Num almoço ontem, no Institut Français des Rélations Internationales, alguém perguntava ao embaixador da China, com uma legítima preocupação, como é que ele avaliava o impacto negativo sobre o mercado internacional de produtos alimentares de fenómenos como as inundações na Austrália, os fogos do ano passado na Rússia ou as secas que assolam muitas zonas de produção no mundo.
A resposta do meu colega chinês foi esclarecedora: dado que a China tem cerca de 1,3 biliões de habitantes, a preocupação central dos seus governos, nos últimos 60 anos, tem sido garantir a segurança e a autonomia alimentar dessa mesma população. Porque a China sabe bem que, em caso de crise alimentar mundial, "ninguém tem capacidade de a ajudar", o país tem, essencialmente, que se preocupar com as suas própria crises.
Uma resposta como esta ajuda-nos a medir, com mais acuidade, a escala quantitativa de um Estado como a China, fundamental para se entenderem algumas das suas opções, seja em matéria de políticas públicas, seja no campo internacional.
Numa nota mais ligeira, o meu colega chinês deu conta, aos presentes nessa refeição, de uma frase magnífica do príncipe Alberto II do Mónaco, por ocasião de um recente encontro entre autoridades chinesas e monegascas: "a importância da relação sino-monegasca é testemunhada por esta importante realidade: quase um em cada quatro cidadãos do planeta pertencem à soma conjugada das populações do Mónaco e da China"...