sexta-feira, julho 07, 2023

Não, não vale tudo

A questão das armas de fragmentação estabelece uma fronteira moral entre os aliados. E isto nada tem a ver com a Ucrânia. Tem a ver com a decência.

Nunca mais é sábado!

O secretário de Estado demitiu-se na sexta-feira. Quem mandou o "Expresso" deixar de sair aos sábados?

Ah! Pois é!

O PS concordou com o regresso dos debates quinzenais com o primeiro-ministro. Sem querer ser desagradável para ninguém, não se está mesmo a ver que quem ganha com esta decisão é António Costa? Ou já viram o primeiro-ministro perder um desses debates? Costa sabe-a toda...

quinta-feira, julho 06, 2023

O café da Caravela e o bilhete do comboio


Até há alguns anos, havia na Praça da República, em Viana do Castelo, junto ao chafariz, a esplanada da Caravela. Quando passava pela cidade, gostava de me sentar por ali a digerir, com um café, a pilha de jornais e revistas que sempre comprava (hoje compro cada vez menos imprensa em papel) na excelente, e felizmente eterna, tabacaria situada da esquina da praça com a rua Manuel Espregueira.

Nessas ocasiões, a minha mulher, com quem eu entrava numa intravável meia hora de conjuntural incomunicabilidade, atravessava a praça e entrava na Adolfo Dominguez. Vinte minutos depois, surgia com uns sacos de roupa. Feitas as contas, a paragem para um café na praça tinha saído "uma nota". Entre nós, passou, para sempre, a dizer-se que o café na Caravela era o mais caro do mundo! 

A que propósito vem isto? 

Desde há uns anos, descobri que, em três estações de comboio, em Lisboa e no Porto, existem umas lojas de venda de restos de edições de livros, a preços magníficos. São coisas que as livrarias normais já não devem aceitar. Há por ali de tudo, maioritariamente monos ilegíveis, lado a lado com livros bem curiosos para gente curiosa sobre quase tudo, como ainda é o meu caso. E como faço parte daqueles que vão para os comboios (para os aviões também) com imenso tempo de antecedência, já incluí na minha rotina passar uns minutos naquelas lojas.

Hoje, tendo chegado à estação bem antes da hora do comboio, lá fui direito ao meu novo vício. A imagem mostra aquilo que dali trouxe: um pequeno estudo de Vasco Pulido Valente que não recordo ter lido, o primeiro volume de uma conhecida crónica satírica sobre a presidência de Nicolas Sarkozy, um livro de conversas conduzidas por Artur Portela e um outro de ensaios do "Otavinho" Frias, diretor da Folha de São Paulo, que conheci no Brasil e que morreu há cinco anos. Tudo isto por pouco mais de 10 euros! 

O preço dos bilhetes de comboio têm um desconto para seniores, modo elegante de designar os velhos que somos, mas, pelo menos no meu caso, passaram a ter o que podemos qualificar como uma sobretaxa para curiosos obsessivos, como também me orgulho de ser. 

quarta-feira, julho 05, 2023

"O Marcelo"

"O Marcelo" é isto e aquilo, "já não se pode ouvir" e coisas assim. Mas, se adoece, parte do país é atravessada por uma pré-orfandade, o que prova que, na realidade, os portugueses gostam dele, se sentiriam inseguros sem ele e sem a sua ubiquidade. As melhoras, caro presidente!

Tape

Tenho a sensação de que o relatório da comissão parlamentar à TAP interessa muito pouco. A obsessiva transmissão televisiva das sessões da comissão fez com que cada português tivesse entretanto criado a sua verdade. Se coincidir com o que o relatório diz, ele é bom. Se não...

E cá?

É muito sintomática a atitude da direita espanhola ao dizer que, se vier a ser mais votada, espera que a esquerda a ajude a dispensar a necessidade da extrema-direita para governar. Portanto, a direita não rejeita em absoluto a extrema-direita, apenas "passa a bola" à esquerda.

terça-feira, julho 04, 2023

Empregos

Em Portugal, há negócios que remuneram mal os seus trabalhadores, embora sejam muito lucrativos. Não é desses que vou falar.

Falo da imensidão de pequenos negócios, em geral no comércio e serviços, que geram lucros ínfimos e que, naturalmente, oferecem salários muito baixos. São tarefas que há cada vez menos portugueses a quererem aceitar, muitas das quais por serem penosas, em outros casos, por estarem socialmente desqualificadas. Os negócios pouco lucrativos oferecerão sempre, necessariamente, baixos salários. Ou isto não é uma evidência?

Não será por acaso que, para a execução dessas tarefas, apenas se oferecem estrangeiros oriundos de sociedades mais pobres, para quem o pouco que lhes pagam em Portugal acaba, não obstante, por ser interessante. Quem se lembra das tarefas executada pela emigração portuguesa que ia para a Europa dos anos 70 percebe do que falo.

Por isso, querer dificultar o acesso desses estrangeiros - "já há estrangeiros a mais!" - ao nosso imenso mercado de tarefas pouco qualificadas e de baixos salários, onde se verifica uma crescente escassez de mão-de-obra nacional, é uma atitude sem o menor sentido, economicamente estúpida e, no fundo, se bem pensarmos, desumana.

Repito que este post não trata do caso de negócios rentáveis, que empregam muitos estrangeiros, e que, não obstante isso, pagam mal. Essa é outra conversa.

Em que ficamos?

Andamos, há muito, a gastar balúrdios a promover pelo mundo a imagem de Portugal: praias, verde, gastronomia, segurança, bom acolhimento, local para investir. Os estrangeiros acreditaram e vieram, para ficar ou visitar. Agora: aqui d'el rei que há gente a mais! Em que ficamos?

SNS (4)

Já não percebo nada! Sou eu quem está a ler mal ou a dedicação exclusiva dos médicos é, afinal, compatível com trabalho fora do SNS ?

Turistas

Se se vier a considerar que a pressão turística, em certas cidades, ameaça atingir níveis preocupantes, não teria maior objeção a que houvesse um aumento sensato da taxa turística, com bem publicitada alocação das verbas a obras feitas em benefício dos "nativos".

"Small print"

Terei estado desatento, mas não notei que a ERC tentasse pôr termo ao escândalo que é certas publicações, cada vez mais, procurarem diluir a separação entre os conteúdos jornalísticos e as páginas de publicidade paga. A identificação desta última é feita quase em "small print".

SNS (3)

E se nos deixássemos de ilusões e aceitássemos que, face aos constrangimentos financeiros, à incapacidade de atração de recursos humanos e à pressão dos números, um SNS, num país com a riqueza de Portugal, pode sofrer melhorias mas nunca deixará de ter grandes deficiências?

SNS (2)

Posso estar enganado, mas começa a criar-se um caldo de cultura político-jornalística que, não tarda muito, levará ao pedido de demissão do ministro da Saúde e do CEO (que raio de nome!) do SNS. Como se isso resolvesse alguma coisa!

