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segunda-feira, abril 23, 2012

INSEAD

Na passada semana, convidei, para um jantar, doze jovens portugueses que estão a frequentar o INSEAD, a prestigiada "bussiness school" internacional existente em Fontainebleau, que já foi dirigida pelo professor António Borges.

Para quem, como eu, vive há mais de uma década fora do país, foi interessante poder trocar impressões com representantes de uma nova geração saída de universidades portuguesas, colhendo a sua perspetiva sobre o modo como leem a situação que Portugal atravessa.

Curioso, mas um pouco menos agradável, foi constatar que, na sua esmagadora maioria, esses futuros profissionais têm, como objetivo imediato, vir a exercer a sua atividade no estrangeiro. 

terça-feira, dezembro 13, 2011

O ensino do português em França

Este não é um blogue oficial. É apenas um meio de expressão privada de quem exerce uma função pública. Sem falsas dualidades. O cidadão que aqui escreve todos os dias é o mesmo que tem a seu cargo a representação diplomática portuguesa em França. Não tem duas caras, nem duas palavras.

Digo isto para que se perceba melhor por que razão me sinto obrigado hoje a falar aqui, neste meu blogue privado, da situação que resultou da decisão oficial de suspensão de atividade de duas dezenas de professores que prestavam serviço junto das comunidades portuguesas em França. Não para aqui trazer algo de novo ou espetacular, mas, tão simplesmente, para que fique claro que todas as razões que se cruzam neste processo não me são indiferentes. E que a diplomacia pública que tenho como regra de trabalho me obriga a explicitar.

Pais e professores afetados pela anunciada suspensão da prestação do serviço oficial de ensino de português - decisão que abrangeu comunidades noutros países, para além da França -, bem como instituições que partilham essas preocupações e temem pelo futuro da língua portuguesa nas gerações luso-descendentes, têm-me transmitido os seus sentimentos de profundo desagrado com a situação que se avizinha, com os efeitos na vida académica das crianças, com impactos na vida pessoal e familiar dos professores e todo um conjunto de outras consequências que lêem como negativas. A todos ouvi com atenção, nada do que foi transmitido deixou de ser comunicado, atempadamente, a quem tutela o nosso trabalho. E, convém também que se diga, nessa comunicação não deixou sempre de transparecer o meu respeito pelas legítimas inquietações que atravessam esses setores da nossa comunidade.

No outro prato da balança, está a muito difícil questão orçamental com que o Estado português hoje se confronta, e à luz da qual o Governo considerou indispensável tomar medidas drásticas de restrição a nível da despesa pública, algumas das quais afetaram áreas do Ministério dos Negócios Estrangeiros: a rede diplomática e consular foi redimensionada, a estrutura do ministério e as suas chefias foram reduzidas, verificaram-se cortes no pessoal que prestava serviço no estrangeiro e houve lugar a limitações em vários setores onde foi entendido poder e dever ser reduzida a despesa. A suspensão do serviço dos professores inseriu-se, assim, num esforço muito mais vasto para fazer baixar os gastos públicos, no declarado objetivo de os conter dentro dos limites impostos pelos compromissos internacionais subscritos pelo país e que o executivo assumiu como prioritários na sua ação.

Alguns poderão objetar, e muitos o fazem, que se deveria ter cortado menos "aqui" e que teria sido preferível fazê-lo "ali". Alguém que deixou um traço eterno de esperança na política francesa, e que, curiosamente, era descendente de portugueses que haviam fugido da inquisição, Pierre Mendès-France, dizia que "governar é escolher". E o Governo português, recém-legitimado por uma eleição em que os portugueses lhe conferiram uma expressiva maioria, isto é, uma autorização para decidir, fez as suas escolhas em matéria de cortes na despesa pública, à luz das opções que entendeu dever assumir. As pessoas podem concordar ou não com essas opções, é perfeitamente democrático discuti-las e contestá-las, mas não é possível recusar a legitimidade política das decisões tomadas.

No terreno, estão as Embaixadas e os servidores públicos. Compete-nos dar leal e total cumprimento àquilo que o poder político legítimo determina, da mesma forma que temos o dever de ouvir e comunicar às nossas autoridades o sentimento de quem se sente negativamente afetado pelos efeitos das suas decisões. E temos ainda um outro dever e a Coordenação do ensino do português em França está a cumpri-lo de forma escrupulosa: tentar atenuar, por um melhor e mais eficaz ajustamento dos recursos letivos disponíveis, as consequências que resultaram para alguns alunos da saída dos seus professores. Não para todos, infelizmente. E, convém também que se diga, ainda neste quadro, e sob orientação superior, um esforço paralelo está a ser levado a cabo para, no futuro, poder vir a encarar-se o desenvolvimento de um ou vários modelos complementares, que permitam assegurar a continuidade do ensino do português em França, quiçá menos dependente da atual fonte oficial de recursos.

Todos compreenderão não ser esta uma situação em que um diplomata se possa sentir particularmente feliz. Seria mesmo impensável que o fosse. Mas, depois de uns bons anos desta profissão, já percebi que a felicidade de um diplomata é sempre, na melhor das hipóteses, um efeito colateral da atividade do Estado.          

quarta-feira, novembro 23, 2011

Greve geral

No início da minha carreira, creio quem em 1978, houve em Portugal uma greve geral. Nesse dia, por coincidência, eu estava convocado  para ir a tribunal, por excesso de velocidade - embora com um imbatível e verídico alibi da ocorrência ter tido lugar quando levava uma pessoa ao serviço de urgência de um hospital. 

