sábado, julho 27, 2024

Do anti-americanismo

O grande divisor político do mundo contemporâneo são os EUA. É face à América que o mundo se define. Muitos dos defensores da ação russa na Ucrânia, podendo acontecer serem ainda ser "órfãos" da URSS, são essencialmente anti-americanos. Desejam ver a América derrotada pelo mundo.

Vencedores da Guerra Fria, os EUA foram criando, à escala global, inúmeros inimigos. A sua arrogância como potência, os seus "double standards", o seu menosprezo pelo mundo multilateral, que protege os poderes mais fracos, foi fazendo perder a Washington a sua autoridade moral. 

Alguns ocidentais que, no passado, mostravam o seu incómodo com a hegemonia americana, exclusivamente centrada nos seus interesses nacionais, desistiram entretanto de a contestar, ao terem entrado em pânico com a invasão russa da Ucrânia, para cuja contenção os EUA se revelaram essenciais.

Ora quem definiu toda a estratégia para a captação da Ucrânia para a esfera de influência ocidental foram os EUA (com a ajuda do Reino Unido). A NATO e a UE apenas foram atrás, propulsionadas pela russofobia da "nova Europa", como lhe chamava (e bem, vê-se agora) Rumsfeld.

Os EUA têm uma estratégia global que apenas depende dos aliados na medida em que deles forem necessitando para a levarem a cabo, como se viu bem no Afeganistão. Nessa estratégia, o afrontamento à China prevalece claramente sobre o interesse no enfraquecimento da Rússia.

Juntos no desiderato de afrontar a China, rival económico e, como tal, inimigo estratégico, tema em que a proteção a Taiwan é um óbvio fator instrumental, republicanos e democratas divergem, contudo, no modo de tratar o caso da Rússia. 

Trump parece favorecer a imposição de uma paz forçada à Ucrânia, a troco de concessões territoriais à Rússia. Terá a ideia de que esse "deal" com Putin o irá coibir de, no futuro, ter mais ambições expansionistas. A Europa mais anti-Moscovo detesta essa ideia e sonha ter a Ucrânia como tampão. 

Os democratas, historicamente mais intrusivos na ordem externa, não desistiram de proteger o regime de Kiev, porquanto alimentam uma leitura mais tutelar da Europa. Acham, aliás, que isso não é incompatível com a atenção prioritária da América face à China. E que podem mesmo usar a Europa nessa estratégia.

O anti-americanismo tem de escolher entre duas Américas. Do mal o menos, prefere uma América retraída (pelo menos) na Europa, a qual, na sua leitura, significaria uma menor intrusão futura no continente. Por isso, opta por Trump, tanto mais que o seu amor à democracia é escasso.

É irónico que o anti-americanismo, ao escolher Trump, entregue os palestinos ao mais desapiedado líder americano. A verdade, porém, é que, no tema de Israel, entre republicanos e democratas, o diabo pode escolher. A atitude face a Israel é a prova da falência moral da América.

O anti-americanismo é pró-russo? O anti-americanismo está ao lado de quem ajudar a travar a expansão americana. A Rússia faz isso, além de que, em alguns casos, traz memórias de "ontens que cantaram". O facto de ser uma autocracia não a desvaloriza minimamente a esses olhos. Muitas vezes, antes pelo contrário.

Biden e Kamala


Ver aqui.

O regresso de Van der Leyen


Ver aqui.

sexta-feira, julho 26, 2024

O senhor Guedes


Era por esta altura de início de férias grandes. Mas também podia ser pelo Natal ou na Páscoa. Ou numa possível ponte entre um feriado e um fim-de-semana. Aquela nossa amiga conseguia sempre um conveniente arredondamento dos seus dias de férias, fosse isso uma dispensazita numa tarde de sexta ou uma chegada tardia na segunda-feira.

Nós invejávamos-lhe a arte de convicção, mas, acima disso, a benemérita luz verde de quem lhe permitia o usufruto dessas folgas. É que, invariavelmente, ouvíamos: "Tenho de pedir ao senhor Guedes". Se propunhamos prolongar a estada numa pousada ou num hotel, era certo e sabido que ali viria: "Vou ter de falar com o senhor Guedes, para ver se é possível". Durante várias décadas, que déssemos conta, foi sempre possível. Grande Guedes!

Nunca conheci esse tal senhor Guedes, mas assistimos a várias chamadas da nossa amiga para esse generoso gestor de recursos humanos na entidade onde ela dedicadamente trabalhava, embora apenas nos dias do ano que ainda lhe sobravam entre as férias e as borlas dadas pelo senhor Guedes.

Hoje, ao início da tarde, numa viagem através do país, ao encontrar multidões em carros apinhados, a caminho das praias, bem antes do fecho do horário oficial dos empregos, num dia útil como é uma sexta-feira, dei comigo a comentar: "Isto é malta que foi dispensada pelo senhor Guedes!"

É aqui, é!

 

O sol da terra

A esquerda putinista lusa, se fosse moralmente coerente, deveria estar num impasse: Trump presidente é, de longe, o pior cenário para o futuro dos palestinos; mas, a grande distância, é o melhor para uma paz na Ucrânia favorável aos russos. Gaza ou o Donbass? Moscovo! Old habits die hard! 

Volta aonde?


Estão a gozar connosco?

quinta-feira, julho 25, 2024

Dizem...


Quando, em meados dos anos 60, alguns de nós saíram de Vila Real para a universidade, deixámos para trás amigos, atrasados nos estudos ou com outras perspetivas de vida. Nos nossos regressos pontuais à cidade (por lá, dizemos "à Bila"), iamo-los reencontrando pelos cafés. E, através deles, recuperávamos as novidades e atualizávamos o conhecimento das coisas da terra. 

