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quinta-feira, agosto 16, 2012

Robert Bréchon (1920-2012)

Quando cheguei a Paris, em 2009, alguém me disse que Robert Bréchon era "um radical pessoano". Na altura, apenas conhecia de nome esse lusófilo que um dia escreveu que "é através de Pessoa que Lisboa entra verdadeiramente na literatura universal".

Portugal deve imenso àqueles que, no estrangeiro, se apaixonaram pela sua cultura e que na respetiva promoção ocuparam grande parte da sua vida. Bréchon, que há dias nos deixou, nasceu para a língua portuguesa no Brasil, quando aí trabalhou pela cultura francesa. Depois, quando viveu em Lisboa, onde fez um trabalho notável à frente do Instituto francês, soube abrir-se às correntes intelectuais portuguesas, de diversa orientação. Foi por Lisboa que "descobriu" Pessoa, tendo mais tarde, com Eduardo Prado Coelho, sido responsável pela edição, na Christian Bourgois, das "Oeuvres de Fernando Pessoa". Tornou-se um dos grandes especialistas internacionais na obra do poeta, sobre a qual publicou vários trabalhos.

Mas muito mais lhe ficamos a dever, numa dedicação que merece a nossa homenagem e o nosso reconhecimento. 

quarta-feira, agosto 01, 2012

Eurico de Melo (1925-2012)

Há poucas horas, ao receber a notícia da morte de Eurico de Melo, que há muito desaparecera da cena pública, pus-me a imaginar quantos, dentre as novas gerações, saberão, afinal, quem era aquele que chegou a ser um dos mais influentes políticos nacionais, e que, aliás, esteve na soleira da chefia do poder executivo. Muito leal a Sá Carneiro e a Cavaco Silva, Eurico de Melo era talvez o mais proeminente representante de um certo PPD de extração não lisboeta, fazendo parte daquilo que a nomenclatura política designava então como os "barões" do partido. Com a sua forma inconfundível de falar nortenho, por muito tempo sempre visto com um inseparável cigarro, a sua saída da cena política coincidiu, não por acaso, com um evidente declínio do peso do norte do país no equilíbrio das decisões nacionais. E a sua morte é mais um marco do termo formal de um tempo que foi muito importante na história da família política do centro-direita em Portugal, que entre nós se convencionou designar por social-democrata.

Em inícios de 1987, e por razões que não vêm ao caso, tive a meu cargo, por alguns dias, a organização da visita oficial de Aga Khan a Portugal. A exemplo do que acontece em alguns outros países, foi escolhido como interlocutor do líder ismaelita a figura governamental imediatamente abaixo do primeiro-ministro. Neste caso, era Eurico de Melo, ao tempo vice-primeiro ministro e ministro da Defesa. O programa da visita incluía um jantar no Ritz. Os representantes de Aga Khan no nosso país solicitaram que, por razões religiosas, não fossem servidas bebidas alcoólicas durante essa refeição. Aceitar ou não um tipo de pedido deste género é uma questão com alguma sensibilidade, porque acaba por ter certas implicações políticas. Entendi, por isso, que seria prudente consultar o gabinete do ministro, tanto mais que também pretendia obter orientações sobre o tipo de presente que ele queria oferecer ao ilustre visitante.

No contacto telefónico que fiz com o gabinete, e logo depois de expor o problema, tive a surpresa de ser confrontado com a informação de que o próprio ministro queria falar comigo. Recordarei para sempre que, com imensa simplicidade e simpatia, Eurico de Melo, com a sua pronúncia inconfundível, me deu as suas instruções: "Quántu ao binho, o sinhôre dâutuar faz o que entiender: si as razuéns de Estado obrigarem, o sinhôre máunda puôr lá binho! E táumbém cuidado com o prieço da priênda. Eles estáum habituados a ter o peso do homem em oiro e nós náum nos pudiemos alargar. Bai cuma baoua Bistalegrezinha é já é bem báum...". Lembrámos esta história, divertidos, num jantar que lhe ofereci, em Estrasburgo, bem como a outros deputados europeus, creio que em inícios de 1996. 

Espero que ninguém se lembre de levar a mal esta memória em transcrição fonética, porque ela representa, da minha parte, uma homenagem colorida a um governante que não se escondeu atrás da sua importância e decidiu disponibilizar-se para falar com um simples e desconhecido funcionário, do outro lado da linha. Um homem do norte, é o que é!

sexta-feira, julho 20, 2012

José Hermano Saraiva

José Hermano Saraiva, que acaba de desaparecer, foi um improvável ministro da Educação do último governo de Oliveira Salazar. Simples professor liceal, terá sido a sua fidelidade ao Estado Novo, aliada a uma inteligência viva e uma inegável capacidade de ação, que lhe assegurou a ascenção política. Ainda estou a ver a fotografia da tomada de posse, em Belém, ao lado de Américo Tomás, de fraque e calças de fantasia, em Agosto de 1968, na qual, recordo, surge também uma outra personalidade que há dias faleceu, embora num relativo silêncio mediático, Justino Mendes de Almeida.