SNS (1)

Tenho suficiente consideração pelos médicos do SNS para admitir que, seguramente, não se demitem de funções de chefia por dá-cá-aquela-palha. Mas é estranho ouvir isso anunciado, com uma frequência impressionante. Será que, depois, regressam aos cargos?

segunda-feira, julho 03, 2023

OKimby

Um político socialista acaba de criar um imaginativo émulo para o clássico NIMBY (not in my back yard). Trata-se do OKIMBY (OK in my back yard). O PS pode ser muito divertido.

domingo, julho 02, 2023

Mateus


Ao final da tarde de hoje, ir à Casa de Mateus para um espetáculo de dança - nos pátios, escadarias, jardins, capela e eira - foi um privilégio para quem, um tanto por acaso, estava por Vila Real.

O futuro da democracia em Israel

 


Ver aqui.

Papa

Afeta a imagem de um Estado laico esta coisa dos perdões de penas, por ocasião das visitas de papas a Portugal. Além de que, sem a menor justificação, a decisão beneficia os infratores e desvaloriza o comportamento de quem cumpre a lei.

Ironia


A vingança serve-se quente: os iranianos pedem que a França trate bem os seus cidadãos. Para quem tem uma grande autoridade moral em matéria de respeito pelos direitos cívicos, só pode ser uma ironia. De todo o modo, não deixa de ter graça!

Twitter


Desde há algumas horas, o Twitter anda em rebuliço. O novo proprietário, Elon Musk, resolveu limitar as visitas diárias à plataforma, que já tinha vindo a sofrer outras restrições, e isso está a provocar uma visível angústia em quem passava por ali os dias e fazia daquilo a sua vida. Chega a ser patética a orfandade destilada pela perda do brinquedo. Se os gestores de outras redes sociais fizessem o mesmo, o mundo seria muito mais saudável. E, de caminho, eles também podiam acabar com o flagelo do anonimato, obrigando toda a gente a ter a coragem de assinar o que escreve com o seu próprio nome.

Bistrô da Quinta do Tedo



Habituou-se a ir ao DOC, do Rui Paula, na Folgosa, na famosa estrada 222, que liga a Régua ao Pinhão? Então experimente, sem remorsos, andar um par de quilómetros mais, no lugar onde o rio Tedo encontra o Douro, suba o monte umas escassas centenas de metros e lá vai encontrar a Quinta do Tedo. Reserve pelo 910832707, sempre! (Estou certo que o Rui Paula, distraído na Casa de Chá da Boa Nova, me vai perdoar esta pontual "traição".)

O Bistrô (o nome completo é Quinta do Tedo Família Geadas Bistro Terrace) é a mais recente obra dos irmãos Óscar e Tó Luís, a dupla de sucesso que transformou o restaurante da Pousada de Bragança numa Estrela do Michelin. E que, no castelo da cidade, criou entretanto o Contradição. Verdade seja que tinham a quem sair: à mãe Iracema, que oficia com uma imensa qualidade no Geadas, e ao pai Adérito, ali a tomar conta da cena. 

O Bistrô não é muito grande, não é deslumbrante como espaço interior (e têm de cuidar da acústica), mas tem a vista deliciosa que a imagem mostra e, no jantar de ontem, tinha o serviço solto e bem disposto da Cíntia, que me tratava por "cavalheiro" - a última vez que me haviam chamado assim foi numa tasca de polvo, em Orense. 

A lista, desenhada pelo Óscar, não é imensa: creio que uma meia dúzia de entradas, outra tanta de peixes, idem de carnes e outra de sobremesas. A carta de vinhos tem o dedo inconfundível do Tó Luís, com um excelente equilíbrio na oferta. Fomos para dois vinhos da Quinta do Tedo: um belo rosé, mais poderoso e seco do que o habitual, e um reserva tinto, robusto, com o clássico trio de castas dos T (touriga nacional, touriga franca e tinta roriz).

Não vou recomendar o que o leitor deve comer: cada um sabe de si. Apenas posso dizer que, dos quatro ocupantes da nossa mesa, ninguém se queixou: magnífica apresentação dos pratos, qualidade excecional dos produtos, sabor magnífico em tudo, do pão da casa às belas sobremesas, completado por um Porto, a fechar as hostilidades.

Falemos então de preços: não foi uma refeição barata. Mas, caramba, come-se muito bem, a paisagem é soberba e uma vez não são vezes!

"Allons, enfants..."


"Allons, enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé 
Contre nous, de la tyrannie 
L'étendard sanglant est levé"

Era a isto que Rouget de Lisle se referia em "La Marseillaise"? Ao pé do que se tem passado nestes dias, o Maio de 1968 foi uma doce brincadeira...

sábado, julho 01, 2023

Lavrov e Nogueira


Ao ouvir Sergei Lavrov, na entrevista à RTP, veio-me à memória Franco Nogueira. Com as óbvias diferenças de cada caso, bem entendido - para os mais puristas, que sempre saltam a terreiro fácil.

Em ambos, encontramos uma diplomacia de altíssima craveira, posta ao serviço de uma linha política acossada, sob forte pressão externa, com guerra pelo meio. Em ambos, é patente uma laboriosa criatividade no argumentário utilizado, tentando vender coisas que, intimamente, sabem serem de impossível aceitação por imensa gente. Em ambos, encontramos excelentes diplomatas "doublés" de políticos, ao serviço de poderes autoritários, para quem a "accountability" democrática é um empecilho à afirmação de uma megalomania nacionalista. Em ambos, os fins justificam amplamente os meios a utilizar.

Não conheci pessoalmente Franco Nogueira, embora tenha lido tudo o que escreveu. Conheci razoavelmente bem Sergei Lavrov, de quem fui colega, há mais de 20 anos.

A figura com quem, ontem, Evgueni Mouravitch falou para a RTP, num interessante "furo" jornalístico, embora pouco conseguido como entrevista política, é um homem muito mais tenso e crispado do que o diplomata com quem trabalhei em Nova Iorque. O Sergei Lavrov desses tempos era um homem de sorriso pronto, com humor e grande cordialidade.

A verdade é que, quer Lavrov quer Franco Nogueira, poderiam repetir Ortega y Gasset: "Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim".

A extrema-direita alemã


Ver aqui: https://youtu.be/TtaN0d--KsM

Temido temida?

A urticária criada pelo anúncio de uma possível candidatura de Marta Temido à Câmara de Lisboa, já muito evidente nas redes sociais, revela que ela pode ser uma excelente escolha por parte do PS. O meu amigo Carlos Moedas que se cuide!

Lavrov

Esteve bem a RTP na sua decisão de entrevistar Sergei Lavrov. Contudo, Evgueni Mouravitch, um excelente jornalista, com um histórico de coragem e grande equilíbrio, não deveria ter deixado Lavrov prolongar as suas arengas e podia tê-lo confrontado com algumas questões incómodas.

A revolta da Wagner (antes de Surovikin)

 

Pode ver aqui.

sexta-feira, junho 30, 2023

"Déjà vu"



Ontem, ao sentar-me numa sala da Alfândega do Porto, para uma reunião empresarial que haveria de se prolongar por mais de oito horas, tive um súbito "déjà vu": há mais de 20 anos, em início de dezembro de 2002, naquela mesma sala, coube-me coordenar, durante três dias, os 55 embaixadores da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), no termo de um ano de presidência portuguesa da organização. 

Nessa altura, foram muitas mais as horas de negociação, pela madrugada dentro, que permitiram conseguir chegar a conclusões que, sob proposta portuguesa, juntaram países politicamente tão distantes como a Rússia e os Estados Unidos, ou a Arménia e o Azerbaijão, com bastantes outras notórias conflitualidades pelo meio. No final, o acordo obtido foi formal e rapidamente aprovado pelos ministros, como é de regra.

