Ver aqui.
Nessa altura, foram muitas mais as horas de negociação, pela madrugada dentro, que permitiram conseguir chegar a conclusões que, sob proposta portuguesa, juntaram países politicamente tão distantes como a Rússia e os Estados Unidos, ou a Arménia e o Azerbaijão, com bastantes outras notórias conflitualidades pelo meio. No final, o acordo obtido foi formal e rapidamente aprovado pelos ministros, como é de regra.
Nunca, desde então, qualquer outra presidência anual da OSCE voltou a ser capaz de assegurar posições comuns no seio de toda a organização.
Há dois anos, tive o gosto de ser convidado a ir a Viena, à sede da OSCE, para recordar essa experiência, que ficou bem gravada na memória daquela instituição.
Foi graças a uma fantástica equipa de diplomatas, técnicos e oficiais das Forças Armadas, que então me coube chefiar, e que havia sido organizada pelo meu antecessor no posto, embaixador João Lima Pimentel, que foi possível atingir aquele resultado, para o qual muito contribuiu também o meu "deputy", embaixador Carlos Pais.
Porque, à época, a hipótese de um fracasso nos acompanhou até muito tarde, ver cumprido com total êxito o nosso objetivo deu muito mais gozo.
Não sei se já apareceu, mas não deve tardar muito até um desses maluquinhos das teorias da conspiração vir aventar: "Não é por acaso que o golpe do Prigozhin surgiu logo depois da reunião do Bilderberg em Portugal..."
Com quase cem anos, morreu ontem Luís Saias. É provável que o seu nome diga pouco a muita gente. Saias era um estimável democrata algarvio, deputado do PS, amigo de Mário Soares, que, para surpresa de muita gente, foi chamado para ministro da Agricultura e Pescas, no governo PS/CDS, em 1978.
Luís Saias esteve apenas sete meses no governo e, ao que consta, teria sido a sua política no setor o pretexto - há quem diga não ter sido essa a real razão - que o CDS encontrou para se dissociar daquele bizarro "acordo parlamentar de incidência governativa", como genialmente Jaime Gama então o qualificou à inédita aliança entre os socialistas e os democrata-cristãos.
No seu curto mandato, Luís Saias foi a Israel, com o objetivo de estabelecer programas de cooperação no setor agrícola. Vivia-se um tempo de aproximação entre Portugal e aquele país, então sob governo trabalhista. A visita de Saias era, creio, a segunda que um governante português fazia a Israel, depois de Salgado Zenha. À época, as relações entre os dois países eram ínfimas e não havia embaixadores mutuamente acreditados, embora Israel tivesse uma estrutura consular em Lisboa. Como responsável pelo "desk" do Médio Oriente e Magrebe, no setor económico do MNE, fui encarregado de integrar a comitiva do ministro.
Antes da partida da nossa delegação, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Victor Sá Machado, figura grada do CDS, chamou-me ao seu gabinete e transmitiu-me instruções bem precisas - e extremamente assisadas - sobre aquilo que, durante a visita, deveria ser dito, em nome de Portugal, sobre a questão israelo-árabe. Lembro que, de forma delicada, sugeri que talvez fosse melhor o colega de governo de Sá Machado ser o destinatário direto dessas instruções diplomáticas. Sá Machado sorriu: "Espero que você faça o seu melhor". E lá segui para Israel, com instruções políticas muito precisas, que um governante do CDS queria que um ministro do PS seguisse, comigo a servir de intermediário.
A visita correu de forma simpática. Na conferência de imprensa final, ao ser inquirido pelos jornalistas sobre algumas questões mais sensíveis, o nosso ministro respondeu em português. Eu ia traduzindo as perguntas e as respostas, ou melhor, interpretando criativamente estas últimas para inglês. No final, quando nos levantámos da mesa, Saias disse-me, um tanto desagradado: "Percebi que você não traduziu exatamente aquilo que eu disse". Tive uma imensa tentação de lhe responder: "Eu apenas disse em inglês aquilo que o senhor ministro deveria ter dito em português". Mas contive-me, por óbvias razões, e devo ter dado uma resposta elíptica. Julgo que Luís Saias, que era um homem prudente e sensato, terá percebido a dificuldade do meu papel naquela que terá sido a sua única viagem diplomática.
Abro, contudo, uma exceção. De quando em quando, passo pelo "Delito de Opinião", um espaço situado numa freguesia política distante da minha mas que mantém uma boa qualidade e uma notável constância de publicação. E é tudo, na minha leituras de blogues, nos meses mais recentes!
O "Delito", sendo embora um blogue coletivo, parece-me essencialmente mantido pela incansável mão de Pedro Correia, um jornalista de vasta cultura - da literatura ao cinema e à música. O Pedro tem, como ódio de estimação, o Acordo Ortográfico, no que se junta a muito boa gente (que não a mim, embora peça para que o tema não se pendure nos comentários a este post). O Pedro, que julgo ter conhecido no Brasil e com quem um dia tive um belo almoço, é de uma saudável teimosia na gestão do seu blogue. Enquanto, por este meu espaço, se cultiva o improviso e um certo caos lúdico, o Pedro Correia capitaneia o "Delito" com ordem e constância. Sempre que por lá passo, reconheço esse magnífico esforço.
