segunda-feira, abril 03, 2023

O nabal e a eira

 


Não há almoços grátis. Não é possível andarmos anos e anos a tentar atrair estrangeiros, acenando-lhes com as amenidades deste país à beira-praia hipotecado, apelando a que viessem para aqui largar os carcanhóis, encher os restaurantes que quisemos cada vez mais estrelados, esportular em roupas finas na Liberdade, enfrascando-os em quintas requintadas do Douro e ensoleirando-os em golfes regados com água cara no Allgarve do Pinho, sem, ao mesmo tempo, não lhes dar o direito de comprarem casas por aí, ou de os estimularmos ao uso do Alojamento Local, em face da penúria de hotéis na estação alta. Ou será que queremos voltar às ruas da amargura da Nazaré, ao ala-arriba do xaile e do chambres/zimmer/rooms? Face ao défice de capital caseiro, é bom ter gente de fora a estimular a nossa economia? Ah! Pois é, mas, para isso, convençam-se!, essa gente tem de andar por aí, a abarrotar o Chiado, a atulhar-nos as filas do SEF da Portela e as do Gomes da Comporta, com as suas reformas altas que inflam os nossos preços e compram, por uma tuta e meia, aquilo a que o portuga médio não consegue chegar. É escolher! Ou uma coisa ou outra! Só mais uma coisa, para que não restem dúvidas: reagir contra os da estranja tem um nome, chama-se xenofobia.

6 comentários:

Luís Lavoura disse...

De acordo com os manifestantes pelo "direito à habitação", aquela senhora deveria estar a arrendar os seus quartos na Nazaré, não a turistas mas sim a pessoas que quisessem residir neles de forma permanente. A senhora é pois, basicamente, uma delinquente.

Francisco disse...

Ao longo das últimas décadas e sobretudo no contexto da preparação da entrada de Portugal na União Europeia, difundiu-se de forma consistente e sistemática, uma ideia de desenvolvimento nacional que, tendo na parificação com o nível de vida dos países mais desenvolvidos da então CEE, o seu "objectivo natural" (conversa fiada, que a pouco e pouco foi sendo suprimida das narrativas oficiais do regime), alimentou todo um imaginário desenvolvimentista, feito de rios donde haveria de correr leite e mel.
E, de facto, através de múltiplas formas de financiamento chegaram a Portugal verbas colossais, das quais uma parte - a mais pequena - foi aproveitada na criação de infraestruturas básicas e outros investimentos de manifesta utilidade, enquanto que a parte de leão foi canalizada para a crescente periferização da economia nacional (economia, pescas, indústria), transformando Portugal, por vontade europeia e por vontade de alguns acólitos nacionais que dela beneficiam directa ou indirectamente, por um lado num país de motoristas e criadas de servir e por outro lado, numa país em que alguns rentistas se amesendam diariamente à mesa do banquete que por si e para si foi preparado. As contradições estão todas aí e nem os paliativos que um sistema inoperante mobiliza como forma de as conter e, sobretudo, como forma de conter o desagrado dos milhares que são suas vítimas, conseguem ser já suficientes para tapar o Sol com a peneira. Não há nisto, porém, qualquer fatalismo determinista que faça destes acontecimentos uma espécie de ordem natural das coisas. Trata-se de determinação e vontade política, a qual e até agora, tem estado, como deve reconhecer-se, refém dos interesses de poucos.

Luís Lavoura disse...

O tipo de Alojamento Local que é retratado na fotografia que ilustra este post já se faz em algumas zonas de Portugal há dezenas de anos. Há quarenta anos, quando visitei a Nazaré pela primeira vez, vi pessoas a arrendar quartos desta forma - com letreiros escritos em várias línguas, como na fotografia. Há quarenta anos, quando fui ao Algarve pela segunda vez, fiquei alojado num apartamento que era arrendado desta forma nos meses de verão, permanecendo vazio durante todo o resto do ano.
É curioso que agora se vitupere uma forma de aluguer que já existe entre nós há dezenas de anos, e que sempre foi muito popular.

manuel campos disse...


O Luis Lavoura falou bem.
Mas eu não acho que se vitupere esta forma de aluguer digamos que "paralela", o que vejo vituperar é a forma de aluguer "legal".
E não é de excluír que muitos dos que vituperam a "legal" vivam da "paralela", a outra faz-lhes concorrência, há que acabar com ela.

disse...

O problema da habitação é grave.
Naturalmente que se deve estudar o fenómeno em detalhe, mas os contornos gerais do problema parecem-me óbvios. A lei da oferta e da procura explica: temos menos oferta e mais procura. Veja-se o gráfico em baixo.
https://www.pordata.pt/portugal/fogos+concluidos+em+construcoes+novas+para+habitacao+familiar+total+e+por+tipologia+do+fogo-189

Creio que a solução natural seria procurar resolver o problema pelo lado da oferta, facilitando os licenciamentos e oferecendo incentivos fiscais às promotoras. Uma abordagem menos capitalista seria condicionar os licenciamentos a um determinado tecto máximo de valor por m2. Claro que todas estas solução são a prazo. No imediato há pouco a fazer. Há que lamentar a inexistência de uma política de habitação digna desse nome nos últimos 7 anos. Mas o problema estava à vista de todos: a escalada de preços começou em 2014/2015. Não estavam a ver? Estavam distraídos com quê?

Agora é comer e calar.





Sérgio Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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