Dias depois, Salazar cairia da cadeira de lona e, semanas mais tarde, os equilíbrios do regime fizeram com que Marcello Caetano confirmasse José Hermano Saraiva no cargo.

Não foi nada fácil a tarefa do ministro. Como ponto "alto" das questões que teve de gerir, recorde-se a "crise de Coimbra", em 1969. Quem viveu esse período lembra-se bem dele, ao lado do presidente Tomás, na inauguração do edifício das Matemáticas, em Coimbra, nesse tenso e verdadeiramente único momento em que Alberto Martins teve a coragem de pedir a palavra, em nome da academia, naquele que viria a ser o início de um dos maiores protestos de contestação universitária vividos em Portugal.

A agitação universitária propagou-se a Lisboa. No ISCSPU, José Hermano Saraiva decidiu não "homologar" a lista eleita da Associação académica, de cuja direção eu fazia parte (ver aqui um relato do nosso encontro com o ministro). Ficou claro que Marcello utilizou então Hermano Saraiva para afastar, do ISCSPU, o seu rival político Adriano Moreira, personalidade com a qual, à época, as lideranças académicas decidiram, taticamente, solidarizar-se. Isso veio a redundar numa invasão do Instituto pela "polícia de choque", chefiada pelo capitão Maltez, e pela dissolução dos órgãos legítimos da Associação, que passou a ser dirigida por uma complacente "comissão administrativa".

Com o tempo, Marcello Caetano substituiu Saraiva por Veiga Simão. No que me toca, devo dizer que a mudança não ajudou muito, porque não tive o ensejo de apreciar, em excesso, as credenciais, ditas liberais, do novo ministro: em 1972, como presidente eleito da Assembleia geral dos estudantes do ISCSPU, voltei a ver a minha escolha não "homologada" pelo novo ministro. Mas isso deve ser sina pessoal...

Usufruindo da oportunidade dada pela Democracia, José Hermano Saraiva viria a fazer escola como divulgador televisivo, e não só, da História pátria, confirmando a perceção de que a historiografia permanece como um dos poucos domínios culturais onde o pensamento conservador preserva uma certa notoriedade pública. A sua capacidade de "contador de História" era inegável e, embora muitos achem que isso foi muitas vezes feito em detrimento de algum rigor científico, a verdade é que ele terá contribuído para despertar o interesse pela História de Portugal - e esse será um importante serviço que o país, sem a menor dúvida, lhe ficou a dever.

Em tempo - Não notei, como devia ter feito, que José Hermano Saraiva foi embaixador "político" em Brasília, nos tempos que antecederam o 25 de abril.

quarta-feira, junho 27, 2012

Júlio Montalvão Machado

Júlio Montalvão Machado, de cuja morte me avisaram há pouco, era um homem amável e sereno, sempre com um sorriso de pessoa com quem a vida estava bem. O seu compromisso com a liberdade tornou-o um perseguido durante o Estado Novo, período em que foi impedido de exercer, como médico, quaisquer funções públicas. Conhecemo-nos em 1969, nas lutas oposicionistas contra o Estado Novo, na campanha para as "eleições" para a Assembleia Nacional. Recordo-me bem de me ter dito, quando lhe fui apresentado: "Tenho grande gosto em conhecê-lo. O seu avô foi um dos maiores amigos do meu pai". Curiosamente, nessa campanha, acabámos por ter algumas divergências doutrinárias, por diferentes perspetivas sobre a questão colonial. Onde isso tudo vai... 

Depois do 25 de abril, cruzámo-nos muitas vezes e sempre pude apreciar nele o homem de diálogo e o espírito culto que o transformava numa das grandes e respeitadas figuras de Chaves e em todo o distrito de Vila Real - cidade onde, aliás, tal como eu, nascera.

Há algum tempo, os amigos comuns António Ramos e Alexandre Chaves organizaram com ele um agradável jantar no Forte de S. Francisco, onde trocámos histórias, nesse jeito tão transmontano de perder as horas da noite, ganhando-as na conversa amena. Foi a última vez que conversámos. E é com muita pena que agora o vejo desaparecer. 

sexta-feira, junho 15, 2012

Garaudy

Quando, num final de tarde de 1969, entrei na Moraes, o único cliente presente naquela livraria lisboeta, que falava com o livreiro, voltou-se e encarou-me ostensivamente, com cara de poucos amigos, como que incomodado pela minha presença. Eu conhecia-o, ele não fazia a mínima ideia de quem eu era. Ele chamava-se Francisco de Sousa Tavares, era advogado e um conhecido membro da oposição. O livreiro, distendeu o ambiente: "Não há nenhum problema", disse para Sousa Tavares, sorrindo. E acrescentou: "É um amigo"...

A situação era curiosa. Ambos íamos à procura de um livro, acabado de sair em França, que tínhamos encomendado semanas antes e que nos fora dito que chegaria naquele dia. O livro era "Le grand tournant du socialisme" e o seu autor, Roger Garaudy, era um intelectual dissidente do PC francês.

