terça-feira, abril 04, 2023

Habitação

Haverá algum estudo académico - sério, independente e não tributário de agendas politiqueiras - que ajude a explicar o estado da arte da questão habitacional em Portugal em 2023, com ponderação serena das razões que conduziram às principais disfunções agora evidenciadas?

24 comentários:

caramelo disse...

Acho que não há grande segredo, nem é preciso um estudo muito complexo. É só ir ver como se faz noutros países. A habitação social, em Portugal, está restrita aos mais pobres e mesmo para estes é escassa. Em países como a França, existe uma forte tradição, ampla, de habitação social que abrange também a classe média. Ora, isto modera até as rendas do mercado privado. Ou Holanda, Alemanha, etc, etc. É Estado Social. O grande segredo muito complexo é esse. Quanto a controlo de rendas, até em Nova Iorque, Manhatan, imagine-se, se protegem inquilinos com rendas antigas de serem despejados. Portanto, a explicação é simples.

disse...

Se o encontrar, peço-lhe pf que partilhe.

Sérgio Nunes disse...
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Luís Lavoura disse...

Exatamente. É isso mesmo que eu gostava que houvesse. Mas duvido que haja.
É preciso saber por que raio é que, sendo a população portuguesa sempre mais ou menos a mesma, e sendo o número de casas sempre crescente, há cada vez mais falta de casas. A que se deve isto? Para onde vão as casas que existem?
Há dados parcelares (por exemplo, diz-se que o número de casas comprado por estrangeiros é relativamente reduzido), mas esses dados são incompletos (no exemplo dado acima, as casas podem estar a ser compradas por emigrantes portugueses que residem no estrangeiro mas utilizam a sua nacionalidade portuguesa ao comprar casa em Portugal).

caramelo disse...

Luís Lavoura, mas que falta de casas? São é caras. É o mercado. Está tudo tão perplexo com uma coisa tão simples...

josé ricardo disse...

O que me perturba mais, no meio deste ruído intenso, é que não se aproveite a oportunidade para, de facto, atuar onde o problema reside: a desigualdade geográfica que o país reflete. Ou seja: perde-se aqui uma enormíssima oportunidade de, através de decisões políticas corajosas, modificar radicalmente (e para sempre) o grande mal de que o país padece, que é, precisamente, o país estar todo no litoral.
Seria, portanto, muito adequado a criação de polos urbanos no interior (aproveitando as cidades já existentes, obviamente). Tudo se alteraria.
Na verdade, não existe nenhum país na Europa, com a nossa dimensão, com esta malfadada identidade: um pequeno país que se dá "ao luxo" de possuir, desgraçadamente, um litoral e um interior, à semelhança de países como, por exemplo, a Rússia ou o Brasil. Não haveria mal ao mundo, se esse facto não trouxesse gravíssimos problemas de desenvolvimento e de desigualdades.

Sérgio Nunes disse...
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Luís Lavoura disse...

caramelo

que falta de casas? São é caras. É o mercado.

As leis do mercado dizem que, se um produto é caro, é porque ele é escasso.

As casas são caras porque a sua provisão é insuficiente. Não pode ser por outro motivo. Ou seja, se as casas são caras, é porque há falta de casas.

manuel campos disse...


O Sérgio Nunes tem toda a razão, sabe do que fala pois vive onde vive (sei pelo blogue dele).
As coisas são assim e não há modo de as reverter, como é evidente, a evolução para a desertificação do interior e a sobrepopulação do litoral vem de há muito e não há nada a fazer, demoraria gerações e muitas "crises".
Como ele diz "as oportunidades estão todas no litoral", não se vão começar a "inventar" agora à pressa oportunidades no interior de modo consistente, uma fabriqueta aqui e outra ali são "amendoins" e poucos serão os que estão disponíveis para trocar o excessivo "bulício" pela excessiva "pacatez", mesmo que os pais o quisessem os filhos o impediriam, conheço inúmeros casos.
Há ideias que só podem crescer na cabeça de quem só conhece o interior dos esporádicos fins-de-semana de descanso e a quem nunca passaria pela cabeça ír para lá viver e/ou trabalhar nem que fossem só 6 meses.
Mas acham muito bem aconselhar os outros a ir, claro, há que combater este estado de coisas com bonitas intenções.

