticamente, na parada do dia da vitória deste ano. Sob o ponto de vista de encenação, foi um belíssimo espetáculo. Talvez demasiado grandioso para o gosto de Trump, que não deve apreciar muito de ser emulado no terreno destas teatralidades políticas.
Conversa medíocre
Mas que diabo me interessa a mim, que diabo interessa a alguém, que o ministro Paulo Rangel esteja ou não esteja a viver numa união de facto? Só bisbilhoteiros se entretêm com este tipo de mexericos de conversa medíocre. Há um país que nunca mais chega à idade adulta.
O papa
Vou revelar uma coisa: não tenho ainda a menor opinião sobre o novo papa. Talvez porque não assisti ainda às imagens da sua aparição na varanda, não escutei a sua voz, nem ouvi nenhum dos comentários, oficiosos ou não, que sobre ele terão sido produzidos. Estive a fazer outras coisas, como ler um livro interessante e ver o Manchester United - Atlético de Bilbao e pedaços do Tottenham - Bodø. Amanhã, com calma, as imagens e sons sobre o novo papa cá me chegarão. Mas, devo dizer, quando me transmitiram a notícia de que o papa era americano, tive aquela sensação com que os miúdos ficam quando abrem um presente de Natal e constatam que é um pacote de meias. Vamos esperar. Afinal de contas, da América não podem chegar só más notícias.
quinta-feira, maio 08, 2025
Ah! Leão!
Tal como achei bem que o anterior papa tivesse tido o bom gosto de se chamar Francisco, acho lindamente que este se chame Leão.
Devemos homenageá-lo no sábado, no Marquês.
Boa!
A igreja católica bate aos pontos qualquer outra religião na operação de renovação da sua liderança.
Procópio
Fascismo. Ponto
Deve acabar de vez a conversa "científica" e redutora sobre o fascismo: há muito que o conceito deixou de ser aplicável apenas ao regime de Mussolini, para passar a ser uma designação comum às ditaduras de direita. O salazarismo é um fascismo.
Espírito Santo
A bem dizer, e pensando no conclave vaticânico, eu também ainda sou do tempo em que, por cá, as eleições eram bastante influenciadas pelo Espírito Santo.
Mau mestre!
Ontem, para ir ao Porto, por causa da greve dos comboios, tive de conduzir por bem mais de seis horas. Cheguei arrasado e furibundo, confesso!
Hoje, ao ouvir Luís Montenegro dizer que "um dia, temos de pôr cobro a isto!", gostava de lembrar que esse "dia" já existiu: chamava-se fascismo.
Santo espírito
De acordo com a doutrina divina, a escolha do papa, sendo, mas apenas na prática, um ato de dimensão terrena, obedece, na essência, a uma sábia escolha do "espírito santo". Nestas condições, como é que os meus amigos católicos explicam estas andanças de fumo branco / fumo preto?
O Procópio perto da cúria
"Importa-se que ligue a telefonia a ver se houve fumo branco no Vaticano? " Detesto o lisboeta "telefonia", mas disse ao homem do Bolt que não me importava. "Era o máximo se saísse o Tolentino, não era?" Tinha graça, de facto, ter um papa que já encontrei pelas mesas do Procópio.
quarta-feira, maio 07, 2025
Luís Soares de Oliveira
Soube agora que morreu o meu colega de profissão Luís Soares de Oliveira. Tinha 98 anos. Conheciamo-nos mal, falámos poucas vezes e a nossa mais longa conversa não correu muito bem. Mas já lá vamos.
... e agora, futebol!
terça-feira, maio 06, 2025
Piroseira
A bola
Que grande jogo foi o Inter - Barcelona! Vale a pena ver futebol assim. Como não estava a "puxar" por qualquer das equipas, sempre que uma dela marcava um golo, eu passava a desejar que a outra marcasse, para animar o jogo. E assim passei duas belas horas.
Rubens Ricupero
Ricupero é uma grande figura da diplomacia, com passagem de relevo na política brasileira. Exerceu cargos de embaixador e de ministro, além de ter sido diretor-geral da UNCTAD. Tem vasta e importante obra publicada.
Um dos seus livros é o magnífico "A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016", editado em 2017. Por essa altura, fui convidado por um amigo comum, o meu colega brasileiro Paulo Roberto de Almeida, para apresentar o livro em Portugal. Por motivos pessoais, Ricupero não pôde deslocar-se a Lisboa e a ocasião frustrou-se.
Em dezembro de 2023, voltámos a cruzar-nos: fui ao Rio de Janeiro participar num debate, numa conhecida instituição de relações internacionais, em que ele fazia contraponto comigo.