Ao tempo, obter alguns livros, portugueses ou estrangeiros, menos conformes com os gostos do regime, era uma tarefa que implicava conhecimentos "de confiança" em algumas escassas livrarias. A Moraes, tal como a Barata na Avenida de Roma, proporcionava-nos essa cumplicidade. No caso da Moraes, dava-se mesmo a curiosidade da livraria se situar no mesmo quarteirão onde estava a PIDE... Por isso, todos os cuidados eram poucos.

Garaudy era, à época (e já perceberão porque escrevo "à época"), uma espécie de precursor daquilo que se iria chamar o "eurocomunismo", isto é, uma evolução, tendencialmente democrática, dentro do comunismo na Europa. Fazia parte daqueles a quem os ortodoxos, em especial os maoístas, chamavam "revisionistas", por advogarem uma linha política que começava a colocar em causa as premissas da orientação moscovita, então ainda dominante na generalidade dos partidos comunistas ocidentais. Antigo resistente e prisioneiro durante a ocupação alemã, Roger Garaudy integrou o comité central do PC francês, tendo sido eleito deputado e, mais tarde, senador.

Mas o percurso de Garaudy não iria ser linear. Opositor da invasão russa da Checoslováquia, foi expulso do PCF, passou a atacar o ateísmo, fez uma deriva pelo catolicismo, converteu-se ao Islão, tornou-se anti-sionista feroz para, finalmente, contestar a própria existência das câmaras de gaz no nazismo. Um percurso, pelo menos, bem singular.

No que me respeita, confesso que já quase me não lembrava dele. A sua morte, hoje conhecida, acabou por ajudar a recordá-lo e, também, a recordar o tempo em que o que ele escrevia era interessante para alguns de nós. E talvez não seja por acaso que a sua desaparição foi anunciada por um "site" de extrema-direita... 

sexta-feira, junho 01, 2012

Luis Abreu


Volto a constatar uma obviedade: cada vez tenho mais mortos conhecidos.

Há semanas, morreu o José Guilherme Stichini Vilela. Um dia, em Angola, nos anos 80, o José Guilherme revelou-me que conhecera, já não sei por que luas, um arquiteto que tinha encarregado da renovação de um velho apartamento que comprara, em Lisboa. Olhei os desenhos e vi que estava perante um homem de extremo bom gosto. Chamava-se Luís Gomes de Abreu. Nesse entretanto, também eu comprei um apartamento, que queria remodelar. Numa vinda a Portugal, conhecemo-nos e encarreguei-o de me dar ideias para essa obra. Não podia ter feito melhor opção. O seu profissionalismo era imenso, a sua engenhosidade era inesgotável, embora o seu preço não fosse nada barato. A obra saiu muito bem.

O Luís não tinha um feitio fácil, era muito teimoso, muito orgulhoso daquilo que fazia, renitente até à exaustão às sugestões dos "donos das obras". Mas eu conseguia ser ainda mais obstinado e, como cliente, era "chatíssimo" (expressão dele). Exigi-lhe pormenores impensáveis: "nunca encontrei um cliente que me pedisse um desenho de uma sanca em tamanho natural, sem aceitar um desenho em escala", disse-me um dia, "só você!". Tivemos cordiais "pegas", mas também belas jornadas de conversa e copos, divertidíssimas, em que ficámos amigos e, depois, quase vizinhos. Recordo bem uma noite, no velho "Botequim", com o Luís a envolver-se numa polémica homérica com a Natália Correia, que acabou por se mudar para a nossa mesa, até às quatro da manhã.

Viamo-nos a espaços. Voltei a tê-lo como arquiteto, numa outra casa. E, claro, voltámos a "pegar-nos" sobre a obra... Mas continuámos amigos e ele continuava a fazer as coisas sempre muito bem. Quando vim para Paris, disse-me que fora ele quem tinha renovado o centro do Instituto Camões, na rue Raffet.

Desde há 30 anos, o Luís tinha uma rotina ímpar: era a primeira pessoa a mandar-nos boas-festas. Chegavam sempre no início de Dezembro. Este ano não chegarão. Dizem-me que o Luís morreu.

quarta-feira, maio 30, 2012

Rui Medina (1925-2012)

Há poucos dias, dei aqui conta da desaparição do embaixador João de Sá Coutinho. Acabo de saber, pela imprensa, da morte de outra figura importante da diplomacia portuguesa, o embaixador Rui Medina.

Foi representante português junto da ONU, em Nova Iorque, tendo chefiado as embaixadas portuguesas no Líbano, na Finlândia, na Suécia, na antiga República democrática alemã e em Itália.

Um dos pontos altos da carreira de Rui Medina foi a presidência da Comissão Interministerial sobre Macau, que negociou as condições de transferência do território para a China.

Conheci mal Rui Medina, com quem me cruzei escassas vezes. Na memória da carreira, era tido por um diplomata muito rigoroso, inteligente e com grande sentido de ironia.

sábado, maio 26, 2012

João de Sá Coutinho (1929-2012)

Através de um amigo comum, acabo de tomar conhecimento da morte, no dia de hoje, do embaixador João de Sá Coutinho.

