domingo, junho 29, 2025

43,5 ºC !


Na vida, lembro-me de ter apanhado caloraças inimagináveis. Algumas na quase vintena de países africanos por que passei, outra num deserto da Ásia Central, mas também nos centros do Rio e de Nova Iorque, num fim de tarde na Tailândia, num meio-dia em Atenas, numa jornada em Córdova (no "Verão quente"), até na minha Vila Real da juventude, em domingos sinistros de pasmaceira, nos anos 60. Tenho tantas, muitas memórias de ocasiões com um calor quase insuportável, coisa que foi quase sempre agravada pelo facto de eu ser como o leite que se usa cá em casa: meio gordo.

Nunca, porém, como nesta tarde no Alentejo: sair do ar condicionado do carro, numa área de serviço (estou a perder qualidades geracionais: já não digo numa bomba de gasolina) e levar com um bafo espesso de calor como jamais tinha sentido, que até me dificultou o andar nos poucos metros até à loja, onde comprei sei-lá-bem-o-quê, desde que bem gelado. Depois, sair a medo, sob o sol infernal (não sei se há sol no inferno, mas o calor não pode ser pior), regressar ao carro e, pela milésima vez, pensar na injustiça que é nunca terem dado um Prémio Nobel ao inventor do ar condicionado.

43,5° C foi o que há horas registei no meu carro. Isto está a mudar! Qualquer dia já temos camelos a andar por aí. E não, não é desses!

Senhora da Pena


Na minha juventude, lá por Vila Real, quando alguma coisa tinha luzes a mais, costumava dizer-se: "Aquilo já parece o arraial da Senhora da Pena". Em transcrição fonética, em "vila-realês", lê-se "sedapâna".

Ontem, ao afinar a colocação de umas lâmpadas no meu jardim, dei por mim a dizer para um surpreendido artífice lisboeta que lá trabalhava: "Já chega! Com mais lâmpadas, fica igual à Senhora da Pena!" 

E lá tive de explicar a frase que me saiu a quem não faz a mínima ideia de onde é Mouçós e o que é a sua grande festa, onde, além das luzes, que se vêm de Vila Real, há um andor gigante que, por sinal, já deu fortes chatices. E onde o Ramalheda dos foguetes teve, há muitas décadas, uma trágica noite. E, finalmente, onde o anónimo mas para sempre famoso Guarda Republicano, que perdeu o cinto quando se foi aviar à vinha, se viu chamado à cabine de som, sem eufemismos na linguagem, num aviso que até hoje ficou célebre.

sexta-feira, junho 27, 2025

O voto em Branco

"Estou muito desiludido com o leque de candidatos às presidenciais. Até estou a pensar votar em branco", disse-me ontem um conhecido. "Já fiz isso, por duas vezes", respondi-lhe. Ficou surpreendido. "Quando foi?". "Votei duas vezes no candidato Jorge Branco Sampaio". E ganhei!"

Os talheres da viscondessa


Em 1930, com menos de 20 anos, o meu pai saiu da sua Viana do Castelo natal para ingressar, em Lisboa, na Caixa Geral de Depósitos. Nesse tempo, acrescentava-se ao nome "Crédito e Previdência". Mal ele sabia que esse acabaria por ser o seu muito feliz destino de trabalho, nos 47 anos que se iam seguir.

Para trás, em Viana, deixava a minha avó Filomena, viúva já há cinco anos, mãe de oito filhos, dois que há muito tinham morrido. O meu pai era então o mais novo e essa sua ida para Lisboa terá sido traumática para a mãe. Para ele foi muito difícil, confessava sempre. Toda a família vivia em Viana, com uma fortíssima ligação afetiva à minha avó. Os três irmãos e uma das irmãs estavam bem encaminhados - usava-se então muito a expressão "lançados" - nas respetivas vidas profissionais, concluído que fora o liceu para todos eles. Chegar à universidade é que não tinha sido possível, por razões económicas, para nenhum dos filhos da minha avó.

A Lisboa de então, na memória esparsa que, ao longo dos anos, fui ouvindo do meu pai, ressoava a páginas de "A Capital", do Eça, no olhar deslumbrado de Artur Corvelo. O meu pai, contudo, trabalhava, não fazia poesia como o injustamente pouco apreciado autor do "Esmaltes e Joias".

Falava-me imenso dos cafés desse tempo, dos cinemas existentes, de algumas revistas no Parque, a que ia com os baratuchos "bilhetes de claque", isto é, com obrigação de aplaudir. E também se lembrava da agitação política, dos cívicos de chanfalho que, na confusão das manifestações, dissolviam "ajuntamentos de mais do que uma pessoa" e determinavam, alto e bom som: "É proibido andar parado!"

O 28 de maio tinha sido quase nas vésperas, as revoltas violentas estavam no ar do tempo, republicanos e integralistas agitavam aqueles dias. Educado numa família solidamente republicana, o meu pai olhou a subida do autoritarismo com uma saudável inquietação democrática, atitude que o viria a acompanhar até ao final dos seus longos dias.

Foram muito poucos esses meses de Lisboa, mas terá sido um tempo de imagens fortes e impressivas para um miúdo que, contudo, nem por um dia esqueceu o seu Minho - onde tinham ficado a mãe e todos os seus irmãos. Logo que pôde, conseguiu transferir-se para lá.

A mulher de um dos irmãos do meu pai tinha uma tia em Lisboa, senhora com posses, com bela casa e um título de viscondessa. O meu pai contava, às vezes, divertido e com pormenores, um jantar para que foi convidado pela senhora.

A ocasião era social e ficou-lhe então no goto uma pequena muito bonita com quem meteu conversa à mesa e com a qual, por timidez, havia de falhar um futuro encontro. Sorte a minha: se o conhecimento tivesse tido boa sequência, eu não estaria agora a ser o narrador desta história.

Desse jantar, lauto e imagina-se que um pouco diferente da comida das tascas de galegos do Bairro Alto que o jovem funcionário da Caixa podia frequentar, o meu pai contava o embaraço em que ficou, ao deparar-se com uma parafernália de talheres, cuja ordem de utilização não lhe resultava evidente. A bela rapariga ao seu lado, notando a sua hesitação, deu-lhe, discretamente, um prático conselho protocolar: esperar para ver como os outros faziam.

Às vezes, já tenho pensado que, em certos períodos, a nossa política externa, na prudência obsessiva perante os acontecimentos do mundo, aprendeu demasiado com a lição dos talheres da viscondessa: fica à espera para ver o que os outros fazem, seguindo-os depois, contentinha da vida.

Acabei há pouco de escrevinhar um texto sobre questões de protocolo que me foi solicitado, para um fim que não vem aqui ao caso. E foi então que me lembrei dessa viscondessa que me ficou da memória familiar, uma titular sem nome, mas que o meu primo Rogério, descendente de um ramo próximo dessa ala aristocrática, talvez ainda consiga identificar. Se assim fosse, fechava-se a história com garfo de ouro.

