segunda-feira, abril 17, 2023

Fresquinhas!


Recebi novas análises, "fresquinhas", saídas do laboratório. Olho para os números com a ignorância atrevida do hipocondríaco que sou. As normais dão-me alibi para novas comezainas, as desviantes só apelam a mais medicação. Tudo exceto mudar de vida: caminhadas, dietas, privações.

19 comentários:

Sérgio Nunes disse...
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manuel campos disse...


Pois ainda bem!
Força nisso que assim ainda nos aturamos mais uns 70 anos pelo menos.

Dietas e privações não são comigo, para grande escândalo de amigos e conhecidos com os seus cházinhos e torradinhas o jantar em casa é a minha refeição mais completa, sopa, prato, fruta, queijo ou pâtê com bolachinhas, vinho tinto e um whisky para rebater (isto todos os dias, até às 3 ou 4 da manhã costumo desmoer tudo).
Caminhadas já são comigo porque gosto muito de andar, mas tenho que ír distraído com o mundo que nos cerca, nada como aqueles que fazem todos os dias os mesmos percursos em sítios mais ou menos desertos.
Hoje fui à Baixa onde andei por ali umas 3 horas, mais 1/2 hora para almoçar num daqueles raros restaurantes que ainda têm toalhas de pano.
Achei aquilo muito triste para o que é costume, Rua Garrett e Rua do Carmo quase vazias, fila para o elevador de Sta Justa inexistente quando costuma ír pela escada acima, na Rua do Ouro ao meio-dia contavam-se os carros à vista para um lado e para o outro, na FNAC e na Bertrand só lá estava eu (brinco, estava mais gente mas pouca).

Cá por casa e por força de situações muito e mesmo muitíssimo complexas a toda a nossa volta e de ter que lidar com elas há muitos anos, felizmente que não somos hipocondríacos e, pelo contrário, somos os dois bons leitores de folhas de análises e de exames radiológicos de todos os tipos e feitios.
Tanto assim é que um número razoável de amigos e conhecidos nos "consultam" vai não volta antes de irem a correr ao médico ou de se deixarem operar a coisas simples que se está mesmo a ver que não são para operar amanhã.
Para além disso chegamos, tanto um como outro, a debater com os médicos a oportunidade de realizar este ou aquele exame já ou só daqui a uns meses, de onde se prova que há pessoas estranhas e com uma boa "pancada" (nós).

Como me desleixei um bocado com isso das análises e exames nos últimos "não digo quantos" anos, antes de levar (mais) uma "tareia" conjugal resolvi fazer o que se chama uma "geral" em Dezembro passado.
Em Janeiro estava a repetir quase tudo, o meu novo médico (particular) achava que algo não batia bem tratando-se um idoso que nem sabia onde tinha as ultimas analises.
A realidade é que não tenho um único valor fora dos limites consagrados e até o raio do colesterol está tão baixo que começa a ser preocupante (não deve descer abaixo de determinados limites, na última semana quase só comi porco ibérico).

Juntando as três ecografias da praxe, o RX, um TAC por causa de uma teima,
o ecocardiograma, o MAPA 24 horas concluiu-se que posso continuar como estou desde sempre, a saber, sem tomar comprimidos para nada.
Claro que há ali uma "peça" que cresceu, mas nos homens desta idade é normalíssimo.

Portanto que fique claro, não façam o que eu fiz, a sorte não dura sempre e eu sei que tenho tido muita sorte nos últimos 76 anos.
Mas também é um facto que ter consciência de sintomas, não resolvendo o que já não tem resolução, previne o que ainda tem prevenção.
E nisso somos muito atentos por aqui, o que já foi determinante por mais de uma vez.

Luís Lavoura disse...

Eu também comecei a ter tensão alta, mas em vez de reduzir o sal o que fiz foi passar a tomar um comprimido diário para a baixar. Por enquanto vai funcionando...

Francisco disse...

Óptimas notícias, que todos seguramente, mas de modo particular nós, os sócios honorários do clube dos hipondríacos, celebramos de sorriso estampado.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Isso é que é preciso, Sr. Embaixador.

Rica genética, Manuel Campos.

Muita e boa saúde para todos.

Flor disse...

Sr. Embaixador desculpe a pergunta: Colesterol e triglicéridos como é que estão? É que fazer tantas refeições nos restaurantes às vezes há surpresas ;)

Flor disse...

Boa tarde Manuel Campos! E se em vez do whisky fizer uma caminhadazita, estilo ir com o cão dar um passeio higiénico? :)

manuel campos disse...


