terça-feira, dezembro 10, 2024

Está frio...



... mas está um belo dia!

No Grémio


Amanhã, quarta-feira, dia 11 de dezembro, pelas 18.30, apresentarei no Grémio Literário o livro de João Miranda "Breve Infinito - o Cais Anterior". Não sei se o poderei classificar como um romance, porque é um texto de género híbrido, como terei oportunidade de explicar. Por que não passa por lá?

Não olhar

A concentração das atenções na questão da Síria passa a ser o cenário ideal para que o povo palestino continue a ser objeto de um tratamento bárbaro. A Europa, entidade sempre  cobarde face a Israel, parece seguir o título do clássico livro de Aldous Huxley: "Sem olhos em Gaza". 

segunda-feira, dezembro 09, 2024

O "Painel" do Cardoso


No interior da velha casa que a imagem mostra, numa parede, havia um grande painel em que o artífice, descuidado, tinha trocado dois azulejos de uma nuvem, oferecendo à obra um não deliberado sentido de transgressão estética. Era o restaurante "Painel de Alcântara".

Na Lisboa dos anos 80, com o Bairro Alto a borbulhar de novidades ousadas e de gente fardada de preto, o "Painel de Alcântara" entrou na boa moda verdadeiramente "alternativa", isto é, passou a ser popular, em zona orgulhosamente não "trendy", entre gente que gostava, muito simplesmente, de comer bem. 

Creio que terá sido em 1985, chegado de Luanda, que comecei a frequentar o "Painel", a "walking distance" das Necessidades. Tinha aberto há pouco. Com o também recém-criado "Poleiro", na rua de Entrecampos, para os jantares, o "Painel" passou a ser uma "cantina" segura em que eu ancorava com regularidade os meus almoços.

O "Painel" era propriedade do Cardoso, Adelino de seu nome. Era namorado da Zezinha, uma cara bonita e uma mulher muito gentil, que estava ao balcão, do lado esquerdo de quem entrava naquela casa pequena e esconsa, situada no dédalo operário de Alcântara. Seco de carnes, agitado no gesto, um pouco brusco para quem o não conhecesse bem, mas muito educado na atitude para com os clientes, o Cardoso era um mouro de trabalho, que ia às 5 da manhã ao mercado sacar, para nós, os melhores produtos. 

O "Painel" tinha então o louro Zé na cozinha, a fazer um trabalho notável. Um dia, o Cardoso quis falar connosco, um grupo de "habitués" do MNE: o Zé tinha sido mandado incorporar no serviço militar. Podia lá ser! A guerra já lá ia há muito! Alguém teve então a ideia genial de convidar para almoçar no "Painel" uma alta figura do ministério da Defesa. No final, perguntámos-lhe que apreciação fazia da refeição. Estava deslumbrado! Esmerei-me na réplica, de que tinha sido encarregado: ainda bem que tinha tido oportunidade de testar a maestria culinária do Zé. É que ele iria sair da tarefa dentro de poucas semanas, para ir compulsivamente "de verde" para um qualquer quartel qualquer. Não era uma pena? O homem concordou comigo, connosco, que entrámos em coro. E, por artes e manhas que já não são da minha conta, o Zé lá se livrou ou adiou a convocatória, ficando entre os tachos do Cardoso, para nosso sossego gástrico. Não por muito tempo, diga-se, porque as leis do mercado funcionaram e o rapaz zarparia, meses mais tarde, para outras paragens, imagino que mais rentáveis. 

E assim o Cardoso teve de assumir ele próprio a cozinha. Verdade seja, a qualidade do "Painel" manteve-se elevada. O cardápio era simples, tradicional: abriam o queijo e o presunto, com bom o vinho da casa, seguia-se uma lista farta, as pataniscas com o insuperável arroz de feijão a dominar, o excelente cabrito assado, o cozido das 4ªs e as favas guisadas com entrecosto, capazes de humilhar as moçoilas de Tormes. 

Um dia, o "Painel" alargou-se à casa ao lado. Entretanto, a Zezinha foi-se pela sua vida, o Cardoso casou algures, teve filhos, chamou para junto de si alguns irmãos, chegou a haver por ali noites com fados. Mas ele soube manter incólume, por bastantes anos, o nome e a boa fama do "Painel", graças ao seu imenso trabalho, à grande qualidade da sua comida e ao amável serviço. 

A vida do Adelino Cardoso terá entretanto dado algumas voltas. O "Painel" fechou e o Cardoso, ao que um dia viémos a saber com muita pena, morreu ainda bem jovem. Recordarei para sempre a sua simpatia e atenção. O meu amigo Cardoso foi um senhor da restauração lisboeta, um homem bom e um excelente profissional. 

Há horas, nesta Lisboa gelada, passei por lá e fotografei o que resta daquilo que foi o excelente "Painel".

A mudança


O cenário é obviamente de poder. Mas algo me faz não acreditar que esta fosse a secretária de Bashir al-Assad. É que o homem teria, pela certa, um melhor gosto, quanto mais não fosse influenciado pela mulher, tributária da estética londrina. Mas nunca se sabe!

Embora ficando muito longe da inesquecível pose do grupo de talibãs na chegada à sede do poder em Cabul, este repouso do guerreiro, imperdoavelmente sem uma arma à vista, convoca em si todo o simbolismo da mudança. 

domingo, dezembro 08, 2024

SIC Notícias

Aceitei com gosto o convite da SIC Notícias para ir hoje, depois das 19.00, falar do terramoto político na Síria e dos humores de Trump sobre a Ucrânia.

Dei conta na minha intervenção da curiosa nomenclatura que é usada para designar os insurgentes, num qualquer cenário violento. Quem não gosta deles chama-lhes terroristas. Aqueles a quem eles dão jeito geopolítico chamam-lhes guerrilheiros ou coisas mais fofas. Quem altera a designação que usava, a meio dos conflitos, chama-se a si próprio de potência oportunista.