Quando lhe foi dada a palavra, e ainda antes de entrar no tema que ali nos levava a ambos, Rubens Ricupero quis ter um gesto de uma extrema elegância. Disse então algo como isto: "Caro embaixador. Queria começar por aproveitar esta oportunidade para, por seu intermédio, como cidadão brasileiro, pedir desculpa ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa, pelo comportamento rude e desrespeitoso que o nosso presidente teve para com ele, durante as cerimónias da nossa data nacional, o 7 de Setembro. O modo como o mais alto representante da nação portuguesa foi por nós recebido naquela ocasião não esteve à altura das nossas tradições e da nossa amizade".
Como ele prosseguiu de imediato para a abordagem do tema do debate, só me referi a esta posição dele mais tarde. E receio ter sido parco no meu agradecimento pela excecional gentileza de Ricupero. De facto, eu recordava-me que, na tribuna do desfile do 7 de Setembro, o rigor do cerimonial, nesse tempo convulso da declinante presidência Bolsonaro, não tinha estado à altura da ocasião. E que, em particular, ao convidado de honra que era o chefe de Estado português não havia sido prestada a atenção na forma devida.
Ontem, ao entrar na excelente livraria Travessa, em Lisboa, constatei que Rubens Ricupero, hoje com 88 anos, publicou as suas "Memórias". Um exemplar já anda em leitura cá por casa.
Há 53 anos
Se eu me atrevesse agora a efabular por aqui que, nesse final de tarde, tinha sido levado por uns amigos à inauguração do lugar, aposto que ninguém ousaria contrariar essa minha versão fantasiada dos factos. E, na "net", ficaria, para sempre, um belo número "social" do escriba deste blogue.
Só que tudo isso seria rotundamente falso. E eu não "pinto" as histórias que conto por aqui. Não, não estive na inauguração do Procópio. Nessa tarde, devo ter saído do meu emprego de funcionário bancário, no Calhariz, e, com grande probabilidade, devo ter passado pelo bar da livraria Opinião, perto da Trindade, onde então ia beber a minha Cuba Libre, coisa muito na moda. Depois, fui quase pela certa jantar a casa, nos Olivais. Antes da noite fechar, terei ido beber um café ao Montecarlo, perto do Saldanha. E devo ter regressado a penates no autocarro 21, antes da meia noite, porque a Cinderela aplicava então o rigor dos seus horários aos funcionários públicos cumpridores. E eu era um deles, desde o ano anterior.
Posso confessar uma coisa? Nem sequer sei bem quando fui pela primeira vez ao Procópio. De uma coisa estou seguro: só fui seu frequentador habitual muitos anos mais tarde.
Ontem, para rememorar, e porque à segunda-feira aquilo está mais sereno (e mais amável), voltei ao Procópio, à Mesa Dois, lugar geométrico onde, na vida, passei uma imensidão de horas, a débito do meu fígado e a crédito das minhas amizades. Ali estive com a Sofia, filha da Alice e do Luís. Não estava a irmã, a Maria João. Mas já não pude ter ali, naquela festa discreta, a minha querida amiga Alice, mãe de ambas. Este ano, ao contrário do ano passado e de ocasiões anteriores, a Alice já não vai estar connosco, no nosso jantar da noite de Santo António.
Esta foi uma comemoração diferente das que fizémos em outros anos. Mas, cerca da meia noite, tivemos o gosto de ter na Mesa Dois a Ana Viegas, essa sim, testemunha presencial da noite de abertura do bar, em 1972. Agora, já sem a figura sorridente e sempre simpática Júlio Moreira ao seu lado.
O Procópio de hoje é diferente? O Procópio não muda. Nós é que já não somos os mesmos. E, além disso, somos cada vez menos.
segunda-feira, maio 05, 2025
O anti-militante
Ontem, não tive pachorra para ver o debate nem coragem para assistir na televisão (sou um sócio que nunca vai ao estádio) ao jogo do Sporting. O problema é responder aos amigos que telefonam a perguntar a minha opinião e depois me criticam por défice de militância afetiva.
Simpatia
Ucrânia
Criou-se um visível nervosismo em Moscovo, depois de Trump ter conseguido o acordo dos minerais com a Ucrânia. A ideia de um encontro Trump-Putin, agora surgida do lado da Rússia, prova que esta sente as coisas a deslizar em seu desfavor e quer recuperar a boa vontade americana.
domingo, maio 04, 2025
Memória?
Um pouco de memória? Após a vitória tangencial da AD nas últimas eleições, o chumbo do OGE era o argumento para forçar uma crise, levar a novo sufrágio e procurar o efeito vitimização que Cavaco usou em 1987. O PS frustou o golpe e viabilizou o OGE. A nova crise é o novo golpe.
Que falta de vergonha!