Nunca, desde então, qualquer outra presidência anual da OSCE voltou a ser capaz de assegurar posições comuns no seio de toda a organização. 

Há dois anos, tive o gosto de ser convidado a ir a Viena, à sede da OSCE, para recordar essa experiência, que ficou bem gravada na memória daquela instituição.

Foi graças a uma fantástica equipa de diplomatas, técnicos e oficiais das Forças Armadas, que então me coube chefiar, e que havia sido organizada pelo meu antecessor no posto, embaixador João Lima Pimentel, que foi possível atingir aquele resultado, para o qual muito contribuiu também o meu "deputy", embaixador Carlos Pais. 

Porque, à época, a hipótese de um fracasso nos acompanhou até muito tarde, ver cumprido com total êxito o nosso objetivo deu muito mais gozo.

Marta Temido

Marta Temido passa a chefiar do PS de Lisboa e tudo indica que virá a ser a futura candidata socialista à autarquia. A acontecer, seria uma escolha inteligente. Enquanto ministra, ela criou uma forte popularidade no eleitorado de esquerda, muito para além dos socialistas.

quinta-feira, junho 29, 2023

Viva o contraditório!

Disse na CNN Portugal as razões pelas quais acho que Putin sai claramente fragilizado do episódio Wagner. Constato que outros comentadores da estação têm uma opinião oposta. Satisfaz-me colaborar com um canal que oferece aos seus espetadores visões diferentes, para que eles possam refletir e formar a sua própria opinião.

quarta-feira, junho 28, 2023

A Ucrânia e a NATO

O que vier a passar-se em Vilnius, na cimeira da NATO, no tocante à Ucrânia, é completamente irrelevante. Se ganhar a guerra, a Ucrânia será, inevitavelmente, membro da NATO. Se a Ucrânis perder a guerra, a Rússia exigirá, além de territórios, a sua neutralidade. Há outra hipótese?

Por que será?

O mundo dos Zoom e aparentados passou a ter um uso acentuado com a pandemia. Estranhamente, parece serem ínfimas as melhorias tecnológicas que ocorreram desde então nesse domínio. Estou num evento com interventores à distância e as deficiências continuam a ser as de sempre.

Lérias



Ainda não tinha ido à nova "Casa das Lérias", em Amarante, por tantos anos fechada. Tratou-se de uma magnífica recuperação do espaço (dizem-me que os quartos são muito bons). A zona de cafetaria está decorada com bom gosto e a varanda - a histórica varanda sobre o Tâmega, onde, em tempos idos, se ia "apanhar ar", depois dos enjoos das curvas do Marão - ficou muito bem. Só não apreciei que os scones fossem da antevéspera. Mas a culpa foi minha: devia ter pedido as últimas lérias do dia.

terça-feira, junho 27, 2023

As três vezes


Imaginem um filho único adolescente, oriundo de uma cidade de província (Vila Real), nos anos 60 do século passado, desaguado, para frequentar a universidade, na cidade grande (Porto). Ele ali estava, sem o menor controlo, instalado num lar de estudantes que, no final desse ano (já é azar, ou então foi sorte), viria a ser cautelarmente encerrado, como reação à anarquia e à indisciplina que a reitoria por ali detetara.

Imaginem esse miúdo a ser amavelmente tutorizado pelos mais velhos, numa iniciação à noite do Porto, à descoberta de mundos até então só suspeitados. Numa noite dessas, ele foi com dois ou três à Foz. Bateram à porta do "Xeque-Mate", recentemente aberto. Atendeu um cavalheiro, com ar grave. O fulano olhou o grupo e, com a insondável arrogância dos guardas de caverna, alegando um pretexto qualquer, impediu-lhes a entrada. Não havia recurso. Humilhados, eles lá regressaram à base, ao famigerado Lar na Torrinha.

Esse miúdo, eu, deixou, entretanto, de viver no Porto, concluída que tinha sido uma experiência académica de dois anos que deve ter ficado registada como um "benchmark" negativo dificilmente batível (duas cadeiras concluídas, num total de dois anos de "estudo"). 

Para sempre, levei comigo um "azar" ao "Xeque Mate" e jurei a mim mesmo nunca lá entrar. E quase cumpri.

Ontem, acabada a função na CNN, já bem tarde, deu-me para ir jantar (bem, como sempre) ao "Cafeína". Na circunstância, sozinho, como aliás não gosto de jantar. No final, a caminho do hotel, avancei com o carro até ao fim da rua. E lá estava ele, o "Xeque Mate". Ainda existia! Estacionei, toquei à porta, abriu-ma um sósia do Prigozhin. Disse-lhe boa noite e entrei. Um minuto depois, com um "Bushmills" novo, sem gelo, na mão, olhei o DJ a encher o tristonho ambiente de música dos anos 80, com pífias luzes coloridas a flashar numa pista de dança deserta. Todo o pessoal em redor, que não era muito, tinha nascido bem depois da data em que, por ali, me/nos tinham dado com os pés, nesse ano de 1967. 

Acabada a bebida, paguei a uma empregada que tinha um bonito sorriso e saí. Na rua, olhei a frente bem iluminada do bar e disse para comigo: já posso dizer a um velho amigo da Foz que fui três vezes ao "Xeque Mate": a primeira, a única e a última.


segunda-feira, junho 26, 2023

A justiça e as eleições nos EUA


Ver aqui.

À Europa!

"Isto é um escândalo! Costa tem de dizer, de uma vez por todas, se vai ou não para a Europa". Costa disse que não vai para a Europa. "Costa já no passado mentiu aos portugueses. Não acreditem que ele não vai para a Europa". Costa devia mandar estes tipos ... à Europa!

Não é por acaso...

Não sei se já apareceu, mas não deve tardar muito até um desses maluquinhos das teorias da conspiração vir aventar: "Não é por acaso que o golpe do Prigozhin surgiu logo depois da reunião do Bilderberg em Portugal..." 

Qual dos dois?

Num mundo em que se constata um crescente tropismo para tomar partido, em face de qualquer tema de dimensão internacional, foi curiosa a hesitação de muita gente, entre preferir Prigozin a Putin ou vice-versa.

Entender

A propósito da trapalhada que persiste na Rússia, um colega lembrou-me, há pouco, o que, sobre outra situação muito confusa, disse um dia um embaixador português: "Não estou a perceber quase nada e não estou a gostar nada do pouco que percebo". Grande João Sá Coutinho!

domingo, junho 25, 2023

Visitantes

 


Ao longo da sua já vetusta existência, este blogue recebeu visitantes oriundos de 178 países. Quem o diz é o FlagCounter, o qual, contudo, mistura, na lista de países em falta, estados verdadeiros com territórios dependentes. Postas as coisas como deve ser, constata-se que faltam 15 dos 193 estados representados nas Nações Unidas: 

Coreia do Norte
Djibuti
Eritreia
Kiribati
Lesotho
Micronesia
Palau
Samoa
Serra Leoa
Sudão do Sul
Tchad
Tonga
Turquemenistão
Tuvalu
Vanuatu


Se a algum leitor calhar fazer um fim de semana na Samoa ou em Vanuatu, ou lhe der para umas descansadas férias na Coreia do Norte ou no Sudão do Sul, e quiser ter a maçada de, a partir de lá, consultar o "Duas ou Três Coisas", isso tinha graça e ganhava um doce.