Síria

Assad tinha muito poucos amigos. A Rússia perde um "hub" regional e o Irão um aliado. Israel e Turquia esperam tirar vantagens. Riade e Amman devem estar muito inquietos. O que se passou no Iraque e na Líbia deve fazer refletir o mundo. A região fica muito mais complexa. Já estava pouco...

Os estranhos acontecimentos na Coreia do Sul



Ver aqui.

A França em ebulição política


Ver aqui.

sábado, dezembro 07, 2024

Tributo a Mário Soares


Foi bonito!

Vejam bem!

 


Isto volta a complicar-se!

 


Soares e uma certa diplomacia


Oslo, Noruega, junho de 1980. 

O conselheiro da embaixada espanhola em Oslo telefonou-me: "O teu embaixador vai ao aeroporto receber Mário Soares?". Caí das núvens: "Mário Soares vem a Oslo?!". Era uma reunião do "bureau" da Internacional Socialista. A nossa embaixada não tinha sido avisada. O embaixador espanhol, um conservador da velha escola, com ar altivo de "señorito", num tempo em que Adolfo Suarez chefiava o governo em Madrid, ainda não tinha decidido sobre se iria ou não acolher Filipe González. Queria saber o que íamos fazer. Disse-lhe que não sabia, mas que logo lhe diria. 

Por esse tempo, em Portugal, Soares era líder da oposição ao governo da primeira Aliança Democrática, chefiada por Sá Carneiro. Eanes era presidente da República e, por coincidência, há pouco mais de uma semana, tinha efetuado uma visita de Estado à Noruega, de que a nossa minúscula embaixada ainda mal estava refeita.

Nessa embaixada, eu era o único diplomata além do embaixador, de seu nome António Cabrita Matias.  Ele tinha chegado a Oslo em meados de maio, vindo da Austrália, que fora o seu primeiro posto como embaixador. Tinha sido transferido à pressa, para poder acolher a visita de Eanes, dado que o anterior titular, Fernando Reino, era, desde há uns meses, o novo chefe da Casa Civil do próprio Eanes. Eu ficara entretanto encarregado de negócios, chefiando a embaixada, durante esses meses de transição e de preparação da visita.

Cabrita Matias, era um homem pequeno, magro, sempre elegantemente vestido, com um cabelo negro puxado para trás, penteado com aparente brilhantina, naquele modelo de estética capilar que sempre identifico nas fotografias dos primeiros governantes do Estado Novo. Tinha um sorriso que era mais um esgar profissional, mas que projetava um ar de simpatia tímida, embora algo desdenhosa.

Fui avisá-lo da chegada de Soares, que era logo no dia seguinte. Os tempos políticos em Portugal estavam muito tensos, nesse ano que iria ficar bem marcado na nossa História política. Vi que Cabrita Matias hesitava claramente sobre o que deveria fazer, embora procurasse não dar isso a entender. Receber o líder da oposição, num tempo político lisboeta tão crispado, sem ter instruções expressas para tal?

António Cabrita Matias foi talvez a pessoa mais solitária que cruzei em toda a minha vida. Era solteiro, um pouco misógino, mas creio que não homossexual. Passava as férias e os Natais completamente sozinho. Gabava-se de não escrever a ninguém. Não o vi cultivar um único amigo, nem sequer na carreira, embora, no fim da vida, eu próprio o considerasse como tal. Desconfiava, à partida, de tudo e de todos, quiçá fruto de experiências desagradáveis, que nunca me revelou. Cuidava em manter a maior distância possível face a Lisboa. 

Colocado em 1974 na Austrália, por seis longos anos, num tempo em que a informação circulava de outra forma, perdera contacto com o país em acelerada mudança, nesses anos após a Revolução de Abril. Não comentava a política portuguesa, embora eu o sentisse bastante conservador. As tricas partidárias em Portugal estavam, em absoluto, fora do seu radar de interesses. Desconhecia os nossos atores políticos mais comuns e tinha reais surpresas com o que eu lhe contava de um mundo lisboeta que continuava a interessar-me muito e a ele quase nada. Era completamente incapaz de me pedir o "Expresso" ou "O Jornal", que eu recebia pela mala diplomática. Comigo comentava apenas temas internacionais, onde era evidente um fascínio pela América, onde vivera tempos que deviam ter sido agradáveis. Lia o "Herald Tribune" e a "Time". Era inteligente, culto, dotado para línguas. 

Cabrita Matias tinha uma vida social e diplomática formal, clássica a roçar a caricatura, mas com uma grande generosidade nos convites que fazia como embaixador, onde gastava abundantemente aquilo que o Estado lhe pagava. Parecia, contudo, ter, como grande objetivo de vida, que, simplesmente, o deixassem em paz. Na sua filosofia profissional, a embaixada devia evitar fazer-se notada pelas Necessidades. Nisso era o mais flagrante contraste com Fernando Reino, que trabalhava como se Oslo fosse o centro do mundo. 

Devo confessar que não me foi fácil conviver diariamente, durante dois anos, com uma pessoa com aquele recorte idiossincrático. Contudo, com um algum esforço de adaptação da minha parte e uma crescente amabililidade do lado dele, que cedo percebeu a minha lealdade funcional, acabámos por nos dar relativamente bem. Faço este retrato para melhor se poder entender o que vou relatar.

Voltemos então a Mário Soares, que chegava no dia seguinte. Para quem não saiba, não há regras fixas a seguir, nas visitas de figuras que não ocupam funções oficiais. Cada caso é um caso e é preciso, essencialmente, ter algum bom senso e inteligência prática. 

Cabrita Matias não perguntou a minha opinião sobre o que deveria fazer, mas eu dei-lha: "Se me permite que lhe diga uma coisa, acho que o senhor embaixador deve ir ao aeroporto. Trata-se de um antigo primeiro-ministro e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros". E acrescentei um argumento que não era despiciendo, para um embaixador acabado de chegar ao país: "O governo trabalhista norueguês não deixaria de notar, se acaso não estivesse lá a receber Soares". 

