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quarta-feira, julho 11, 2012

Agostinho

Nestes tempos de "Tour de France", o jornal "Le Parisien" tem trazido memórias das canções criadas em torno da maior prova ciclística do mundo.

Sou hoje surpreendido com uma canção dedicada, em 1989, a Joaquim Agostinho, cinco anos depois da sua trágica morte em 10 de Maio de 1984. Confesso que nunca tinha ouvido falar da existência dessa canção. É uma bela homenagem de uma França que nunca esqueceu os dois terceiros lugares conseguidos no "Tour" (entre oito classificações nos dez primeiros lugares em vários outros anos) e a sua famosa chegada vitoriosa ao Alpe-d'Huez, em cuja famosa curva 14 está um marco a lembrar o feito.

Ouçam aqui a canção.

sábado, junho 16, 2012

A nova emigração

Foi para mim muito interessante, nesta manhã de sábado, participar no debate organizado no Consulado-Geral, pela Santa Casa da Misericórdia de Paris, sobre os novos fluxos migratórios portugueses para França. Entre outros, ouvimos testemunhos de cidadãos que procuraram recentemente este país como destino de vida, de empresários que têm acolhidos alguns compatriotas, de dirigentes associativos e sindicais com experiência de casos concretos, bem como de responsáveis de apoio social na estrutura consular.

De todas essas intervenções começa a resultar uma imagem mais clara dessa realidade complexa, marcada por uma nova tipologia migratória, feita, em geral de pessoas mais qualificadas academicamente e que, talvez por essa razão, denotam uma maior dificuldade em se adaptarem às ofertas de emprego disponíveis, situadas muitas vezes abaixo das suas expetativas profissionais.

Também se falou da situação social específica de Portugal, da crise europeia, dos frequentes atos de solidariedade, da exploração oportunista de pessoas em dificuldade por empresários desonestos, dos problemas de comunicação e de uma multiplicidade de outras realidades. Evidente ficou a necessidade de um grande esforço de informação aos potenciais ou novos migrantes dos riscos que têm que ter em conta, mas igualmente dos direitos que lhes assistem e dos recursos que lhes estão disponíveis.

Na intervenção com que concluí uma das sessões, deixei clara a minha perspetiva de que a emigração por motivos económicos é sempre trágica, porque não é mais do que a constatação da incapacidade do país de proporcionar condições de vida decente a quem nele nasceu. O normal é um cidadão poder realizar-se, em pleno, sem ter de sair do seu país. Às vezes, fica a impressão de que os portugueses têm uma espécie de tropismo identitário para emigrarem, que isso já faz parte da sua natureza. Não nos iludamos e não confundamos os impulsos de aventura e de legítima ambição pessoal ou profissional com as rotas tristes da necessidade e da miséria. O que é uma evidência indiscutível é o facto de que, nos últimos dois séculos, o nosso país foi incapaz de sustentar um processo de progresso interno que desse oportunidade a muitos dos nossos compatriotas de, se assim o quisessem, se realizarem plenamente no seu seio. E, por isso, muitos foram obrigados a saír, por vezes em condições dramáticas, com percursos de vida frequentemente heróicos, dos quais o país se deve orgulhar muito, por tudo quanto esses compatriotas conseguiram fazer por si próprios e pela imagem de Portugal. Mas que, simultaneamente, Portugal também se deve envergonhar bastante, por aquilo que infelizmente lhes não soube proporcionar. Por muito que isso possa não ajudar ao nosso ego, Portugal foi e continua a ser, desde há muito, o país mais pobre da Europa ocidental. E, enquanto isso assim acontecer e não conseguirmos gerar, para todos, soluções decentes de vida, dentro das nossas fronteiras, uma parte de Portugal andará sempre numa viagem forçada pelo mundo.

quinta-feira, maio 31, 2012

Português no estrangeiro

Cada vez mais, o ensino português no estrangeiro é, e deve ser, o de uma língua que é suporte das várias culturas que a utilizam. Senti isso ontem, no Lycée Internationale de Saint-Germain-en-Laye, nos arredores de Paris, na despedida da professora Matilde Teixeira, com vozes da diversidade lusófona a fazerem transparecer o universalismo do português. 