Dilema

Comentário (a brincar, quero crer) de um amigo liberal e direitolas: "Aquilo, lá na Rússia, venham o diabo e escolha: cada um é pior do que o outro. Mas pus-me a pensar que, se calhar, entre Prigozhin e Putin, devia apoiar o homem da Wagner. Sempre é a iniciativa privada..."

A retoma do diálogo americano com a China

 


Ver aqui.

Pois!


São três da manhã. E ainda há uns palermas que não acreditam no aquecimento global.

sábado, junho 24, 2023

A aventura Wagner

 


A luta dos chefes

Putin e a hierarquia militar russa estão do mesmo lado, em face da revolta do grupo Wagner. Isso protege Putin, em absoluto, de um golpe vindo do topo das forças armadas. Mas não, necessariamente, de uma revolta no seio dos militares, que levasse à queda de Shoigu e Gerasimov.

Os senhores da guerra

Pelo modo como alguns comandos russos de nível intermédio se comportarem, na sua interação no terreno com o grupo Wagner, se perceberá melhor o grau de autoridade da hierarquia militar.

Wagner

É provável que Putin consiga esmagar a revolta de Prigozhin e que o Wagner venha a desaparecer. Isso irá representar, contudo, a perda de um corpo militar muito eficaz, que foi de grande utilidade na Ucrânia e em cenários relevantes para a política externa russa.

Notícias da guerra

 

Pode ver aqui.

sexta-feira, junho 23, 2023

Vim à terra


 

O outro lado


A direita portuguesa - a direita assumida e que se pensa, não a que se travestiza de "centro-direita" ou de "liberal" - tem, desde há já algum tempo, a sua revista teórica, a "Crítica XXI". O objetivo declarado da iniciativa é combater o que assumem ser a persistente hegemonia das ideias da esquerda.

Só não desejo boa sorte aos diretores da revista, o meu amigo Jaime Nogueira Pinto e o historiador Rui Ramos, porque estaria a ser hipócrita. E eu não sou. Mas dou-lhes uma "ajuda": no meu vício de ler, prioritariamente, as coisas com que não concordo, ainda não perdi um número do "Crítica XXI".

Há dias, ao falar da revista a um amigo, esquerdalho radical e muito crítico das minhas incursões pela escrita dos "talassas" do burgo, ouvi-o comentar: "Devias deixar-te dessas coisas! Fiz agora uma assinatura do "The New Yorker". Aquilo é que são bons textos! A revista dos teus amigos "fachos", para parecer modernaça, devia chamar-se "The Santa Comber"... Teve graça!

Série Meireles - 5


"Ó Meireles! O submarino já foi um ar que lhe deu. Agarra-me é os escândalos! Olha, põe as rendas a abrir o alinhamento! E não deixes "morrer" o Galamba, com Santarém e o aeroporto. Ainda dá para uns diazitos. O calor não! Para muitos, aquilo é praia, é coisa positiva! Esquece!"

quinta-feira, junho 22, 2023

Resposta chata

Não procurem uma explicação para a maior cobertura dada à tragédia do submergível do que aos naufrágios no Mediterrâneo. Tal como para a diferenciada atenção aos mortos nas guerras, caso elas sejam fora ou dentro da Europa. É que podem encontrar uma resposta e ela não é agradável.

Olho por Alho!


Ontem, num post, usei a expressão "fino como um alho", para designar alguém dotado de um alto grau de esperteza ou perspicácia. Para não tornar demasiado pesada a linguagem usada neste blogue, apetece-me, por vezes, utilizar expressões mais "soltas" e populares. Foi o caso. Só que há quem esteja atento e nos ajude a corrigir os erros. Foi o caso do leitor Ferreira da Silva, de quem recebi este amável comentário: 

"Permita-me um pequeno aparte sobre este seu post. Esta expressão nortenha para caracterizar alguém "esperto" é "fino como o Alho". Este foi o Sr. Afonso Martins Alho um "esperto" comerciante do Porto que está registado toponimicamente no mais pequeno arruamento da Cidade, entre a Rua das Flores e a Rua de Mouzinho da Silveira."

Agradeço ao leitor esta nota sobre a rua do referido senhor Alho. E, explorando agora uma quase homofonia de proximidade, gostava de lembrar ao leitor Ferreira da Silva que, na única perpendicular à rua Afonso Martins Alho (a meu ver, essa sim!, a mais pequena artéria do Porto, embora sem nome), existiu, por muito tempo, uma estimável "casa de pasto", chamada "Adega do Olho", de cuja clássica tabuleta ele seguramente se recordará.

Olho por Alho! 

quarta-feira, junho 21, 2023

Luís Saias

Com quase cem anos, morreu ontem Luís Saias. É provável que o seu nome diga pouco a muita gente. Saias era um estimável democrata algarvio, deputado do PS, amigo de Mário Soares, que, para surpresa de muita gente, foi chamado para ministro da Agricultura e Pescas, no governo PS/CDS, em 1978.

Luís Saias esteve apenas sete meses no governo e, ao que consta, teria sido a sua política no setor o pretexto - há quem diga não ter sido essa a real razão - que o CDS encontrou para se dissociar daquele bizarro "acordo parlamentar de incidência governativa", como genialmente Jaime Gama então o qualificou à inédita aliança entre os socialistas e os democrata-cristãos.

No seu curto mandato, Luís Saias foi a Israel, com o objetivo de estabelecer programas de cooperação no setor agrícola. Vivia-se um tempo de aproximação entre Portugal e aquele país, então sob governo trabalhista. A visita de Saias era, creio, a segunda que um governante português fazia a Israel, depois de Salgado Zenha. À época, as relações entre os dois países eram ínfimas e não havia embaixadores mutuamente acreditados, embora Israel tivesse uma estrutura consular em Lisboa. Como responsável pelo "desk" do Médio Oriente e Magrebe, no setor económico do MNE, fui encarregado de integrar a comitiva do ministro.

Antes da partida da nossa delegação, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Victor Sá Machado, figura grada do CDS, chamou-me ao seu gabinete e transmitiu-me instruções bem precisas - e extremamente assisadas - sobre aquilo que, durante a visita, deveria ser dito, em nome de Portugal, sobre a questão israelo-árabe. Lembro que, de forma delicada, sugeri que talvez fosse melhor o colega de governo de Sá Machado ser o destinatário direto dessas instruções diplomáticas. Sá Machado sorriu: "Espero que você faça o seu melhor". E lá segui para Israel, com instruções políticas muito precisas, que um governante do CDS queria que um ministro do PS seguisse, comigo a servir de intermediário.

A visita correu de forma simpática. Na conferência de imprensa final, ao ser inquirido pelos jornalistas sobre algumas questões mais sensíveis, o nosso ministro respondeu em português. Eu ia traduzindo as perguntas e as respostas, ou melhor, interpretando criativamente estas últimas para inglês. No final, quando nos levantámos da mesa, Saias disse-me, um tanto desagradado: "Percebi que você não traduziu exatamente aquilo que eu disse". Tive uma imensa tentação de lhe responder: "Eu apenas disse em inglês aquilo que o senhor ministro deveria ter dito em português". Mas contive-me, por óbvias razões, e devo ter dado uma resposta elíptica. Julgo que Luís Saias, que era um homem prudente e sensato, terá percebido a dificuldade do meu papel naquela que terá sido a sua única viagem diplomática. 