Naquela idade e naquele contexto temporal e cultural, por muito que isso possa chocar pelos padrões de hoje, um dos temas rotineiros de conversa eram as "escapadinhas" românticas de cavalheiros e senhoras da cidade, em regra pessoas casadas. Muitas vezes eram casos verdadeiros, que o tempo viria a confirmar, outras eram mero "gossip" não comprovado. Mas que raio de interesse podia isso ter, perguntar-se-ão alguns hoje? Pouco, na realidade, mas à época era mesmo assim e, por ser assim, vou deixar aqui uma historieta.

Um desses amigos que deixámos para trás na cidade era um conhecido "especialista" no tema das infidelidades. Sabia tudo! Colecionava essa informação e tinha as coisas como que anotadas. Mas, à partida, nunca assumia abertamente essa qualidade de cultor de notícias malandras, mostrando-se mesmo relutante a abrir-se e a partilhá-la, quando frontalmente aproximado por nós (que não éramos melhores do que ele, está bem de ver!).

Chegados à mesa da Gomes, à época o centro geográfico da cidade social, ao encontrar esse amigo, inquiríamos: "Então conta lá o que é que há de novo nas aventuras românticas do pessoal da cidade?" A primeira reação era de falsa indignação: "Lá estão vocês com a mania de que eu sei dessas intrigas! Assim, criam-me uma fama terrível. Deixem-se disso!". 

Poucos minutos depois, o "orgulho" de ser tido como o mais bem informado impunha-se, embora antecedido de um "disclaimer" clássico: "Passo-ta como me a passaram. Mas dizem que a mulher daquele tipo da sapataria da esquina anda metida com um professor novo do colégio de São José. Mas, se calhar, não é verdade..." E, sempre com o "dizem" para se distanciar da responsabilidade do boato, iniciava-se um chorrilho de outras novidades do género. 

Uma vez, com esse "informador" mais bem disposto à partilha, um grupo chegou a fazer um passeio noturno a pé, pelas ruas da cidade, com ele deliciado a apontar, casa a casa, as facadinhas nos matrimónios que, pela sombra, supostamente se viviam lá por Vila Real. Quem o ouvisse, parecia que "a Bila" era uma espécie de Sodoma ou de Gomorra.

Esse amigo coscuvilheiro já não está entre nós. Chamavamo-lo de o "Dizem...".

América

Se algumas das posições políticas assumidas pelo movimento trumpista fossem apresentadas por políticos europeus seriam de imediato qualificadas como de extrema-direita. Por que razão escapam a este qualificativo? O que ontem JD Vance disse sobre as mulheres sem filhos é obsceno.

Venezuela

Distraídos pelas guerras, tendemos a esquecer a Venezuela, onde um autocrata conhecido pelos seus fatos-de-treino coloridos tenta manter-se a todo o custo no poder. Agora vai a votos e logo se constatará se o sufrágio é minimamente correto e, caso ele o perca, se aceitará o resultado.

Biden

Biden falou ao país e disse que considerou necessário passar o testemunho a uma nova geração. Caramba! Meio mundo andava, há meses, a dizer-lhe isso mesmo e ele resistia à ideia. Com essa teimosia, algo egoísta, pode ter feito perigar o sucesso da sua substituição. Logo veremos!

(5) "Jockey" (Lisboa)

 


Pode ler aqui uma nota sobre o "Jockey", um belo restaurante lisboeta, hoje publicada no "Ponto Come".

quarta-feira, julho 24, 2024

Shame

O que hoje se passou no Congresso dos EUA é uma lição para o mundo. Quem tiver tido a decência de se sentir indignado, deve poupar nos adjetivos e preparar-se para o que aí virá da "nova" América. O que quer que Washington vier a ser, ficou claro que não vai ser bonito de se ver.

País de marinheiros


O José, chamemos-lhe assim, tinha sido meu colega na escola primária, lá por Vila Real. Ele era aluno do professor Maduro, eu era do Pena. Mais velho do que eu, ficámos desde aí amigos para a vida.

Para quem, como ele, não era muito dedicado aos livros, os estudos tinham terminado mais cedo. Teve de fazer pela vida, com tropa africana à mistura, depois já com mulher e filhos a sustento.

Ia-o encontrando sempre, nas minhas visitas à cidade, pelos Natais e outras férias. Falávamos cada vez mais do passado e de alguns amigos dentro dele, mas também de coisas do quotidiano. Pouco mais. Ele ia seguindo a minha itinerância por algum mundo, eu perguntava-lhe pelo trabalho, pela família e pela saúde. Dava para encher muitos minutos de conversa.

Por muito tempo, eu e o José não falávamos de política, nos nossos encontros de fim de tarde, na esquina da Gomes ou, à noite, num café onde calhava passarmos, na Senhora da Conceição. Ele sabia bem por onde eu aí andava, eu não cuidava minimamente em conhecer as suas opções.

Um dia - e ja lá vão umas décadas -, num desses contactos breves, detetei na expressão do José algo de diferente, diria mesmo que algum embaraço. De súbito, disse-me, sem um evidente pretexto: "Sabes, mudei-me para a Araucária". Era um bairro social recente, de aspeto agradável, numa zona que os vila-realenses dizem ser "ao lado do circuito". Perguntei-lhe se a nova casa era simpática. Que sim, que era, era um T qualquer coisa, tudo novo, a estrear, atribuído pela Câmara.

Ao dar-lhe os parabéns, senti-o um pouco retraído. Em voz baixa, disse-me: "Sabes, lá tive de entrar para o barco..." O "barco"? Não percebi e a minha cara deve ter-lhe transmitido isso mesmo. O José foi então mais explícito: "Entrei para o partido...". Não perguntei qual. Era naturalmente aquele que então estava no poder, lá pela cidade.

O José já lá vai, há muito. Lembro-me bem do seu velório. Foi na igreja da Araucária. Era ali que o barco tinha amarado.