Para a minha geração no MNE, Sá Coutinho representava, de certo modo, a "carreira" que soubera transformar-se, com naturalidade democrática, num apoio à nova diplomacia pós-25 de abril. Alguns meios mais conservadores chamaram-lhe, por essa altura, o "conde vermelho", numa alusão ácida às suas origens aristocráticas, bem simbolizadas na sua magnífica casa em Ponte de Lima.

Conheci-o pessoalmente quando, como então era da praxe, me fui apresentar nas Necessidades, no final de 1985, regressado de Luanda. Eu saíra desse posto um pouco à pressa, motivado por um convite formal que recebera da hierarquia diplomática para vir a assumir um lugar de chefia intermédia em Lisboa, nas novas estruturas criadas para a nossa próxima entrada nas instituições europeias. Mas, entretanto, alguma coisa se tinha passado. Recordo o embaraço de Sá Coutinho, então secretário-geral do ministério, quando se viu obrigado a informar-me que, por ordens "de cima" a que era totalmente alheio, a "casa" já não contava comigo para ocupar essa chefia... Na sua impotência perante o inevitável, senti-o solidário. 

A vida não fez com que nos cruzássemos muito. Às vezes, nas minhas não raras passagens por Ponte de Lima, voltei a encontrá-lo pelas esplanadas do Largo de Camões, esguio e elegante, sempre com aquele sorriso algo irónico, que era a sua imagem de marca pessoal, com que acompanhava as graças que lhe saíam fáceis, de quem olhava a vida com olhos sábios e serenos.

Há meses, a propósito de uma historieta que por aqui contei, em que ele era a figura central, escreveu-me uma carta divertidíssima, fantasiando uma suposta colocação minha em Nouakchott, aliada à decisão excecional que, segundo me "informava", teria sido tomada no sentido de o enviar a ele para Paris, forçando a minha substituição. Pelo meio, dava-me conselhos deliciosos, como a compra de um camelo para serviço na nova embaixada, aconselhando-me também a planear fins-de-semana turísticos e gastronómicos em... Bissau.

João de Sá Coutinho, que, tal como o meu pai, era um orgulhoso minhoto de Ponte de Lima, foi um grande senhor da nossa diplomacia, um profissional distinto. Acima de tudo, era um homem de bem que soube servir e honrar o seu país. 

quarta-feira, maio 02, 2012

Fernando Lopes (1935-2012)


Olá, Fernando.

Acabo de saber que, para si, já “Era uma vez... amanhã". O seu "Gérard, fotógrafo", que nestes dias se mostra aqui por Paris, não poderá assim “Matar Saudades” suas, porque é, ele também, um “Encoberto” nesse “Voo da Amizade”, a uma "Altitude 114", por onde, há muito, já andava o “Belarmino”, esse seu “Delfim” de uma “Lisboa” da qual, como ninguém, você desenhou a “Crónica dos Bons Malandros”, aqueles que andam por aí, “Ela por ela”, a atirar aos outros: “Tomai lá do O’Neill”!

Todos sabemos que você não era muito dado a olhar “O Fio do Horizonte", mas a verdade é que se fechou agora o semáforo, Fernando, aquele “Vermelho, Amarelo e Verde” que durante tanto tempo lhe abria o caminho, entre “As Palavras e os Fios” das conversas na barra do Gambrinus, para a “Rota do Progresso”, que você percorria a “98 octanas”, retribuindo "Os Sorrisos do Destino" que queria para todos nós, com que numa longa noite sonhámos, em Viena, com outros amigos, até vermos o  "Cruzeiro do Sul" aparecer no fundo de uma garrafa de JB.

Para trás, fica a criação entusiasmada desse seu “Cinema” magnífico, essa sua representação dos "Sons e Cores de Portugal", qual "Domingos Sequeira" da película, onde registou, para sempre, “As Pedras e o Tempo” deste seu "Habitat", deste Portugal que, “Se Deus Quiser”, ainda há-de ser “A Aventura Calculada” pela qual você sempre lutou, embora sem "As Armas e o Povo" na rua, que "Este Século em que Vivemos" já dispensa mobilizar de novo.

Parte agora, meu caro, para um eterno "Interlude", como “Uma Abelha na Chuva” que hoje a todos nos encharca de tristeza. Você que, entre muito poucos dessa sua arte, era daqueles em que, ao ler-se no jornal “Hoje, Estreia”, ao lado de "Marçano, precisa-se", se podia ter a certeza de ter como “Nacionalidade: português”. Bem mais do que alguns que, de "The Bowler Hat" na mão para os subsídios, andam por aí a mimar o que se faz "Lá Fora"

“Nós por cá todos bem”? Não, Fernando, nós ficamos, "The Lonely Ones", em "Câmara Lenta", muito mais pobres, sem si e sem o seu cinema.