O que eu disse tocou-o, embora intimamente deva ter pensado que era o meu "côté socialista" (como, mais tarde, com frequência, diria, a sorrir, quando passou a ter maior confiança comigo) que induzia o conselho que eu lhe dava. Como era extremamente orgulhoso e não queria que ficasse a ideia de que tinha sido eu que o influenciara, logo acrescentou: "Decidi ir. Afinal, foi o ministro Mário Soares quem, há anos, me nomeou para Camberra como embaixador".

No dia seguinte, no aeroporto de Fornebu, à chegada de Mário Soares, que vinha acompanhado por Maria Barroso, Rui Mateus e a mulher deste, constatou-se que não cabíamos todos no mesmo carro. "A embaixada não tem outro carro?", perguntou-me Mateus, com um ar um tanto sobranceiro. "A embaixada tem apenas este carro e nem este funciona muito bem...", respondi-lhe, seco. Ele e a mulher foram de táxi, eu acomodei-me ao lado do motorista e Soares, Maria Barroso e o embaixador ocuparam o banco de trás do carro.

A conversa entre os três começou por ser de circunstância. Cabrita Matias, como vim a constatar, era um requintado especialista em platitudes. Tinha mesmo, na sua abundante biblioteca, cheia de coisas religiosas e de ciências ocultas, livros americanos com anedotas e historietas, como um meio prático para iniciar e alimentar conversas fúteis. É verdade! Era simpático e deliberadamente mimético nos seus contactos profissionais, como tática para agradar. A última coisa que lhe passava pela cabeça era tocar em temas polémicos. Fugia disso como o diabo da cruz! Imagino que tivesse descrito a paisagem e falasse da vida em Oslo, na curta viagem a caminho do hotel em que Soares se instalava e onde a reunião da Internacional Socialista iria ter lugar.

Quando, ainda durante o trajeto, o embaixador referiu, incidentalmente, a recente visita de Estado de Eanes, Soares agarrou o tema: "Sabe, senhor embaixador: a situação política em Portugal atravessa um momento de grande tensão. Eu tenho profundas divergências com o presidente Eanes e com o primeiro-ministro Sá Carneiro. E, como saberá, o primeiro-ministro tem uma muito má relação com o presidente. Dificilmente as coisas poderiam estar piores". 

Com imensa curiosidade, esperei a reação de Cabrita Matias. Esperei e temi, com razão. Saiu-lhe algo parecido com isto: "Eu percebo, senhor doutor, que toda essa agitação política acabe por ser uma forma vibrante de viver o jogo democrático em Portugal. O que seria dos jornais se não fosse essa imagem de constante polémica! Mas, com certeza, há um espaço de diálogo para pacificar essas tensões. Estou certo que, em alguns dias, em finais de tarde, o senhor doutor, o dr. Sá Carneiro e o general Eanes se encontram, com cálice de cognac na mão e um bom charuto, ao calor de uma lareira, talvez no palácio de Belém, para discutirem os três, com calma, as grandes questões do país".

Eu enterrava-me no banco da frente, desgostoso por não ter um espelho retrovisor para ver a cara de Mário Soares e Maria Barroso. Aguardei, ansioso, a resposta e ela chegou, em alto e bom som, abalando o interior do velho Peugeot: "Ó senhor embaixador! Em que mundo é que o senhor vive?! Eu, o dr. Sá Carneiro e o presidente Eanes em conversa à lareira?! Era só o que faltava! Como é que pode ter uma ideia dessas? O senhor não sabe o que é Portugal nos dias de hoje!". Já não recordo o resto da cena. Entretanto chegámos ao hotel, onde os visitantes ficavam.

O hall do SAS de Oslo estava apinhado de delegados estrangeiros, ansiosos por fazer o "check-in" e, simultaneamente, inscreverem-se para a reunião socialista. Ainda olhei em volta, não fosse por ali surgirem Willy Brandt ou Filipe Gonzalez. Mas nada, ninguém conhecido. Com Soares a dar mostras de fadiga da viagem e porventura desejoso de se ver livre de nós, eu procurava apressar as formalidades. Mas o "first come, first served" da democracia nórdica impunha-se. Cabrita Matias, pela certa adepto do "à tout seigneur, tout honneur", decidiu, a certa altura, tomar a iniciativa. Vendo passar uma senhora, de cujo pescoço pendia uma identificação com o vermelho do evento, ia-a tomando quase pelo braço, com ar e tom irritado, como se de uma hospedeira da reunião se tratasse. Fui eu quem, no último instante, lhe travei o gesto, explicando: a senhora era Gro Harlem Brundtland. Dentro de escassos meses, iria ser escolhida para primeira-ministra da Noruega, como já estava nas cartas. Cabrita Matias tinha ainda pouco conhecimento da vida política local. Escapou ali, por muito pouco, a uma cena, que podia ter sido penosa, com alguém com quem um embaixador não poderia nunca ter conflitos.

Passaram entretanto dois dias. Fomos ao hotel buscar o casal Soares para os levar ao aeroporto. Mário Soares parecia ter esquecido as bizarrias do nosso embaixador. Talvez para fazer conversa, contou que, dentro de semanas, iria fazer uma visita à China, como vice-presidente da Internacional Socialista. Era a primeira vez que a organização recebia um convite dessa natureza. Soares mostrava-se curioso com essa futura experiência. No banco de trás, ouviu-se a voz do embaixador: "Vai passar por Nanquim, senhor doutor?" Soares não sabia ainda do programa. "É que se for a Nanquim, daqui a semanas, vai poder ver os mais bonitos campos de flores da China. Não devia perder isso!" 