Como nota final relembro que, sendo "alfacinha" há 3 gerações, há quase 10 anos que tudo somado passo metade do ano algures no interior do país, não estou a fazer discursos de quem vive na cidade e só sai daqui para ir à praia uns diazitos.

Luís Lavoura disse...

Manuel Campos,

é falso que não se possa fazer nada contra a despopulação do interior.

Ainda agora o Governo acaba de perder uma oportunidade para fazer alguma a coisa, ao evitar abrir mais lugares para estudantes nos Politécnicos do interior do país.

O Governo poderia fazer uma coisa muito simples: só criar mais cursos superiores, mais universidades, mais politécnicos, e só aumentar os numeri clausi, no interior do país. Para o que aliás teria uma boa justificação - não há suficientes habitações para estudantes no litoral.

Isto seria o mínimo que o governo poderia fazer: obrigar os professores universitários, se quisessem manter a sua profissão, a ir trabalhar para o interior.

disse...

>As casas são caras porque a sua provisão é insuficiente. Não pode ser por outro motivo. Ou seja, se as casas são caras, é porque há falta de casas.

Há outros factores que concorrem para a formação do preço, mas esta observação deve ser o ponto de partida de qualquer análise...

afcm disse...

Estudar as questões estrutural e profundamente antes de aventar as soluções, não está na "moda"....

Luís Lavoura disse...



Há outros factores que concorrem para a formação do preço

Isso também é verdade. Em particular, os custos de construção aumentaram muito acentuadamente no último ano, devido sobretudo à carestia dos materiais, especialmente ferro, mas também à escassez de mão de obra, sobretudo a especializada. Os custos de construção são agora uns 50% mais elevados do que há ano e meio.

manuel campos disse...


Luis Lavoura

Em contrapartida não é falso que você não faça a menor ideia da practibilidade das teorias catitas que defende.

Nos últimos 30 anos passei metade do meu tempo no interior, norte, centro e sul, ora porque estava à frente de empresas que tinham as suas instalações por lá e eu sempre fiz questão de passar mais tempo no local que na sede na capital, seja porque entretanto me reformei e passo metade do mês na casa que comprei algures no centro de uma sede de concelho onde conheço toda a gente por força do meu lado "sociável".

Não tendo sido nem sendo "mais um" nesses locais, por força dos lugares que ocupei em meios pequenos e das amizades que entretanto fiz e mantenho, vejo-me agora na contingência de ler que o que eu disse é falso vindo de quem trabalha há muito no centro de Lisboa e nos conta frequentemente que vai e volta do emprego a pé.


caramelo disse...

"zé disse...
>As casas são caras porque a sua provisão é insuficiente. Não pode ser por outro motivo. Ou seja, se as casas são caras, é porque há falta de casas.

Há outros factores que concorrem para a formação do preço, mas esta observação deve ser o ponto de partida de qualquer análise..."

Não. Há falta de casas em lisboa? Não. É ver qualquer portal imobiliário de venda de casas... Custará assim tanto esta pesquisa? As casas são caras, porque os donos querem ganhar muito dinheiro com as casas. No mercado imobiliário, a concorrência não funciona como noutros bens. Ninguém de Lisboa vai viver para Fornos de Algodres, por as casas serem caras em lisboa.

manuel campos disse...


São caras "porque os donos querem ganhar muito dinheiro com as casas" e porque há quem lhes vá dando o dinheiro que pedem.

E "ninguém de Lisboa vai viver para Fornos de Algodres, por as casas serem caras em Lisboa."
Exactamente, resumo perfeito da realidade.

Anónimo disse...

portanto parece que temos tudo para que corra bem

- Portugal tem a forma de um retângulo com distância por estrada de uns 750 km no seu cumprimento, e na largura uns 250 km
ou seja, ninguém está realmente muito longe de uma parte de litoral que é bem extenso, 1.230 km na parte continental
- os acessos melhoraram imenso, quando se trata de viajar "na horizontal"
e em poucas horas, os habitantes do interior encontram praia à vista

litoralização. Processo que corresponde a uma maior concentração populacional junto à faixa litoral; definida como “concentração de atividades económicas em áreas costeiras, etc.