Na Ordem

Leio que há uma greve de médicos. Não conheço as razões, que até podem ser justas. Posso ter estado distraído, mas já é conhecida a reação do antigo bastonário da respetiva Ordem, tão vocal e sindicalista no passado, agora deputado do partido do governo? É só por curiosidade... 

Vice


Vive-se um tempo de discussão de nomes para vice-presidente dos EUA. Nesse cargo, de contornos funcionais indefinidos, houve gente muito competente. Mas também por lá passou um escroque como Spiro Agnew e um inenarrável cromo como Dan Quayle. E houve o risco de haver Sarah Palin!

(4) "Visconde da Luz" (Cascais)


Hoje, no "Ponto Come", falo do " Visconde da Luz". Leia aqui.

terça-feira, julho 23, 2024

É claro?

Um comentador no meu blogue diz que não posso usar "denegrimento", pelo facto desse vocábulo associar uma imagem negativa à palavra "negro". Ah! E também não posso dizer "branquear", que liga palavra "branco" a uma melhoria de condição. Já não tenho pachorra para estas barreiras!

Ato de fé?


Tem "pinta" a personalidade que o "Nouveau Front Populaire" indicou a Emmanuel Macron para chefiar o governo francês. Pode é não ter futuro, a julgar pelo modo como as coisas estão a correr. A ver vamos.

Piauí


Chegou-me hoje a Piauí, o número de julho. São 86 páginas. Todos os meses, ambiciono conseguir lê-la, por completo. Nunca é possível. Tal como "The Economist", e, nesse caso, trata-se de uma angústia semanal. Também ali fico sempre aquém das minhas ambições de leitura. Mas só a tentativa já me apazigua a consciência.

Civilização (2)

Também somos o único, de todos os países "civilizados", onde, meses depois de umas eleições, as ruas continuam ainda pejadas de cartazes desse outro tempo. Os partidos não se responsabilizam minimamente pela poluição que criam e os governos assobiam para o ar. É a festa na aldeia!

Civilização (1)

Sabiam que não há nenhum país "civilizado" em que, como acontece em Portugal, sempre que ocorre qualquer coisa na política da freguesia, são de imediato ouvidos pelas televisões todos - mas todos! - os partidos com assento em São Bento, por mais minúsculos que sejam? Isto não acontece em mais nenhum lado, sabiam?

Feminina

Tenho a sensação de que Kamala Harris tem uma maior probabilidade de ser vista como mulher, por parte das votantes americanas, do que teve, ao seu tempo, Hillary Clinton. A postura de alguma arrogância de Clinton como que a "desfemininizava". (Sei que vou levar pancada por aqui...) 

Intrusos

Um dia, no Brasil, ao tempo de eleições nos EUA, ouvi isto de uma importante figura do governo Lula: "Uma avaliação racional das coisas deve levar-nos a preferir uma vitória republicana. Os democratas são mais intrusivos nos assuntos internos dos países da América Latina".

Coimbra, 13 de setembro

 


Raiva

Os cidadãos dos EUA - e só eles - vão escolher alguém que vai acabar por ter uma importância determinante no nosso futuro,  o futuro do mundo não americano. A nós cabe a triste sina de sermos espetadores impotentes de quem nos vai marcar o destino. Dá-me alguma raiva, confesso.

... e a caramunha


Não foram necessárias 24 horas para ver surgir, por aí, um chorrilho de notícias desqualificantes sobre Kamala Harris. As máquinas de denegrimento têm uma fantástica capacidade de mobilização. Ao pé delas, alguns dos nossos operadores nacionais no ramo não passam de uns amadores. 

Rato


Passei lá há pouco. O Rato estava um pouquinho mais movimentado. Esta fotografia tem precisamente 80 anos.

La gauche

Em França, a dita aliança de esquerda desunha-se, sem êxito, para conseguir consensualizar um nome para chefiar o governo. É um inútil exercício de  "geometria no espaço", que só põe a claro as suas irreconciliáveis divisões. Macron nunca aceitará nenhum nome vindo da esquerda.

Bela malha!

 


Na terra do Tio Patinhas

É extraordinária a placidez com que lemos, sem dar um salto na cadeira, sobre os milhões que privados oferecem às candidaturas americanas, destinados a propaganda e à promoção de anúncios "biased". Fosse isto na Europa e era um escândalo!

A idade da eleição

Não deixa de ser irónico que o discurso sobre a idade de Biden passe agora a ser transposto, subitamente, para o candidato republicano - um homem que se aproxima dos 80 e que tem a seu lado um jovem de 39 anos e, como sua opositora, uma mulher com menos de 60 anos.

Fui arrasado no Twitter


Ontem, fui "arrasado" no Twitter! A razão era de fundo. O meu erro foi gravíssimo. É mesmo motivo para me demitir. Vou pensar de quê! 

segunda-feira, julho 22, 2024

(3) "Gambrinus" (Lisboa).


Hoje, no "Ponto Come", falo do "Gambrinus". Leiam aqui

O verão à mesa


Neste tempo de verão, com férias pelo meio, sou dado a andar um pouco mais por restaurantes. Embora cada um de nós tenha uma leitura diversa das suas experiências, e elas possam efetivamente ser diferentes e até contrastantes, há muito que acho que pode ser interessante, a titulo informativo, ir dando dar conta do saldo de alguma dessas visitas.

Em lugar de estar a encher este espaço com laudas sobre comidas e bebidas, optei por  reativar o meu blogue "Ponto Come", lugar mais adequado para o relato dessas amesendações. 

Ali irei colocar, em princípio até final de agosto, algumas notas muito curtas sobre cada uma dessas visitas, embora elas não tenham necessariamente tido lugar em data próxima do dia da publicação. 