Sanções "à la carte"

A União Europeia aprovou um novo pacote de sanções, desta vez abrangendo terceiros países que possam estar a ajudar a contornar as restrições impostas à Rússia. É a primeira vez que a UE aplica sanções extra-territoriais, isto é, a outros Estados para além do visado.

A ironia de tudo isto é pensar que, no passado, muitos países europeus condenaram, muitas vezes com alguma veemência, o abuso que era os Estados Unidos utilizarem este tipo de instrumento unilateral. Um desses países tem Lisboa como capital...

Mas a Europa, "fina como um alho", inovou. Os EUA sancionavam todo e qualquer estado que ousasse fugir à sua legislação. A UE anuncia que irá aprovar uma lista dos países a serem abrangidos. Talvez porque, com alguns, possa haver negócios que não convenha estragar...

Série Meireles - 4

"Ó Meireles! Antes do Galamba em S. Bento, a chutar para o lado o aeroporto que não vai para Santarém, faz subir no alinhamento o parecer milionário do secretário de Estado. Ele ainda não era secretário de Estado? Isso agora não interessa nada, como dizia a outra".

Guerra

Nas últimas semanas, há uma intensificação da difusão de filmes onde se observa a destruição pela Rússia de material militar oferecido pelo ocidente à Ucrânia. O óbvio objetivo é tentar levar o contribuinte que paga esse material a interrogar-se sobre a utilidade do seu esforço.

Aeroporto

Só quem pouco entende da política é que pode pensar que João Galamba, neste seu delicado tempo governativo, ao dizer o que disse sobre a implausibilidade da escolha de Santarém para o novo aeroporto, o fez por sua alta recreação, sem ser em estreita coordenação com António Costa.

E se a guerra mudar de figura?


Ver aqui.

terça-feira, junho 20, 2023

Ronaldo

Cristiano Ronaldo não ia durar sempre. O contraste entre a imagem do jogador que foi no passado e aquilo que hoje pode oferecer em campo é flagrante. Dito isto, o país deve ter um imenso respeito por quem, desde há duas décadas, leva o nome do seu futebol pelo mundo.

Belcanto no topo

É uma excelente notícia para Portugal o restaurante Belcanto ter sido agora considerado um dos 25 melhores restaurantes do mundo. José Avillez, a figura de referência da alta gastronomia portuguesa, está assim de parabéns. Este é o fruto do seu trabalho sustentado desde há bastantes anos.

Série Meireles - 3

"Ó Meireles! Agarra já esta, a abrir o alinhamento do telejornal! É uma nova polémica com o Galamba! E manda já a Sónia Vanessa a Santarém, ouvir, pelas ruas, a população "ofendida". Despacha-te!"

Voz de comando


A cerimónia de apresentação de cumprimentos de Ano Novo do corpo diplomático ao presidente da República é, em Portugal, um momento único, em que se reúnem todos os embaixadores estrangeiros residentes em Lisboa e aqueles que, embora estejam acreditados no nosso país, residem no estrangeiro - principalmente em Paris, mas também em Londres, em Roma e até em Rabat, mas nunca em Madrid. 

(Para quem não saiba, anoto que Portugal não concede "agrément" a embaixadores estrangeiros que sejam residentes em Madrid, como forma de desestimular a possibilidade da capital espanhola vir a transformar-se no centro de "embaixadas ibéricas".)

A cerimónia, com os homens vestidos de fraque ou traje nacional, que conta sempre com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros, inclui uma longa sessão individual de cumprimentos, seguida dos discursos da praxe, do decano do corpo diplomático e do nosso chefe do Estado. 

Em 2014, quando, após a minha reforma, representei em Portugal o Conselho da Europa, como diretor-executivo do respetivo Centro Norte-Sul, integrei essa cerimónia. Nem queiram imaginar a cara de surpresa do presidente Cavaco Silva quando deparou comigo a apresentar-lhe cumprimentos, como embaixador "estrangeiro"! O meu antecessor era francês.

No nosso país, como acontece em várias partes do mundo, o decano dos embaixadores não é o embaixador mais antigo: por tradição, é sempre o Núncio Apostólico, o representante diplomático da Santa Sé. É uma prática comummente aceite.

A historieta que vou contar passou-se numa dessas cerímónias, no Palácio da Ajuda, num qualquer mês de Janeiro. Na sala onde apresentação de cumprimentos ia ter lugar, o então presidente da República (qual era não interessa para o caso) e o chefe da diplomacia estavam já a postos, há alguns minutos. Os diplomatas estrangeiros encontravam-se do outro lado do palácio, numa sala bem longe, separada por um longo corredor. Algum inesperado atraso, talvez devido à tarefa de ordenação por antiguidade dos diplomatas estrangeiros, fazia com que o primeiro dos diplomatas que devia saudar o nosso Presidente - o tal representante da Santa Sé - ainda não tivesse surgido, à frente dos restantes colegas.

O chefe do Estado português dava já mostras de alguma impaciência. O ministro fez então sinal ao chefe do Protocolo para que este tentasse apressar as coisas. Pressuroso, o nosso homem aproximou-se da porta que dava para o corredor, ao fundo do qual se movimentavam os seus colaboradores. Fez-lhes imensos sinais com os braços, mas, do outro lado, ninguém parecia notar. Para grandes males, soluções à altura. De repente, no ambiente austero que precedia a solenidade, ouvem-se três sonoras palmas do chefe do Protocolo, seguidas de um berro de comando, bem alto e audível ao fundo do corredor: "Saia o Núncio!"

O presidente e o ministro desataram a rir. Entre a Ajuda e o Campo Pequeno a distância encurtou, nesse momento...

Porque é que me lembrei disto hoje? É que ontem, num corredor, algures em Lisboa, deparei com o meu colega que protagonizou esse episódio, um profissional da diplomacia que, aliás, foi um excelente chefe do Protocolo, um lugar muito exigente e de considerável importância.

A Europa à la carte

A política europeia é de um grande pragmatismo, que é o outro nome da hipocrisia. Meloni era infrequentável, de extrema-direita e tudo o resto. Bastou que se mostrasse pró-NATO e a favor da Ucrânia para que fosse recebida com sorrisos. Fascista? Deixem-se disso..

Genial e cruel

 


segunda-feira, junho 19, 2023

Série Meireles - 2

"Ó Meireles! O Falcon para Budapeste ainda vai dar para uns dias, mesmo com a boca do Marcelo, mas agora manda subir no alinhamento os documentos que o Galamba classificou. Fogo à peça!"

domingo, junho 18, 2023

PSP

Para quem não saiba, noto que a principal mancha que, desde há muitos anos, tem vindo a afetar a imagem internacional da democracia portuguesa é o comportamento das suas forças policiais, por persistente incumprimento de Direitos Humanos, sublinhado por várias instâncias.

Por essa razão, e também porque o mundo das polícias, como é sabido, é pasto privilegiado para o populismo de extrema-direita, é de louvar o esforço que a hierarquia da PSP está a levar a cabo, no sentido de adequar as suas práticas e discurso a uma nova cultura cívica.