Os trios das quintas


Começámos já nem sei bem quando: Azeredo Lopes, Agostinho Costa e eu. Era sempre nas noites das 5as feiras, na CNN Portugal. A partir daí, lembro-me que, para grande irritação minha, aconteceu-me ter de perder a segunda parte de alguns concertos na Gulbenkian, para poder atender a esse compromisso regular. Disseram-me, há dias, que aquele formato de debate, centrado na guerra da Ucrânia, tinha uma muito forte audiência. Nunca tive curiosidade de perguntar pelas audiências dos programas em que intervim. Um dia, o trio inicial desfez-se: Azeredo Lopes, por vontade própria, decidiu migrar para outros horários. Agostinho Costa e eu passámos então a ter a companhia de Sónia Sénica. Se bem me recordo, foi por muito pouco tempo. Um dia, Diana Soller substituiu-a. Foi, de longe, o trio que mais tempo sobreviveu, com diferentes pivôs. Posso hoje dizer: era um formato que tinha uma diversidade opinativa que me satisfazia. É que, como dizia Nelson Rodrigues, "todo o unanimismo é burro". Esse trio durou até agosto do ano passado. Nesse mês, informei a CNN de que não desejava continuar. Estava cansado, não de qualquer dos meus companheiros de debate, contrariamente ao que alguns podem julgar, mas da própria tarefa de fazer comentário televisivo regular. Saí de cena apenas porque queria ter mais tempo para mim. Neste último ano, o meu lugar foi ocupado por Jorge Botelho Moniz. Constou-me que, na passada semana, teria havido um qualquer incidente. Se assim foi, é pena. Notei que, na noite de ontem, ali estava um novo grupo de comentadores. Como dizia o versejador de Constância, "todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades". Ou não.

Dois belos galardões


Um forte abraço.

António Vitorino


Tenho muita pena, António! 

Muito pouca gente, da gente que temos, representaria melhor toda a nossa gente: com equilíbrio, maturidade, cultura, cosmopolitismo e sentido de Estado.

Preocupem-se

Deve haver poucas coisas mais impopulares do que aquela que vou dizer, mas digo-a, sem a menor tibieza: não sendo o anti-semitismo, há muito, entre nós, uma questão preocupante, acho que nos devemos começar a inquietar seriamente com a onda de islamofobia que aí começa a grassar.

quinta-feira, junho 26, 2025

Belgas


Ontem, um amigo belga queixou-se: "Então você anda a fazer ironias com as diferenças linguísticas do meu país? E já alguma vez foi ao bairro de Marolles, em Bruxelas, ouvir uma outra nossa sonoridade linguística?" Quando lhe disse que já tinha ido ao Petit Lion, na rue Haute, há muitos muitos anos, ganhei a paz. Mas, aqui entre nós, talvez por azar meu, nunca ali ouvi o tal "Bruxellois".

Sem os belgas - verdadeiros, casuais, falsos ou inventados - o mundo não teria a mesma graça. (Já um dia fiz aqui essa discutível lista). Sem o Tin Tin & Hergé, o Brel, o Edgar P. Jacobs, o Magritte, o Simenon, o Horta, o Ensor, o Delvaux, o Lévi-Strauss (o Claude, não o das jeans). E, claro, também o Jacky Ickx, o Eddy Merckx e o grande Michel Preud'homme. E, sempre, o imenso Poirot. E quem sabe que lá nasceram a Yourcenar, o Johnny Hallyday e até a Audrey Hepburn? E o Adamo, que cantou a "Dolce Paola" (senhora hoje com os seus 87 anos), ela que nasceu na Itália mas deu aos belgas o seu atual rei - que não é rei da Bélgica, mas "dos belgas", note-se.

ps - olhei o título e lembrei-me das "belgas". Quem eram as "belgas"? O restaurante "A Travessa", na Madragoa, onde se comia lindamente, que já desapareceu há décadas, era conhecido como "as belgas". Porquê? Porque uma das proprietárias, a Vivianne, era belga e a outra, a Sofia, assim foi "nacionalizada". As "belgas" cindiram-se, como é da natureza dos belgas e, pelos vistos, das "belgas" ... A Vivianne fez o "Travessa do Convento das Bernardas" (que ainda existe) e a Sofia o "Guarda-Mor" (que já desapareceu com esse nome).

E, já agora, alguém se lembra que houve em Lisboa, perto da Alameda, um restaurante belga? Chamava-se "Chez Armand". Do que eu me lembro quando tenho apetite...

Brasil cá e lá


Ontem, na embaixada do Brasil em Lisboa, com casa cheia, o DN Brasil, comemorando o seu primeiro aniversário, organizou vários debates, num dos quais tive o gosto de participar. Diversas dimensões do relacionamento bilateral foram analisadas, se bem que a questão económica tivesse sido um permanente pano de fundo.

É muito bom que um jornal com a história do "Diário de Notícias" esteja envolvido num projeto jornalístico que atravessa o Atlântico. Agora sob a direção de Filipe Alves, que por anos conduziu o "Semanário Económico", o DN Brasil tem Amanda Lima na condução deste projeto luso-brasileiro. Só lhes posso desejar muito sucesso. No que me toca, gosto muito de ver, cada vez mais, o Brasil em Portugal.

quarta-feira, junho 25, 2025

Aposto

A missiva de Mark Rutte a Trump é um nojo. Mas até aposto que, no seio dos seus colegas, a grande maioria aplaude-o e elogia o seu "sacrifício", ao ter-se prestado àquele ridículo para conseguir preservar Trump "a bordo" da NATO e, pelo menos, não piorar a atitude face à Ucrânia.

Bélgicas


Uma fila de carros para lavagem automática não é um local habitual para manter diálogos com estranhos. Mas aconteceu-me ontem. 

Era um homem de trinta e poucos anos. Aproximou-se, falando inglês, a inquirir como podia adquirir a senha para a máquina. 

No regresso, na breve espera, a uma pergunta minha, disse ser belga. Respondi-lhe qualquer coisa em francês. Teimou no inglês. Resolvi ser chato, de novo em francês. "Não fala francês?" Com um esgar que não era sorriso, disse-me, em inglês: "Sou flamengo". Os carros avançaram e a conversa perdeu-se. Sem pena minha.

Fiz um "flashback". Há quase 55 anos. Andava uma vez mais à boleia pela Europa, de mochila às costas. Estava a sair de Antuérpia, na Bélgica, e não conseguia encontrar a estrada para Breda, já na Holanda. Essa era a cidade mais próxima no caminho para a "Meca" desses tempos: Amesterdão.

Cruzei-me com um cidadão e perguntei-lhe se aquela era a rua certa para ir dar à estrada para Breda. Fiz-lhe a pergunta em francês. Respondeu-me, num francês impecável: "Peço desculpa, mas eu não falo francês". Reformulei a questão em inglês e lá obtive o que queria. 

Naquele instante, aprendi alguma coisa. Ontem confirmei-a. 

Linguisticamente, a Bélgica é um país muito complicado. Alguns belgas tornam-no pior.

terça-feira, junho 24, 2025

Estão bem um para o outro


A História guarda algumas pérolas. A mensagem do SG na NATO para Trump merece uma tese de doutoramento em sabujice. Mas, aqui entre nós, a divulgação da mensagem por parte de Trump também é, além de reveladora do seu descaso pelos mais dóceis subordinados, um atestado do caráter

Natas


Na NATO os secretários-gerais são locutores de um script escrito em Washington ou, pelo menos, com uma mensagem que, à partida, se sabe que não vai desagradar aos EUA. Mas raramente se viu um "lambe-botismo" como aquele que Mark Rutte está a protagonizar. Uma vergonha! 

segunda-feira, junho 23, 2025

Com dedicatória

O anti-americanismo radical é a doença senil do pós-comunismo de alguns. Por princípio, são contra a América, o mau da fita. A arrogância política da América muitas vezes dava-lhes forte razão. A chegada de Trump mudava a cara dessa sua odiada América: olá, afinal havia outra!