Ao contrário do que no passado costumava fazer - apenas sublinhar os pontos positivos dos restaurantes -, tenciono desta vez deixar expressas, quando for caso disso, as notas críticas que me pareçam adequadas e justas. Isso permitir-me-á não falar apenas de excelente e bons restaurantes, mas também de lugares "assim-assim". 

Não desconheço que o surgimento desta lista de restaurantes pode provocar algumas críticas. Alguns dirão que pode ser quase ofensivo, para quantos não têm essas oportunidades, estar a destacar lugares que, para essas pessoas, não são acessíveis. 

Acho o argumento sem o menor sentido. Por essa ordem de ideias, as revistas de viagens não trariam relatos de destinos de sonho, não se falaria de automóveis com preços milionários, desapareceriam as referências a caríssimos restaurantes com "estrelas Michelin" - os quais, aliás, não irão constar destas minhas notas. O mundo é injusto, eu sei, mas não é escondendo parte dele debaixo do tapete que tudo se tornará, por milagre, mais igualitário.

Vamos proceder assim: de cada vez que eu publicar no "Ponto Come" uma nota sobre um restaurante, deixarei aqui o link para quem possa estar interessado. Quem não estiver interessado, tem bom remédio: passa à frente. Combinado?

Desistência

"Há pouco, na CNN, trocaste o nome de Biden pelo de Trump. Deste conta?". O meu amigo, pelo telefone, pareceu-me preocupado que eu não tivesse notado. Respondi-lhe: "Reparei. Estou já a redigir um comunicado a desistir da minha eleição para a administração do condomínio".

Há quatro dias ...

... publiquei aqui isto:

Pensei que o tiro em Trump tinha segurado Biden. Afinal, com Obama a puxar-lhe o tapete, com os "grandees" do Congresso a afastarem-se, Biden pode aproveitar a Covid como pretexto para sair. Será sempre tarde e mal, recheado de elogios que soarão a necrologia política.

domingo, julho 21, 2024

A vítima

Há uma "vítima" do dia de hoje: o atentado contra Donald Trump. A partir de agora, deixou de ser assunto.

Um pedido

Confesso que, por mim, ficaria mais confortável se os americanos, no futuro, fizessem o favor de colocar as suas crises fora dos fins de semana.

A hora de Kamala?


Ver aqui.

E Gaza?

Agora que são entoadas merecidas loas a Joe Biden pelo sucesso de algumas das suas políticas públicas, em favor de setores desfavorecidos nos EUA, não posso deixar de colocar, a seu imenso débito, a sua escandalosa e continuada complacência com os massacres israelitas em Gaza.

Rir é o melhor remédio


Contrapondo-se aos insultos de Trump sobre o sorriso de Kamala Harris, os democratas deveriam usar esse mesmo sorriso como uma expressão de confiança e de otimismo na possibilidade dela o vir derrotar.

Now what?

A diversidade informativa deve ser estimulada. Por isso, fiquei sinceramente expectante face ao surgimento do canal televisivo Now. Às vezes, passo por lá. E, confesso, até hoje não consegui descobrir a identidade própria do seu produto. Mas posso ser eu quem está a ver mal...

Terrível dilema


Faltam poucos dias para começar o terrível dilema diário: com creme ou sem creme?

A saúde de Biden

Os republicanos americanos avançam com um argumento com alguma lógica: se Biden aceitar desistir da candidatura, por razões médicas, então deverá ceder o seu lugar, de imediato, à vice-presidente. Se não está em condições para ser candidato, não as tem para exercer as funções de presidente até ao termo do mandato.

sábado, julho 20, 2024

(2) A Curva



Há algum tempo que ouvira falar do lugar e da qualidade da sua comida. Hoje, calhando ter de passar por perto, fiz uma visita ao restaurante "A Curva", em Laveiras (Avenida Conselheiro Ferreira Lobo, 28), ali ao pé de Caxias. É conveniente reservar (tlf. 214 419 334). 

Com a sua mulher Isabel na cozinha, o proprietário, Manuel Gato, oferece-nos um menu 100% alentejano, numa sala impecável, tudo com uma elegância asseada, na sua meia centena de lugares. O casal é oriundo de Cabeção, pelo que recordámos por ali "A Palmeira", um belo e clássico poiso de restauração. 

Vi expostos bons vinhos. Optámos por um jarro do simpático vinho da casa, com o preço final a ser muito razoável. O estacionamento não é fácil, mas, com alguma paciência, consegue-se. Um lugar a anotar.

A Ucrânia e Israel


Ver aqui.

Ainda o atentado a Trump


Ver aqui.

Eleições na Venezuela


Ver aqui.

sexta-feira, julho 19, 2024

A Última Campanha


A primeira vez que ouvi falar na hipótese de Mário Soares voltar a concorrer a umas eleições presidenciais foi pela boca de José Medeiros Ferreira, na tertúlia que o seu cunhado e meu amigo Nuno Brederode Santos, animava na Mesa Dois do bar Procópio. A conversa terá sido no início de 2005, um ano antes do sufrágio.

O Zé Medeiros era um homem de ideias ousadas, mas aquela parecia-me francamente excessiva. Lembro-me de ter colocado muitas dúvidas sobre a possibilidade de Mário Soares poder estar interessado em meter-se nessa nova aventura. O Nuno, confrontado com ela, foi dizendo, prudente, que "com o Soares, nunca se sabe...".

Talvez eu tivesse a obrigação de não ficar surpreendido com os acessos de vontade de Soares de regressar à política ativa, depois dos dois mandatos cumpridos em Belém. Anos antes, eu tinha sido confrontado com a sua inesperada disponibilidade para concorrer ao Parlamento Europeu. Aliás, tinha-me mesmo cabido a missão, de se provou impossível, de tentar "enquadrá-lo" na linha europeia do governo. Mais tarde, já depois de Soares eleito, fui também encarregado de fazer discretamente, junto fe instâncias europeias, o "damage controle" das consequências de uma sua inopinada, e falhada, tentativa de ser eleito presidente daquela instituição, rompendo imprudentemente com equilíbrios europeus consagrados. Mas isso são outras histórias.