Eleições no Montenegro

 


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Bisalhães


O "Público" traz hoje algumas páginas sobre a louça preta de Bisalhães, uma aldeia perto de Vila Real.

Graças ao município da cidade, que conseguiu promover a arte daquela pequena indústria a Património Imaterial da UNESCO (iniciativa a que tive o gosto de ser convidado a associar-me, na preparação da candidatura), foi possível encontrar meios para redinamizar uma atividade que parecia em vias de extinção, embora nem todas as sombras que sobre ela se projetam tenham desaparecido, por completo.

Em Vila Real, na minha infância e juventude, só se comemoravam dois santos populares: o Santo António e o São Pedro. 

(Por essa altura, ninguém, em Vila Real, se lembrava do São João, que, desde há já alguns anos, passou ali a ser bastante celebrado. Foi um processo contrário ao que veio a acontecer em Lisboa, onde o São João, até bem dentro da primeira metade do século XX, foi a grande festa popular da cidade, para, depois, se "converter" ao Santo António. Curiosamente, Vila Real e Lisboa têm o dia de Santo António como data municipal.)

O São Pedro, lá por Vila Real, tinha a louça de Bisalhães no seu centro. A chamada Rua Central enchia os passeios com a gente que vinha da aldeia vender aquilo que fabricava. Além das peças artísticas, umas meramente decorativas, outras com algum uso prático, surgiam à venda "panelos" muito baratos, muito mais finos e leves, que eram utilizados para "jogar ao panelo", para serem atirados de uma pessoa para outra (normalmente entre um rapaz e uma rapariga), à distância, sendo o seu destino final, invariavelmente, o chão, que ficava recheado de cacos. Imagino que, pelo preço atual da loiça, a prática lúdica deva ter desaparecido. Mas ficou a quadra: "Pucarinho é jogado / Pelo ar, de mão em mão. / Traz e leva segredinhos / Até se quebrar no chão”. Com o fim da festa, a louça desaparecia da cidade e só era visível em exemplares nas montras do Turismo, na Avenida Carvalho Araújo. De há uns anos para cá, algumas barracas de venda permanente da louça ganharam lugar a norte do bairro de Almodena. 

Há precisamente 55 anos, como exercício prático para uma cadeira de Etnografia, dirigida pelo clássico professor António de Almeida, elaborei um trabalho universitário sobre "A louça de Bisalhães". Há tempos, descobri a "obra", numa papelada, lá por Vila Real. Tem umas dezenas de páginas, fotografias dos artesãos, do forno coletivo e da pequena aldeia. Reli o texto com alguma curiosidade, mas saí da leitura sem especial orgulho no produto final, que regressou, definitivamente, ao lugar onde estava. O trabalho mereceu um 13, recordo.

No "trabalho de campo" que então efetuei, tinha notado uma curiosa circunstância que, na altura, me abstive de relatar: os diversos fabricantes de loiça com quem tinha falado mantinham, entre si, uma forte conflitualidade, que aliás não escondiam. Anos depois, quando foi feito o trabalho para a UNESCO, inquiri se se mantinha esse conflito. Foi-me dito que sim e que isso tinha mesmo criado algumas dificuldades ao processo, bem como à montagem dos mecanismos de apoio à recuperação da indústria. Agora, o artigo do "Público" confirma que essa conflitualidade se mantém lá pela aldeia. Atirarão "panelos" uns aos outros, nas horas em que o conflito se agrava?

Ucrânia - o teste da contra-ofensiva

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sábado, junho 17, 2023

O Sul a Norte

Os dirigentes políticos africanos deviam ter perfeita consciência de que a sua missão de paz para a Ucrânia estava condenada ao fracasso. Mas foi importante que o Sul, excluído em regra dos arranjos do mundo, desse uma nota coletiva de afirmação e vontade política.

Lisboa à tarde

 


Demagogia miserabilista

O primeiro-ministro tinha uma reunião na Moldova, à qual se ia deslocar num avião do Estado. Tinha recebido, entretanto, um convite para estar presente numa rara final em que o mais importante treinador português de futebol teria hipótese de se sagrar campeão europeu.

Comentou com o presidente da República que faria um desvio na sua viagem, para poder assistir ao jogo. Na tribuna do estádio, como é evidente, foi convidado para se sentar ao lado do presidente do país anfitrião do evento, aliás seu regular colega à mesa do Conselho Europeu.

Só uma demagogia miserabilista e politiqueira pode considerar haver nisto a menor irregularidade. Mas vale a pena estar a dizer isto? A quem lançou esta "operação" só interessa espalhar "ruído"..

Pedro Correia


Dou-me conta de que, praticamente, já não leio blogues! Ou melhor, "leio" este, porque o escrevo! E vou confessar um segredo: muito raramente li blogues de quem, sob temas políticos, pensava como eu. É que, para pensar como eu, prefiro o original...

Abro, contudo, uma exceção. De quando em quando, passo pelo "Delito de Opinião", um espaço situado numa freguesia política distante da minha mas que mantém uma boa qualidade e uma notável constância de publicação. E é tudo, na minha leituras de blogues, nos meses mais recentes!

O "Delito", sendo embora um blogue coletivo, parece-me essencialmente mantido pela incansável mão de Pedro Correia, um jornalista de vasta cultura - da literatura ao cinema e à música. O Pedro tem, como ódio de estimação, o Acordo Ortográfico, no que se junta a muito boa gente (que não a mim, embora peça para que o tema não se pendure nos comentários a este post). O Pedro, que julgo ter conhecido no Brasil e com quem um dia tive um belo almoço, é de uma saudável teimosia na gestão do seu blogue. Enquanto, por este meu espaço, se cultiva o improviso e um certo caos lúdico, o Pedro Correia capitaneia o "Delito" com ordem e constância. Sempre que por lá passo, reconheço esse magnífico esforço.

Há anos, o Pedro Correia teve a ousadia de pedir ao José Ferreira Fernandes e a mim para elaborarmos um prefácio e um posfácio (já nem sei quem ficou com uma coisa e com a outra) para um "best of" editado do seu blogue. Digo "ousadia" porque ele sabia que ambos os escribas nada tinham em comum com a orientação predominante no "Delito", embora comungassem uma admiração pela boa escrita que por lá se pratica e um grande respeito pelo seu exercício continuado desde 2009 (isto é, a mesma idade deste meu "Duas ou Três Coisas").

Por que falo no Pedro Correia hoje? Desde logo, porque, há minutos, passei pelo "Delito de Opinião". Mas também por outra razão. Porque entendo que talvez não haja ninguém mais qualificado do que ele para montar uma operação, que me pareceria interessante, de inventário daquilo que, nos dias de hoje, ainda sobra da blogosfera nacional com alguma valia. Seria um belo serviço público, digno do estatuto do "Delito" e do currículo de trabalho de Pedro Correia, a quem aproveito para enviar um cordial abraço de admiração e estima. Se acaso não estiver virado para aceitar a minha ideia, não se fala mais do assunto e amigos como sempre!

Série Meireles - 1

"Ó Meireles! Guarda aí o espaço para uma caixa sobre a ausência do governo na inauguração do monumento aos mortos do incêndio de Pedrógão. Tenho uma ideia genial para título: "Costa vai a Budapeste mas falta a Pedrógão". Que tal? Catita, não é?"

O exemplo de Berlusconi

 


Pode ver aqui.