A América de Trump dava-lhes imenso jeito: amigo de Putin (o seu "next best", depois da queda do muro), aliado de quem na Europa não gosta dela (mesmo que "facho", desde que contra Bruxelas), Trump atacava a ordem mundial e eles eram pelo quanto pior melhor e depois logo se vê.

Agora Trump trocou-lhes as voltas: não tira todo o tapete à Ucrânia, faz o que o lóbi de Israel manda e ataca o Irão, que chateava o ocidente, onde vivem mas que desprezam. Enfim: vendo bem, para eles, isto acaba por ter uma vantagem: já podem voltar a detestar a América à vontade. Na sua infelicidade, estão felizes.

Fabiano


Lembro-me como se fosse hoje. Estávamos há muito pouco tempo no Brasil. 

Íamos num pequeno jato, de Brasília para Salvador. Havia por lá um qualquer evento e a Maria Josina e o Arnaldo Cunha Campos, um excelente casal amigo que o tempo já levou, que tinham um "jatinho", disseram que nos podiam dar "carona". 

Sou pouco dado a aventurar-me nesses pequenos aviões privados. Porquê? Por medo, claro, coisa própria dos humanos. Sou um crente na aviação comercial. Mas não quisemos dizer que não a esses nossos novos amigos.

Durante a viagem, num momento da conversa para encher o tempo, veio à baila o modo como, em Portugal e no Brasil, se designavam pessoas indeterminadas: Fulano, Cicrano e Beltrano. Sem wifi nas alturas, interrogávamo-nos sobre qual seria a origem de cada um desses nomes, não tendo chegado a nenhuma conclusão.

Foi então que, para completar a lista dessas designações gerais, eu adiantei: "Em Portugal, também era comum, no passado, utilizar a expressão 'um fabiano', para designar uma pessoa indeterminada. Cá pelo Brasil, também se usa?"

Levei à conta do barulho do motor, que envolvia o ambiente no interior do "jatinho", o silêncio com que a minha questão não foi respondida. A cara séria do Arnaldo Cunha Campos, que por regra era um tipo divertido, surpreendeu-me ligeiramente. Logo a resposta veio com uma pergunta: "Francisco, você sabe o nome do meu filho?" Respondi que não. À época, ainda não tinha tido o gosto de conhecer a família do casal. Ele respondeu: "Fabiano". 

Nunca concluí se foi ou não um poço de ar o abanão que o "jatinho" me pareceu sofrer nesse instante.

Um abraço saudoso para si e para as suas irmãs, caro Fabiano Cunha Campos.

Nuno Júdice

 


domingo, junho 22, 2025

Os meus

O que se tem passado no Médio Oriente, de Gaza ao Irão, representou uma preciosa oportunidade para se saber quem põe a compaixão à frente do sectarismo, quem entende que o estrito respeito pelo Direito Internacional prevalece sempre sobre o que dá jeito. 

Esses são os meus.

Solstício


O meu pai, que já se me foi há muito, adorava a claridade. Deitava-se cedo e nunca percebeu o fascínio do filho pela noite. A escuridão não era do seu agrado, em parte porque lhe limitava os vários passeios que sempre gostou de fazer, até quase ao seu centenário. O dia 22 de junho não era uma data que apreciasse. "Este solstício é uma chatice! A partir de hoje e até quase ao Natal, os dias vão ser cada vez mais pequenos!" E logo me provocava: "E tu sabes a diferença entre um solstício e um equinócio? Se calhar, não sabes...". Eu, se não sabia, tive de aprender, para lhe poder responder, embora achasse que eram coisas da "cultura de almanaque", um saber com que ele sempre ironizava. 

O meu pai gostava muito de cães. Nunca o vi opinar sobre gatos. Assim, a claro despropósito, deixo aqui este, que há dias mal me olhou nas Trinas.

Então, é assim

Os EUA estão exultantes, sempre sob a batuta do lóbi israelita. Em Israel, a hora é de júbilo, claro: agora, resta a solução final para o problema de Gaza. Na Arábia Saudita, por entre os panos, abrem-se garrafas de sabe-se lá de quê e dizem: ufa! A China, a precisar dos fósseis iranianos, deve estar a mandar recados para manter Ormuz aberto. A Rússia vê os réditos do crude a subir e até se sente mais livre na Ucrânia. A Europa de Bruxelas exulta: o "dirty work" finalmente foi feito, sem mexerem uma palha; a hipocrisia pode continuar. A Índia nunca gostou da ideia de ter mais um no clube nuclear. O resto? O resto é, como sempre, o resto. Aqui, do sofá, é um jogo curioso.

Uma Espanha tensa


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Ouvir quem sabe

 


O cozinheiro "iraniano"



Quando, em maio de 1979, cheguei à Noruega, para aquele que seria o meu primeiro posto diplomático, a revolução iraniana estava já em curso. 

O Xá tinha abandonado Teerão e o Ayatollah Khomeini chegara, triunfante, do seu exílio em França. Um governo de transição geria o país. A grande incógnita era saber se a dinâmica política em torno de Khomeini desencadearia ou não uma radicalização da situação, colocando em causa a precária estabilidade governativa.

Por uns dias, coexisti na nossa embaixada em Oslo com o colega que ia substituir, Pedro Vasconcelos e Castro, cuja casa iria "herdar". Ao segundo ou terceiro dia, o Pedro perguntou-me se queria ir com ele jantar a casa de um seu amigo próximo, um diplomata do Irão, Parviz Azarnia. Não queria eu outra coisa! A minha curiosidade sobre o que se estava a passar no Irão era imensa. 

Verdade seja que a ocasião veio a ter pouco préstimo para esse objetivo. Era um jantar volante, para despedida do Pedro, o qual iria, dias depois, partir para a nossa embaixada no Cairo. A conversa foi dispersa, o iraniano, que era solteiro, distribuía naturalmente a atenção por todos os convidados. Não tive o mínimo ensejo de conversar com ele a sós. Lembro-me que era um excelente apartamento, perto de Røa, à saída de Oslo para o antigo aeroporto de Fornebu, não muito longe da casa onde eu iria morar nos três anos seguintes. Recordo que voltei lá uma vez com a minha mulher, para um cocktail.

O que me impressionou logobnesse jantar foi a descontração desse colega iraniano, que sabia ter no seu país uma situação política em risco de explosão. Vestido 100% à ocidental, tinha belas peças de decoração, que imaginei valiosas. Os tapetes, notei, eram deslumbrantes. Pode dizer-se que vivia "à grande e à francesa", se isto ainda hoje se diz.

Os acontecimentos no Irão precipitaram-se, nos meses seguintes. De Teerão, começaram a chegar notícias da "débacle" das estruturas moderadas de governo. A imprensa internacional que líamos - no meu caso, quase exclusivamente, o "Herald Tribune" - dava conta do início da onda clerical que se prolongou até aos dias de hoje. Viria ainda o episódio do assalto à embaixada americana, que Trump está por estas horas a tentar vingar.

Um dia, no diz-que-disse dos círculos diplomáticos, chegou-nos a notícia de que Parvis Azarnia tinha saído de Oslo. Uns meses mais tarde, passou a circular que se tinha transferido para Genebra, onde montara uma casa de venda de ... tapetes, "et pour cause"!