Nesse ano de 2005, logo após essa conversa no Procópio, parti como embaixador para o Brasil. Um dia, Mário Soares telefonou a convidar-me a acompanhá-lo e a intervir num colóquio organizado no Recife, em que ia ser recordada a aventura do assalto ao paquete Santa Maria, que, em 1961, ali tinha aportado, capitaneado por Henrique Galvão, no mais ousado desafio que a oposição democrática fizera a Salazar.

Por todas as razões, mas acima de tudo pelo imenso respeito que tinha por Mário Soares, desloquei-me de Brasília ao Recife para o evento. Fui buscá-lo ao aeroporto do Recife e, na conversa até ao hotel onde ambos nos hospedávamos, contou-me que, na véspera, tinha tido um longo encontro com o primeiro-ministro José Sócrates, na residência oficial de São Bento. Não referiu o objeto desse encontro, mas o modo deliberadamente vago como mencionou o assunto intrigou-me. Confesso que, naquele momento, eu estava longe de ligar aquilo à candidatura presidencial. Mas, na realidade, esse tinha sido o motivo da conversa.

(Soares disse-me que, enquanto esperava para ser recebido por Sócrates, tinha surgido na sala um empregado da residência oficial, a oferecer-lhe um café. Era uma cara dele conhecida: já ali trabalhava quando Soares fora primeiro-ministro. Ficaram por uns minutos à conversa. Curioso, Soares perguntou-lhe se era verdade o que corria, à boca pequena, sobre a "agitação" das noites na residência oficial, ao tempo do anterior titular do cargo. "Contou-me umas histórias deliciosas", disse-me Soares. Mas, discreto, não entrou em pormenores sobre tais revelações.)

Tempos mais tarde, iria surgir a público o anúncio da recandidatura de Mário Soares à presidência da República. Do outro lado do espetro político, viria a aparecer Cavaco Silva, há muito pressentido como candidato, depois da clamorosa derrota que Jorge Sampaio lhe tinha infligido quase uma década antes. Mais tarde, emergiu Manuel Alegre, ficando o campo socialista dramaticamente dividido.

O PS oficial apoiou Soares. À minha medida, também o fiz, integrando a sua comissão de honra, embora, muitas vezes, no passado, tivesse estado bem distante do "soarismo". Entendi, contudo, não dever furtar-me a estar, naquele momento, ao lado da última luta de uma pessoa cujo nome se confundia com o nosso regime democrático. As possibilidades de sucesso da candidatura de Soares pareceram-me sempre muito escassas, mas para mim isso era o que menos importava.

Soares foi copiosamente derrotado nessa eleição, com Cavaco Silva a ser eleito logo à primeira volta e Manuel Alegre a obter um resultado bem mais simpático. Seria, aliás, a única derrota de Mário Soares, em eleições livres em Portugal. Na memória política portuguesa, essa campanha não deixou grande marca.

Há semanas, na Feira do Livro, a um preço quase simbólico, deparei com um volume assinado pelo jornalista (que falta nos faz ler o meu homónimo de sigla FSC, com regularidade!) Filipe Santos Costa, precisamente intitulado "A Última Campanha". Bem escrito, num tom ritmado, o livro é como que o "script" de um filme da campanha, com algumas revelações que nos ajudam a perceber melhor "os mundos de Mário Soares" (e aqui recupero o título de um livro de Hubert Védrine, "Les Mondes de François Mitterrand").

Estava eu longe de pensar que, quase duas décadas depois, iria passar umas horas a ler, com interesse, sobre a última e menos saliente aventura política de Mário Soares. 

Ainda Biden


Ver aqui

Belíssimo


Não sei se foi de propósito, mas lá que resultou bem é verdade. 
(Antes que os picuínhas de serviço avancem: sei bem que isto é já antigo)

TAP


Consta que, devido à avaria informática que hoje afetou os aeroportos de todo o mundo e provocou um caos nos horários, houve mesmo um avião da TAP que acabou por ter de sair à hora prevista.

Obama ... by Michelle

Continuo a achar extraordinária a ideia de Michelle Obama poder vir a integrar a lista presidencial americana. Alguém sabe se a senhora tem alguma ideia que a qualifique para dirigir a mais importante potência mundial?

O discurso de Trump


Ver aqui

Muita graça

Em política, o estado de graça, isto é, o tempo em que os governos ainda não pagam um preço pela asneira, deteta-se na linguagem mediática. O caos na saúde era disfarçado. Começa agora a surgir. Mas a culpa ainda não é do primeiro-ministro: ainda é da ministra...

Tour


Tenho pena de não conseguir acompanhar, com a atenção que desejaria, o "Tour de France", a mais interessante prova de ciclismo do mundo.

Biden de saída?


Pode ver aqui.

quinta-feira, julho 18, 2024

A regra é clara

Na política francesa, há uma constante que nunca falha: quando é para se opor à esquerda, centro, direita e extrema-direita encontram sempre um jeito de acabar por estar juntos.

Bye Biden?

Pensei que o tiro em Trump tinha segurado Biden. Afinal, com Obama a puxar-lhe o tapete, com os "grandees" do Congresso a afastarem-se, Biden pode aproveitar a Covid como pretexto para sair. Será sempre tarde e mal, recheado de elogios que soarão a necrologia política.

Vale tudo!

Afirmar-se abertamente a favor de Trump não é para todos. Ainda havia uma réstea de vergonha que levava ao recato de alguns. Mas a expetativa de que Trump, se ganhar, pode vir a deixar cair a Ucrânia começa a fazer "baixar a guarda" da decência. Trump? O Donbass vale bem isso!