Uma sala a abarrotar de amigos marcou a passagem à reforma daquela que, durante 17 anos, foi a diretora da secção portuguesa do liceu, que recebeu testemunhos de apreço genuíno de colegas, alunos e pessoas que se habituaram a respeitá-la, como uma das figuras mais qualificadas do nosso ensino no estrangeiro.

Como embaixador de Portugal, tive um grande gosto de me associar a esta homenagem.

terça-feira, maio 29, 2012

Eleições francesas

É significativo constatar a presença, como candidatos às eleições para a Assembleia Nacional francesa,  que aqui têm lugar em 10 e 17 de junho, de 60 candidatos luso-descendentes. Há cinco anos, em idêntico escrutínio, eram apenas 37. Contando com os suplentes, o número deve subir a cerca de 100 (para 53 em 2007).

Dito isto, a realidade é que, no último parlamento francês, não havia um único deputado com ascendência portuguesa. Esperemos, assim, quer a realidade mude, nestas eleições.

segunda-feira, maio 28, 2012

Outro abril

Ontem, um amigo criticou-me, ao telefone, alguma complacência que eu supostamente revelara, ao escrever que tinha "compreendido" o extremismo de um neonazi, deficiente de guerra, que cruzara nos anos 60, na Alemanha, numa historieta que aqui deixei registada, há uns dias. Na conversa, esse meu amigo, adiantou: "por este andar, ainda acabas a "compreender" as bombas do ELP e do MDLP, justificadas pelos dramas pessoais de alguns retornados, zangados com o 25 de abril".

Vamos por partes. É claro que eu podia ter evitado o desabafo que tive, que sabia ir contra o politicamente correto. Mas porque foi esse, de facto, o meu sentimento no momento, achei por bem deixá-lo expresso. Já não tenho idade para me coibir de dizer o que, realmente, penso.

E, porque talvez isso venha a propósito, deixem-me que conte uma cena ocorrida comigo, em S. Paulo, em 2005, na inauguração de uma exposição de pintura de José de Guimarães, na FIESP.

Eram os meus primeiros tempos no Brasil e muitas pessoas queriam conhecer o novo embaixador, recém-chegado. A certo passo do cocktail de abertura do evento, aproximou-se de mim uma senhora idosa que, com extrema simpatia, me disse, com um sotaque já muito brasileiro, mas onde se detetava a sua origem portuguesa: "Tenho sempre muito orgulho em conhecer os representantes da minha pátria! Por isso, queria saudá-lo, senhor embaixador, e desejar-lhe muitas felicidades para o seu trabalho".

Fiquei naturalmente sensibilizado com o gesto daquela simpática compatriota, que agradeci, tendo-lhe perguntado, com naturalidade, quando tinha vindo para o Brasil. Os bonitos olhos da octogenária entristeceram, antes de dizer: "Nem me fale nisso! Vim de Angola, em finais de 1974, deixando para trás tudo o que havia ganho numa vida de trabalho. Com o desgosto, o meu marido acabou por falecer pouco depois da chegada ao Brasil. Graças a amigos, consegui mudar a minha vida. Mas olhe! Nunca perdoarei àquela bandidagem que, no nosso país, fez o 25 de abril!"

Para o amigo que ontem me telefonou, devo confessar que não tive a menor coragem para retorquir à senhora que, com o maior dos orgulhos, eu também fazia parte da "bandidagem" que fez o 25 de abril, que essa fora a data que dera a liberdade à pátria de que ela tanto gostava e que esse fora um dos dias mais felizes da minha vida. "Compreendi" a senhora? Claro que sim. Ponho-me no lugar dela e pergunto-me se apreciaria que lhe oferecessem cravos vermelhos... 

Nunca me passaria pela cabeça tentar explicar àquela senhora, tal como nunca o faço quando cruzo outros portugueses que viveram e sofreram esses tempos, que a tragédia da descolonização desordenada foi, como bem dizia Ernesto Melo Antunes, a outra face da tragédia que foi a colonização. E que, por muitas culpas que possam ser atribuídas aos responsáveis políticos que geriram o país após o 25 de abril, a responsabilidade maior competirá sempre àqueles que, tendo tido a oportunidade histórica de negociar atempadamente a independência das colónias, não o fizeram, pela cegueira da ditadura que defendiam e nos faziam sofrer - a nós, portugueses, e aos povos dessas mesmas colónias, convém também nunca esquecer. O imenso respeito que tenho pelo drama que marcou a vida dos "retornados", que sempre afirmo publicamente, vai de par com aquele que não tenho pela classe política que o 25 de abril, em boa hora, derrubou.