Estava eu, na ausência do embaixador Fernando Reino, a chefiar interinamente a embaixada, aí por julho ou agosto de 1979 quando fui avisado de que um cidadão português, residente em Oslo, queria falar comigo. 

Os nossos compatriotas na Noruega, ao contrário do que hoje sucede, não excediam as duas centenas, concentrados basicamente em Oslo. O José Manuel dos Santos, um jovem algarvio que tinha entrado um ano antes ao serviço da embaixada, antes de introduzir o homem no meu gabinete, sussurrou-me: "É cozinheiro na embaixada do Irão!". Fiquei curioso, claro.

Apareceu-me um tipo gorducho, de quarenta e tal anos, afogueado e nervoso. Antes que eu pudesse matar a curiosidade sobre a vida lá no seu emprego, foi direito ao assunto que ali o levava. 

Desde há alguns anos que era cozinheiro da embaixada do Irão Não tinha razões de queixa dos patrões, que lhe pagavam bem, para os já bons salários de Oslo. Contudo, uma semana antes, a residência esvaziara-se e na chancelaria tinha acontecido praticamente o mesmo: não ficara nenhum iraniano na embaixada. Havia uns noruegueses contratados na chancelaria da embaixada, mas, estando sem orientações, tinham fechado o escritório. Na residência ele estava sozinho, já há alguns dias. Não tinha nada para fazer e estava sem saber o que havia de fazer. Parecia assustado. Tinham-lhe chegado uns zunzuns de que se aguardava a chegada de uma gente um tanto estranha, para substituir os anteriores.

Disse-me que estava à procura de um novo emprego, que tinha mesmo algo apalavrado e que já nem dormia na residência. Ótimo, disse-lhe eu, e desejei-lhe boa sorte. E inquiri o que poderíamos fazer por ele, tentando perceber a razão por que nos procurara.

"Vinha pedir-lhe, senhor doutor, se podia ficar com as chaves da residência, entregando-as depois a quem vier do Irão". Em Oslo, a residência da embaixada do Irão fica em frente da do nosso embaixador, do outro lado da rua.

A vida diplomática confronta-nos com situações estranhas e inesperadas. Em 90% dos casos, a resposta é apenas um mínimo de bom senso. Como o era nesta situação. Era só o que faltava que eu aceitasse o "favor" que o homem me pedia! 

Falei com o Protocolo do MNE norueguês e arranjei um encontro para o homem se ver livre das chaves. Perdi-o para sempre de vista. Infelizmente, soube, meses mais tarde, que tinha morrido de uma doença grave de que já padecia.

Tempos depois, uma nova e mais ortodoxa equipa diplomática iraniana chegou a Oslo. Os trajes tinham mudado por completo. Imagino que o menu da residência também, mas não me recordo de ter sido alguma vez convidado por lá.
 

sábado, junho 21, 2025

... e lá se passou mais um G7!


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Irra!

Já esteve mais longe a decisão de desamigar quem quer que use a expressão "vergonha alheia". Tenham vergonha própria!

Já agora...

Estejam atentos: agora que a extrema-direita caseira está, dia após dia, a mostrar a sua face violenta, pode-se constar, aqui pelas redes sociais, em jeito subliminar de "compensação", as crescentes referências às FP25. Terrorismo por terrorismo, convém lembrar-lhes o do MDLP.

Alguma vez havia de ser...

São tantas as vezes em que discordo do meu amigo Sérgio Sousa Pinto que me apraz muito registar este momento em que subscrevo a sua análise, como sempre muito bem articulada, sobre um tema internacional da atualidade.

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O sonho israelita da mudança de regime no Irão.


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Noite de Verão


Não faço ideia do que diria Shakespeare a esta "adaptação" livre do seu clássico. Eu diverti-me imenso, saí muito bem disposto e, uma vez mais, admirador da inteligência de Diogo Infante. Ah! E continua a haver por ali ótimos atores. 

sexta-feira, junho 20, 2025

Internacional

Nos últimos tempos, tenho-me mantido afastado do comentário televisivo sobre temas internacionais, não obstante amáveis e reiterados convites recebidos de vários canais, gestos que muito agradeço. 

Quando vier a coincidir eu ter vontade de me pronunciar e, eventualmente, ainda houver quem tenha interesse em ouvir-me, lá regressarei. 

Note-se, por ser justo reconhecê-lo, que, nos tempos que correm, na área do comentário internacional, há, em quase todas as nossas televisões, gente competente e sabedora, capaz de assumir uma rigorosa equidistância, que evite, na abordagem dos diversos conflitos, o comentário "afetivo" a favor de qualquer das partes. E há os outros, claro.

Relembrar

A análise televisiva de temas internacionais, quando (como, infelizmente, quase sempre acontece) não consegue ser equidistante, ganha bastante com o contraditório, no qual estejam representadas todas (repito, todas) as posições e narrativas. Com vivacidade, educação e respeito.

quinta-feira, junho 19, 2025

Futebóis


Sou de um tempo em que, por cá, para o que importava, havia o campeonato nacional de futebol da "primeira divisão" e a taça de Portugal. No defeso, disputavam-se a taça Ribeiro dos Reis e havia um torneio da Associação de Futebol de Lisboa. Os "grandes" iam no verão a Espanha disputar os "troféus" Teresa Herrera e Ramon de Carranza. 

Na Europa, jogava-se a taça dos Campeões Europeus, a taça das Taças e a taça das cidades com Feiras (é verdade, chamava-se assim!). 

No tocante a seleções nacionais, havia os campeonatos do mundo, de quatro em quatro anos, com o campeonato da Europa de equipas nacionais a surgir só mais tarde. E havia jogos entre seleções militares, imaginem.

Por esse tempo, lá por Vila Real, eu lia "A Bola", que saía três vezes por semana. Às vezes também o "Record", "O Mundo Desportivo" e, raramente, "O Norte Desportivo". Colecionava cromos com jogadores saídos nos rebuçados de uma lata cúbica que havia pelos cafés, mas nunca me saiu "o número da bola" (como se dizia em Vila Real) ou "o mais custoso" (como se dizia em outros locais), que dava direito a uma bola de couro.

O futebol era quase só aquilo e era muito simples. Agora é o que se vê. 

Às malvas


As televisões portugueses há muito que mandaram às malvas o cuidado em garantir alguma pluralidade na opinião que exibem. A SIC, contudo, é a primeira a ter um programa exclusivamente com figuras da direita radical. 

Uma viúva do Irão


Lembrei-me disto agora, quando tanto se fala do Irão.

No final dos anos 50, as revistas de atualidades que, em Vila Real, via lá por casa - "O Século Ilustrado" e a "Flama" - trouxeram amplas reportagens sobre o divórcio do Xá da Pérsia da sua segunda mulher, Soraya. Eu era miúdo mas recordo a simpatia que, para as senhoras amigas da família, merecia a jovem imperatriz que tinha sido forçada a afastar-se do Xá pelo facto de não conseguir dar-lhe um herdeiro. Soraya era muito bonita, tinha uns belos olhos verdes, mas a imagem que dela guardo é a preto e branco, são fotografias em que ela aparecia com um ar permanentemente triste. A tragédia de Soraya ficou-me para sempre na memória. Mais tarde vim a saber que veio a acabar por ter uma desafogada vida em Paris, embora aparentemente não muito feliz.

