sábado, abril 22, 2023

Lula cá

Lula teve razão quando disse, esta manhã, que houve membros permanentes do Conselho de Segurança que iniciaram guerras à revelia da ONU. E fez bem em citar os EUA no Iraque e a Rússia na Ucrânia. Mas enganou-se quando referiu a intervenção da França e do Reino Unido na Líbia. Essa ação teve aval da ONU e do seu Conselho de Segurança. É um facto indiscutível. Se bem conheço o tropismo de alguns comentadores, alguns vão agora partir para a análise do que ocorreu depois da intervenção. Só que - tenho muita pena! - essa não é a questão.

3 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Certo, Senhor Embaixador, com a Rússia ausente, o Conselho deu o aval para destruir a Líbia.

A guerra foi liderada pelos Estados Unidos, primeiro por meio do Comando da África, depois pela NATO sob o comando dos EUA. Em sete meses, a força aérea UE/NATO realizou 30.000 missões, incluindo 10.000 missões de ataque, com mais de 40.000 bombas e mísseis.

Antes mesmo da ofensiva aeronaval, sectores tribais e grupos islâmicos hostis ao governo tinham sido financiados e armados na Líbia, e forças especiais, notadamente catarianas, infiltradas para propagar confrontos armados dentro do país.

Destrói-se assim este Estado africano que, como explicou o Banco Mundial em 2010, manteve "elevados níveis de crescimento económico", com um crescimento anual do PIB de 7,5%, e registou "elevados indicadores de desenvolvimento humano", incluindo o acesso universal ao ensino primário e ensino médio e, para mais de 40%, às universidades.

Apesar das disparidades, o padrão médio de vida era mais alto na Líbia do que em outros países africanos. Cerca de dois milhões de imigrantes, a maioria africanos, encontraram trabalho lá. O Estado líbio, que tinha as maiores reservas de petróleo da África e outras de gás natural, deixou margens de lucro limitadas para empresas estrangeiras.

Graças às exportações de energia, a balança comercial da Líbia teve um superávit anual de 27 bilhões de dólares.
Esses órgãos teriam servido para criar um mercado comum e uma moeda única para a África.

Não é por acaso que a guerra da NATO para demolir o Estado líbio começa menos de dois meses depois da cimeira da União Africana que, a 31 de Janeiro de 2011, deu luz verde à criação no ano do Fundo Monetário Africano. Os e-mails da secretária de Estado do governo Obama, Hillary Clinton, posteriormente trazidos à tona pelo WikiLeaks, provam isso: Estados Unidos e França queriam eliminar Gaddafi antes que ele usasse as reservas de ouro da Líbia para criar uma moeda africana ao dólar e ao franco CFA (moeda imposta pela França em 14 de suas ex-colónias).

Isso é comprovado pelo facto de que, antes da acção dos bombardeiros em 2011, foram os bancos que entraram em acção: eles apreenderam os 150 bilhões de dólares investidos no exterior pelo Estado líbio, cuja maior parte desapareceu. Na grande rapina destaca-se o Goldman Sachs, o mais poderoso banco de investimentos dos Estados Unidos, do qual Mario Draghi foi vice-presidente.

Graças ao aval do Conselho de Segurança da ONU, hoje na Líbia, a exportação de energia é monopolizada por grupos de poder e multinacionais, numa situação caótica de confrontos armados.

O padrão médio de vida da maioria da população entrou em colapso. Imigrantes africanos, acusados de serem "mercenários de Gaddafi", foram presos até em jaulas de zoológicos, torturados e assassinados.

A Líbia tornou-se a principal rota de passagem, nas mãos dos traficantes de seres humanos, de um caótico fluxo migratório para a Europa que fez muito mais vítimas do que a guerra de 2011.

Em Tawerga, as milícias islâmicas de Misrata apoiadas pela NATO (aqueles que assassinaram Gaddafi em Outubro de 2011) realizou uma verdadeira limpeza étnica, obrigando quase 50.000 cidadãos líbios a fugir sem poder retornar.

Eu sei, o Senhor Embaixador avisou: “essa não é a questão”. Mas, francamente, não acha que a única questão que se pôe é “Por que a NATO, com o aval da ONU, destruiu a Líbia há doze anos ?

Joaquim de Freitas disse...


Encore sur la Libye, je rectifique : Russie "abstenue", au lieu de "absente".Et n'a pas utilisé son droit de veto.

Anónimo disse...

Gostei de ler o comentário de Joaquim de Freitas. O caso da Líbia foi outra daquelas monstruosidades que o tal Ocidente supostamente civilizado cometeu. Absolutamente vil !
O mesmo Ocidente que é incapaz, cobardemente, de considerar George W. Bush como um criminoso de guerra pelas acções de que foi responsável, à revelia das NU, no Iraque.
2. Quanto ao que Lula referiu sobre o conflito da Ucrânia, conviria sublinhar que o Brasil é um país soberano e, nesse sentido, tem todo o direito e legitimidade de definir a sua própria política externa e expressar as suas opiniões sobre o que quer que seja que se passa neste planeta, a todos os níveis. As posição da UE e de Washington, criticando Lula e o Brasil são, no mínimo, inaceitáveis e deploráveis.
Por outro lado, sendo um país parte dos BRICS, o Brasil, compreensivelmente, não pode hostilizar a Rússia. Outro dia li um artigo de opinião de um escriba de ocasião, num desses órgãos de comunicação social, que o Brasil deveria sair dos BRICS. Enfim, se a estupidez pagasse impostos...
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