Emmanuel Macron surgiu em França como uma figura política de conjuntura. Se François Fillon não tivesse empregado ficticiamente a sua própria mulher, estaria hoje a habitar Eliseu. Com ela por lá. Macron acabou por ser o candidato anti-Le Pen. Importantes setores da direita e da esquerda votaram nele apenas para afastar, uma vez mais, o fantasma da extrema-direita.
Macron provou, mas só depois, ser mais e melhor do que isso. Revelou ter um pensamento estruturado sobre a Europa, ideias arrumadas sobre o que é necessário fazer para apoiar o euro, uma leitura estratégica da ambição que a Europa deve ter, neste tempo conturbado em que Trump dá as cartas, baralha o jogo e nem precisa de fazer bluff para condicionar o mundo. Macron pode vir a não conseguir levar a sua avante, por oposição alemã, mas mostrou já estar à altura das responsabilidades de uma potência que, após o Brexit, assumirá necessariamente um papel de singular destaque na Europa.
No plano interno, Macron começou por afirmar não ser “nem de esquerda nem de direita”, o que, como se sabe, é sempre um auto-confissão conservadora. E, uma vez mais, isso ficou provado. A política social do novo presidente, sem surpresas, seguiu uma agenda “reformista” e “modernizadora”, com tudo o que isso quer dizer no jargão do liberalismo económico. E, claro, pagou um preço nas ruas. E foi também nas ruas que outros problemas iriam surgir, com um seu colaborador muito próximo, disfarçado de polícia, a ser apanhado a reprimir manifestantes, criando um escândalo reputacional muito sério ao presidente.
Na composição do seu governo, Macron havia conseguido incluir, como ministro de Estado, Nicolas Hulot, uma espécie de “papa” francês do Ambiente, que havia resistido a convites anteriores de Sarkozy e de Hollande. Foi um fator importante de credibilidade para o novo executivo. Macron disse então querer colocar as questões do clima e da transição energética como sua prioridade central. E tem-no repetido. Há dois dias, Hulot bateu com a porta, com estrondo, alegando não conseguir impor as suas políticas.
Conseguirá Macron virar o jogo, retomar a iniciativa, recuperar da clamorosa perda de popularidade que hoje o atinge? Com o Brexit no horizonte dos problemas, com Merkel acossada, com a Itália sob uma agenda radical, uma Espanha em equilíbrio precário, quem terá força para garantir sucesso à reforma europeia? Para um país como o nosso, fortemente empenhado na agenda da Europa, a fragilidade de Macron não é uma boa notícia.