Após o divórcio de Soraya, o Xá, Reza Pálavi, que não perdia tempo, encontrou, quase de seguida, uma outra mulher, Farah Diba, bastante mais nova do que Soraya, que passou a ser a nova Xabanu, título que significa mulher do Xá. Quando Pálavi foi afastado do poder, fugindo do Irão, Farah Diba acompanhou-o.

Ao tempo em que fui embaixador em França, privámos com um simpático casal iraniano, que tinha um andar magnífico, no Boulevard Saint Germain, com vista sobre o Sena. Por duas vezes, em jantares, cruzei por lá a deposta imperatriz Farah Diba. Tinha então pouco mais de 70 anos e era a convidada de honra desses nossos amigos. Ao que sei, o meu antecessor, António Monteiro, teve-a como visita na nossa residência.

Farah Diba era uma senhora elegante e discreta, que se relacionava com toda a gente que por ali andava, com aparente simplicidade. De uma das vezes em que conversámos, falou-me, com imensa admiração e gratidão, do presidente egípcio Anwar Al Sadat, o único que tivera coragem de receber o Xá no exílio. Já sem nota visível de ressentimento, mesmo com alguma ironia, comentou que, dos muitos amigos que o seu marido foi tendo, enquanto esteve no poder, praticamente todos se tinham prudentemente afastado após a queda da monarquia em Teerão, desde logo a começar pelos Estados Unidos. Por curiosidade, perguntei-lhe se mantinha contactos com a sua família no Irão. Disse-me que a grande maioria dos seus familiares próximos estavam fora do país - em Paris, na Suíça, em Londres ou nos Estados Unidos - mas que, por vezes, ainda era procurada por algumas pessoas vindas do Irão. Pouco lhe consegui extrair, em termos de comentário, sobre a situação que então se vivia no seu país. Era um tema a que manifestamente fugia. 

Por esse tempo, Farah Diba vivia em Paris, curiosamente a cidade onde o Xá a conhecera, meio século antes. Em Paris, também viveu e morreu Soraya. De Paris partiu, em 1979, para derrubar o regime do Xá, o Ayatollah Khomeini. 

O filho de Farah Diba, que há muito vive nos Estados Unidos, tem vindo a sugerir-se, nos últimos dias, como alternativa de poder em Teerão, no caso de um processo de "regime change". O retorno de monarcas aos antigos tronos não está muito na moda, mas, sabe-se lá! Com Trump, qualquer absurdo parece possível.

(Em tempo - Escrevi isto, ontem à noite, a propósito da situação no Irão. Hoje, soube que Farah Diba está por Lisboa. "... que las hay hay!")

Não esquecer

Já agora: que é feito do famoso muro que Trump estava a construir? Como tem andado a tomada do canal do Panamá? Há avanços na invasão da Gronelândia? E o Canadá já se convenceu a ser o 51° estado americano? Há dossiês tão "beautiful" e "great" que não devem ser esquecidos.

Já agora

É lamentável que os mísseis com que o Irão bombardeia Israel originem vítimas civis. Ao invés, útil seria que esses ataques contribuíssem para tornar ineficazes as armas nucleares que Israel mantém, à revelia de qualquer fiscalização da Agência Internacional de Energia Atómica.

Jorge Coelho


Jorge Coelho morreu há mais de quatro anos. Político e gestor, tinha criado, em 2015, uma tertúlia com uma dezena de amigos que, aperiodicamente, se reuniam para jantar e conversar, muitas vezes ouvindo um convidado. Desde a sua morte, esses seus amigos mantiveram o grupo, assim prolongando a memória de Jorge Coelho. Foi o que aconteceu ontem.

quarta-feira, junho 18, 2025

O Clube e eu


Sou atualmente presidente do Clube de Lisboa / Global Challenges, uma associação com cerca de 100 sócios, criada em 2016, que pagam as suas quotas e que tem como objetivo discutir temáticas de natureza global. O Clube não é um "think tank", não produz doutrina, apenas "produz" debates e reflexões.

Também não cabe nos propósitos do Clube tratar matérias relacionadas com a política externa portuguesa, embora lhe não sejam indiferentes as questões que preocupam Portugal e os contextos geopolíticos em que o nosso país se insere.

Dos órgãos sociais e dos associados do Clube fazem parte pessoas ligadas a escolas de pensamento muito diversas. Essa diversidade é a riqueza de uma estrutura que se preza de nunca ter sido atravessada pelo mais leve debate ideológico ou por qualquer confrontação política.

Ontem, no início de uma sessão promovida pelo Clube no Grémio Literário, no âmbito de um protocolo de colaboração entre as duas entidades, onde intervim, ao lado dos professores José Azeredo Lopes e Raquel Vaz Pinto, esclareci que o não fazia enquanto presidente do Clube, mas apenas como seu associado. 

E dei um exemplo dessa virtuosa dualidade: o presidente do Clube de Lisboa não usa adjetivos qualificativos quando fala do presidente Donald Trump. O associado que sou pode dar-se e dá-se a essa liberdade.

Haverá Intifada?

A Palestina está em polvorosa com as "condições" colocadas pelo governo português para o seu reconhecimento. Em Gaza não se fala de outra coisa.

Ai, Canadá...


O protocolo canadiano leu corretamente os tratados europeus e, na foto de família do G 7 & convidados, fez um "downgrading" da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, em benefício do presidente do Conselho Europeu, António Costa. O Canadá que se ponha a pau...

António Costa

Tenho visto por aí algumas pessoas desiludidas com a "performance" e as declarações (ou falta delas) de António Costa, na sua qualidade de presidente do Conselho Europeu. 

Nada que não fosse expectável. Lembro-me do que escrevi num artigo no site da CNN em 2 de Dezembro de 2024:

" (...) E isso leva-me a uma ideia que me parece evidente: no futuro, não devemos confundir António Costa com António Costa. 

O primeiro foi um chefe de governo português que, com uma leitura sensata dos equilíbrios e objetivos da União, soube definir, em nome de Portugal, durante oito anos, uma certa perspetiva da evolução possível e desejável da Europa que aí está. 

O outro passa agora a ser o representante do “mainstream” prevalecente no seio do Conselho Europeu, que é feito de consensos acomodadores de agendas estratégicas de oportunidade, de interesses e de poder. 

Só por milagre o primeiro António Costa virá a coincidir, em absoluto com o segundo. 

Por isso, não é garantido que quem, por cá, apreciou o António Costa líder português venha, necessariamente, a sentir-se confortável com aquilo que o António Costa que agora representa o Conselho Europeu virá a titular no futuro. À bon entendeur..."

Israel (3)

O Estado de Israel tem pleno direito a existir, em segurança, dentro das fronteiras que o Direito Internacional lhe reconhece. Se repetir esta frase a um diplomata israelita, passa por inimigo de Israel, porque o país não reconhece tais fronteiras como legítimas. E estamos assim.

Israel (2)

Israel considera-se isento do cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Os EUA e os países europeus membros permanentes desse Conselho, sem cujo apoio ou a abstenção as resoluções não teriam sido aprovadas, não mexem uma palha para forçar Israel a cumpri-las.

Europa

Antes, ironizava-se que a Europa, no Médio Oriente, tinha sempre o "Óscar para o melhor ator secundário", dado que os EUA lhe não deixavam levantar a grimpa. Agora, ver a senhora Leyen telefonar, carinhosa, a alguém com um mandado de detenção do TPI é uma bela comédia série B.

Israel

Israel é um país poderoso. Sabe que tem forma de condicionar internamente as administrações, de qualquer cor, da mais importante potência mundial. Além disso, usa o terror semântico do anti-semitismo e a memória do Holocausto para pôr a Europa aos seus pés. Ganha o dia de amanhã.