Flor

Bebo vinho tinto a todas as refeições há 60 anos (desde os 16/17), como já aqui contei meu Pai ensinou-nos a beber em casa para evitar que aprendessemos com os amigos, o que dá sempre mau resultado, eu entretanto fiz o mesmo com os filhos e agora com os netos, todos maiores de idade, todos são discretos bebedores, tal como eu (só um bebe whisky, os outros não sabem o que perdem).
Nunca bebo em jejum, nem sequer provo o vinho nos restaurantes antes de ter comido qualquer coisa que se veja, se o vinho estiver esquisito vou sempre a tempo de refilar, nada pior do que alcool com o estomago vazio.

Também já contei aqui que nunca fiquei "com os copos" em toda a vida e, mais ainda, que durante os meus tempos de tropa obrigatória que coincidiram com o PREC, aí num muito peculiar quartel, era o único sóbrio ao fim da noite, o que bem me tramava pois tinha que carregar com os outros oficiais em carrinhos daqueles de jardim até aos quartos.

Bebo um whisky depois de jantar há 50 anos (desde os 24/25 anos), todos os dias do ano, sem falta, se jantar fora guia minha mulher de volta ou só bebo quando chegar a casa, provavelmente uma análise de sangue mais cuidadosa demonstraria que tenho "algum sangue no alcool".
Como só bebo água quando tenho sede (desde que nasci) e se não tiver sede não bebo por obrigação, suponho que as excelentes análises se devem ao facto de estar "conservado em álcool", o que se traduz por um reforçar da "rica genética" de que fala o nosso amigo Francisco de Sousa Rodrigues.

Uma caminhadazita com o cão é que é mais complicado: ninguém me empresta um, acho que não confiam em mim.
Ainda tentei que me alugassem um quando dos confinamentos para poder andar por aí à vontade mas andavam a pedir muito, há sempre oportunistas nas crises.
Cães ou gatos não se têm nunca em apartamentos quando lá vive alguém com cuidados respiratórios variados.
Na casa do interior do país já se podem ter porque têm 3000 m2 para correr e dormem num armazém novo com 30 m2.

Mas como ando por Lisboa 3 a 4 horas por dia como já tenho contado aqui (ainda ontem como contei, hoje outra vez e amanhã se estiver vivo), não preciso de razões para as caminhadas, vou mesmo sem razões porque gosto mesmo de andar (tenho um IMC de 25 Kg/m2, exacta e precisamente a meio da escala do "normal" que vai de 20 a 30).

Se me tirassem o whisky depois de jantar nunca mais consegiria escrever duas linhas seguidas de jeito (se já com ele é o que se vê...).
Mas agradeço o cuidado.



manuel campos disse...


Escrevi, escrevi e, claro, esqueci-me do mais importante, um lema de vida apropriado à conversa.
Aqui vai:
"À força de se querer viver até aos 100 anos, as pessoas privam-se de tudo aquilo que justifica que se viva até aos 100 anos."
Que sirva a quem servir, a mim vai-me servindo.

Como nota final não quero deixar no ar a ideia de irresponsabilidade ou de brincar com assuntos que para muita gente são muito sérios, fácilmente estas coisas que se dizem meio na brincadeira são mal interpretadas.
O facto de eu ter a saúde que pelos vistos tenho não me impedirá de amanhã ter um problema gravíssimo e sem solução, como ontem disse aqui em casa "sabe-se" muito de temas de saúde mas por razões que a nossa vida dos últimos 10 anos nos "obrigou" a saber.
E é decerto por isso mesmo, por se "saber" muito e se ter "passado" por mais ainda, que é possível encarar estes temas de uma forma muito racional e pragmática, sem dramas.
Quem nunca teve que conviver com situações extremas assusta-se mais depressa, como em tudo na vida.

manuel campos disse...



Muito boa mesmo a menção aos "sócios honorários do clube dos hipondríacos".

Já que não posso ser sócio por manifesta falta de condições da minha parte, será que poderia colaborar na prossecução dos fins do clube como "Sócio Benemérito", para tal obrigando-me a contribuir com um convite semestral aos sócios honorários para uma lauta refeição à base de frutas, vegetais e cereais integrais, profusamente regada a água mineral natural?

Não sendo sócio honorário e apenas benemérito limitar-me-ei a assistir e a pagar, claro.
Depois logo irei almoçar.


manuel campos disse...


A tempo.