Com um beijo amigo à Maria João, deixo-lhe um abraço, já em “contre plongée”   

domingo, abril 29, 2012

Nóbrega (1942-2012)

Acabo de ler, num jornal, que morreu o Nóbrega, com 70 anos. Na minha juventude vila-realense, o Nóbrega era um ídolo da cidade, em particular depois de ter saído do nosso Sport Clube, onde o vi jogar por várias vezes. Um dia, um qualquer "olheiro" assinalou-o ao FC do Porto, onde viria a ganhar o lugar de "ponta esquerda". Por lá ficou uma dúzia de anos, nas décadas de 60 e 70, seguindo depois a habitual peregrinação que o destino aponta aos ex-jogadores, como treinador de pequenos clubes de província.

O Nóbrega era um futebolista muito rápido, com um excelente pé esquerdo, na época em que os "pontas" ("esquerda" ou "direita") corriam colados à linha, avançando, tão longe quanto possível, para centrarem "adiantados", evitando os fora-de-jogo (habituei-me, com o meu pai, até hoje, a dizer "off-side"), com cruzamentos sobre a área, onde os "pontas de lança" aproveitavam as suas jogadas. Julgo que o Nóbrega ganhou as suas quatro internacionalizações, de que a cidade muito se orgulhava, tirando o lugar ao Fernando Peres ou ao Oliveira Baptista, já não sei bem. Sei apenas que ambos eram do meu Sporting...

Lembro-me muito bem do pai do Nóbrega, o sr. Nóbrega, homem grande e com forte vozeirão, morador na Fontinha (ruela em que eu seguia para a minha primária "escola do trem"), logo à saída do "cabo da bila" (é assim, com "b"), famoso columbófilo e com fama de homem de esquerda, que tinha como profissão o ser artesão de pintura (ainda me recordo de ver, lá por casa, um tabuleiro metálico, com as armas da cidade, pintado pelo sr. Nóbrega, objeto de beleza mais do que discutível).

Quando o Nóbrega, o jogador, ao tempo em que era vedeta, se passeava pela cidade, esta olhava-o com evidente admiração. (Vila Real nunca teve muitos futebolístas conhecidos: com algum destaque, apenas o meu amigo Amaral e o Fraguito, ambos idos do Sport Clube... para o Sporting*). Recordo-me muito bem de ver o Nóbrega, de visita à cidade, um pouco curvado para a frente (ou talvez seja sugestão minha, pela forma como me habituei a vê-lo jogar), caminhando pela rua Direita (a maioria dos leitores não conhecerá a rua Direita, mas basta que saibam que é o "eixo" essencial da cidade), com o fácies grave e fechado que muitos adultos de Vila Real sempre exibem, creio que como forma de serem levados a sério. Nesses regressos, o Nóbrega, acolitado por alguns orgulhosos amigos locais, saudava, generoso, os conhecidos com quem se cruzava, que logo ficavam reconhecidos pela confiança recebida de um personagem famoso.

Era assim a minha cidade, a cidade do Nóbrega.

*(E Simão Sabrosa, que desconheço se jogou no SCVR e que foi... para o Sporting. E Paulo Alves, que, esse sim!, jogou no SCVR e teve êxito... no Sporting. E, claro!, o Costa, que foi para o FC do Porto, onde jogou vários anos).

quarta-feira, abril 25, 2012

Miguel Portas (1958-2012)

Acho que Miguel Portas, se tivesse podido determinar a data da sua saída deste mundo, gostaria que ela tivesse coincidido com um 25 de abril. Por algumas horas, isso não foi possível. Mas os cravos de hoje são para ele.

Conheci pessoalmente o Miguel há cerca de dez anos. Eu estava colocado em Viena, tínhamos amigos comuns e, um dia, recebi dele um e-mail, manifestando o desejo de trocarmos impressões sobre as questões europeias, numa ocasião em que eu passasse por Lisboa. Era um assunto em que eu trabalhara alguns anos e pelo qual me continuava a interessar, embora dele desligado profissionalmente. 

Convidou-me para almoçar, sugerindo, cuidadoso com os riscos para o meu "estatuto", aquilo que considerava um sítio "discreto": um pequeno restaurante na praça da Armada (ao lado das "espanholas"), que costumava frequentar (e que eu, por "milagre", não conhecia). Ri-me, intimamente, divertido com o que sabia ir ser o grau de "discrição" do lugar: minutos depois da nossa chegada, as escassas mesas foram invadidas por funcionários do ministério dos Negócios estrangeiros, os quais, nessa tarde de fins de 2002, devem ter espalhado, por uns claustros das Necessidades à época um tanto assombrados, terem sido testemunhas de uma conversa sigilosa entre um embaixador algo conhecido e um deputado do Bloco de esquerda. Recordo-me bem de preocupação do Miguel quando, bem disposto, lhe revelei as presumíveis consequências, em matéria de inevitável "gossip", desse nosso encontro. E sosseguei-o quanto à importância que eu próprio (não) dava ao facto.

O Miguel Portas que então conheci - e com quem, em anos futuros, apenas troquei bastantes e-mails, dada a nossa vida geograficamente distante - era um homem sereno, com um sorriso acolhedor, extremamente delicado, que transpirava honestidade e sentido de dedicação à coisa pública. Tinha seguido, desde bastante novo, um percurso político de grande dignidade, retratado de forma curiosa num pouco conhecido livro inglês, de 1975, que um dia descobri num "sebo" (alfarrabista) brasileiro. O Brasil, aliás, interessava-o bastante, como sempre sublinhava um amigo comum, que muito me falava dele - Tarso Genro, ministro da Justiça e agora governador do Rio Grande do Sul.