Fez-se então um silêncio na conversa. Deduzi que os campos floridos talvez não fizessem parte da hierarquia de prioridades de Mário Soares. Mas Cabrita Matias tinha um sentido social de anfitrião que não lhe permitia conviver com pausas. E, ainda antes que a viagem acabasse, lançou: "O senhor doutor Mário Soares permite que lhe dê um conselho?" Voltei a alarmar-me! Devo-me ter aconchegado ao banco, para o choque do que dali viria. Soares, com uma voz entre o tolerante e o exasperado, de quem já estava por tudo, respondeu: "Faça favor, senhor embaixador, faça favor!" E o embaixador avançou com o "conselho": "Se quer o meu conselho, não fale de política aos chineses. Refira outras coisas, use metáforas, mas não lhes coloque abertamente temas políticos. Aquilo é outra forma de estar no mundo, de olhar as coisas".

A resposta de Soares soou-me forte, na nuca: "Não lhes falo de política?! Ora essa! Não lhes vou falar eu de outra coisa. Ó senhor embaixador! Desculpe lá, mas deve guardar esses seus conselhos para outras pessoas, mas não mos dê a mim, por favor!" Não me recordo se Maria Barroso disse alguma coisa, para pôr alguma água na fervura. Só sei que estive calado. Neste entretanto, felizmente, o nosso motorista, o excelente Domingos, tinha parcado o carro em frente à porta do pequeno aeroporto de Oslo. Sair daquela conversa foi um bálsamo.

Soares regressou a Portugal. Nesse mesmo ano de 1980, meses depois, auto-suspender-se-ia conjunturalmente do cargo de secretário-geral do PS, protestando pelo apoio dado pelo partido à recandidatura de Ramalho Eanes, contra o candidato apoiado pela AD, Soares Carneiro. Em 4 de dezembro de 1980, Sá Carneiro morreu em Camarate. Eanes foi reeleito e a AD nunca mais seria a mesma. 

Muitos anos depois, algures no mundo, onde nos fomos encontrando por diversas vezes, com longas e agradáveis conversas, perguntei a Mário Soares se se lembrava daquela visita a Oslo. Soares tinha uma magnífica memória, mas apenas para o que era importante. E, manifestamente, aquelas cenas nórdicas não o tinham marcado muito. Disse-me que guardava apenas na ideia ter-se cruzado, na Noruega, com um embaixador "um pouco estranho", mas nada mais. De cujo nome não se recordava. Mas acrescentou: "Lembro-me apenas que era o meu amigo que estava por lá com ele", disse-me, generoso, sem que eu acreditasse.

Tenho muitas saudades de Mário Soares.

sexta-feira, dezembro 06, 2024

O que se passa na Síria?


Ver aqui.

Interessante

 


Dignidade ou a falta dela

O discurso do chefe do partido da extrema-direita, no dia em que a Assembleia da República assinala o centenário de Mário Soares, teve um nível de indignidade difícil de igualar. A democracia tem uma imensa generosidade perante quantos dela se aproveitam para a amesquinhar. 

Braço de ferro

Ursula von der Leyen vai assinar o Acordo UE-Mercosul sem o aval explícito dos Estados-membros, que desconhecem o texto final negociado pela Comissão. É uma usurpação de poderes, nos termos dos tratados, passando agora ao Conselho o ónus político de dizer não ao Mercosul. 

Com a devida vénia...


 ... peço emprestado a Al-Jazeera e ao Público este elucidativo mapa.

O verdadeiro artista

 


quinta-feira, dezembro 05, 2024

Na praça


Alguém terá já visto esta senhora pelas ruas de Tiblissi? 

Os dias de Macron


Se Macron nomeasse hoje um novo PM, o evento da reabertura da Notre-Dame seria passado para segundo plano e a alguma França passaria o fim-de-semana a falar do futuro governo. Tal como aconteceu nos Jogos Olímpicos, Macron ganha tempo. Afinal, tem de entreter o país até julho.

Turquia


Há algumas coisas discutíveis neste quadro, como é da natureza de todas as simplificações. Porém, no essencial, ele é muito interessante e útil para quem quer obter respostas informadas para certas situações. A Turquia é, de facto, um ator geopolítico a que importa estar atento.

A França do espetáculo


Há duas Franças paralelas. Uma é a do presidente que empurra as crises com a barriga, queimando primeiros-ministros. Outra é a de um Macron que chefia a sociedade do espetáculo: primeiro, os jogos olímpicos, agora a Notre-Dame recuperada. Paris é uma festa, lá dizia Hemingway.

quarta-feira, dezembro 04, 2024

A França


Aceitei um convite para ir hoje à noite ao Jornal da RTP 2 falar com Sandra Sousa sobre a crise política em França. 

Ver aqui entre os 5 e os 14 minutos.

terça-feira, dezembro 03, 2024

Macron tien bon?

Com a queda do governo Barnier, o cenário político francês ficará mais complexo. O parlamento está "balcanizado" e falta muito tempo para Macron poder convocar novas eleições. Uma coisa parece clara: ele não renuncia. Mélenchon e Le Pen vão ter de esperar por sapatos de defunto.

A saída de Biden

À simpatia de que Biden desfrutava em meios europeus, por contraste com Trump, não correspondeu nunca uma idêntica apreciação nos EUA. Biden foi um presidente muito impopular. O gesto de perdoar os crimes do filho fê-lo perder agora alguma autoridade moral. Sai da pior forma.

A política em calão

Ao ver alguns debates sobre a crise política em França, dei-me conta de que o pessoal político da extrema-direita francesa, comparado com aquela inenarrável bancada lusa da mesma área política, confirma bem o que o Eça dizia: "Portugal é um país traduzido do francês em calão".

segunda-feira, dezembro 02, 2024

Costa e a inveja

A mesquinhez invejosa é a marca distintiva de muito "tuga". O sucesso europeu de Costa já faz roer de despeito a alma de muita gente.