A que propósito trouxe este episódio aqui? Para explicar que, tal como calei a minha profunda oposição ao neonazi que cruzei numa estrada alemã ou a minha insanável divergência com a senhora refugiada de Angola, as minhas convicções não mudaram um milímetro só pelo facto de perceber que o seu percurso de vida os terá conduzido a pensarem como pensavam. Chama-se a isso tolerância.     

Camões em Paris

Aproxima-se o dia 10 de junho, dia que Portugal escolheu para sua data nacional, uma data que é, simultaneamente, a da morte de Luiz de Camões, em 1580.

Esse foi o ano em que a independência do país se perdeu para a Espanha, por seis décadas. Foi recuperada em 1 de dezembro de 1640, uma data que, oficial ou privadamente, sempre comemorarei.

Acho que diz muito de um povo escolher, como sua data identitária, o dia triste da morte de um poeta. Não sei o que os poetas portugueses pensarão disso. Ficarão orgulhosos? Ou, como Woody Allen, acharão que a melhor maneira de garantirem a imortalidade seria, de facto, não morrerem?

Há dias, Eduardo Lourenço, numa entrevista, revelava que o único livro que sempre o acompanhava nas viagens era uma edição de bolso de "Os Lusíadas". Embora Camões, vale a pena lembrar, seja muito mais do que esse poema épico. Faço parte de uma geração que foi academicamente educada a "não gostar" de Camões, ao forçarem-me a "dividir as orações" em "Os Lusíadas", em lugar de me revelarem aquela obra como um percurso ímpar pela graça da nossa História. Felizmente, consegui ultrapassar o trauma, a tempo.

Aqui por Paris, vamos, este ano, e uma vez mais, celebrar Camões, por volta dessa data. 

Na Embaixada, vamos organizar uma conferência, por uma especialista de Camões, a professora universitária Maria Vitalina Leal de Matos, sobre o tema "Camões: l’homme, l’oeuvre et le mythe”. Será na terça feira, dia 5 de junho, pelas 18,30 horas, no 3 rue de Noisiel, sendo o metro mais próximo o "Porte Dauphine". Por razões de espaço, as entradas não são livres. Quem quiser assistir, deve solicitar um convite pelo telefone 01 53 92 01 00 ou, de preferência, pelo mail: instituto.camoes.paris@wanadoo.fr.

Na imagem deste post, estão as escadas da avenue Camoëns (como os franceses chamam a Camões), junto ao boulevard Delessert, muito próximo do Palais de Chaillot, no lado do Sena oposto à Tour Eiffel. Na sua base está, desde 1987, este monumento ao poeta, de autoria de Clara Meneres. No dia 10 de junho, tal como em todos os anos passados, o pessoal da Embaixada de Portugal irá, pelas 11.00 horas, colocar aí uma coroa de flores. Quem quiser acompanhar-nos será muito bem vindo.

sexta-feira, maio 25, 2012

Notre Dame

A comunidade católica portuguesa em Paris reunir-se-á este ano, uma vez mais, na igreja da Notre Dame de Paris, numa celebração ligada às comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Esta é já uma jornada que se tornou tradicional e que sempre congrega largas centenas de cidadãos de origem portuguesa que vivem na região de Paris, aos quais sempre se juntam muitos turistas.

O cardeal André Vingt-Trois celebrará este ano a missa, que também conta com religiosos e coros portugueses, a qual  terá lugar no sábado, dia 16 de junho, pelas 18.30 horas.

quarta-feira, maio 16, 2012

Igreja

Foram cerca de duas dezenas os sacerdotes católicos que hoje reuni num almoço na embaixada. Trata-se de religiosos - portugueses mas também franceses, espanhóis, brasileiros e até angolanos - que prestam serviço junto das comunidades portuguesas e lusófonas, em Paris e arredores. 

