Ao ouvir Sergei Lavrov, na entrevista à RTP, veio-me à memória Franco Nogueira. Com as óbvias diferenças de cada caso, bem entendido - para os mais puristas, que sempre saltam a terreiro fácil.
Em ambos, encontramos uma diplomacia de altíssima craveira, posta ao serviço de uma linha política acossada, sob forte pressão externa, com guerra pelo meio. Em ambos, é patente uma laboriosa criatividade no argumentário utilizado, tentando vender coisas que, intimamente, sabem serem de impossível aceitação por imensa gente. Em ambos, encontramos excelentes diplomatas "doublés" de políticos, ao serviço de poderes autoritários, para quem a "accountability" democrática é um empecilho à afirmação de uma megalomania nacionalista. Em ambos, os fins justificam amplamente os meios a utilizar.
Não conheci pessoalmente Franco Nogueira, embora tenha lido tudo o que escreveu. Conheci razoavelmente bem Sergei Lavrov, de quem fui colega, há mais de 20 anos.
A figura com quem, ontem, Evgueni Mouravitch falou para a RTP, num interessante "furo" jornalístico, embora pouco conseguido como entrevista política, é um homem muito mais tenso e crispado do que o diplomata com quem trabalhei em Nova Iorque. O Sergei Lavrov desses tempos era um homem de sorriso pronto, com humor e grande cordialidade.
A verdade é que, quer Lavrov quer Franco Nogueira, poderiam repetir Ortega y Gasset: "Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim".
4 comentários:
jose neves
Eu vi a parte final da entrevista e não dei por uma questão pertinente colocada a Lavrov por parte do representante da rtp. Pode ter acontecido no início da entrevista mas, do que vi, pareceu-me ser um frete de jornalista russo para o político russo. Este pintou a manta a seu belo prazer e vendeu a sua banha como bem quis e lhe apeteceu debitando todos os argumentos ilógicos habituais do invasor que só o foi porque fora cercado e atacado por todos os lados pelo Nato e Ocidente o que é manifestamente falso. Ainda agora, face à militarmente incompetente e anedótica invasão (O nosso Oscar deve estar a rir-se perdidamente daquilo) afirmam, sem se rir, que a pátria russa estava a ser atacada pelo ocidente o que é outra inversão dos factos.
Igualmente, vendeu como bem quis a ideia falsa de que desde sempre quiseram a paz quando todos os chefes políticos ocidentais correram para Moscovo a pedir negociações e não uma invasão, diria mendigar, e foram enganados e depreciados, diria desprezados, quer quanto à invasão quer quanto a negociações.
Fiquei com a sensação de que o antes fora mais do mesmo ou semelhante e que o jornalista da rtp foi cauteloso para não dizer medroso.
E, esta situação de medo, acho-a normal para quem é russo e vive na Rússia actualmente.
Podemos dizer com Einstein que, um contestatário pró-soviético no ocidente também seria, igualmente, um contestatário na Rússia stalinista só que, neste caso, não o podia confessar a ninguém.
Caro Embaixador
A propósito da guerra da Ucrânia e do Direito Internacional, tendo lido apenas algumas publicações – e não todas como o Embaixador já leu, o que desde já lhe digo é algo digno de realce – da extensa bibliografia do Embaixador Franco Nogueira, relembro a inteligência deste para entender, à altura, o conceito vigente do Direito Internacional, mas que sem margem para dúvidas, mantém o seu pleno significado à realidade do que se passa actualmente na Ucrânia:
“O Direito Internacional Público, por vezes, parece ser “(...) uma bela disciplina para deleite académico, fornecedora de fórmulas decorativas para convenções e tratados, que nenhum governo acata, doutrinadora de teorias que nenhum governo subscreve (...)” - Franco Nogueira, “O Juízo Final” - Editora Civilização, 2ª Ed., 1993, p. 186
Cordiais saudações
Anónimo disse...
jose neves escreve:
"os argumentos ilógicos habituais do invasor que só o foi porque fora cercado e atacado por todos os lados pelo Nato e Ocidente o que é manifestamente falso."
O candidato presidencial norte-americano Robert Kennedy apelou ao Presidente Biden para que apresentasse duas desculpas.
✔️ ao povo americano que foi forçado a apoiar uma feia guerra por procuração lançada sob falsos pretextos.
✔️ mais importante ainda, ao povo ucraniano por o ter arrastado para esta guerra e destruído o seu país por interesses geopolíticos (imaginados) dos EUA.
Kennedy já acusou as autoridades americanas de instigarem a guerra na Ucrânia:
📝 "Toda a gente sabe que o conflito na Ucrânia foi instigado, sabe-se bem por quem. Faz parte de um grande plano estratégico para destruir qualquer país que resista à expansão imperial americana, sendo esta a razão pela qual se está a lutar contra a Rússia."
Fonte: @Metametrica
O senhor José Neves ada distraido ?
Há mais de 30 dias, li parte da obra de Franco Nogueira e fiquei impressionado. Duvido que Lavrov tenha a mesma estatura intelectual. Pelo menos, até agora não deu provas.
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