Uma mulher a moderar quatro homens, para que eles não se engalfinhem. É o típico d(n)o género: as mulheres fazem perguntas, os homens debitam ideias e saber.
Realmente, fazia mais sentido que a comemoração fosse realizada em Aveiro, no espaço onde teve lugar (Cine-Teatro Avenida, actual Edifício Avenida, no espaço cultural do Avenida Café Concerto). Ainda assim, louvo os participantes por recordarem este decisivo acontecimento. Também jovem, assisti no balcão do Cine-Teatro Avenida (reservado aos simples militantes anónimos) às sessões do Congresso, e corri, fugindo pelas ruas de Aveiro, da polícia de choque que carregou sobre os manifestantes à saída do teatro. Passados 50 anos, do que me lembro de tudo o que foi dito no Congresso? Apenas da comunicação de Medeiros Ferreira, refugiado na Suiça, e lida no Congresso (já não sei por quem?) defendendo que “o regime do Estado Novo só podia ser derrubado pelos militares”, contrariando a maioria das teses das diversas correntes democráticas. Foi uma premonição notável do futuro que o 25 de Abril viria a revelar. Post Scriptum: A talhe de foice, vale a pena recordar o que o actual Presidente da República pensava sobre o Congresso de Aveiro (in «Cartas Particulares a Marcello Caetano», organização e selecção de José Freire Antunes, vol. 2, Lisboa, 1985, p. 353): «Excelentíssimo Senhor Presidente (do Conselho), Excelência, Pedindo desculpa do tempo que tomo a Vossa Excelência, vinha solicitar alguns minutos de audiência (…). Seria possível, Senhor Presidente, conceder-me os escassos minutos que solicito? (…) Acompanhei de perto (como Vossa Excelência calcula), as vicissitudes relacionadas com o Congresso de Aveiro, e pude, de facto, tomar conhecimento de características de estrutura, funcionamento e ligações, que marcam nitidamente um controle (inesperado antes da efectuação) pelo PCP. Aliás, ao que parece, a actividade iniciada em Aveiro tem-se prolongado com deslocações no país e para fora dele, e com reuniões com meios mais jovens. Como Vossa Excelência apontou, Aveiro representou, um pouco mais do que seria legítimo esperar, uma expressão política da posição do PC e o esbatimento das veleidades «soaristas». O discurso de Vossa Excelência antecipou-se ao rescaldo de Aveiro e às futuras manobras pré-eleitorais, e penso que caiu muito bem em vários sectores da opinião pública. Com os mais respeitosos e gratos cumprimentos, Marcelo Rebelo de Sousa
4 comentários:
Uma mulher a moderar quatro homens, para que eles não se engalfinhem.
É o típico d(n)o género: as mulheres fazem perguntas, os homens debitam ideias e saber.
Peço desculpa, também haverá uma mulher a debitar ideias, confundi Luísa com Luís.
fazerem a comemoração em aveiro é que seria de valor.
Realmente, fazia mais sentido que a comemoração fosse realizada em Aveiro, no espaço onde teve lugar (Cine-Teatro Avenida, actual Edifício Avenida, no espaço cultural do Avenida Café Concerto). Ainda assim, louvo os participantes por recordarem este decisivo acontecimento.
Também jovem, assisti no balcão do Cine-Teatro Avenida (reservado aos simples militantes anónimos) às sessões do Congresso, e corri, fugindo pelas ruas de Aveiro, da polícia de choque que carregou sobre os manifestantes à saída do teatro.
Passados 50 anos, do que me lembro de tudo o que foi dito no Congresso?
Apenas da comunicação de Medeiros Ferreira, refugiado na Suiça, e lida no Congresso (já não sei por quem?) defendendo que “o regime do Estado Novo só podia ser derrubado pelos militares”, contrariando a maioria das teses das diversas correntes democráticas.
Foi uma premonição notável do futuro que o 25 de Abril viria a revelar.
Post Scriptum: A talhe de foice, vale a pena recordar o que o actual Presidente da República pensava sobre o Congresso de Aveiro (in «Cartas Particulares a Marcello Caetano», organização e selecção de José Freire Antunes, vol. 2, Lisboa, 1985, p. 353):
«Excelentíssimo Senhor Presidente (do Conselho),
Excelência,
Pedindo desculpa do tempo que tomo a Vossa Excelência, vinha solicitar alguns minutos de audiência (…). Seria possível, Senhor Presidente, conceder-me os escassos minutos que solicito? (…) Acompanhei de perto (como Vossa Excelência calcula), as vicissitudes relacionadas com o Congresso de Aveiro, e pude, de facto, tomar conhecimento de características de estrutura, funcionamento e ligações, que marcam nitidamente um controle (inesperado antes da efectuação) pelo PCP. Aliás, ao que parece, a actividade iniciada em Aveiro tem-se prolongado com deslocações no país e para fora dele, e com reuniões com meios mais jovens.
Como Vossa Excelência apontou, Aveiro representou, um pouco mais do que seria legítimo esperar, uma expressão política da posição do PC e o esbatimento das veleidades «soaristas».
O discurso de Vossa Excelência antecipou-se ao rescaldo de Aveiro e às futuras manobras pré-eleitorais, e penso que caiu muito bem em vários sectores da opinião pública.
Com os mais respeitosos e gratos cumprimentos,
Marcelo Rebelo de Sousa
Enviar um comentário