Este encontro, que promovo anualmente desde a minha chegada, e onde algumas dessas pessoas acabam por se encontrar pela primeira vez, destina-se a agradecer o trabalho de acompanhamento dos cidadãos portugueses que esses sacerdotes desenvolvem, nomeadamente no domínio social.

A conversa, à mesa, não tinha agenda. Mas o tema dos novos imigrantes portugueses chegados a França esteve no centro das preocupações de quase todos, por se tratar de uma realidade a que é necessário estarmos bem atentos. Curiosas foram as notas deixadas sobre a relação entre a comunidade tradicional e os recém-chegados, com atos de generosa solidariedade dos primeiros, em relação aos segundos, a serem registados por alguns dos presentes.

quarta-feira, maio 09, 2012

Emmanuel

Emmanuel Demarcy-Mota recebeu na passada semana, as insígnias da "Légion d'honneur", a mais prestigiada das condecorações francesas. Tive o gosto de estar presente, como seu convidado, nesta cerimónia, representando um país que o Emmanuel sempre identifica e reivindica publicamente como seu, a par da sua orgulhosa cidadania francesa.

aqui se falou, por mais de uma vez, de Emmanuel. Mas creio que muitos portugueses desconhecem ainda que o teatro, em França, tem hoje um cidadão luso-francês como um dos seus maiores expoentes. Com apenas 41 anos, o atual diretor do "Théâtre de la Ville" tem já uma impressionante carreira, feita de grandes sucessos. Mas gostava de sublinhar, porque sou disso uma testemunha privilegiada, que Emmanuel Démarcy-Mota tem sido igualmente o empenhado promotor de uma dedicada cooperação com várias instituições artísticas portuguesas. Também, nós, por isso, lhe devemos uma palavra de gratidão, que aqui quero deixar registada, a par de um abraço amigo de felicitações.

No agradecimento ao ministro Frédéric Mitterrand, Emmanuel Demarcy-Mota prometeu "travailler plus pour partager plus", uma expressão que é uma subtil e não inocente evolução do "travailler plus pour gagner plus", que o agora cessante presidente da República lançou, em 2007, como lema programático para a sociedade francesa durante o seu mandato.  

segunda-feira, abril 23, 2012

INSEAD

Na passada semana, convidei, para um jantar, doze jovens portugueses que estão a frequentar o INSEAD, a prestigiada "bussiness school" internacional existente em Fontainebleau, que já foi dirigida pelo professor António Borges.

Para quem, como eu, vive há mais de uma década fora do país, foi interessante poder trocar impressões com representantes de uma nova geração saída de universidades portuguesas, colhendo a sua perspetiva sobre o modo como leem a situação que Portugal atravessa.

Curioso, mas um pouco menos agradável, foi constatar que, na sua esmagadora maioria, esses futuros profissionais têm, como objetivo imediato, vir a exercer a sua atividade no estrangeiro. 

quinta-feira, abril 19, 2012

Benjamin Marques (1938-2012)

Faleceu, em Paris, o pintor português Benjamin Marques.

Há muitos anos residente em França, onde seguiu por vários percursos de vida, Benjamin Marques era uma figura muito respeitada e estimada no seio da comunidade cultural portuguesa. Reivindicando-se de uma herança surrealista, fruto de contactos na sua juventude lisboeta, a sua pintura mais recente seguia já abertamente por outros caminhos, como tive o ensejo de observar em exposições onde exibiu os seus trabalhos. Um dos seus hóbis de eleição era a história de arte, tendo proferido diversas conferências sobre o tema.

Benjamin Marques era um homem de alma grande, caloroso, de emoção fácil e verbo cuidado. Devo-lhe gestos de grande simpatia e vou sentir falta dos abraços com que sempre me acolhia. O coração traiu-o, na manhã de hoje. À sua família, bem como à sua grande amiga e colega artística Isabel Meirelles, deixo o testemunho do meu respeito pela sua memória.

domingo, abril 15, 2012

La Lys

Fomos algumas dezenas, neste sábado, entre portugueses e franceses, como todos os anos acontece, a saudar a memória de quantos combateram na batalha de La Lys, em abril de 1918. No cemitério militar português, em Richebourg, e no monumento aos soldados portugueses mortos, em La Couture, todos cumprimos um simples dever de gratidão e de respeito.