António Leite


Foram muitos anos de sofrimento, de crescente alheamento do mundo, sob o apoio imensamente dedicado da família. Foi-se agora da vida, acabo de saber, o António Leite. Era um homem sereno, com um sorriso bondoso, amigo do seu amigo. Embora um pouco mais novo do que eu, conheço-o desde sempre, do liceu, das cadeiras da Gomes, da CDE de Vila Real (foi ele quem me transmitiu o convite para me juntar ao grupo), das noites da Granfina e do Montecarlo. Lembro-me de andarmos os dois à boleia, entre o norte e o sul, de noitadas em casa de amigos em Coimbra, de conversas na "comuna da António Ferro", como o Jaime Gama, seu primo, gostava de chamar ao andar coletivo de amigos que havia no Lumiar. A última vez em que falámos, pouco, foi no bar do hotel Miracorgo, num Natal, lá em Vila Real. Para agitar o torpor da sua cara, lembrei-lhe então uma história comum. A Glória notou que os olhos lhe sorriram, que reagiu com um comentário adequado ao estímulo que lhe lancei. Mas, claramente, o António já estava "noutra". E a sua vida já não era vida. Acabou agora. Um beijo à heróica Glória e à Laurinha. Um abraço solidário à Paula, ao Carlos e ao Zé.

British Bar


A empregada do balcão, uma brasileira carioca que ontem me serviu o gin tónico (tenho a impressão que nunca ali bebi outra coisa) não terá mais de 20 anos, que contrastam com os quase 60 da minha primeira visita ao British Bar, no Cais do Sodré. Comecei lá em 1965, com o Antoninho, um boémio primo da minha mãe que, um dia, me fez uma instrutiva volta de introdução à capital e sítios relevantes - incluindo o Bolero, o Galo, o Ginjal e um outro destino menos revelável, algures na Misericórdia. Nunca fui cliente do British, apenas um passante ocasional. À volta do 25 de Abril, outro primo, neste caso meu primo direito do lado do meu pai, Carlos Eurico da Costa, instituiu a efémera rotina de, uma vez por semana, irmos ao final da tarde ao British Bar - ele para o whisky, eu para o gin. Ali nos íamos encontrar com o José Cardoso Pires, "habitué" do local. Creio que a "rotina" não passou das três vezes. Na pandemia, calhou passar um dia pelo British Bar e notei que serviam "ao postigo". Pedi o gin tónico, claro. Veio em copo de papel! O de ontem, por distração minha, chegou naquela espécie de bolas de andebol em vidro com que agora há a detestável mania de servir os gin tónicos. E com palhinha! Apesar de tudo, na torreira da tarde de verão, soube-me muito bem parar por ali, sem a pressão do tempo, o qual, como é sabido, no British Bar nunca se perde, se o olharmos através do seu clássico relógio, com que deliberadamente nos iludimos, acreditando que as horas caminham para trás.

Isto

 


(1) ... by Sofia


Sala sem pretensões, ambiente um pouco barulhento, escassas mesas, necessidade de reserva (917 588 974), razoável carta de vinhos, serviço muito agradável e cordial. Honestidade nos preços.

É o "Solar do Peixe by Sofia", em Sacavém, no Largo José Joaquim Rodrigues. Excelente oferta de peixe e algum marisco, que se escolhe à entrada e é ali grelhado à vista. 

Fui lá hoje almoçar. E vou voltar. Recomendo.

quarta-feira, julho 17, 2024

Mais velho


Há uns anos, numa conversa de família, alguém me perguntou um dado qualquer sobre um nosso antepassado. Disse que não sabia. A pessoa em causa reagiu assim: "Se tu, que és o mais velho, não sabes, então ninguém sabe".

Nesse instante, interiorizei algo que era muito óbvio, uma evidência, mas que ainda não tinha explicitado perante mim mesmo: era, por ali, na minha família materna, "o mais velho", conceito que não tendo, entre nós, a simbologia social prestigiante que tem nas sociedades africanas, era uma realidade que, desde há uns anos, se me impunha, por muito que eu evitasse encará-la. Tinham partido os avós, tinham-se ido os pais e os tios, ficaram apenas os primos. E, de entre eles, eu era, definitivamente, o mais velho.

É um estatuto estranho. Não nos traz a menor autoridade, salvo, às vezes, uma cadeira mais simpática em alguns jantares ou um lugar cómodo num sofá, em reuniões de família. Ou ser dos primeiros a ser servido de café e de whisky. Pouco mais.

Ser velho, por muito que assobiemos para o ar, não é coisa agradável, ainda que persista uma narrativa social, artificialmente animada, que pretende edulcorar a coisa. Ser velho - deixemo-nos de tretas! - é uma chatice, é ter à nossa frente, essencialmente, um crescente passado. Ser "o mais velho" é tudo isso ao cubo. 

Por que razão me lembrei disto hoje? Porque acabo de saber do falecimento de uma senhora que, por muitos e bons anos, foi uma grande amiga de toda a nossa família - dos meus avós, do meus pais, dos meus tios, dos meus primos -, pessoa que, não tendo connosco um parentesco formal, sempre vimos como muito próxima, "one of us", como dizem os anglo-saxónicos. Vê-la desaparecer é como assistir ao fechar, agora de forma definitiva, de uma porta geracional que, através dela, ainda se mantinha entreaberta, pela memória, para quem nos antecedeu. A sua existência atenuava a minha condição de "mais velho". A sua saída de cena consagra isso, em definitivo.