Irão, irão...

Trump pode não resistir à tentação de um "regime change" no Irão, para satisfazer o delírio israelita. Seria repetir o erro da Líbia e do Iraque, arriscando a implosão do país. A Arábia Saudita e as outras ditaduras medievais do Golfo que se cuidem com o que aí pode vir.

Eu, Trump

O desprezo de Trump confirmou o G7 como um cadáver adiado. Teve importância quando, com mais ou menos reticências, era a "voice of America", a expressão da força de Washington, com alguns poderes pequenos a fazerem figura de grandes, como se fossem eles os "donos" das decisões.

Na sequência da crise financeira, o G7 tentou ser relevante com o G20, procurando aculturar esses poderes de terceira linha aos seus interesses. Passado o atordoamento da crise, os cooptados libertaram-se, com os BRICS a aproveitar para fazerem proselitismo e agregação "a Sul".

Trump acha agora que está a perder tempo no G7, como no G20, como na NATO. Trump só tem tempo para o que interessa à expressão do poder singular da América - e faz gala de deixar isso muito claro a todos, que contudo lhe fazem um sabujo rapapé, entre bofetadas que vão recebendo.

terça-feira, junho 17, 2025

Hoje, no Grémio Literário, às 18.30

 


Lado a lado


Israelitas observando estragos causados por mísseis iranianos nas suas cidades. Se visitassem Gaza, teriam um bom termo de comparação.

Ó diabo! Isto começa a ficar sério!

 


Na realidade, esta subtil ameaça de corte das linhas de fornecimento de drogas pode vir a ser um poderoso argumento de pressão junto dos contendores. Uma forma de Embaló reduzi-los a pó seria reduzir-lhes o pó.

segunda-feira, junho 16, 2025

Israel e Portugal - notas para a História (2), com apontamentos pessoais

Imediatamente após o 25 de Abril, Israel informou as autoridades portuguesas que "reconhecia" a Junta de Salvação Nacional.

Numa nota interna, o nosso MNE registou que Portugal nunca tinha expressamente reconhecido Israel, razão pela qual o respetivo governo não fora incluído na comunicação geral através da qual dera conta ao mundo do novo regime. 

Porque os tempos corriam a favor de um posicionamento prioritário de abertura da diplomacia portuguesa face ao então chamado "Terceiro Mundo", em que os países árabes tinham um papel predominante, e de que decorria naturalmente uma atitude mais pró-palestina, o período pós-Revolução não parecia muito favorável a uma aproximação com Tel-Aviv. 

Melo Antunes, ministro dos Negócios Estrangeiros, assumiu então posições públicas desfavoráveis aos desígnios israelitas e abriu caminho a que, nas Nações Unidas, num voto que viria a ser considerado muito polémico, o nosso país se ligasse a uma resolução que equiparou o sionismo ao racismo (72 votos a favor, 35 contra e 32 abstenções), afastando-se, neste caso, da posição de vários países ocidentais. 

Julgo que se pode considerar que, tendo sido este o gesto anti-israelita mais extremado assumido pela diplomacia portuguesa, ele acabou por criar, paradoxalmente, um ambiente propício a uma viragem na posição futura de Portugal face a Israel. Jaime Gama, na Assembleia Constituinte, apresentou um requerimento que indiciava a futura atitude que o PS iria ter neste tema. 

Foi o Partido Socialista que esteve no centro dessa nova atitude portuguesa. Com efeito, estando o Partido Trabalhista no poder em Israel, a lógica de apoios dentro da Internacional Socialista acabou por favorecê-lo. Mário Soares veio a mostrar-se crescentemente aberto a favorecer uma maior aceitação de Israel no quadro internacional. 

Ao mesmo tempo - e lembremo-nos que estávamos no tempo tenso de 1976 -, esta orientação socialista marcava também, no plano interno, o seu claro afastamento da linha "terceiro-mundista" que o PS considerava ter marcado o consulado diplomático de Melo Antunes. Aliás, o ministro militar teve o cuidado de desenvolver bem o seu ponto de vista no seu discurso de despedida do MNE. 

Assim, logo no programa do I Governo constitucional, em 1976, referem-se, embora sem oferecer um sentido claro de decisão, "as questões do estabelecimento de relações diplomáticas com a China Popular e Israel". 

Esta clara inflexão fora precedida de visitas partidárias a Israel de Jaime Gama e de Salgado Zenha. Porém, como bem refere Manuela Franco (*), dentro do MNE essa nova predisposição socialista não só não provocou efeitos sensíveis como suscitou algumas surdas resistências. Basicamente, e para o que contava em termos de atitude prática, a política manteve-se a mesma, mesmo sendo já Medeiros Ferreira o novo ministro. 

Finalmente, em 12 de maio de 1977, ultrapassando as resistências internas da nossa diplomacia, são estabelecidas relações diplomáticas entre Portugal e Israel. Em 30 desse mesmo mês, foi negociado em Lisboa um Acordo no domínio da Agricultura e do Cooperativismo entre Portugal e Israel, o primeiro instrumento legal firmado entre os dois países. Fiz parte da delegação que negociou esse acordo. 

O estabelecimento de relações diplomáticas entre dois Estados não implica, necessariamente, que haja embaixadores acreditados mutuamente, mesmo que sem a instalação física de uma embaixada. 

Porém, em 16 de outubro de 1977, foi anunciado que Portugal e Israel tinham decidido elevar as suas relações diplomáticas para o nível de embaixada. Mário Soares anuncia isso em Madrid, depois de uma reunião com o líder trabalhista Yitzhak Rabin, no quadro de uma reunião da Internacional Socialista. Rabin já não era, à época, primeiro-ministro de Israel, cargo que, desde junho, era ocupado por Menachem Begin, do partido Likud, de direita. 

Medeiros Ferreira, ministro dos Negócios Estrangeiros, demite-se, na sequência dessa decisão, e Soares, como primeiro-ministro, assume interinamente a pasta dos Negócios Estrangeiros. Esta interinidade manter-se-á até 30 de janeiro de 1978, altura em que Mário Soares será substituído nas Necessidades por Victor Sá Machado, do CDS, no novo governo PS-CDS. 

Israel, no ano anterior, logo que isso foi possível, transformou em Embaixada o Consulado-geral que mantinha em Lisboa. Portugal, que não tinha qualquer instalação em Israel, nada fez.

A decisão de Mário Soares de anunciar um "upgrading" das relações com Israel caiu mal no mundo árabe. Nos meses seguintes, a nossa diplomacia passou então por momentos de dificuldade com os países árabes, que chegou a ameaçar os nossos fornecimentos petrolíferos e que, ao que parece, terá afetado a campanha que tínhamos em curso para candidatura a um lugar de membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU. 

Fui "vítima" colateral desse anúncio: uma missão técnica à Líbia, que eu integrava, destinada a finalizar um processo de contratação de obras públicas, iniciado no ano anterior, foi sujeita a uma espécie de "quarentena" em Tripoli. Sem qualquer explicação, durante quase uma semana, colocaram-nos num hotel nos arredores da capital, sem comunicações com o exterior. Foram-nos retirados os passaportes e os bilhetes de avião. A nossa surpresa era tanto maior quanto, em dezembro do ano anterior, havíamos sido recebidos com "tapete vermelho"... Demorou alguns dias, até a questão se normalizar.