Os trabalhos de António Costa



Em 1 de dezembro de 2024, António Costa assumiu as funções de presidente do Conselho Europeu. 

A partir de agora, por dois anos e meio, com possível e provável recondução até 2029, irá coordenar o funcionamento de uma instituição que, ainda nos anos 70, havia sido criada como uma instância meramente política, não decisória e de discussão informal, por iniciativa de Valéry Giscard d'Estaing e de Helmut Schmidt, ao tempo que chefiavam os seus países. 

Os posteriores tratados, que densificaram politicamente o projeto, reconhecendo o mérito de fazer subir a decisão ao nível mais elevado dos governos, vieram a dar músculo político e institucional aos Conselhos Europeus. 

Note-se que, por muito tempo, desde o início das Comunidades Europeias, competiu aos ministros dos Negócios Estrangeiros a coordenação da ação do Conselho, coadjuvando nessa qualidade os chefes dos governos, durante os Conselhos Europeus. 

Embora curiosamente se fale pouco disto, vale a pena referir que o Tratado de Lisboa afastou discretamente os chefes da diplomacia dos Conselhos Europeus, onde os chefes do governo hoje tomam assento sozinhos. Não foi coisa que muitos ministros dos Negócios Estrangeiros tivessem achado muito simpático... 

O Tratado de Lisboa, em 2007, criou também a figura de um presidente permanente do Conselho Europeu, eleito pelos chefes de Estado e governo (e só por estes, não estando a sua escolha sujeita ao escrutínio do Parlamento Europeu), destinada a substituir as anteriores chefias semestrais, exercidas pelos líderes dos países que tinham a seu cargo as presidências rotativas. 

A ideia foi tentar garantir uma continuidade nessa liderança, criando uma espécie de entidade coordenadora da agenda do Conselho, com um poder de representação internacional dos seus pares, mas, igualmente, com uma alargada liberdade de iniciativa na propositura dessa mesma agenda. 

O presidente do Conselho Europeu, na atividade de representação externa, deve atuar em articulação com a chefia da Comissão Europeia e, também, com a figura do Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança - uma entidade híbrida, que reporta ao Conselho mas está inserida na Comissão. 

O antigo primeiro-ministro português é a quarta personalidade a ocupar um cargo que vive associado à ideia de que há uma espécie de bicefalia no topo da União Europeia: o presidente do Conselho Europeu e o presidente da Comissão Europeia. Pode dizer-se que ainda há uma terceira figura nesse âmbito, o presidente do Parlamento Europeu, embora só formalmente ao nível das outras duas. 

Teoricamente, as duas funções de topo têm perfis próprios e distintos. Na realidade, embora institucionalmente não haja áreas cinzentas, a prática revelou algum potencial de conflito político entre ambas as entidades. Isso foi notório durante os últimos cinco anos, em que a chefia da Comissão Europeia foi exercida por Ursula von der Layen. 

Impulsionada pelo seu papel na crise da Covid, pelo lançamento dos programas financeiros de recuperação económica e pela criação de uma resposta à guerra na Ucrânia, von der Leyen terá ido bastante para além dos poderes que os tratados lhe atribuíam em termos políticos. Basta lembrar o seu criticado voluntarismo em face das ambições europeias da Ucrânia, antecipando abusivamente as decisões do Conselho, ou as inusitadas declarações que proferiu em Israel, sem a menor coordenação com o Conselho Europeu. 

Tendo, no outro lado da bicefalia de representação europeia, a figura pouco saliente de Charles Michel, como presidente agora cessante do Conselho Europeu, a comissária alemã como que levou a cabo uma espécie de “golpe de Estado” institucional, assumindo, aos olhos exteriores, a face decisória da União. Para isso também terá contribuído a fragilidade conjuntural do “eixo franco-alemão”, que se auto-excluiu do seu tradicional papel de motor europeu. Ou talvez a nacionalidade de von der Leyen não tenha sido alheia ao poder que conseguiu concentrar... 


E agora, António Costa? 

Estará o novo presidente do Conselho Europeu interessado em comprar uma guerra de chefias com von der Layen, para recuperar o estatuto perdido? Se acaso estivesse, será que encontraria apoio no Conselho para poder assumir tal atitude? As suas hipóteses de vencer essa disputa seriam superiores às vantagens que eventualmente retirará de fazer um discreto pacto de natureza funcional com a poderosa alemã, que agora dispõe de um colégio muito mais sob o seu controle e, a nível do Conselho, da grande simpatia de muitos países do Leste, graças às concessões feitas no desenho da Comissão? 

O novo presidente do Conselho tem uma sólida história europeia. Foi vice-presidente do Parlamento europeu, representou Portugal em conselhos de ministros em Bruxelas e, o que é mais relevante, teve uma muito longa e prestigiada presença em Conselhos Europeus. É, além disso, um europeísta convicto, com sobejas provas dadas. 

António Costa terá um tempo nada fácil à sua frente. Vai ser rigorosamente escrutinado no tocante à questão ucraniana. As suas pretéritas declarações de alguma prudência, no tocante às ambições europeias e euro-atlânticas da Ucrânia, já lhe tinham custado críticas, que chegaram a toldar o seu processo de escolha para o lugar. A ida a Kiev, horas depois da posse, mostra que Costa já percebeu que, mesmo que quisesse, não poderia rumar contra o vento dominante. 

E isso leva-me a uma ideia que me parece evidente: no futuro, não devemos confundir António Costa com António Costa. 

O primeiro foi um chefe de governo português que, com uma leitura sensata dos equilíbrios e objetivos da União, soube definir, em nome de Portugal, durante oito anos, uma certa perspetiva da evolução possível e desejável da Europa que aí está. O outro passa agora a ser o representante do “mainstream” prevalecente no seio do Conselho Europeu, que é feito de consensos acomodadores de agendas estratégicas de oportunidade, de interesses e de poder. Só por milagre o primeiro António Costa virá a coincidir, em absoluto com o segundo. 