À época desse nosso encontro, o Miguel estava muito preocupado com o sentido que as coisas tomavam na Europa. Mas, contrariamente a mim,  angustiava-o menos a nova arquitetura institucional que se desenhava, e, muito mais, o sentido, que lia como quase totalitário, da deriva neoliberal que atravessava as políticas que iam fazendo o seu caminho em Bruxelas. Mal nós imaginávamos o que estava por aí para vir...

Recordo-me de, na conversa, o ter interrogado sobre a génese do Bloco de Esquerda, tentando perceber como era possível a convivência, no seu seio, de tradições trotskistas e maoístas, dimensões que eu julgava mais incompatíveis do que a água com o azeite. Contou-me o papel que as pessoas como ele, originárias do PCP e chegadas ao Bloco através da "Política XXI", representavam nesse (então) curioso projeto político. E recordo-me bem de uma frase que me disse: "No fundo, eu sou hoje considerado como situado na ala direita do Bloco".

Miguel Portas fez um trabalho notável no Parlamento Europeu, sem concessões, com imensa coragem, correndo mesmo o risco de afrontar as iras corporativas, de que é bem demonstrativa uma notável e quase histórica intervenção, que pode ser vista aqui. Ainda na passada semana, em Bruxelas, dele falei com amigos, que me avisaram do agravamento da sua doença.

É quase um lugar comum dizer que homens como Miguel Portas fazem muita falta à política portuguesa. Mas fazem-no muito mais à sua família - muito em especial à sua mãe, Helena Sacadura Cabral, estimada comentadora deste blogue, bem como ao seu irmão, Paulo, meu ministro - a quem deixo a expressão amiga e muito sincera do meu grande pesar por esta perda.

Este 25 de abril é muito mais triste sem Miguel Portas.

quinta-feira, abril 19, 2012

Benjamin Marques (1938-2012)

Faleceu, em Paris, o pintor português Benjamin Marques.

Há muitos anos residente em França, onde seguiu por vários percursos de vida, Benjamin Marques era uma figura muito respeitada e estimada no seio da comunidade cultural portuguesa. Reivindicando-se de uma herança surrealista, fruto de contactos na sua juventude lisboeta, a sua pintura mais recente seguia já abertamente por outros caminhos, como tive o ensejo de observar em exposições onde exibiu os seus trabalhos. Um dos seus hóbis de eleição era a história de arte, tendo proferido diversas conferências sobre o tema.

Benjamin Marques era um homem de alma grande, caloroso, de emoção fácil e verbo cuidado. Devo-lhe gestos de grande simpatia e vou sentir falta dos abraços com que sempre me acolhia. O coração traiu-o, na manhã de hoje. À sua família, bem como à sua grande amiga e colega artística Isabel Meirelles, deixo o testemunho do meu respeito pela sua memória.

quarta-feira, abril 04, 2012

Zé Guilherme

A "manga" do aeroporto de Orly que, no passado fim de semana, ligava ao avião da TAP para o Porto, fazia um cotovelo, o que permitia aos passageiros ler, com facilidade, o nome do aparelho: "Francisco d'Hollanda". À minha frente, dois "letrados", um tanto ajavardados, comentavam: "estes tipos até põem nomes de holandeses aos aviões da TAP, vê lá tu!". Ao que, quiçá premonitório, o outro respondeu: "daqui a uns tempos vão ter nomes chineses, ai vão, vão!"

Entendi não valer a pena explicar que Francisco d'Hollanda foi uma das figuras mais proeminentes da arte portuguesa no século XVI. Lembro-me bem de, no momento, ter pensado que o meu amigo e embaixador José Guilherme Stichini Vilela havia escrito um pequeno livro sobre Francisco d'Hollanda - coisa que eu descobri por acaso, um dia, numa livraria, e a que ele, para minha surpresa, nunca atribuiu grande importância.

Prestes a regressar a Paris, dois dias depois, já no aeroporto do Porto, recebi um telefonema, a dar-me conta da morte do Zé Guilherme.

Coincidimos em posto, em Luanda, nos anos 80, nesse tempo inesquecível em que, com António Pinto da França e Fernando Andresen Guimarães, todos juntos, conseguimos transformar um período profissional tenso e potencialmente abafante numa divertida aventura de vida - também com o Miguel Chalbert, a Ana Poppe, o António Vallera, a Élia Rodrigues, o Fernando Valpaços, os "Guedais" (Vasco, Sérgio e Zé Tó), a Bá e o Pedro, a Lena e o Bo Backstrom, a Alzira e o João Sobral Costa e tantos e tantos outros.