A prossecução dos objectivos que "DEVIAM SER" os do clube, claro.

Sérgio Nunes disse...
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manuel campos disse...


Sérgio Nunes

Pois vejo que tem a sua dose de maus momentos e não foi pequena dose.
Parece-me assim adequado o que eu escrevi acima a terminar um comentário: "Quem nunca teve que conviver com situações extremas assusta-se mais depressa, como em tudo na vida."
Desejo-lhe mais que os 30 anos que me deseja, é mais novo.

Não é por acaso que, como disse, levo muito a sério saber tudo o que fôr possível sobre problemas de saúde bem reais, não os tenho mas sou uma "ilha" na família, tive e tenho muita sorte com a minha saúde, é vulgar ouvir entre os meus "tu não podes adoecer!", daí as criticas deles ao meu desleixo com esses assuntos, que me trouxeram às historias que aqui contei com o bom humor possível e necessário, tem que ser assim porque "ainda cá estamos, desistir nunca".
E também, claro, ao modo como encaro as excessivas preocupações com doenças "que se possam vir a ter", que me permito tratar de forma leve com pessoas que são as primeiras a reconhecer essa sua maneira de ser, como aconteceu aqui, mas que me afastam totalmente dos "hipocondríacos militantes" para quem não tenho a menor dose de paciência e sou mesmo bastante indelicado quando calha.
Acontece que estes últimos, quando começam a contar-me os "seus dramas" vão por ali fora e, quando me perguntam pela família, me ouvem constatar (eu só constato) os últimos 10 anos, passam a atravessar a rua quando me vêem ao longe não sei se envergonhados dos "seus dramas" ou receosos de ficarem com mais preocupações dos que as que já têm.

Nunca se deve partir do princípio que quem nos aparece sempre com um ar normal e até aparentemente bem disposto tem menos problemas que nós ou que quem nos aparece sempre com um ar acabrunhado.
São apenas duas pessoas muito diferentes nas suas vivências e no seu modo de estar e olhar a vida, eu não tenho hoje nada a ver com a pessoa que era há 10 anos, tive que mudar e muito.
Ainda que como acompanhante, nos últimos 10 anos não me lembro de um único mês sem várias consultas ou exames de alguém muito próximo (se possível várias no mesmo dia para evitar complexas deslocações), no SNS ou num hospital privado conforme os casos, já falei nisso aqui mais de uma vez.
E não eram familiares muito próximos com 90 anos, nem sequer 70 ou mesmo nem sequer 50.
À bon entendeur...

manuel campos disse...


Ponto da situação das caminhadas.
Por hoje é o último, em princípio.
Se os faço é porque também sei que muita gente que não as faz, porque não quer ou porque não pode, talvez sinta que as fez comigo.

Vejo-me de há uns tempos a esta parte outra vez com bastante tempo livre, é o que é e nem sempre é bom sinal.
Portanto hoje segui os conselhos de Carlos do Carmo em “Lisboa menina e moça” e saí para passear na "minha terra".
Subi à Graça (a pé!) pois que “…da Graça, eu vejo-te nua - Quando um pombo te olha, sorri - És mulher da rua” pois aquele é o “…bairro mais alto do sonho”.
Depois fui descendo e “No Castelo, ponho um cotovelo - Em Alfama, descanso o olhar - E assim desfaço o novelo - De azul e mar”, passei à Sé, até que finalmente “No Terreiro, eu passo por ti”.
Ali das Portas do Sol e até à Sé centenas de turistas parados no meio daqueles passeios larguíssimos, habitualmente excitados com a perspectiva de fotografar um “yellow tram”, fico ali delicadamente parado vezes sem conta à espera que apanhem o melhor ângulo e nem um gesto de agradecimento, conforme percebo que são franceses, ingleses, espanhóis ou alemães comento na língua deles que “dizer obrigado é sempre simpático”, muitos ainda se ofendem, a minha conversa a partir daí já é em português, nem sempre amável de parte a parte, vale que só eu percebo o que eles dizem, a inversa nunca acontece.

A Baixa que encontrei não tinha nada a ver com a Baixa de anteontem.
Cheia de gente, a Rua do Ouro com o transito completamente engarrafado.
Até na FNAC havia filas para pagar, fui lá buscar um livro sobre a "Harley- Davidson" para oferecer a um neto que começou agora a ganhar a vida e a coleccionar estas coisas (as motos, não os livros).