Faz muito bem, em particular em tempos difíceis, revisitar estes lugares, que nos ajudam a melhor entender o que significa ser português no mundo.


sábado, abril 14, 2012

O bacalhau e a política

Entre os políticos portugueses, os períodos de campanha eleitoral são conhecidos pelos "circuitos da carne assada", esse infindável périplo por mesas de restaurantes e pavilhões gimno-desportivos, com comida portuguesa, quase sempre mais em força do que em jeito.

Aqui em França, presumo que as coisas não devam ser muito diferentes. Mas, para além do predomínio da comida do seu país, o proselitismo de conjuntura obriga a que os políticos franceses em campanha não se eximam a provar a gastronomia típica das comunidades cujo voto pretendem conquistar. Já me contaram histórias deliciosas dos tempos de Jacques Chirac, ao tempo em que se interessava pelo voto dos portugueses.

Na campanha presidencial em curso, um determinado restaurante português ganhou foros de alguma fama, ao ter-se convertido numa espécie de cantina diária informal da candidata Marine Le Pen e da sua equipa. Há dias, foi a vez do presidente candidato Nicolas Sarkozy ter organizado um almoço, na periferia de Paris, num restaurante com cozinha portuguesa. Na passada semana, a "Academia do Bacalhau" de Paris, uma convivial agremiação de portugueses, convidou representantes das candidaturas de François Hollande e de Nicolas Sarkozy para, à volta do "fiel amigo", explicarem de que modo os interesses de afirmação cultural e linguística da comunidade de origem lusitana seria protegidos, em caso de vitória do seu candidato.

Nunca se saberá qual o sentido político maioritário dos cidadãos de origem portuguesa que dispõem de direito de voto nas eleições presidenciais que se concluirão em 6 de maio. Pelo que todos ficaremos sempre sem saber se o esforço de simpatia dos candidatos pela cozinha portuguesa teve algum efeito nessa opção. Mas, enfim, a verdade é que alguns tentaram...

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Baptista de Matos

"Nós não somos imigrantes, nós somos cooperantes, somos pessoas que viemos aqui para vos ajudar a aprender a fazer bem estas coisas" - terá sido esta a resposta de José Baptista de Matos a comentários xenófobos que, quando trabalhador dos caminhos de ferro franceses, recebeu de um responsável da obra em que operava, nos anos 70 do século passado.

Quem ontem nos contou isto, numa intervenção na embaixada de Portugal, foi o "maire" de Fontenay-sous-Bois, Jean- François Voguet, que conhece Baptista de Matos há mais de quatro décadas e que testemunhou a cena.

José Batista de Matos construiu um sólido prestígio, como dirigente associativo da comunidade e como ativista cívico em defesa dos interesses dos seus concidadãos. O reconhecimento disso já o tinha feito a "Cité nacionale de l'histoire de l'immigration", que ao seu exemplo de luta e sucesso pessoal dedica hoje em dia uma bela vitrina.

Ontem, com a significativa presença do secretário de Estado das Comunidades portuguesas, Baptista de Matos recebeu a ordem de Mérito com que foi agraciado pelo presidente da República portuguesa. Uma homenagem simples devida a um homem que, durante toda a sua vida, perseverou pela dignidade dos portugueses mas, igualmente, pela relação sempre fraterna com a França que o acolheu.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Olympia

Amália Rodrigues criou, para sempre, um laço mítico entre o "Olympia" e os portugueses. Os artistas nacionais que, depois dela, encheram a sala do boulevard des Capucines devem ter experimentado essa sensação.

Ontem à noite, era patente que Kátia Guerreiro se sentia imbuída desse mesmo sentimento, durante o magnífico espetáculo que protagonizou. E porque era outra vez o fado que nascia naquele palco, tornava-se ainda mais claro, mesmo para aqueles que nunca chegaram a vê-la ao vivo, que a imagem de Amália pairava por ali.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Blogue da Embaixada

Para quem esteja interessado nas atividades quotidianas da representação diplomática portuguesa em França, o Blogue da Embaixada de Portugal em Paris vai dando disso conta. Vale a pena lembrá-lo.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Embaixada

As embaixadas são espaços de Portugal. É uma pena, em especial num país com tantos cidadãos de origem portuguesa, que nos não seja possível abrir as nossas instalações à visita regular dos nossos compatriotas. A casa de que Portugal dispõe no nº 3 da rue de Noisiel, em Paris, é um belo edifício, que o Estado português adquiriu há precisamente 75 anos, com uma história muito interessante, que vale a pena conhecer.