Até então, eu conhecia mal o Zé Guilherme. Desde aí, ficámos, para sempre, muito amigos e pelo mundo nos fomos encontrando, às vezes com alguma regularidade, outras vezes nem tanto - em Argel e em Londres, no Rio de Janeiro ou em Istambul. Fizemos magníficas férias juntos (lembras-te, Alda?) e, para sempre, o Zé Guilherme passou a ser um membro da nossa família. Era, para nós, como que um irmão mais velho, que às vezes parecia até bem mais novo. Era um congregador de afetos, generoso sem limites, dedicado aos outros, mesmo a alguns que o não mereceram. Muito culto, com um imenso bom gosto, tinha uma grande abertura ao novo e ao diferente, criando, com naturalidade e sem esforço, novos amigos e conhecidos, quase sempre gente muito diversa e interessante. E, às vezes, não.

Falámos pelo telefone, há muito pouco tempo. Desafiei-o a vir visitar-nos a Paris, onde tinha vivido, por duas vezes, no início da sua carreira. Respondeu-me com um discurso cansado e algo desiludido. Mas, depois, na ciclotimia de ânimo que era muito sua, mandou-nos um belo texto de ficção, que escreveu e que hesitava se devia ou não em publicar em livro. E, dias mais tarde, inscreveu-se como "amigo" no Facebook, com uma foto onde exibia um chapéu de palhinha, ao jeito da vida bem informal que agora levava.

O Zé Guilherme fazia parte daquelas pessoas de quem nos sentimos muitos próximos e que, porque não "frequentadas" com a regularidade que desejaríamos, em especial durante a nossa última década de permanência contínua no estrangeiro, tínhamos "reservado" para um convívio futuro mais assíduo, nos tempos mais calmos de ocupações que estão aí para vir. Mas não, já não vai ser possível usufruir do seu sorriso delicado e algo triste, das conversas serenas que alimentava, da sua imensa paciência para os erros dos amigos e, também, da sua crescente impaciência para as posturas dos idiotas. As amizades, como tenho vindo a aprender, não podem ter férias. Assumo a minha quota-parte de culpa nalguma solidão em que ele se foi fechando e em que acabou os dias.

Um imenso abraço, Zé Guilherme, até sempre. 

quinta-feira, março 29, 2012

Humor

Há dias, foi-se o Chico Anísio. Agora, desaparece o Millôr Fernandes.

Deixa-nos tristes gente que nos punha alegres.

domingo, março 11, 2012

Mário Melo Rocha (1957-2012)

Mário Melo Rocha, que ontem desapareceu, era um dedicado europeísta e um homem de cultura, para além da sua profissão de advogado e especialista em temáticas do ambiente.

Foi através dos temas europeus que nos conhecemos, tendo eu participado em algumas iniciativas que organizou, nomeadamente no âmbito da SEDES e da Universidade Católica, no Porto. Lembro-me, em especial, de um interessante debate que promoveu e em que intervim com a Teresa de Sousa e o José Barros Moura, nos tempos da negociação do Tratado de Amesterdão.

Recordo-o, também, pela sua simpatia pessoal, pelo modo entusiasmado como se dedicava às coisas e às causas. Sai de cena bem cedo.

domingo, fevereiro 19, 2012

Igrejas Caeiro (1917-2012)

Imagino que a morte de Igrejas Caeiro possa deixar indiferente muita gente, que nunca nele ouviu falar e que nunca escutou a sua inconfundível voz, que é parte da história da rádio portuguesa.

Igrejas Caeiro, um homem perseguido pelo Estado Novo, pelas suas ideias democráticas, faz também parte da nossa história cívica, nomeadamente como deputado à Assembleia Constituinte.

É sempre triste constatar a morte de um dos nossos "Companheiros da Alegria". Particularmente num tempo em que, cada vez mais, "uma nota de quinhentos não se pode deitar fora".

domingo, fevereiro 05, 2012

Ben Gazzara (1930-2012)

Nunca foi um ator de topo. As suas origens italianas revelavam-se naquela postura, andar e olhar de "matador" que conferiam, às vezes, um tom algo vulgar e repetitivo a algumas das suas interpretações, dando a impressão de que se estava a representar a si próprio, numa espécie de Humphrey Bogart alatinado.

Só John Cassavetes soube trazer ao de cima o seu melhor, em especial no "The killing of a Chinese bookie". E embora muito longe de ser o seu melhor filme, não esquecerei nunca a Nova Iorque de Gazzara e Audrey Hepburn, no "They all laughed", magistralmente dirigido por Peter Bogdanovich.

domingo, janeiro 29, 2012

Curt Mayer-Clason (1911-2012)

Ontem, dei-me conta pelo jornais de que morreu, em Munique, com 101 anos, Curt Meyer-Clason.

O nome dirá pouco a gerações recentes, mas a cultura e a liberdade criativa ficaram a dever bastante a este alemão, que dirigiu o Instituto Goethe, em Lisboa, entre 1969 e 1976. 