G7


O G7 reuniu ontem, em rara sessão plenária, pré-vilegiatura. Na agenda, estiveram temáticas nacionais de extrema atualidade, dentre as quais se destacou o rácio preço/qualidade média das cerejas do Fundão, neste ano de 2024. Incidentalmente, vieram também a terreiro certas questões que estão agitar algumas opiniões públicas lá por fora. Não obstante ter havido um genérico consenso nos termos da abordagem destas matérias, o mesmo não se constatou no tocante à decisão da sua publicitação, por um especial cuidado em não provocar qualquer impacto no equilíbrio dos mercados, evitando agitar os "spreads". Em "any other business" não surgiu rigorosamente nada digno de nota.

terça-feira, julho 16, 2024

A extrema direita lusa e Trump

A avaliar pelas reações nas redes sociais, a extrema-direita portuguesa está exultante com a expetativa de vitória de Trump. Vai ter alguma graça assistir à sua reação se e quando Trump vier a favorecer um "land for peace" para resolver a guerra na Ucrânia.

segunda-feira, julho 15, 2024

Os espelhos

Há por aí uns sites, uns blogues e algumas páginas de Facebook, onde, desde há dois anos, dia após dia, sobre o tema da guerra na Ucrânia, algumas pessoas coletam argumentos que vão sempre no mesmo sentido, repetindo as mesmas ideias e perspetivas, somando opiniões sempre similares. São espaços onde são zurzidos e adjetivados, sem piedade, todos quantos pensam diferentemente - sejam eles "os sabujos seguidores do imperialismo americano, com os seus lacaios europeus" ou os "miseráveis traidores do ocidente, infiltrados pelo putinismo agressor". Imagino que deva ser bastante descansativo passar os dias só a ler gente que "concorda" connosco, que nos conforta as certezas radicais e nos faz ir dormir na segurança que não estamos sozinhos nos nossos preconceitos. Que lhes faça bom proveito! Deve ser como ver-se ao espelho, estranhamente gostando do que vêm.

Ucrânia

A crescente plausibilidade de uma administração Trump, que já deixou claro que "fechará a torneira" financeira que sustenta a ação militar ucraniana, pode ter um efeito potenciador de uma negociação, mesmo a montante da sua entrada em funções. Kiev e a UE não devem ficar felizes.

França

"La France Insoumise", de Mélenchon, abandonou as conversas para encontrar um nome dentro do "Nouveau Front Populaire" para primeiro-ministro, acusando os socialistas de intransigência. Este foi sempre um exercício de "geometria no espaço": Macron nunca aceitaria um nome do NFP.

Ñ

Caramba! Se há seleção que mereceu ganhar este europeu foi a Espanha! Parabéns! Além de tudo, um país amigo e magnífico! (Mas deixarei de assinar qualquer jornal que se atreva a repetir os medíocres bordões jornalísticos "Nuestros hermanos", "a vizinha Espanha" ou "país vizinho")

domingo, julho 14, 2024

Do Alfa

 


Para aligeirar o ambiente


Em 1971, teve lugar em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, uma "conferência", proferida pelo "sábio" belga "Alphonse Peyradon". 

A certo passo, saído do meio da assistência, sob um pretexto qualquer, alguém deu dois "tiros" no conferencista, que caiu redondo.

(Insiro aqui, graças à amabilidade do leitor Jaime Guilherme, a única imagem que existe do "horrível atentado.)

No dia seguinte, o jornalista Fernando Assis Pacheco reportou o "atentado" no "Diário de Lisboa", num texto em que insere esta deliciosa expressão: "O primeiro tiro matou-o logo. O outro feriu-o à superfície".

Tudo aquilo não passou de uma brincadeira, organizada por um divertido grupo em que preponderava o advogado Vasco Vieira de Almeida. ("Peyradon" era uma corruptela intelectualizada, de "Pai Adão" em francês).

A história teve algumas inesperadas sequelas, com a censura do regime à mistura (Leiam mais sobre o assunto no excelente livro "Parem as máquinas", de Gonçalo Pereira Rosa). 

Ontem, sei lá bem porquê, lembrei-me deste episódio.

Um futuro com Trump

1. Já começou o tempo glorioso para os maluquinhos das teorias da conspiração: "Atentado?! Aquilo foi tudo uma montagem! Não é por acaso que ..."

2. Só podemos desejar que o episódio de hoje não seja o primeiro de outros eventos de violência sectária nos EUA, dada a imensa crispação que atravessa a sociedade americana.

3. Há uma capital onde, a partir de hoje, vai ser necessário começar a fazer contas à vida: Kiev.

4. Um ponto a notar: agora, passa a ser praticamente irrelevante se Biden mantém ou não a sua candidatura.

5. É extraordinário pensar que, na vida política americana e do mundo em geral, há um antes e um depois deste atentado. Alguns equilíbrios que prevaleciam até há poucas horas foram ultrapassados por aqueles tiros na Pensilvânia.

6. A Europa precisa de entender que subiu fortemente a possibilidade, que já era elevada, de Donald Trump ser o próximo presidente dos EUA. O discurso europeu sobre segurança tem de incorporar este fator. Com todo o realismo e o que isso implica.

7. Espero que as lideranças europeias responsáveis, agora confrontadas com a quase inevitabilidade da vitória de Trump, não se deixem tentar por qualquer aventureirismo guerreiro, inspirado pelo leste do continente, para "apressar" a História antes das eleições americanas. Travar esta deriva é o último grande serviço que Biden pode prestar ao mundo.

"Les jeux sont faits!"

Qualquer dúvida que ainda houvesse sobre o resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos terminou hoje. Resta apenas contar os dias até ao início do segundo mandato de Donald Trump. 

Marinha Grande

sábado, julho 13, 2024

Ao gosto do freguês


Há dias, na guerra da Ucrânia, um míssil atingiu um hospital pediátrico na cidade de Kiev. 

Na comunicação social, surgiram de imediato duas teorias contraditórias. 