Por isso, não é garantido que quem, por cá, apreciou o António Costa líder português venha, necessariamente, a sentir-se confortável com aquilo que o António Costa que agora representa o Conselho Europeu virá a titular no futuro. À bon entendeur...

(Artigo hoje publicado no site da CNN Portugal)

Nuclear

Recomendo a leitura deste curto artigo sobre os riscos do nuclear civil. https://www.spectator.co.uk/article/tony-blair-is-wrong-to-love-nuclear-energy/

Crime e falta de castigo

Um europeu nunca perceberá a lógica democrática de certas práticas americanas. Há dias, foi a decisão de Trump de nomear o sogro da filha, um delinquente já antes perdoado por crimes, para embaixador (!) em Paris. Agora, Biden, antes de sair da Casa Branca, decide absolver as patifarias do filho.

domingo, dezembro 01, 2024

Falsos


Por mais de uma vez, em redes sociais, surgiram perfis falsos com o meu nome. Há dias, foi este, no Instagram. E como nada disto é inocente, o vigarista surgiu logo a sugerir "negócios" aos meus contactos. Sabem quando é que isto terminará? Quando os autores destas trafulhices perceberem que o risco de serem apanhados é superior à possibilidade de saírem impunes. E como é que isto podia ser evitado? Com total transparência e verificação de identificação de quem usa as redes sociais, acabando-se, por exemplo, com a cobardia dos pseudónimos. Mas já percebi que isto é tabu para o mundo que por aí anda.

Multinacionais


Algumas siglas obrigam a ir ao Google, mas aprende-se muito com este quadro.

Isto não está fácil...

 


Israel e Ucrânia


Ver aqui.

A Europa que aí vem


Ver aqui.

sábado, novembro 30, 2024

António Costa


A União Europeia vive um dos momentos mais exigentes da sua história. O facto dos seus líderes terem escolhido um português para o cargo de presidente do Conselho Europeu é um grande prestígio para Portugal. Um abraço amigo, caro António, com votos das maiores felicidades.

Elisa Ferreira


Um forte abraço, cara Elisa! E muitos parabéns pelo teu excelente trabalho como comissária europeia.

Comentários


Têm-me chegado algumas notas de desagrado pelo facto de, desde há uns dias, eu ter suspendido a publicação de comentários aos posts que escrevo neste blogue.

Em termos de comentários, o proprietário de um blogue pode assumir vários tipos de atitude: ou publica tudo aquilo que os comentadores lhe enviam, ou exige uma espécie de certificação de identidade de quem pretende publicar algo, ou faz uma seleção - isso mesmo, uma censura prévia - daquilo que é publicado ou, finalmente, não admite nenhuns comentários. Na sua existência diária, desde 2 de fevereiro de 2009, este blogue já passou pelas quatro fases, estando agora na última. Porquê? 

Quem por aqui vem, nos muitos anos da existência deste espaço, sabe que convivo muito bem com o contraditório, às vezes com o quase insulto, frequentemente com expressões limite de radicalismos. Lembro-me bem de interrogações deixadas por leitores, surpreendidos com a minha permissividade. 

O que é que se passou agora? Cansei-me do tom insistentemente confrontacional de alguns comentadores. Mas não podia, pura e simplesmente, optar por eliminar esses comentários? Claro que sim. Mas achei melhor pôr todos os comentários "em pousio", até para perceber como é que o blogue "sobrevive", em termos de leitores, sem admitir quaisquer comentários.

Quem tiver curiosidade pelo tema dos comentários nos blogues, que é muito antigo na blogosfera, pode ler aqui.

E sobre o assunto, voltaremos a falar em janeiro.

sexta-feira, novembro 29, 2024

As contas da União


Quem paga mais do que recebe está a azulado, quem recebe mais do que paga a avermelhado. Mas não se enganem: quem paga mais têm um retorno no mercado interno que compensa aquilo que "dá". A UE é uma união de interesses: ninguém faz favores a ninguém e nem deve nada a ninguém.

No NYT hoje


Já chega!

A utilização pelo Chega do edifício da AR para ações de chicana política levanta uma séria questão sobre a compatibilidade desse partido com a ordem democrática. Os partidos fazem parte do sistema constitucional. Quando se colocam à margem deste, há que tirar consequências.

Eh toiro!

A cavernícola decisão de reduzir o IVA das touradas é uma triste revelação do recuo civilizacional a que esta conjuntural maioria, acolitada por alguns peões de brega de outras áreas políticas, condena o nosso país, perante o olhar apiedado do mundo.

A União Europeia e os seus imigrantes

 


Médio Oriente



A convite do Observatório do Mundo Islâmico, fiz ontem a palestra de encerramento do seminário "O Grande Médio Oriente e a nova configuração geopolítica regional e global", que teve lugar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Concentrei o que disse no conflito entre Israel e a Palestina, tentando identificar as mais importantes atitudes da comunidade internacional face ao mesmo. 

Observei a evolução das posições de Israel, dos EUA, das lideranças palestinas e dos Estados árabes. Mas, como há mais Médio Oriente para além da Palestina e de Israel, alarguei a análise à posição regional do Irão, da Arábia Saudita, dando uma particular atenção ao Egito, ao Iraque, à Turquia, à Síria e ao Qatar. Destaquei ainda a secundarização da Europa deliberadamente promovida pelos Estados Unidos, bem como as divergências prevalecentes no seio da União Europeia na abordagem do tema palestino. E, claro, falei do papel da Rússia e do modo como a China olha a região. Naturalmente, a dificuldade do papel da ONU na área foi também referida, bem como o tema do Tribunal Penal Internacional. 