Ao anunciar a expulsão maciça de estrangeiros, a duas semanas das eleições, este governo demonstra que a direita se deixou colonizar, sem pudor, pela ideologia securitária da extrema-direita, cavalgando as perceções de insegurança que os números desmentem. Que falta de vergonha!
A ver se percebo...
É um tema interessante o que se está a passar na Alemanha: o partido que, pelos votos, lidera a oposição ao novo governo é objeto de vigilância dos serviços secretos, por virtude da sua ideologia. A pergunta parece óbvia: se o partido é assim tão perigoso, não devia ser proibido?
Voto
Se a lei oferece um "dia de reflexão", sem campanha, a quantos vão votar no dia 18 de maio, por que diabo não dá o mesmo direito a quantos, como eu, votam por antecipação, no dia 11? Por que diabo, no dia 10 de maio, vou ser obrigado a aturar campanha eleitoral?
sábado, maio 03, 2025
Tarrafal
sexta-feira, maio 02, 2025
Nojo
Poucas coisas me enojam mais, nos dias desta União Europeia que parece ter já perdido um mínimo de decência, do que ver a sanha virulenta contra quantos defendem os palestinos e o cobarde silêncio perante o genocídio a céu aberto que Israel vai cometendo em Gaza, hora após hora.
quinta-feira, maio 01, 2025
quarta-feira, abril 30, 2025
Trump na "Visão"
A excelente revista "Visão", que atravessa um momento económico difícil, que tem posto à prova o profissionalismo e espírito de sacrifício dos seus trabalhadores, convidou-me para contribuir, para o seu número "comemorativo" dos 100 dias da segunda presidência Trump, com um artigo em que recordo a ação externa da América sob a sua liderança.
terça-feira, abril 29, 2025
segunda-feira, abril 28, 2025
Culpados
O mundo mudou muito. Antes, ouvia-se "a culpa é do Passos". Agora, como hoje aconteceu, ouve-se "a culpa é do Putin".
São todos iguais?
Quando alguém surgir a comparar o extremismo de direita ao da esquerda (e, claro, esse alguém, por uma regra infalível, será sempre uma pessoa de direita), convirá mostrar-lhes as imagens dos arruaceiros "nacionalistas" do último 25 de Abril.
domingo, abril 27, 2025
sábado, abril 26, 2025
Arquite(c)tura
Sobre o papa
Nada me liga às crenças religiosas, salvo um batismo por que não fui responsável (e de onde, aliás, rezam as crónicas familiares, saí com uma pneumonia de que me salvei à justa). Mas, naturalmente, sou tributário de um "template" moral marcado pelos princípios católicos, como a esmagadora maioria dos portugueses. Grande parte das pessoas que me são próximas definem-se (mais ou menos) como católicas, respeito as suas convicções e reconheço, porque é uma evidência, o importante papel institucional da igreja católica na sociedade portuguesa. Aliás, muitas das melhores pessoas que conheço são católicas. No entanto, isso não me impede de continuar a olhar, com escandalizada estupefação, para a circunstância da igreja católica acolher alegremente, sem os estigmatizar e denunciar, como me pareceria natural, quantos dos seus ditos "fiéis" que, no seu dia-a-dia, se comportam à persistente revelia dos seus princípios. E há imensos! A igreja pode, com isso, continuar a assegurar paletes de prosélitos, mas desqualifica-se como referente ético. Mas, na realidade, nada tenho a ver com isso, não são eu quem gere essas regras, sou e serei sempre "de outra freguesia"!
Oportunismo
A listagem feita por Montenegro, no debate com Ventura, dos pontos da agenda do Chega que o PSD tinha acomodado neste seu ano e picos de governo, somada à desculpa esfarrapada para conseguir falhar - logo este ano, com eleições à porta - a festa do 25 de Abril, até chegar ao comunicado miserável, onde a extrema-direita nunca é referida, sobre os incidentes no Rossio, tudo isto rima lindamente com a imagem de um primeiro-ministro que quis ser visto sem cravo na cerimónia em S. Bento (qual Nuno Melo). Isto é tudo tão óbvio, não é?
Hoje é 26 de abril
Por muitos anos que viva, não tendo pessoalmente sido vítima da repressão fascista, nem tendo desenvolvido atividade política com grande risco, nunca deixarei de agradecer a sacrifício de quantos desafiaram a ditadura para hoje podermos ter a sociedade livre em que vivemos.
Clique aqui e, se estiver de boa fé, reflita.
sexta-feira, abril 25, 2025
A direita e a democracia
Orgulho-me de fazer parte de uma geração política que acha perfeitamente natural que, nesta data, e ao contrário de mim, muitas pessoas não andem de cravo ao peito. Há uma grande parte da direita portuguesa que ainda não conseguiu perceber que o 25 de Abril também se fez para ela existir em democracia.