Viveu duas guerras e duas derrotas alemãs. Durante a 2ª guerra mundial esteve internado num campo de "observação", no Brasil, onde estava como representante comercial, como estrangeiro suspeito, depois de Getúlio Vargas ter decidido mudar de posição em favor dos aliados. Foi na detenção que tomou conhecimento dos grandes escritores brasileiros, tendo-se tornado para sempre íntimo de Guimarães Rosa. Regressado à Alemanha, em 1954, editou e escreveu livros, tendo-se dedicado a traduzir e a fazer conhecer uma imensidão de autores de língua portuguesa e espanhola. 

Mas foi a chefia do centro cultural Goethe, ao Campo de Santana, onde me recordo dele a preponderar com uma pronúncia bizarra da nossa língua, que trouxe Meyer-Clason mais perto de alguns portugueses. O seu "Diários portugueses" dá conta desse tempo, sendo o livro um culto olhar estrangeiro sobre nós próprios. A instituição que chefiava funcionou com um saudável espaço de acolhimento, de que a cultura democrática portuguesa muito beneficiou. Rui Vieira Nery chamou-lhe "um polo insubstituível de produção artística de vanguarda e um espaço de liberdade criativa inusitada no meio das brumas da censura e da repressão". Sem partidarismos nem radicalismos, Meyer-Clason soube perceber os anseios de um certo Portugal e entender que por aí passava a chave do futuro do país.

Na hora do desaparecimento de Curt Meyer-Clason, e para que não se diga que a nossa memória se torna ingrata, quero aqui deixar uma palavra de saudade por um homem que também ajudou a construir a nossa liberdade.

terça-feira, janeiro 17, 2012

João

- "Ó homem! Você descanse! Esses lugares são infernais!"

- "Vou ver se aproveito o fim de semana..."

Este final de conversa telefónica, comigo a dar o conselho, teve lugar ao início da noite da passada 5ª feira. O João Teotónio Pereira, chefe de gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros, tinha sempre a atenção de me responder no próprio dia às chamadas que eu lhe fazia para o gabinete (raramente ligo para telemóveis de quem tem muito que fazer), talvez porque soubesse que nunca o incomodava por razões fúteis. Dessa vez, a conversa foi sobre dois temas de política externa que eu lhe havia anunciado como delicados, que nada tinham a ver com a França, mas que eram suficientemente importantes para, através do João, serem transmitidos ao nosso ministro. Interessou-se por eles e prometeu fazê-lo, logo que possível.

Já o tinha dito a amigos comuns: desde há meses, sentia o João cada vez mais cansado na voz, talvez stressado pelo ritmo intenso de um trabalho a que se dedicava com afinco e empenhamento. O João era um homem intenso, preocupado com tudo, diligente ao pormenor, de uma lealdade à prova de bala em relação ao seu e nosso ministro.

O João Teotónio Pereira era senhor de um sorriso saudável, num fácies "boyish", de uma alegria natural que promovia a relação pessoal e abria, com facilidade, a porta à amizade. Éramos de gerações diferente, nunca trabalhámos juntos - saiu de Paris, onde foi cônsul-geral, uma semana depois da minha chegada, o que só me deu tempo para lhe oferecer um breve almoço de despedida - mas tivemos sempre um excelente relacionamento, marcado pelo respeito e pela amizade. Nunca esqueci gestos de solidariedade que teve para comigo, em tempos menos fáceis.

Ontem, o coração deixou o João, aos 51 anos, no fim da linha da vida. 

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Paulo Martins (1946-2012)

Há dois dias, escrevi um mail a Paulo Martins, para o qual não tinha ainda obtido resposta. Há minutos, um amigo comum informou-me do seu falecimento.

Paulo Martins era um jornalista português que, desde há anos, residia no Brasil. Em Portugal, tinha trabalhado na rádio, na imprensa escrita e na comunicação institucional. Conhecemo-nos em Fortaleza, creio que em 2006. Deu-me então conta do seu grande interesse na figura de Aristides Souza Mendes e da sua ideia de levar a cabo, no Brasil, iniciativas para promover a divulgação da figura do cônsul perseguido pelo salazarismo. 

Em 2008, convidei-o a deslocar-se a Brasília, onde proferiu uma conferência sobre Souza Mendes, em paralelo com a palestra de um outro especialista sobre a figura de Souza Dantas, um diplomata brasileiro que, aqui em Paris, emitiu também vistos que salvaram a vida a refugiados durante a 2ª guerra mundial. Posteriormente, pediu-me um prefácio para um seu livro sobre exemplos éticos da diplomacia, tema que muito o seduzia, a que deu o título de "Humanistas da Lusofonia", de que só existe uma versão informática. Sei que teve também a intenção de desenvolver o projeto jornalístico "Ceará - Fórum empresarial".

Paulo Martins era um homem entusiasmado com a vida, a qual já lhe havia pregado algumas partidas. Deu-me conta, há tempos, de ter problemas graves de saúde, mas também de novos rumos familiares que muito o entusiasmavam. As coisas, como acabo de saber, ter-lhe-ão corrido menos bem, o que curiosamente nunca transparecia de correspondência que trocámos. Entristece-me a ideia de que não vou voltar a encontrá-lo, precisamente no ano em que é minha intenção aceitar um convite para ir fazer uma conferência a Fortaleza.

Um último abraço, Paulo.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...