Terras raras


Tive algumas surpresas. 

quinta-feira, novembro 28, 2024

Para ajudar a ler o mundo

 


Um voto a mais

Nas eleições, por um voto se ganha, por um voto se perde. Na Moldova, os pró-europeus ganharam e o país irá agora nesse caminho. Na Geórgia, os pró-europeus perderam e essa vontade deve ser respeitada. Um resultado não deixa de ser válido só porque não é aquele de que gostamos. 

"Há lobo!..."

O Dr. Luís Montenegro tem suficiente experiência política para saber que convocar o país para ouvir uma comunicação, a uma hora nobre, teria um custo de credibilidade, se acaso isso fosse visto como uma operação de mera propaganda politiqueira. Foi o caso.

"Antes que me esqueça"


Faz hoje um ano. Com um prefácio de Jaime Gama, apresentado por Jaime Nogueira Pinto e José Ferreira Fernandes, lancei, numa Fundação Calouste Gulbenkian cheia de amigos, o livro "Antes que me esqueça - a diplomacia e a vida". Em poucos dias, a edição esgotou. Uma segunda edição só surgiu bem dentro de janeiro de 2024. Depois, ainda houve um terceira edição. E o livro continua a vender-se, ao que sei.

quarta-feira, novembro 27, 2024

Fumo


Coloquei por aqui, há dois dias, esta fotografia de Melo Antunes. Recebi vários protestos. Porquê? Porque Melo Antunes, na imagem, está a fumar. Está tudo doido?

Braga


Custou-me perder por 5-1 com o Braga, ou como eles se chamavam ontem à noite.

terça-feira, novembro 26, 2024

Os amigos maluquinhos da Ucrânia

Chegou-me há dias um documento, assinado por algumas personagens de países do Leste da Europa em que, entre outras coisas, se defende isto: 

"Extend Air Defence over Western Ukraine and Use It to Cover Coalition Troops on the Ground: Air defence assets based in coalition countries or sent to states bordering. Ukraine can provide a shield over Western Ukraine and take some of the pressure off. Ukrainian air defence assets. Russian missiles and drones are flying toward our borders and we can’t take chances. Coalition states could then use this shield to put their own troops on the ground, as proposed by French President Emmanuel Macron, to help train Ukrainian forces, provide logistical and de-mining support and conduct other tasks that would demonstrate our commitment to Ukraine’s victory and security".

Esta gente ensandeceu?

Antes


Era assim o ambiente, no topo do Campo Grande, uma hora antes do jogo do Sporting com o Arsenal. Depois, foi o que se viu: lavámos uma cabazada. E saímos de Alvalade de orelha murcha, mas mais sportinguistas do que nunca. É a vida de quem é adepto de um clube essencialmente católico: porque só ganha quando deus quiser. E a deus deu-lhe para apostar nuns tipos vestidos à Sporting de Braga. Ele lá sabe porquê! 

Seriedade

Há uns anos, a Guiné Equatorial, antes de introduzir uma moratória sobre a pena de morte, terá "despachado" uns casos que tinha pendentes. Agora, Israel, antes de implementar um cessar-fogo no Líbano, faz um forte bombardeamento sobre Beirute. Estados sérios são "priceless"!

Seminário

 


A moca de Rio Maior

 


segunda-feira, novembro 25, 2024

Outros blogues

Imagino que deva haver por aí blogues onde a data de hoje esteja a ser celebrada. Eles são o lugar adequado para os adoradores da data inserirem os seus comentários. Não aqui.

Viva o 25 de Abril!


Por esta hora, e nesta precisa data, um grupo de quase duas dezenas de "implicados" no 25 de Abril reune-se numa almoçarada que tem como único objetivo saudar esse mesmo 25 de Abril. Só isso.

Viva o 25 de Abril!

25 de novembro

 


domingo, novembro 24, 2024

Os ácidos


Nos anos 60, a expressão que vai em título tinha outro significado. Nos tempos que correm, pode aplicar-se a quem se dedica, por vício ou embirração, a contrariar tudo o que por aqui se escreve. Será da idade dos comentadores? Os ácidos, sofredores de vesícula mental e chatos por natureza, à falta de palco próprio, penduram o seu mau feitio em quem possa ser lido. Se os deixarem, claro. Que tenham muito boas festas, porque desejar-lhes alguma coisa de bom deve irritá-los supinamente.

Romário


Daqui a poucas semanas, fará 20 anos que cheguei ao Brasil, para ali ser embaixador. Nessa noite, ao abrir do portão da residência, eles lá estavam, à nossa espera: o Zé e o Romário. 

O Zé era pequeno, nascido no Piauí, muito negro, um sorriso franco, grande conversador. O Romário era alto, mais claro de pele, saído de Pedra Azul, onda a Bahia se aproxima de Minas. Tinha uma expressão mais grave, um discurso mais rural, era mais contido e parcimonioso nas palavras, mas tinha um humor subtil, às vezes só percetível com mais atenção ao que dizia. Com a Helena, irmã do Zé, e a moçambicana Delfina, esse quarteto maravilha de empregados da nossa residência constituiu o "dream team" que, durante quatro anos, tornaram a nossa vida extraordinariamente agradável. Ficámos amigos para sempre. De todos. Há poucos anos, tomámos a decisão de voltar a Brasília, quase só para os rever.

Acabo de saber, através do meu colega que hoje é o nosso embaixador no Brasil, que o Romário morreu. E chegou-me agora esta fotografia dele, junto a um arranjo de flores, muito adequada para homenagear quem nisso era um mestre. Nela noto que o Romário tinha já os cabelos mais grisalhos do que no meu tempo, mas a verdade é que os anos passam por todos.

Com o andar dos dias, fui levado a apreciar cada vez mais o estilo sóbrio do Romário, a sua eficácia sem falhas, o seu cuidado com o pormenor. Aprendi com ele, e tenho-me esforçado para exercitar, essa coisa simples de que quando há algo de prático que temos que executar, devemos fazer isso de imediato, para nos libertarmos do encargo e da preocupação que a procrastinação provoca.

