terça-feira, março 28, 2023

Ricos

Se há terreno em que este país é de uma imensa riqueza é na produção de "especialistas" disponíveis para o comentário público. Seria curioso fazer-se uma verificação dos currículos de toda essa infinita plêiade de notáveis conhecedores das mais microscópicas áreas do saber.

13 comentários:

Rui Figueiredo disse...

Touché!

Carlos Antunes disse...

chapeau!

josé ricardo disse...

Sem dúvida. Tenho notado que alguns possuem altos índices de topete quando, a respeito de um qualquer comentário sobre um qualquer assunto mais ou mesmo esotérico (pouco importa para esta gente) afirmam, desavergonhadamente, que não são especialistas no assunto que estão a comentar.
Nesta família, ainda há alguns que saltitam, digna e pomposamente, do comentário sobre centrais nucleares, ou da guerra da Ucrânia ou da dívida pública (assuntos que não dominam) para o pénalti que o árbitro, esse gatuno, não marcou.
Estou em crer que uma das nossas originalidades tem a ver com o excesso de comentário nas nossas televisões. Comenta-se tudo durante horas e horas!
A este propósito, Um rapazinho meu conhecido disse-me que o pai vê um qualquer programa de comentário desportivo que dura horas num canal de televisão e que, de manhã, por vezes, repete a dose, revendo o mesmo programa. O bom disto é que o rapaz transmitiu-me essa atitude do seu progenitor num tom crítico. Quem disse que a escola não educa?

afcm disse...

É deles, os Tudólogos/catedráticos de coisa nenhuma, uma grande responsabilidade para o estado insano da discussão pública ( a par com a da classe jornalística, a meu ver ). Triste ! Todos os dias, a todas as horas, tanta gente tão "pequenina"...

Fata Morgana disse...

É verdade. Ele até há gente (“essa gente”, sim) que sem currículos nenhuns de jeito, está sempre pronta para votar!

manuel campos disse...


Eu nem via grande mal em que toda esta gente comentasse tudo e mais alguma coisa se fosse num espírito semelhante ao que se vive por aqui: não nos impingimos uns aos outros, não ganhamos um cêntimo com isso, a nossa notoriedade pública não ganha pontos (também é verdade que não os perde) e mais algumas razões menos relevantes.
Passava-se à frente, como muitos farão aqui e pronto, somos todos (ou quase) anónimos e o facto de assinarmos tem a único efeito óbvio de, quem nisso estiver interessado, poder seguir linhas de raciocínio e de coerência (ou incoerência).
Mas o drama é que, de um modo geral, a maior parte dos comentadores que entram pela casa dentro das pessoas, saídos da inevitável caixinha mágica, não têm contraditório de espécie alguma, podem dizer as maiores asneiras e banalidades que, desde que o façam com ar pomposo, estão sempre do lado certo.
E o lado certo é, como sempre foi, dizer aquilo que a maioria quer ouvir, mesmo que amanhã seja o oposto do que foi ontem.

Unknown disse...

O maior "especialista" do comentário público é o PR que se pronuncia todos os dias, várias vezes ao dia, sobre coisas que não domina. Este é, decididamente, o " especialista" que me
cria mais anti-corpos.

aguerreiro disse...

Eu os que mais admiro são os comentadeiros de economia e as suas excelsas teorias, bem sabendo que a grandessíssima maioria nunca pagou o trabalho de ninguém (talvez á mulher a dias ou nem isso),limitam-se a dar umas aulinhas a contrato e dizer mal dos que conseguem avançar na vida, que criam riqueza e que dão de comer a milhares de pessoas, incluindo o comentadeiro.
A cúpola para mim é um sr. dr. prof. veterinário que tinha lugar cativo nas televisões, não a comentar a Covid das galinhas (em que poderia ser competente), mas a Covid pandémica humana. Mas assim foi, bem como os esforços do dito para aparentar o que não era.

Francisco disse...

Não poderia estar mais de acordo, evidentemente. Contudo, é preciso acrescentar e perguntar algo mais: quem são os comentadores? Quem os financia ou promove e qual a sua função no tecido social a quem se dirigem de cátedra? E, já agora, o que é que são verdadeiramente as sociedades demo-liberais, com os seus mecanismos de reprodução metabólica do sistema capitalista, crescentemente imunes a qualquer veredicto popular, ainda que nas circunstâncias de condicionamento vigentes, que são as únicas em que o regime as consente?
Chomsky tem adiantado algumas respostas, que não me parecem nada mal pensadas.