Na véspera, informei a minha chefia de que teria de deslocar-me ao tribunal, enviando cópia da convocatória. Fui informado que o secretário-geral de então, embaixador Caldeira Coelho, considerava "pouco aceitável" a minha desculpa e que, se havia greve, provavelmente o tribunal estaria encerrado, pelo que não valia a pena eu ir lá. A resposta que pedi que fosse transmitida ao secretário-geral, e que não sei se lhe chegou, foi a de que, a proceder dessa forma, estava a presumir que o juíz era um dos grevistas. E que quem não poderia arriscar essa hipótese era eu. Lá estive no tribunal. Não houve audiência.

Hoje, um significativo grupo de professores portugueses, sindicalmente organizados, alguns vindos da Alemanha, em dia de greve geral a que presumivelmente aderem, pediu ser recebido hoje por mim. Julgo que todos eles têm a consciência do facto curioso e irónico de que é precisamente por não estar em greve que posso conceder-lhes a audiência. 

Lisboa em Pessoa

Desenho de João Beja

Ontem, fui inaugurar, na Sorbonne (Paris 3) uma exposição fotográfica, organizada no âmbito da deslocação de cerca de 40 alunos a Lisboa, que retratava o seu olhar pelos lugares de Fernando Pessoa na capital portuguesa.

Confesso que, por vezes, ainda me impressiona a força desta internacionalização do poeta, a sua universalidade e o modo como a sua mensagem (neste caso, em sentido lato) toca mundos muito diferentes. Tenho visto isso, em diversos lugares do mundo.

Sou de um tempo em que Pessoa, em Portugal, era lido através de umas pouco apelativas edições de capa branca da Ática, já com bastante interesse, mas sem o fulgor que a sua consagração internacional viria a acarretar. Pode não ser confortável reconhecer isto, mas há que aceitar que o Portugal menos erudito "aprendeu" a apreciar Pessoa muito graças ao modo como o mundo exterior o começou a tratar.

Há dias, dei comigo a pensar em Fernando Pessoa, ao olhar para as magníficas paisagens do Douro. Sempre fizeram parte do meu cenário de infância, sempre lá estiveram, mas não éramos educados a atentar nelas. Às vezes, olhamos e apreciamos melhor aquilo que temos quando os outros, de fora, a isso nos conduzem. É pena, mas é verdade. 

quinta-feira, julho 07, 2011

Cátedra Solange Parvaux

Na vida diplomática, acontece-nos ter na ideia nomes de algumas figuras estrangeiras que, por uma razão ou por outra, se dedicaram ou dedicam, nos respetivos países, às coisas da cultura portuguesa. Solange Parvaux é uma dessas figuras míticas ligadas ao ensino da língua portuguesa em França, mas já havia desaparecido quando, em 2009, fui colocado na Embaixada em Paris.

Pedagoga e inspetora do ensino francês, Solange Parvaux "apaixonou-se" pelo português, tendo estado na origem da "Association pour le Développement des Etudes Portugaises, Brésiliennes, d’Afrique et d’Asie lusophones" (ADEPBA), sendo autora de vários livros sobre a nossa língua. A ela se deve um impulso decisivo para a consagração do português no ensino oficial francês.

Na terça-feira passada, tive o gosto de proceder, na Embaixada, à assinatura, em representação do Instituto Camões, conjuntamente com a presidente da universidade Paris III (Sorbonne Nouvelle), Marie-Christine Lamardeley, de um protocolo que institui a cátedra Solange Parvaux, naquela universidade.

Responsáveis universitários, amigos e admiradores de Solange Parvaux estiveram presentes nesse evento, onde tive ocasião de lembrar que o ensino da língua portuguesa na Sorbonne data já de 1919 e que, em 1930, foi criado naquela universidade o primeiro leitorado de português. Nestes tempos em que continuamos a procurar garantir um melhor lugar para a língua portuguesa no sistema oficial francês, o empenhamento do Estado português na criação desta cátedra parece-nos ser um bom testemunho da nossa determinação em assegurar esse objetivo.

Porque a ocasião foi também um momento festivo, houve música pela pianista Clare Longedike, numa colaboração com a Casa de Portugal/Residência André de Gouveia, na Cité Universitaire de Paris.

domingo, abril 05, 2009

Universidade

Historicamente, há duas cidades de Vila Real. Antes e depois da criação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

O impulso para a criação daquilo que viria a ser a UTAD foi dado por muitos quadros universitários chegados de África, no rescaldo da descolonização. Foi um trabalho paciente e longo, de gestação de uma massa crítica de prestígio académico, hoje plenamente reconhecido nos vários sectores especializados, portugueses e estrangeiros.

A cidade mudou muito com a UTAD, numa dinamização da sua vida que afectou positivamente a economia, contribuiu para a fixação de pessoas e para a criação de muitos postos de trabalho. Como observador exterior, fico com a sensação - porventura errada - de que essa "mistura" da universidade com a cidade ficou sempre, contudo, aquém do que seria desejável, em especial na indução de uma cultura de modernidade que só muito lentamente Vila Real tem vindo a ganhar. Concedo que essa possa ser uma visão distorcida e de pendor voluntarista, de quem gostaria de ver a sua terra dotada de uma outra expressão à escala nacional.

Ontem à tarde, acedendo a um convite que muito me orgulha, tomei posse como membro do Conselho Geral da UTAD. Espero que essas funções me qualifiquem a poder ser mais activo na defesa dos interesses comuns à universidade e a Vila Real.

Confesso os figos

Ontem, uma prima ofereceu-me duas sacas de figos secos. Não lhes digo quantos já comi. Há poucas coisas no mundo gustativo de que eu goste m...