Há anos, o Pedro Correia teve a ousadia de pedir ao José Ferreira Fernandes e a mim para elaborarmos um prefácio e um posfácio (já nem sei quem ficou com uma coisa e com a outra) para um "best of" editado do seu blogue. Digo "ousadia" porque ele sabia que ambos os escribas nada tinham em comum com a orientação predominante no "Delito", embora comungassem uma admiração pela boa escrita que por lá se pratica e um grande respeito pelo seu exercício continuado desde 2009 (isto é, a mesma idade deste meu "Duas ou Três Coisas").
Por que falo no Pedro Correia hoje? Desde logo, porque, há minutos, passei pelo "Delito de Opinião". Mas também por outra razão. Porque entendo que talvez não haja ninguém mais qualificado do que ele para montar uma operação, que me pareceria interessante, de inventário daquilo que, nos dias de hoje, ainda sobra da blogosfera nacional com alguma valia. Seria um belo serviço público, digno do estatuto do "Delito" e do currículo de trabalho de Pedro Correia, a quem aproveito para enviar um cordial abraço de admiração e estima. Se acaso não estiver virado para aceitar a minha ideia, não se fala mais do assunto e amigos como sempre!
Alguns amigos têm perguntado por que razão, ao contrário do que acontecia no passado, deixou de haver, por aqui, textos mais ou menos "sérios", seja sobre política externa, seja sobre temáticas nacionais. Ao invés, dizem eles, abundam cada vez mais neste espaço "textículos" curtos, quase caricaturais, pouco profundos e nada argumentativos. Esses amigos sentem hoje a falta de outro tipo de "posts".
Vou tentar explicar o que aconteceu.
Este blogue começou por ser uma espécie de "coluna" de imprensa. Depois, com o tempo, mudei-me para a imprensa propriamente dita: passei a escrever, sucessivamente, no "Diário Económico", no "Jornal de Notícias", no "Jornal de Negócios" e no "Jornal Económico", com colunas regulares. Esses artigos eram reproduzidos, simultaneamente, aqui no blogue.
A decisão de deixar de escrever em jornais, com regularidade, fez estancar essa fonte principal dos textos "sérios" que alimentavam este blogue. (Não estou minimamente arrependido dessa decisão. Nem imaginam o sossego que tem sido!)
Às vezes, se acaso me apetece, escrevinho alguma coisa para o site da CNN Portugal, reproduzindo depois por aqui. Outras vezes, a convite ou por amável acolhimento a propostas minhas, voltei a publicar artigos em alguns dos já referidos jornais e também no "Diário de Notícias", no "Observador", no "Novo", no "Público", no "Expresso", na "Visão" e em outros pousos mediáticos, como é o caso de "A Mensagem de Lisboa". Mas são ocasiões pontuais, tanto mais que a minha compulsão para escrever não é muita, nos dias que correm.
Isto significa que, o mais das vezes, este blogue reproduz aquilo que, diariamente, publico no Twitter: textos muito curtos, graçolas, de "rajada", simples na forma e, claro, menos desenvolvidos na argumentação. Além de outras coisas, claro, mais simples ou mais desenvolvidas, à luz da única lógica que, nos dias de hoje, me orienta: o que me apetece! O facto de, por vezes, ir falar a televisões e também manter, desde há mais de dois anos, um "podcast" semanal de cerca de 30 minutos - em ambos os casos sobre temas internacionais -, esgota a minha atual disponibilidade para a expressão pública regular sobre coisas "sérias".
Alguma coisa pode vir a mudar? Talvez. A vida "é feita de mudança". Mas, podem crer, do futuro sei tanto como os que me leem...
Trump está metido numa bela embrulhada.
Depois do episódio da "piquena" subornada com fundos de campanha para se manter calada, surge agora o caso da documentação classificada que levou com ele, antes de sair da Casa Branca. No "pipeline" estão também as pressões feitas, na sequência das eleições de 2020, aos responsáveis políticos do estado da Geórgia, para tentar reforçar a sua votação. E falta ainda apurar as eventuais culpas no cartório no tocante ao criminoso assalto ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.
Trump vai ter muito com que se entreter e os americanos também.
Os candidatos que têm vindo a surgir no campo republicano hesitam, por ora, em puxar o tapete àquele que continua a ser, a grande distância, a figura mais popular do seu campo, no caminho para as eleições primárias que escolherão quem irá enfrentar Joe Biden, a caminho da "terça-feira mais próxima da primeira segunda-feira do mês de novembro no próximo ano par que aí vier" - esta é a mnemónica para definir a data de próximas eleições regulares nos EUA. Vale a pena relembrar que, nesse dia, será também renovado 100% da Câmara dos Representantes, um terço do Senado e serão eleitos governadores em alguns estado. E todos os candidatos a esses órgãos têm que refletir bem na forma como se definem face a quem teve largas dezenas de milhões de votos, dentre os quais há uma larga percentagem que não perdeu a fé em vê-lo regressar à Casa Branca.
Isto vai ter imensa graça.
A ver se nos entendemos. O presidente da AR, pelo regimento, não pode impedir um deputado de dizer dislates. Mas, pela ética e pela decência...