domingo, abril 16, 2023

Lula, o Brasil e nós

Nos últimos 200 anos, as relações entre Portugal e o Brasil atravessaram momentos muito complexos. Chegou mesmo a haver um corte de relações. Em tempos de dessintonia política entre os dois lados do Atlântico, foi sempre possível salvaguardar um módico de entendimento, mesmo no plano retórico, que conseguiu dar continuidade favorável ao património de relação histórica existente. Seria, assim, de uma imensa irresponsabilidade se, por virtude de uma questão circunstancial na ordem internacional, por muito importante que ela seja, pudessem vir a emergir efeitos, com consequências gravosos e duradouras, para o curso do entendimento bilateral. O Brasil não se esgota em Lula, como não se esgotou em Bolsonaro ou nos sinistros presidentes militares da sua ditadura, que, recordo, coexistiram com o Portugal de Abril, a partir de 1974. Portugal pode não gostar, pontualmente, de atitudes internacionais tomadas pelo Brasil , mas manda o bom senso - e o sentido de Estado - que saibamos viver com as nossas diferenças e, em especial, que assumamos a prevalência da importância histórica da relação luso-brasileira sobre tudo isso.

7 comentários:

manuel campos disse...



Exactamente, de uma ponta à outra.
Mas é preciso que nos creiam, nos ouçam e nos sigam.
Pouca gente vai além da espuma dos dias.

Ora acontece que Descartes tinha razão em toda a primeira parte do "Discurso do Método" (e não só no primeiro parágrafo).

Paulo Guerra disse...

Independentemente de acompanhar Lula 100%, o meu aplauso no que respeita à inteligência do post e à chamada de atenção para o universo das relações entre os dois países, muito além de um simples posicionamento político de um deles. Só faltava um estado soberano deixar sequestrar completamente a sua politica externa por qualquer relação de amizade, por mais profunda. No caso entre paises irmãos e muito além da língua. Um patrimonio que também tarda a desenvolvermos. E pelo que me foi dado a perceber algumas reações politicas em Portugal correspondem ao tamanho fisico dos seus actores. Que gostam de ver espelhado na baixa politica de que também sempre foram adeptos. Oportunistas partidários e demagogos sem qualquer sentido de estado. E do mundo do Brasil, neste caso.

Entretanto parece que Bliken também já conseguiu começar mais um conflito militar em 3 dias. No que deve ser um novo record, com o chão a fugir-lhes ainda mais rápido debaixo dos pés.

"Hoje conversei com o presidente-geral do Conselho Militar de Transição do Sudão, El Burhan (Rapid Reaction Force) para enfatizar o apoio dos EUA às aspirações democráticas do Sudão e para encorajar a rápida formação de um governo de transição liderado por civis."

- Blinken (11.4.2023)

E a Democracia, sempre a democracia. Às vezes nuns frascos manhosos na ONU, às vezes logo nas asas de algum bombardeiro!

Luís Lavoura disse...

Muito bem. Totalmente de acordo.
Mas a cultura do cancelamento, agora chegada às relações internacionais, não entende isto, tal como em geral não entende qualquer racionalidade.

Unknown disse...

Cem por cento de acordo, apesar das aligeiradas, precipitadas, impensadas e injustas declarações de Lula. Ao pôr os negócios à frente dos valores, Lula desbaratou de uma penada o crédito que tinha junto das nações civilizadas. E dificilmente o irá reconquistar. Além disso, tem um amigo português que lhe está a minar o prestígio e o capital de simpatia que conseguiu alcançar junto dos portugueses. E que vai ajudar muito a convenção da extrema-direita organizada pelo Chega.

Miguel Félix António disse...

Não tendo qualquer simpatia política e pessoal pelo anterior e pelo actual Presidente da República do Brasil, é isto mesmo, a importância e a manutenção das relações entre Portugal e o Brasil tem que prevalecer, sempre, sobre as nossas antipatias relativamente aos titulares efémeros, sempre efémeros, dos cargos políticos nos respectivos países.

Mal por Mal disse...

Só o anti-bolsonarismo levou Portugal e a União europeia a aceitar Lula, embora todos sabiam o que a casa gasta.

E sobre as relações de governos brasileiros e portugueses, desde Kubischec nunca foram de muita simpatia de lá para cá.

Então para a dupla Lula e Dilma Portugal nem contava.

O metediço Marcelo é que teve a iniciativa simpatizante exagerada, azar!

josé ricardo disse...

Confesso que me custa a entender este clima ditatorial relativamente a certos temas. Não tenho já grandes dúvidas que a diferença entre as ditaduras tradicionais (principalmente as dos idos século XX) e o clima internauta atual, reside na polícia à porta de casa. De resto, tudo muito parecido.

Bernardo Pires de Lima

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