Anónimo disse...

Senhor embaixador
Tem toda a razão. Mas a "culpa" também está em quem convida quem. Basta repararmos no processo de causa-efeito que têm os comentadores que as televisões escolhem para nos fornecerem "opiniões" (mais que comentários...) e aqueles que depois o "povo" escolhe para altos cargos : José Sócrates, Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, todos (ou quase) os presidentes do PSD...
Formatam-nos...
MB

Francisco Seixas da Costa disse...

MB. Estamos a falar de coisas diferentes. Eu refiria-me aos comentadores especializados, sobre temas técnicos. Só a esses.

Joaquim de Freitas disse...

Francisco disse : « quem são os comentadores? Quem os financia ou promove e qual a sua função no tecido social a quem se dirigem de cátedra?” Muito bem Francisco…

Alguns comentaristas estão enfatizando o carácter civilizacional do conflito entre a NATO e a Rússia. Entre um mundo ocidental "progressista" e um mundo eslavo "conservador", haveria uma espécie de confronto moral e social, até mesmo um antagonismo irredutível com a sinistra aparência de um "choque de civilizações".

Pode ser também, no entanto, que seja a árvore que esconde a floresta. Porque o confronto entre Oriente e Ocidente, na verdade, existe desde a Guerra da Criméia (1853-1856).

Demonstrado pela acentuação do conflito russo-ocidental a partir de 1917, o ódio ao comunismo soviético substituindo imediatamente o medo do ogro czarista, assim como, por trinta anos, a rejeição da Rússia moderna substituiu o anti -Sovietismo herdado da Guerra Fria.

Moscovo sob o controle do czar, dos bolcheviques ou de Vladimir Putin, a russofobia ocidental é uma constante histórica. E se a Rússia sempre esteve na mira do imperialismo, é simplesmente porque a dominação planetária do mundo anglo-saxão é incompatível com a existência dum polo de poder concorrente.

É assim que os comentadores ocidentais vêm a situação, repetindo todos os dias que, “com aquela gente” não há nada a fazer…

E sobretudo que nenhum se atreva a “comentar” negativamente o Império…

Assim, para dar um exemplo, o Corriere della Sera, denuncia o carácter superficial, grosseiro, desrespeitoso e ignorante daqueles que ridicularizaram as últimas actuações de Biden : "há algo de inoportuno na zombaria, nas observações inutilmente ofensivas com que se vê hoje em dia o Presidente dos EUA...".

Porque, lamenta, desde que os talibãs entraram em Cabul, dificilmente se passava um momento sem que "um improvisado comentador de assuntos asiáticos se sentisse no direito de explicar ao Chefe de Estado americano os erros que cometeu", acompanhando a culpa com "considerações desagradáveis sobre o seu cultura, a sua preparação e até mesmo o seu estado mental".

Em suma, dizer que vinte anos de ocupação de uma nação depois de uma invasão - bilhões de dólares em custos económicos, milhares de mortes, perda de identidade e valores culturais, a criação de uma classe dirigente corrupta e de contingentes militares que fugiram assim que um talibã apareceu, entregando generosamente armas e bagagens, é peciso uma especialização que permite arriscar – se não for geriatra – um arriscado diagnóstico de demência, depois de ter visto este velho, observando as mãos atrás das costas as obras da guerra, tropeçando, confundindo-se, caindo ao subir uma escada, incapaz até mesmo para ler o teleprompter.

Os comentadores especializados, as vozes do seu mestre, estão verdadeiramente desconcertados, perturbados, estupefactos: há vinte anos a captura de Cabul e a expulsão dos assassinos fizera-se à força das bombas e que os bárbaros voltaram e recuperaram a posse das "suas propriedades" sem disparar um tiro. Quem paga estes comentadores ?

Paulo Guerra disse...

De virulogistas e epidemiologistas a experts militares foi só um saltinho! E ou muito me engano ou também deve estar a chegar aí outra vez a onda de experts em finanças publicas! E deus nos livre de outra onda de judicialistas! Mas a culpa é só dos grupos de media sem jornalistas especializados têm que recorrer aos encartados da praça que encontram mais facilmente. E como são sempre os mesmos desconfio que não perdem muito tempo na pesquisa! Autenticos globetroters do conhecimento! Se jogassem futebol também eram todos polivalentes!

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