Notícias da comissão

Lembram-se quando por aí se dizia que a falecida Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP ia "grelhar" o governo até julho, causando um crescente desgaste, abrindo caminho à possível dissolução da AR, depois do Conselho de Estado de fim de estação? É só para lembrar...

Blasfémias

Acabou o Blasfémias, um blogue que chegou a ter a sua graça e alguma abertura dialogante. Nos últimos anos, tinha apurado, por uma via ácida, o seu consabido reacionarismo, tendo ficado confinado a uma escrita raivosa e ultra-sectária. No seu último post, confessam: "Agora, que já ninguém nos ouve, chegou a altura de explicar porque deixamos o blogue morrer. Não faz sentido nenhum blasfemar quando ficamos sozinhos na posição dos maluquinhos da feira". Alguma lucidez na hora da morte é um mérito.

Notícias do golpe

A campanha contra Fernando Medina, lançada por inimigos e com bastante ("not so") "friendly fire", durou semanas. Morreu hoje, na praia, sem objeto e sem glória. Um abraço, Fernando!

sexta-feira, junho 16, 2023

Ellsberg


Morreu Daniel Ellsberg, responsável pelo "leak" dos Pentagon Papers, que denunciou a forma como vários governos americanos mentiram desbragadamente aos seus cidadãos, à revelia das leis. Ellsberg é um monumento à decência em democracia. Honra à sua memória.

Cristina Reyna


Cruzei-me com Cristina Reyna, na TVI 24, há já bastantes anos. Desde que nasceu a CNN Portugal, "contracenámos" muitas vezes. A Cristina era rigorosa, extremamente profissional, sempre gentil. Decidiu agora sair do jornalismo. Desejo-lhe o melhor para a vida.

Repassos

Passos Coelho tinha garantido um lugar "sebastiânico" no coração da direita. Se regressar à liderança do PSD, como cada vez mais parece que virá a ocorrer depois das eleições europeias de 2024, perde o lugar no Olimpo e arrisca-se a comprovar que "nunca se é feliz duas vezes no mesmo sítio".

Acabamentos

Nunca se tinha visto uma sondagem "acabar" com uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Viu-se agora.

Coisas "sérias"

Alguns amigos têm perguntado por que razão, ao contrário do que acontecia no passado, deixou de haver, por aqui, textos mais ou menos "sérios", seja sobre política externa, seja sobre temáticas nacionais. Ao invés, dizem eles, abundam cada vez mais neste espaço "textículos" curtos, quase caricaturais, pouco profundos e nada argumentativos. Esses amigos sentem hoje a falta de outro tipo de "posts".

Vou tentar explicar o que aconteceu.

Este blogue começou por ser uma espécie de "coluna" de imprensa. Depois, com o tempo, mudei-me para a imprensa propriamente dita: passei a escrever, sucessivamente, no "Diário Económico", no "Jornal de Notícias", no "Jornal de Negócios" e no "Jornal Económico", com colunas regulares. Esses artigos eram reproduzidos, simultaneamente, aqui no blogue. 

A decisão de deixar de escrever em jornais, com regularidade, fez estancar essa fonte principal dos textos "sérios" que alimentavam este blogue. (Não estou minimamente arrependido dessa decisão. Nem imaginam o sossego que tem sido!) 

Às vezes, se acaso me apetece, escrevinho alguma coisa para o site da CNN Portugal, reproduzindo depois por aqui. Outras vezes, a convite ou por amável acolhimento a propostas minhas, voltei a publicar artigos em alguns dos já referidos jornais e também no "Diário de Notícias", no "Observador", no "Novo", no "Público", no "Expresso", na "Visão" e em outros pousos mediáticos, como é o caso de "A Mensagem de Lisboa". Mas são ocasiões pontuais, tanto mais que a minha compulsão para escrever não é muita, nos dias que correm.

Isto significa que, o mais das vezes, este blogue reproduz aquilo que, diariamente, publico no Twitter: textos muito curtos, graçolas, de "rajada", simples na forma e, claro, menos desenvolvidos na argumentação. Além de outras coisas, claro, mais simples ou mais desenvolvidas, à luz da única lógica que, nos dias de hoje, me orienta: o que me apetece! O facto de, por vezes, ir falar a televisões e também manter, desde há mais de dois anos, um "podcast" semanal de cerca de 30 minutos  - em ambos os casos sobre temas internacionais -, esgota a minha atual disponibilidade para a expressão pública regular sobre coisas "sérias". 

Alguma coisa pode vir a mudar? Talvez. A vida "é feita de mudança". Mas, podem crer, do futuro sei tanto como os que me leem...

PSD

É impressionante o ritmo a que o PSD liquida os seus líderes. Montenegro é (vai ser) o último desses 17 (dezassete!) nomes, para apenas 8 (oito) do PS. Isto merecia uma tese (se é que já não há).

Media

É tragicómica a reação de muita gente dos media perante o desaire do PSD nas sondagens. Mostra-se "indignada" com Montenegro, como que a dizer: "Então andamos nós a tentar pôr o país a ferro e fogo contra o governo e você não consegue capitalizar isso?! Assim não vamos lá!"

quinta-feira, junho 15, 2023

A velha aliança

Acho bem que se comemore a aliança luso-britânica, pelo seu simbolismo histórico. Mas importa relembrar, a benefício do conhecimento das atuais gerações, que os caminhos dos dois países têm vindo, nas últimas décadas, a afastar-se e que nada indica que isso venha a ser revertido.

Ucrânia

Perante uma eventual não-vitória da Ucrânia na contra-ofensiva, emergerão, a ocidente, os que acham necessário apressar o envio de aviões e os maluquinhos do costume, que entendem que se deve enviar tropas externas para o terreno. Washington decidirá.

Índia

Se tivesse de recomendar a um estudante de Relações Internacionais um único tema em que, atendendo à sua crescente e garantida importância futura, deveria concentrar a sua atenção, esse tema seria a inserção externa da Índia.

quarta-feira, junho 14, 2023

NATO

Até à cimeira da NATO em Vilnius, os EUA terão de gerir a vontade dos parceiros mais a Leste em acelerar a entrada da Ucrânia na organização. Compete a Washington determinar o ritmo desse processo, porque, a partir de certo patamar de potencial conflito, ele sobraria só para si.

Macron (2)

O convite de Macron a Modi, primeiro-ministro da Índia, para estar presente na festa nacional francesa, reforça a ideia de que a França procura posicionar-se junto da "elite" do Sul, com esta em crescente reforço institucional, subliminarmente alternativo à tutela americana.

Macron

É pouco plausível que Macron tivesse pedido para estar presente na cimeira dos Brics, na África do Sul, se antes não tivesse testado a ideia com Xi Jin Ping. O que reforça a ideia de que Paris teima em sugerir-se como o principal interlocutor europeu.

terça-feira, junho 13, 2023

Trump

Trump está metido numa bela embrulhada. 

Depois do episódio da "piquena" subornada com fundos de campanha para se manter calada, surge agora o caso da documentação classificada que levou com ele, antes de sair da Casa Branca. No "pipeline" estão também as pressões feitas, na sequência das eleições de 2020, aos responsáveis políticos do estado da Geórgia, para tentar reforçar a sua votação. E falta ainda apurar as eventuais culpas no cartório no tocante ao criminoso assalto ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. 

