Ao ler que a l'Oréal tinha sido proibida de publicar fotos publicitárias de Julia Roberts, das quais, com "photoshop", haviam sido eliminadas as rugas, não pude deixar de lembrar a similitude desse caso com o que se passa no parque (dito) termal das Pedras Salgadas: uma montagem retocada, pintada nas fachadas, a fingir que está tudo a funcionar, sem "rugas"...
Está mais do que feita a triste história da intervenção da empresa Unicer nas Pedras Salgadas, onde já sobrevivem saudades dos tempos das gestões Cintra e Jerónimo Martins. Ou mesmo da "outra" Unicer, da era Ferreira de Oliveira.
Este blogue deu oportunamente a conhecer (consulte o marcador "Pedras Salgadas"), de forma incontestável, as flagrantes faltas da empresa face aos compromissos que tinha assumido, em especial no tocante à construção de uma unidade hoteleira, que historicamente sempre se revelou a única forma de viabilizar economicamente uma vila que nasceu em torno do seu parque termal.
Pergunte-se ao arquiteto Siza Vieira, de quem a Unicer anunciou, com espavento, que encomendaria o projeto para um hotel, que levaria o seu nome, "o que é feito" dessa mirífica obra. E talvez não fosse desinteressante alguém inquirir também sobre o que aconteceu aos "termos de responsabilidade" desse prestigiado arquiteto, face ao pouco que foi feito nas Pedras Salgadas e ao modo como outras coisas acabaram por ser concluídas na vizinhança. Mas essa é uma história para ser contada um dia...
Vale também a pena registar as omissões cúmplices de poderes públicos centrais, o "assobiar para o ar" e as tergiversações de alguns eleitos (a nível nacional e local) ou nomeados, os tristes silêncios da AICEP e do Turismo de Portugal. Com maior ou menor responsabilidade, fazem todos parte do elenco desta grande farsa.
A população das Pedras Salgadas, cuja economia está a ser estrangulada, já teve ocasião de, sobre o assunto, se expressar de forma muito clara e pública, por diversas ocasiões. Fê-lo com civismo, sem partidarismos, com dignidade, demonstrativos de quem não se sente não é filho de boa gente. E de que não tem medo, claro. Como o irá provar, futuramente, em novas ações, por forma a alertar poderes públicos, desmascar poderes privados e testar a coerência dos eleitos.
Hoje, o que é que se passa por lá, conforme pude observar, há dias? Na prática, e apenas para a minúscula "saison", está aberta a pequena piscina com um bar, a clássica "Casa de chá" foi concessionada a uns inexperientes profissionais, que servem uma gastronomia atroz, e, numa das nascentes, aparece, em certas horas, uma menina de bata branca que oferece "água das Pedras", em pequenos e finitos copos de plástico. E dizem-me que há por lá um spa, com frequência quase clandestina. São rebuscados artifícios para iludir quem passa e dar ares de se estarem a cumprir "mínimos", em matéria de responsabilidade social. Depois, virá o outono, o parque fechará e o "circo" será arquivado até ao ano. Na vila, com o comércio a estiolar e o desemprego a aumentar, as pessoas tenderão a sair, como já o estão a fazer. Só a "água das Pedras" é que não deixará, nesse entretanto, de humedecer os bolsos dos acionistas na Unicer.
Este é o Parque "devolvido" às Pedras Salgadas: um cenário de fachada, um monumental "trompe-l'oeil", que não faz esquecer os compromissos não cumpridos, não obstante os lucros fabulosos que a empresa exploradora continua a apresentar, muito por obra e graça da água que extrai daquela terra.
Numa recente passagem pela localidade, senti que começam a esgotar-se o tempo e a paciência nas Pedras Salgadas, a menos que surja no horizonte alguma mostra de "uniceriedade".