Só 11 anos mais tarde, em 1988, Portugal viria a acreditar em Telavive, embora como embaixador não residente, o nosso embaixador em Roma, Ruy Medina. E seria apenas na iminência da nossa primeira presidência europeia, em 1991, que Portugal abriu uma embaixada em Telavive, com João Quintela Paixão. 

Entre 24 a 30 junho de 1978, por insistência do governo de Tel-Aviv, teve lugar a primeira missão governamental portuguesa a Israel. Era ministro dos Negócios Estrangeiros, como atrás referi, Victor Sá Machado. A delegação era chefiada pelo ministro da Agricultura e Pescas, Luís Saias e ia participar na 1ª comissão mista do acordo nesse domínio assinado cerca de um ano antes, em 30 de maio de 1977. 

Algures no início desse mês, para grande supresa minha, fui chamado ao gabinete do meu ministro, que me anunciou que eu devia acompanhar Luís Saias. "Você vai ser o primeiro diplomata português a deslocar-se oficialmente a Israel". Quando eu digeria, deliciado, essa honra, Sá Machado moderou o meu entusiasmo: "Quisemos que o primeiro sinal diplomático dado da nossa parte fosse a um nível baixo. Por isso, vai você, que é o "desk" no Médio Oriente e do Magrebe". 

Foi um "banho escocês", mas o melhor estava ainda para vir: "Isto é confidencial, só para si, mas é importante que saiba que é com grande relutância que o MNE se associa a esta viagem, que consideramos prematura. Porém, a decisão vem "de cima" (dando a entender que era determinada pelo primeiro-ministro Mário Soares) e por isso só nos compete fazer um "damage control". Conto consigo para evitar que o senhor ministro da Agricultura se meta por terrenos políticos, que faça declarações fora da linha oficial que Portugal mantém face a Israel e ao processo político do Médio Oriente em geral. Ele chefia uma missão puramente técnica, no quadro do acordo. Sei que conhece os parâmetros dessa nossa atitude neste dossiê, mas, no entanto, o Dr. Queiroz de Barros (um colega mais velho, chefe de repartição, que se mantinha em silêncio ao lado do ministro) dar-lhe-á todas as informações. Conto consigo!" Recordo bem ter dito a Sá Machado que iria ser difícil para mim, jovem diplomata, controlar a atitude de um governante, mas que faria o meu melhor. 

A viagem lá correu "tant bien que mal". À entrada no aeroporto Ben Gurion, em Telavive, os vários carimbos libios que eu levava no meu passaporte causaram visível perturbação e atrasaram a entrada de toda a nossa delegação. O ministro Saias saiu, algumas vezes, do "script" que eu, com regularidade, lhe recordava. E não consegui impedir que, no final, numa conferência de imprensa em que fui o seu intérprete (e em que traduzi, à minha maneira e da forma que achava mais adequado, aquilo que ele ia dizendo), ele convidasse o seu homólogo israelita para vir a Portugal. Recordo que Menachem Begin, do partido Likud, era o primeiro-ministro de então. E, para o que conta, esse ministro da Agricultura acabou por nunca vir a Portugal: chamava-se Ariel Sharon, imaginem! 

Como atrás se disse, a nossa Embaixada em Tel-Aviv só viria ser aberta em 1991, a tempo de poder acompanhar a nossa segunda presença no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A partir daí, as relações entraram num registo de normalidade, com Portugal a assumir sempre uma posição de grande equilíbrio que, basicamente, tentava conciliar o direito à criação de um Estado palestino e a necessidade de preservação de um Estado de Israel com fronteiras reconhecidas. 

Em Novembro de 1995, teve finalmente lugar a primeira visita de um chefe de Estado português a Israel. Então já no exercício de funções políticas, coube-me acompanhar Mário Soares nessa viagem, em substituição do ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama. 

Vivia-se um tempo de grandes esperanças para o processo de paz no Médio Oriente, posterior aos acordos de Oslo e Washington. Mário Soares, que estava no fim do seu segundo mandato, era um interlocutor altamente respeitado pelo primeiro-ministro Yitzhak Rabin e pelo MNE Shimon Peres. 

Nas várias conversas que ambos tivemos com estes responsáveis israelitas, Portugal foi estimulado a ajudar, nomeadamente no âmbito europeu, aos esforços de reconstrução económica que a Autoridade Palestina tinha em curso na Cisjordânia e, em especial, em Gaza. 

Foi em Gaza, na noite de 4 de Novembro de 1995, quando ambos jantávamos com Yass+-er Arafat, líder da Autoridade Palestina, que nos chegou a notícia do assassinato de Rabin. Com quem tínhamos estado em Jerusalém nessa manhã e em casa de quem tínhamos almoçado na véspera. À margem desse almoço, Soares pediu-me que relatasse a Rabin o episódio em que ele, quase duas décadas antes, tinha "perdido" um ministro dos Negócios Estrangeiros por divergências quanto a Israel (**). Assim fiz. Dois dias depois, Soares e eu regressámos a Jerusalém para o funeral de Yitzhak Rabin. 

O resto da história é conhecida "and counting". 


(*) O artigo de Manuela Franco, "O melindre do problema sionista - relações Portugal-Israel, 1947-1977", publicado no nº 11 da revista "Relações Internacionais", Junho 2006, que consultei para este e para o anterior posts, regista dados factuais do maior interesse para o período que cobre). 

(**) Sem descontar que a questão de Israel possa ser uma das razões por detrás da demissão de Medeiros Fereeira, há informações de que pode ter havido outros fatores, nomeadamente quanto ao modo de intervir nas difíceis relações com Angola, na justificação da sua decisão.


Ah! Pois é!

Há um país com cerca de dez milhões de habitantes que defende os seus interesses através da diplomacia e do diálogo, que aceita as fronteiras que o Direito Internacional lhe atribui, que não ameaça ninguém e é visto com grande simpatia por grande parte do mundo. Chama-se Portugal. Sabiam?

domingo, junho 15, 2025

Pararam as paradas?

Ao que parece, olhando o "entusiasmo" com que foi recebida a parada militar americana, terá havido, afinal, três paradas: a primeira, a única e a última...

Direitos

Pode-se (e até acho que se deve) gostar mais das democracias do que das autocracias. Mas é bom que se saiba - e parece haver quem não saiba - que, à luz do Direito Internacional, uma democracia não tem mais direitos do que uma qualquer ditadura.

Lembram-se?

Não quero que ninguém responda a esta pergunta: nesta guerra, quem é que, afinal, tem armas de destruição maciça? Não foi a posse destas armas que, em 2003, justificou a invasão do Iraque (país que, por sinal, as não tinha, mas, como dizia a outra, isso agora não interessa nada)? 

sábado, junho 14, 2025

Israel e Portugal - notas para a História (1)

Israel nasce, como país, em 1948 e, no ano seguinte, ingressa nas Nações Unidas (contrariamente a Portugal que, por veto da URSS, apenas seria admitido na ONU em 1955). 

Ainda nesse ano, o governo israelita anuncia a Portugal, numa carta do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, o seu ingresso na comunidade internacional, com vista a promover o respetivo reconhecimento por Lisboa. O silêncio português foi a resposta. 