Em especial no nosso dia nacional, o 10 de junho, é hábito abrir a porta a membros da nossa comunidade, mas, infelizmente, eles só podem constituir uma pequena minoria.

Por vezes, como hoje, uma vez mais, aconteceu, trazemos jovens de escolas da nossa comunidade, para partilharem conosco este espaço. Hoje foram algumas dezenas de crianças de Chaville, que aqui tivemos a almoçar. Há semanas, seguindo uma prática iniciada há três anos, convidámos casais de reformados da nossa comunidade, para uma refeição ligada ao tempo das festas natalícias. Mas ficamos sempre com a sensação de que, por muitos que sejam, serão sempre muito poucos.

sábado, janeiro 14, 2012

Manifestações

Em pouco menos de um ano, tiveram lugar, em frente à embaixada de Portugal em Paris, cinco manifestações, com um número variado de presenças. 

Este é um cenário que eu imagino que não deva agradar muito aos nossos vizinhos de rua, mas que é um dos preços que têm de suportar pelo facto de viverem numa área onde existem muitas missões diplomáticas.

Em Paris, uma das cidades do mundo com maior número de representações diplomáticas, onde vivem muito diversas comunidade estrangeiras, as manifestações em frente às embaixadas fazem parte do quotidiano. A polícia francesa tem alguns procedimentos de rotina para garantir que não há incidentes e, pela minha experiência, trata estes assuntos com muita sensibilidade e sabedoria.

Em todas as ocasiões em que houve lugar a manifestações - como aconteceu na tarde de hoje -, e que sempre decorreram com expectável civilidade, o embaixador de Portugal falou pessoalmente com os manifestantes ou com seus representantes, procurando ouvir as suas razões e auscultar, com atenção e respeito, os motivos da sua mobilização. É o mínimo que deve ser feito perante pessoas que assumem posições de cidadania democrática, que legitimamente pretendem fazer chegar às autoridades portuguesas.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

João Alves das Neves (1927-2012)

Em 2005, quando cheguei ao Brasil, levava comigo o interesse em conhecer João Alves das Neves, um jornalista português há muito radicado em S. Paulo. Ouvira falar dele ao meu primo Carlos Eurico da Costa, com quem havia trabalhado nessa breve e pouco conhecida aventura jornalística portuguesa que foi o "Diário Ilustrado". Como outros jornalistas portugueses oriundos dessa experiência, Alves das Neves viria sair para o Brasil e a ingressar em "O Estado de S. Paulo". Durante décadas, vir o seu nome ser referido, em Portugal, associado a diversas atividades públicas realizadas no Brasil.

Encontrei João Alves das Neves pouco tempo depois de estar no Brasil, no tradicional almoço semanal da Casa de Portugal. Ao longo do tempo que estive naquele país, fomos mantendo um contacto escrito regular e, por diversas vezes, conversámos em S. Paulo. Lembro-me bem de, uma tarde, ter de lhe acalmar os seus ânimos agitados contra a gestão do nosso consulado-geral em S. Paulo. Era um homem emotivo, porque era uma figura muito apaixonada por tudo aquilo em que empenhava.

João Alves das Neves foi uma personalidade que se preocupou com a divulgação da cultura e da literatura portuguesa no Brasil, estando ligado a inúmeras iniciativas nesse âmbito, muito em especial através do movimento associativo da comunidade. Tinha um especial interesse em Fernando Pessoa, cujo Centro de Estudos criou, em S. Paulo.

Morreu agora na sua terra beirã, de que sempre falava com saudade.

terça-feira, dezembro 13, 2011

O ensino do português em França

Este não é um blogue oficial. É apenas um meio de expressão privada de quem exerce uma função pública. Sem falsas dualidades. O cidadão que aqui escreve todos os dias é o mesmo que tem a seu cargo a representação diplomática portuguesa em França. Não tem duas caras, nem duas palavras.