Minha mulher lembrou-me agora que o turista a pé ou em tuk-tuk tem muito a ver com o número de arranha-céus flutuantes ali em Sta Apolónia (o que é bem verdade), já o transito automóvel não terá explicação tão óbvia.
Lá almocei no sítio do costume mas comi mal, os restaurantes cada vez mais vazios fazem menos quantidade de comida, quem chega às duas da tarde só para comer qualquer coisa e não quer fazer sala, fica sujeito ao que há, que é o que os outros não quiseram, entre uns fraquitos pastéis de bacalhau com feijão frade a 9€ a meia dose e um arroz de lampreia a 30€ a escolha não é complicada.

À volta já não vim a pé, à falta de chapéu adequado para andar ao sol.
Com isto de ser delicado e levar a mão ao chapéu quando me cruzo com toda a gente aqui na zona, o meu Panama genuíno ficou tão ratado que teve que ser dispensado e um Panizza não menos genuíno não é de todo o chapéu ideal para a época, já percebi que amanhã tenho que resolver esta terrível contrariedade.

Sérgio Nunes disse...
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manuel campos disse...


Sérgio Nunes

Das pernas certamente, especialmente nas subidas que não faltam em qualquer destes percursos lisboetas.
Da imaginação também, quando se quer qualquer ninharia a leva longe.
Dos olhos é que já não garanto, vê-se muita situação que bem se dispensava ver mas, como sempre, o balanço que se faz acaba por ser positivo, há sempre algo para aprender.

O melhor exercício que existe é andar normalmente (o outro é nadar mas aí é preciso ter água suficiente, para andar há sempre chão que chegue).
Quando volto das nossas idas ao Guincho, que agora iremos retomar com regularidade depois de um ano “diferente” (quando acabem por aqui umas questões que faltam resolver), até faz impressão a quantidade de gente suficientemente idosa para já ter algum juízo que, pela Marginal fora, se esfalfa com os bofes de fora, passe o pleonasmo.
Bastava andarem naturalmente, não sei quem lhes meteu na cabeça que aquilo que praticam é saudável, o corpo humano não deve ser chocalhado assim e muito menos a partir de determinadas idades e eventuais condições de saúde, ainda sai (ou cai) alguma coisa do sítio.

Sempre andei muito a pé, já quando trabalhava fazia questão de ser metade do dia a tratar das burocracias no gabinete, a outra metade era para dar a volta às instalações todas das empresas e falar com toda a gente, fosse de trabalho, fosse dos filhos, dos sogros ou dos males de amor (instalações industriais, não era ali uma voltinha nas alcatifas).
No último ano isso não foi possível de todo, agora irei retomar o hábito, que bem noto a falta que me faz, ainda que 1 km por dia nunca me faltou, com o carro num estacionamento privado a 400 mts de casa, entre ida e vinda 800 mts eram garantidos, com mais 100 mts para cada lado no destino.

Fui lá espreitar o seu post.
Aquele aeródromo sempre esteve mal aproveitado, na minha opinião, mas não sei qual a utilização actual.
Aqui há uns 30 anos ía com frequência para aqueles lados e tinha por habito almoçar no restaurante do “Clube de Caçadores”, era bem simpático (não era preciso ser sócio, qualquer um lá podia comer).

Sérgio Nunes disse...
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manuel campos disse...


Por isso têm todas mais de 80 anos.
Terão trabalhado no duro, vivido com imensas dificuldades, mas não cometeram os erros de quem passou a vida sentado de dia numa cadeira e ao serão num sofá e acha que resolve o problema a correr e a pular duas horas por semana.
Vá que no ginásio ainda possa haver algum acompanhamento técnico.

Quem vive na cidade, onde em todos os bairros continuam a viver os agora idosos que sempre lá moraram desde novos, verifica como cada vez mais se vê cada vez menos (jogos de palavras...) gente com mais de 65/70 anos a "mexer-se bem".
Ainda ontem, quando voltávamos para casa, calhou cruzarmo-nos com algumas dessas pessoas que já não víamos há algum tempo e só dizíamos um ao outro "Como aquele/a está!"

Se calhar eles pensam o mesmo de nós ainda que não me pareça, eu ainda ando uns bons quilómetros todos os dias e dou uma corrida para apanhar o autocarro, minha mulher anda pouco porque as coisas são o que são, mas não tem uma única ruga.

A partir aí dos 50 anos aderimos todos sem excepção a um estado de espírito original, o de que toda a gente da nossa idade nos parece bem mais velha que nós.

Sérgio Nunes disse...
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Vou ler isto outra vez...