Não resulta muito clara a razão deste posicionamento português, não parecendo decorrer, como alguns aventam, de uma atitude anti-semita do regime salarazista. Muito menos de um seguidismo com a atitude de Madrid. Tudo parece indicar que Portugal temia provocar uma reação de hostilidade por parte dos países árabes, num momento em que a Índia se tornava independente e começavam a aparecer nuvens de preocupação em torno do futuro das possessões portuguesas naquele espaço. Colocar todo o mundo árabe contra si, agravando o isolamento internacional do país, parecia, assim, estar na base da atitude reticente de Lisboa face a Tel-Aviv. O facto de Portugal ter então reforçado a sua presença diplomática em várias capitais árabes parece, em pleno, confirmar esta teoria.

Em 1953, perante uma insistência israelita, o MNE português opta, de novo, por não reconhecer Israel, argumentando que, se o fizesse, estaria a tomar posição num momento de forte tensão israelo-árabe. Num gesto timorato de dimensão limitada, Portugal faz entretanto chegar a Israel, em 1954, a indicação de que veria com bons olhos a abertura de uma representação consular em Lisboa e, embora não encarasse, por ora, o estabelecimento de uma sua representação similiar em Israel, pedia autorização para tal, no futuro. 

Com esta atitude, Portugal assumia que isso funcionaria como um reconhecimento implícito do Estado judaico. Por isso, a posição portuguesa, transmitida à Embaixada que procedera ao contacto, deixa claro que a autorização da abertura do consulado "far-se-á sem ser precedida ou seguida de qualquer forma de reconhecimento expresso, que nas circunstâncias actuais não seria conveniente". Era o mais longe que Lisboa estava então disposta a ir.

O mundo árabe, entretanto, mostrou evoluir para uma atitude favorável à autodeterminação dos povos coloniais, contrariando as "esperanças" que a ditadura portuguesa nele havia colocado, nomeadamente numa potencial contradição com os novos regimes da "África negra". Em 1959, no quadro de algumas relações económicas entretanto já existentes, Portugal e Israel subscrevem um "acordo comercial e de pagamentos". 

No ano anterior, havia sido dada, depois de muito tempo de espera, a acreditação para o primeiro cônsul israelita. O despacho justificativo de Salazar é exemplar de realpolitik: "Os países árabes não mudarão de posição quanto a nós seja qual fôr a decisão que tomarmos. Israel votará a favor". As "contas" na batalha das Nações Unidas, com sucessivas condenações de Portugal, estavam a ser, desde 1955, a grande preocupação portuguesa.

Israel tem, entretanto, uma surpreendente evolução de posição face à política colonial portuguesa, menos por um desagrado com as reticências persistentes de Lisboa e, muito mais, determinada por uma tentativa de "cavalgar" politicamente algumas independências africanas, ao que parece num acordo implícito com Washington. 

Com o início das guerras coloniais nas possessões africanas de Portugal, essa posição vai-se agravando. Em 1967, Lisboa protestou informalmente pela atribuição por Tel-Aviv de bolsas de estudos a líderes independentistas das colónias portuguesas e chamou a atenção para o facto de armas israelitas terem aparecido em posse da Frelimo. Nesse contacto, Portugal invocou mesmo a proteção dada a judeus durante a 2ª guerra mundial, como forma de melhor denunciar a "ingratidão" de Israel. Afinal, as ações de Aristides Sousa Mendes iriam acabar por ter alguma utilidade, para o tardio argumentário salazarista...

Esta atitude negativa de Israel face à política colonial portuguesa enfureceu Lisboa, que passou a abster-se, nas Nações Unidas, na votação de questões israelo-árabes, talvez na ingénua esperança de atenuar a hostilidade deste últimos. Com a utilização da base das Lages, pelos EUA, para abastecimento de Israel, durante a guerra do Yon Kypur, em 1973, Portugal acabou por suscitar a aberta indignação de todo o mundo árabe, que decretou um embargo petrolífero ao nosso país. Atitude, aliás, injusta. Portugal não fez isso para ajudar Israel: fora submetido a um humilhante diktat americano, a que não conseguira furtar-se. 

E, um dia, sucedeu o 25 de Abril. 

(Segue)

Isto

Thomas L. Friedman no NYT hoje: "In the Middle East, the opposite of autocracy is not necessarily democracy. It can also be prolonged disorder."

América - o teste da Califórnia


Ver aqui

O futuro da NATO

 


Ver aqui.

Ucrânia


Ver aqui

Relembrando factos

Irão e Iraque mantiveram uma guerra entre si que tinha resultado num estado de contenção mútua. Com a posterior destruição do Iraque, sob um falso pretexto, os EUA contribuíram para o reforço do poder regional do Irão, bem como para a criação no Iraque do vazio que gerou o Daesh.

sexta-feira, junho 13, 2025

"Uma Europa sem otimismo"


Quem estiver interessado, pode consultar aqui a minha contribuição para o livro "75 Anos da Declaração Schuman - Que futuro para a Europa?", organizado por Ana Catarina Mendes.

O livro inclui 52 textos, de outras tantas figuras. Por lá estão, por exemplo, Mário Centeno, António Costa, Francisco Louçã, Elisa Ferreira, Marcelo Rebelo de Sousa, João Cravinho, etc.

Os teimosos de Abril


Somos teimosos, somos de Abril. Reunimo-nos, há décadas, já sem as fardas que tínhamos quando nos conhecemos, por esses anos da Revolução. Agora, aperiodicamente, é à volta de uma mesa, de um almoço, de uma conversa e de uma velha amizade que nos juntamos. 

Às vezes, como é da lei da vida, alguns de nós vamos sendo apanhados pelo azar da morte. O Domingos Pereira, que espreita na fotografia, foi-o hoje, nesta infausta sexta-feira treze. Antes, já tínhamos perdido o Pedro Gonçalves e o Carlos Contreiras, bem depois de alguns outros - como o Agostinho Roseta, o Jorge Calheiros ou o António Alves Martins. Não somos eternos, somos os teimosos de Abril.

A análise e o resto

Na análise mediática dos temas internacionais, há duas formas de atuar. Uma é ficar afetivamente de um dos lados, apoiando, aberta ou veladamente, tudo o que esse lado venha a fazer. Outra é o olhar as coisas sob o prisma do Direito Internacional. Cada um é livre de escolher o que quer fazer.

Assuntos Europeus


Ontem, à margem de um almoço no Palácio da Ajuda, oferecido pelo Presidente da República, por ocasião dos 40 anos da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às Comunidades Europeias, foi possível juntar um grupo de pessoas que ocuparam o cargo de Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, desde Vitor Martins até à atual titular Inês Domingos. Faltam na foto Teresa Moura, Manuel Lobo Antunes, Pedro Lourtie, Bruno Maçães e Morais Leitão.

Santos na "Varina"

 

Desde há anos que organizo, na noite a anteceder o dia de Santo António, uma jantarada com amigos, na velha "Varina da Madragoa", na rua das Madres. Este ano, fomos 26. Foi mais uma bela jornada! 

Socialistas europeus


Fui convidado a intervir na reunião realizada em Lisboa pelos deputados do S&D - Progressive Alliance of Socialists and Democrats, o grupo político do Parlamento Europeu que, no passado, era conhecido por "Partido Socialista Europeu".

A minha intervenção no painel "The Global Role of the EU in the New Geopolitical Landscape – Challenges Ahead and Opportunities in Building New Progressive Partnerships" pode ser lida aqui.

43,5 ºC !

Na vida, lembro-me de ter apanhado caloraças inimagináveis. Algumas na quase vintena de países africanos por que passei, outra num deserto d...