Digo isto para que se perceba melhor por que razão me sinto obrigado hoje a falar aqui, neste meu blogue privado, da situação que resultou da decisão oficial de suspensão de atividade de duas dezenas de professores que prestavam serviço junto das comunidades portuguesas em França. Não para aqui trazer algo de novo ou espetacular, mas, tão simplesmente, para que fique claro que todas as razões que se cruzam neste processo não me são indiferentes. E que a diplomacia pública que tenho como regra de trabalho me obriga a explicitar.

Pais e professores afetados pela anunciada suspensão da prestação do serviço oficial de ensino de português - decisão que abrangeu comunidades noutros países, para além da França -, bem como instituições que partilham essas preocupações e temem pelo futuro da língua portuguesa nas gerações luso-descendentes, têm-me transmitido os seus sentimentos de profundo desagrado com a situação que se avizinha, com os efeitos na vida académica das crianças, com impactos na vida pessoal e familiar dos professores e todo um conjunto de outras consequências que lêem como negativas. A todos ouvi com atenção, nada do que foi transmitido deixou de ser comunicado, atempadamente, a quem tutela o nosso trabalho. E, convém também que se diga, nessa comunicação não deixou sempre de transparecer o meu respeito pelas legítimas inquietações que atravessam esses setores da nossa comunidade.

No outro prato da balança, está a muito difícil questão orçamental com que o Estado português hoje se confronta, e à luz da qual o Governo considerou indispensável tomar medidas drásticas de restrição a nível da despesa pública, algumas das quais afetaram áreas do Ministério dos Negócios Estrangeiros: a rede diplomática e consular foi redimensionada, a estrutura do ministério e as suas chefias foram reduzidas, verificaram-se cortes no pessoal que prestava serviço no estrangeiro e houve lugar a limitações em vários setores onde foi entendido poder e dever ser reduzida a despesa. A suspensão do serviço dos professores inseriu-se, assim, num esforço muito mais vasto para fazer baixar os gastos públicos, no declarado objetivo de os conter dentro dos limites impostos pelos compromissos internacionais subscritos pelo país e que o executivo assumiu como prioritários na sua ação.

Alguns poderão objetar, e muitos o fazem, que se deveria ter cortado menos "aqui" e que teria sido preferível fazê-lo "ali". Alguém que deixou um traço eterno de esperança na política francesa, e que, curiosamente, era descendente de portugueses que haviam fugido da inquisição, Pierre Mendès-France, dizia que "governar é escolher". E o Governo português, recém-legitimado por uma eleição em que os portugueses lhe conferiram uma expressiva maioria, isto é, uma autorização para decidir, fez as suas escolhas em matéria de cortes na despesa pública, à luz das opções que entendeu dever assumir. As pessoas podem concordar ou não com essas opções, é perfeitamente democrático discuti-las e contestá-las, mas não é possível recusar a legitimidade política das decisões tomadas.

No terreno, estão as Embaixadas e os servidores públicos. Compete-nos dar leal e total cumprimento àquilo que o poder político legítimo determina, da mesma forma que temos o dever de ouvir e comunicar às nossas autoridades o sentimento de quem se sente negativamente afetado pelos efeitos das suas decisões. E temos ainda um outro dever e a Coordenação do ensino do português em França está a cumpri-lo de forma escrupulosa: tentar atenuar, por um melhor e mais eficaz ajustamento dos recursos letivos disponíveis, as consequências que resultaram para alguns alunos da saída dos seus professores. Não para todos, infelizmente. E, convém também que se diga, ainda neste quadro, e sob orientação superior, um esforço paralelo está a ser levado a cabo para, no futuro, poder vir a encarar-se o desenvolvimento de um ou vários modelos complementares, que permitam assegurar a continuidade do ensino do português em França, quiçá menos dependente da atual fonte oficial de recursos.

Todos compreenderão não ser esta uma situação em que um diplomata se possa sentir particularmente feliz. Seria mesmo impensável que o fosse. Mas, depois de uns bons anos desta profissão, já percebi que a felicidade de um diplomata é sempre, na melhor das hipóteses, um efeito colateral da atividade do Estado.          

Confesso os figos

Ontem, uma prima ofereceu-me duas sacas de figos secos. Não lhes digo quantos já comi. Há poucas coisas no mundo gustativo de que eu goste m...