A primeira, e bem plausível, é a de que se tratou de um míssil russo, restando neste caso saber se se tratou de um ataque deliberado ao hospital (o que configuraria um sinistro crime de guerra) ou se foi um erro operacional, pelo facto do míssil se destinar a uma instalação de natureza militar próxima, alegadamente disfarçada em zona civil. 

A segunda teoria, menos plausível mas potencialmente credibilizada por alguns incidentes anteriores, é a de que poderia ter-se tratado de um míssil de defesa ucraniano, desviado do seu curso, por erro técnico. Mesmo se esse fosse o caso, valeria sempre a pena lembrar que este tipo de incidentes só ocorrem porque existe um contexto global de agressão russa à Ucrânia. 

Excluo ainda, por obscena, a tese (teórica) de que poderia tratar-se de um ato de "falsa bandeira" - ato levado a cabo por uma das forças em disputa, com o objetivo de inculpar a outra. (O suposto ataque bósnio ao mercado de Serajevo, 1994, para acusar os sérvios, continua a marcar o imaginário internacional como exemplo de possível ato de "falsa bandeira"). 

Entre nós, nos meios de comunicação social, assistiu-se de imediato a uma campanha de defesa de ambas as teses, com apoio de imagens que, em alguns casos, foram acusadas de serem distorcidas ou falsificadas. O apuramento da verdade ficará assim a cargo de um "rigoroso inquérito" internacional, com resultado para as calendas. 

Para o que aqui me interessa, gostava de assinalar o facto de, na nossa comunicação social, em regra geral, infelizmente não ter havido surpresas: quem regularmente se mostra ao lado da causa ucraniana não hesitou um segundo em atribuir a culpa do incidente à Rússia; aqueles que se sempre se mostram mais abertos a escutar as justificações de Moscovo, e não surgem automaticamente ao lado da Ucrânia e dos seus parceiros ocidentais, logo se abriram à hipótese de se tratar de um míssil ucraniano desviado. Muito poucos tiveram a humildade de não emitir opinião, dizendo: não sei, não há elementos seguros para opinar, sem colocar um desculpabilizante "mas" a seguir. 

Teria feito muito bem à imagem do comentariado sobre questões internacionais que anda por aí, por uma vez, ver-se alguém da ala "ucranófila" dar algum crédito à tese que isentava Moscovo de responsabilidades ou alguém do núcleo tido por mais "russófilo" admitir que a responsabilidade do ataque seria, com grande probabilidade, das forças de Putin. 

Mas não, isso seria esperar por sapatos de defunto.

A eleição em França


Ver aqui

A eleição no Reino Unido


Ver aqui

A Índia, a Nato e a guerra na Ucrânia


Ver aqui.

sexta-feira, julho 12, 2024

As gafes de Biden


Ver aqui.

Biden

- A conferência de imprensa demonstrou, se tal fosse necessário, que Biden domina a substância dos dossiês, a anos-luz de Trump. A questão não é essa. Henry Kissinger, com 100 anos, também era um sábio atualizado. Mas ninguém se lembraria de o propor para um cargo executivo.

- A escolha dos democratas americanos é trágica: manter Biden e arrastar-se por meses de crescente revelação das suas fragilidades ou forçar uma "guerra" interna de divisão do partido, eventualmente (ou mesmo "eventually") afastando Biden, sendo derrotados na mesma. Que dilema!

- As pessoas que aventam nomes "simpáticos" para substituir Biden, com hipóteses de ganhar a presidência, devem lembrar-se que há procedimentos democráticos a respeitar, que seriam necessárias eleições "primárias" e montar um processo complexo de auscultação.

- O "Biden das gafes", daqui a dias, vai passar a ser o "novo normal". Como ele se acha o "máximo" e os democratas não têm forma de o afastar, vão ser uns meses muito penosos, até à sua mais do que provável derrota.

quinta-feira, julho 11, 2024

O efeito Orbán


Memória das pirites


Foi há pouco, no palácio de Belém, a anteceder uma cerimónia. Um cavalheiro aproximou-se de mim e disse-me que ambos tínhamos feito parte, há quase cinco décadas, de uma delegação técnica portuguesa a Marrocos. 

Eu lembrava-me bem da viagem, mas confessei não ter presente a composição de todo o grupo, onde meu companheiro representava uma conhecida empresa. Até que ele me perguntou, com um largo sorriso, antecipando a minha reação: "Mas recorda-se do homem das pirites?"

Aí, "caiu a ficha". Claro que me recordava! Era uma figura muito simpática, cordial, também membro do nosso grupo. Por que é que eu o não tinha esquecido? Porque, no decurso dessa viagem de quase uma semana, com dezenas de contactos, sempre que visitávamos alguma entidade, a quem nos tivéssemos de apresentar, o "homem das pirites" ocupava um longuíssimo tempo a dizer o seu nome, que agora não vem para o caso, e, sempre num correto francês, a sua qualidade de "vice-président exécutif du conseil d'administration de la Société Minière Santiago et de l'entreprise Pirites Alentejanas". 

E dizia isto com lentidão, quase soletrando o título, enquanto apertava a mão de cada um dos nossos interlocutores marroquinos. As filas de cumprimentos, quando chegavam a ele, atrasavam-se sempre e, dia após dia, os membros da nossa delegação começaram a trocar entre si sorrisos cúmplices, ao observar a repetição da cena. A verdade é que nenhum de nós teve coragem para recomendar ao simpático "homem das pirites" que procurasse encontrar uma "job discription" um pouco mais sintética.

Eu e o meu colega de viagem magrebina rimos um bom minuto desse nosso breve passado conjunto, até sermos chamados para o momento para o qual ali estávamos convocados.

Pluralismo mediático

Do anti-americanismo

O grande divisor político do mundo contemporâneo são os EUA. É face à América que o mundo se define. Muitos dos defensores da ação russa na ...