Sérgio Nunes disse...
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manuel campos disse...


Sérgio Nunes

Obrigado pela atenção em enquadrar a sua situação, há 40 anos a viver em Carcavelos já não é bem "por acaso" (um filho meu também vive aí).

Mas a única coisa que tenho que emendar no meu comentário é a primeira linha, pois o
que agora me diz confirma que sabe do que fala, direi mesmo que com uma vantagem adicional, como vem "de fora", quando vai à sua terra natal vê o que o cerca de uma forma mais clara do que se lá vivesse sempre.
Aponta aqui duas situações bem paradigmáticas daquilo a que o interior chegou: a burocracia que muitas vezes dificulta a instalação de novas indústrias para "proteger" as que lá estão e o êxodo dos mais novos e ainda activos porque tudo estagnou e não há novas oportunidades de trabalho.
E contra isso já ninguém vai conseguir fazer nada, só pode (e está) a agravar-se.

Sendo de Lisboa há 3 gerações e com uma casa no interior do pais há 30 anos (comprada e reconstruída, não herdada), num local com as mesmas características de que genericamente fala, não me conformo com a decadência progressiva a que vou assistindo por lá, como diz só reformados e escolas básicas cada vez mais dispensáveis.
Mas o humor com que encara a situação bem patente no seu "é estúpido investir no interior" é a única defesa que resta aos que não gostariam de desistir.
Fraco consolo, eu sei, muito fraquinho mesmo.



Sérgio Nunes disse...
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manuel campos disse...



Sérgio Nunes

Não sendo natural do local onde tenho a casa, 30 anos "por ali" já dão algum traquejo.
Ora aqui há uns bons anos, talvez porque me tenha tornado "conhecido" por lá apesar de nem sequer lá votar, ajudei como pude a algumas "alterações" na composição da autarquia.
Pura ingenuidade minha.

Da defesa dos interesses de uns e dos seus seguidores passou-se para a defesa dos interesses dos outros e dos seus seguidores, uns e outros tendo interesses económicos bem claros e conhecidos, o novo (des)equilíbrio levou a uma "nova ordem" em tudo semelhante à antiga.
Isso levou à deslocalização para concelhos limítrofes de alguma indústria não ligada aos interesses locais, pouco entusiasmada em ser "olhada de lado" por dar melhores condições aos colaboradores do que aquelas que lá pela terra gostariam que vigorassem.

Como muito bem diz, todos sabem os favores que todos devem a todos, pior ainda todos sabem que todos conhecem os podres de todos - e isto há gerações.
Aqui em Lisboa viro a esquina e ninguém me conhece, lá não vi ninguém e toda a gente me viu.

Se há algo que aprendi logo, nisso não fui ingénuo nunca, é que um "outsider" como eu pode conhecer toda a gente (e conheço), pode falar com toda a gente (e falo), pode conviver com toda a gente (e convivo), mas não convida ninguém lá para casa, para uns copos no jardim ainda vá, para dentro de casa ninguém.

A regionalização também foi peditório para que dei, agora nem pensar, talvez porque agora estou muito tempo no convento e sei o que vai lá dentro.

Obrigado pela troca de ideias, é sempre bom.

manuel campos disse...


"...do que aquelas que lá pela terra gostariam que vigorassem."

Parti do princípio que se perceberia o que isto dá a entender, a saber, os negócios de gentes da terra terem que acompanhar as melhores condições que eram dadas pelos negócios das gentes que não eram da terra.

Curiosamente em dois concelhos ali na zona havia gente com outra visão, portanto nunca se deve generalizar, daí as enormes disparidades na evolução e crescimento de concelhos que, à partida, pareciam não ter (e não tinham) menos condições que outros.

Sérgio Nunes disse...
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manuel campos disse...


Sérgio Nunes

Agradeço também a sua atenção e cuidado.
Continuamos a conversar aqui no blogue, temas nunca irão faltando.

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