Nunca esquecemos as lágrimas que detetámos na cara do Romário, naquela tarde em que saímos definitivamente de Brasília.

Termino com uma historieta minha com o Romário, para atenuar esta evocação muito triste. 

O Romário tinha a seu cargo a adega climatizada onde eu guardava os meus vinhos. (As embaixadas nunca têm vinhos. Os vinhos e a comida que nelas são servidos são do embaixador e saem daquilo que mensalmente lhe é pago - isto para quem não saiba). Eu conhecia o que por ali tinha. Ele ia-me avisando das eventuais falhas de abastecimento, que dependiam do ritmo dos almoços e jantares oferecidos. Numa certa zona dessa adega, existiam algumas garrafas individuais, que não tinham par, ideais para uma refeição a sós ou de duas pessoas. Ora, por esse tempo, acontecia que eu estava sozinho em casa. Ao pequeno almoço, disse ao Romário: "Para o almoço, abra cedo e "deixe respirar" a garrafa que está no alto, do lado direito dos tintos". Era um vinho português, que eu sabia razoável. Quando ia a entrar no carro, a caminho da chancelaria, estranhei a pergunta do Romário: "Quer mesmo a garrafa que está no alto, à direita?" Embrulhado nos jornais, conhecedor confiante da geografia dos meus álcoóis, confirmei e passei adiante.

Em Brasília, eu tinha o privilégio de poder almoçar ao ar livre, na esmagadora maioria dos dias do ano. Fi-lo também nesse dia, sozinho, junto à piscina. Notei que o Romário, que me servia, tinha decantado o vinho para uma garrafa de cristal. Iniciei o meu almoço, continuando entretido com uma pilha de imprensa, nesse tempo em que ainda não havia iPads. A certo passo, quase distraidamente, provei o vinho. Uáu! Era excelente! Melhor do que eu esperava. Quando o Romário se aproximou de novo, pedi-lhe para me trazer a garrafa original. Notei-lhe um leve esgar, quando me mostrou o rótulo de um "Barca Velha" de 1983... Caí das nuvens! "Eu estranhei que o senhor embaixador insistisse em mandar abrir esta garrafa, mas achei que talvez quisesse comemorar alguma coisa". E fez um largo sorriso. Graças ao Romário, eu ia ter o inédito e irrepetível prazer de gastar um "Barca Velha" comigo mesmo!

Grande Romário! Gostaria muito de poder agora brindar com ele, com esse amigo que várias décadas de excelente serviço prestou ao Estado português e a quantos o representaram em Brasília. Os nossos sinceros sentimentos a toda a família do Romário.

"Solar dos Pintor" (Santo Antão do Tojal)


Não, não é "dos Pintores": é do Pintor. Onde fica? Fica em Santo Antão do Tojal. Não sabe onde é? Ó diabo! Conhece A-das-Lebres? Também não? Bom, Loures já conhece, não é? Sai da autoestrada para lá e, depois, ponha o Wase ou o Google Maps. É mais fácil assim. De Lisboa (depende de onde estiver em Lisboa, claro) leva uns 20 minutos. A certa altura, dado o tipo de estrada, vai achar que se perdeu. Nessa altura, pode ter a certeza: é mesmo por aí.

Fui lá uma primeira vez há uns bons anos, com um amigo que sabe muito desta poda. Regressei tempos depois. Comi sempre bem e invejei a fantástica garrafeira. Ontem, perante uma Lisboa onde tudo quanto era restaurante estava apinhado, lembrei-me do Solar dos Pintor. Consegui arranjar mesa para o jantar. E arrastei comigo meia dúzia de pessoas. 

O que comemos? A lista é magnífica, nada convencional, com duas especialidades só por encomenda. Optámos por um arroz de cabidela, para todos. Demorou? Demorou, porque foi feito na hora. Entretanto, fomos a uns bolos de bacalhau, fritos também no momento, de textura certa, sorvidos no meio da boa conversa de amigos, numa sala cheia e bem disposta, de gente que sabia bem ao que ali ia. 

O arroz, no tacho, valeu bem o tempo de espera. Estava excelente! Seguiram-se as sobremesas. Belíssimas, também. Como vinho proposto pela casa, fomos por um Grão Vasco, a clássica marca do Dão, agora com rótulo novo na garrafa bojuda tradicional. Na garrafa não, nas garrafas, porque tiveram de vir duas para sustentar a sede da mesa. E que bem simpático que estava o vinho, de 2022. Ah! O serviço é de primeira! Simples, amável e atencioso, fazendo-nos sentir em casa. 

Com os cafés, veio a conta. Se acaso souberem onde se pode comer tão bem por menos de 25 euros por pessoa, digam!

sábado, novembro 23, 2024

Liberdade

Já faltou menos para surgir por aí alguém a propor a Ordem da Liberdade para os fundadores do ELP e do MDLP. E também já faltou menos para lha darem.

Senado

Dois terços dos senadores do Partido Republicano americano não foram eleitos no dia 5 de fevereiro, isto é, na onda política Trump II. É de entre estes senadores, alguns dos quais são figuras referenciais dos seus Estados, que podem vir a surgir algumas surpresas.

João Miguel Tavares no "Público"


 

Convite da SIC Notícias


Foi uma bela conversa com Paulo Garcia, ontem, na SIC Notícias, sobre as tensões mundiais, a Ucrânia, os Estados Unidos, a Rússia e o mandado de captura contra Netanyahu. Foi na Edição da Noite, entre as 22.40 e as 22.55.

Vai haver uma guerra nuclear?

 


Ver aqui.

G20

 


O G20 no Rio. Ver aqui.

Israel


Há muito que Portugal, no plano internacional, não assume nenhuma atitude que presuma possa beliscar um qualquer interesse essencial dos Estados Unidos. É lamentável, mas é assim. Foi agora o caso de uma votação sobre Israel. Falo disso aqui.

Está frio...

... mas está um belo dia!