Almocei hoje, num pequeno grupo, com o antigo ministro - das Finanças e, posteriormente, dos Negócios Estrangeiros - da Índia, Yashwant Sinha, figura destacada do maior partido da oposição do seu país. Ao meu lado, o antigo ministro francês das Finanças, Francis Mer, lembrou-me, a certa altura da conversa, a fantástica realidade de que quase metade do eleitorado democrático do mundo está na Índia.
Para o que aqui nos importa, devo dizer que fiquei impressionado ao ver Sinha afirmar, de forma espontânea, quando abordou as relações do seu país com a União Europeia: "Foi graças a Portugal, na sua presidência em 2000, que a Índia recebeu o estatuto de "parceiro estratégico" da União Europeia. Isso representou uma mudança muito importante nas nossas relações com a Europa".
Recordo bem esses tempos. A ideia foi avançada por nós numa "troika" de diálogo político da UE com a Índia, em fins de 1999, em Helsínquia. Ela foi acolhida com visível desagrado por parte da então MNE finlandesa, Tarja Halonen (hoje presidente da República do seu país), que não terá apreciado ver o exercício que conduzia ser desvalorizado pelo anúncio de um "upgrading" cuja titularidade lhe iria fugir. É a vida... Graças à cumplicidade do comissário Chris Patten, a quem tínhamos informado da nossa iniciativa, foi possível conseguir concretizar, em escassos meses, essa ideia. As autoridades indianas viriam a demonstrar, posteriormente, e em diversas ocasiões, o seu forte apreço político por esse gesto de Portugal. A referência hoje feita por Yashwant Sinha ao assunto demonstra que o mesmo terá ficado registado na memória diplomática indiana.