Trump vai ter muito com que se entreter e os americanos também. 

Os candidatos que têm vindo a surgir no campo republicano hesitam, por ora, em puxar o tapete àquele que continua a ser, a grande distância, a figura mais popular do seu campo, no caminho para as eleições primárias que escolherão quem irá enfrentar Joe Biden, a caminho da "terça-feira mais próxima da primeira segunda-feira do mês de novembro no próximo ano par que aí vier" - esta é a mnemónica para definir a data de próximas eleições regulares nos EUA. Vale a pena relembrar que, nesse dia, será também renovado 100% da Câmara dos Representantes, um terço do Senado e serão eleitos governadores em alguns estado. E todos os candidatos a esses órgãos têm que refletir bem na forma como se definem face a quem teve largas dezenas de milhões de votos, dentre os quais há uma larga percentagem que não perdeu a fé em vê-lo regressar à Casa Branca.

Isto vai ter imensa graça.

segunda-feira, junho 12, 2023

O preço


Para comodistas como eu, há zonas de Lisboa que acabam por ser baratíssimas, porque nunca consigo estacionar à porta das lojas onde quero ir. Hoje, Campo de Ourique estava muito caro. O pessoal zarpou nos feriados, deixou lugares em barda e quem pagou a fatura fui eu. Não se faz!

Berlusconi


Um dia, um almoço em São Bento de um antigo primeiro-ministro português foi interrompido: uma chamada telefónica do seu contraparte italiano, Sílvio Berlusconi. O político português regressou minutos depois, com um grande sorriso, revelando o motivo da breve conversa. Berlusconi tinha acabado de vê-lo na televisão e queria dizer-lhe que a gravata que ele utilizara era inadequada, oferecendo conselhos na matéria.

Berlusconi, em todo o caricato do seu estilo, inaugurou um tempo novo na política europeia, um pouco como, mais tarde, na América, haveria de acontecer com o surgimento de Trump. Muitos líderes europeus que o foram cruzando têm histórias divertidas com ele, quase sempre marcadas pelo embaraço com que tentavam gerir as suas inusitadas abordagens.

Teve uma vida pública imensamente longa, com altos e muitos baixos, com vários escândalos, de diversa natureza, à mistura com a política. Nos dias de hoje, era ainda líder de um dos três partidos da coligação de poder, na Itália. Mas Berlusconi já andava ali há muito: recordo-me bem de uma velha "foto de família" dos líderes europeus, em Veneza, com ele a presidir à festa, ao lado de uma Thatcher visivelmente pouco à vontade com aquele inesperado parceiro.

Berlusconi morreu com 87 anos.

Um abraço, António


Neste tempo em que uma miserável campanha pretende atingir António Costa, aliás sob estranhos silêncios, deixo-lhe um abraço amigo e solidário, recordando a extraordinária figura do seu pai, Orlando da Costa, um português de origem goesa que tive o privilégio de conhecer.

Uma boa Estrela


Não consigo explicar, nem a mim mesmo, porquê, mas sinto satisfação com o regresso do Estrela da Amadora à divisão principal do nosso futebol.

Eleições na Guiné-Bissau

 


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domingo, junho 11, 2023

Bola

Gostei da final da Taça dos Campeões. Gostei do "pressing" e da tensão de princípio ao fim. Gostei até do futebol jogado, embora não fosse de excecional qualidade. Gostei que ganhasse quem ganhou. E gostei muito de ver Bernardo Silva, um jogador excecional.

Esperanças

Fui jantar com amigos à rua da Esperança. O serviço foi errático, mas muito simpático, num ambiente caótico, normal para a época. Mas comeu-se bem. Só não digo o nome da casa porque pedir quase 20 euros pelo vinho mais barato, uma mistela que se vende a três euros, foi desonesto.

Falando da contra-ofensiva ucraniana

 


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O cartaz

Não, não vou reproduzir aqui os cartazes dos professores na Régua. Fico à espera do que, sobre eles - sem "mas" nem "porém" nem "no entanto" -, alguns visitantes deste espaço tenham a dizer.

sábado, junho 10, 2023

A China, a Austrália e a questão da Huawei

 

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"Hoje jogo eu"


Há muitos, mesmo muitos, anos, costumava ler "A Bola", com regularidade e interesse. Hoje sou, em absoluto, incapaz de abrir qualquer jornal desportivo, nem sequer para fazer horas num café: não me desperta o menor interesse. E já tentei, confesso. 

"A Bola" tratava, essencialmente, como o nome e o símbolo indicavam, de futebol. Com duas exceções: no Verão, falava de ciclismo, noutras escassas ocasiões, de hóquei em patins. O resto das atividades desportivas eram, quando eram, objeto de notas brevíssimas, por parte do então "trissemanário da Travessa da Queimada".

"A Bola" era, ao que recordo, muito bem escrita. Conseguia dessa forma resistir ao desprezo com que uma certa camada de jornalistas trata o jornalismo desportivo, graças à qualidade dos seus profissionais. Sem ir ao Google, lembro: Carlos Miranda, Aurélio Márcio, Vitor Santos, Mário Zambujal, Carlos Pinhão. 

Um dos momentos áureos de "A Bola" eram as aventuras europeias do Benfica. O meu Sporting era só às vezes, o Porto de então ficava-se pelas Antas. Quando os "encarnados" (era proibido dizer os "vermelhos", adjetivo que tinha ficado reservado para os perdedores da Guerra Civil de Espanha e para quantos eram o alvo privilegiado da Pide) iam jogar a sítios mais bizarros, em especial aos "países socialistas", com muita arte e alguma manha na escrita, os profissionais do jornal destacados para a reportagem faziam sempre umas curtas notas, em caixa, com apontamentos curiosos, tipo "fait divers", chamando a atenção dos leitores atentos para pormenores desse quotidiano diferente, sempre com cuidado extremo de garantir que tal não era objeto de desagrado dos "coronéis" da censura, aliás geograficamente vizinha da redação do jornal. Intitulavam sempre essa coluna de "Hoje jogo eu".

A que propósito surge esta conversa hoje, "dia da raça", como dita a memória de Cavaco Silva? É que amanhã, na reportagem das comemorações na Régua, sem usar esse título mas também procurando captar um "fait divers" para alindar a prosa, a generalidade dos jornalistas que foram obrigados a prescindir do feriado vai falar (vale uma aposta?) dos assobios a João Galamba, como o facto maior a destacar, ao lado da exegese dos recados do presidente, também a propósito disso. Para tanto lhes dará "o engenho e a arte", como diria o vate que serve de pretexto à data.

Mas poderiam eles falar de outra coisa? Ora essa! Podiam falar dos rebuçados vendidos pelas senhoras de avental à porta da estação ou dos "polícias da Régua" ou da mais pequena barbearia do país (na imagem) ou da vitela do "Castas e Pratos" ou das desventuras da Casa do Douro e da filosofia do "benefício". 

Há tanto para falar da Régua, que já foi Peso da Régua, terra onde eu, na minha juventude, achava que havia a maior concentração de NSUs do mundo e que então enviava, para estudar no liceu de Vila Real, alguns dos olhos mais bonitos que alguma vez por lá passaram.

Ponto

A ver se nos entendemos. O presidente da AR, pelo regimento, não pode impedir um deputado de dizer dislates. Mas, pela ética e pela decência...