quinta-feira, julho 06, 2023

O café da Caravela e o bilhete do comboio


Até há alguns anos, havia na Praça da República, em Viana do Castelo, junto ao chafariz, a esplanada da Caravela. Quando passava pela cidade, gostava de me sentar por ali a digerir, com um café, a pilha de jornais e revistas que sempre comprava (hoje compro cada vez menos imprensa em papel) na excelente, e felizmente eterna, tabacaria situada da esquina da praça com a rua Manuel Espregueira.

Nessas ocasiões, a minha mulher, com quem eu entrava numa intravável meia hora de conjuntural incomunicabilidade, atravessava a praça e entrava na Adolfo Dominguez. Vinte minutos depois, surgia com uns sacos de roupa. Feitas as contas, a paragem para um café na praça tinha saído "uma nota". Entre nós, passou, para sempre, a dizer-se que o café na Caravela era o mais caro do mundo! 

A que propósito vem isto? 

Desde há uns anos, descobri que, em três estações de comboio, em Lisboa e no Porto, existem umas lojas de venda de restos de edições de livros, a preços magníficos. São coisas que as livrarias normais já não devem aceitar. Há por ali de tudo, maioritariamente monos ilegíveis, lado a lado com livros bem curiosos para gente curiosa sobre quase tudo, como ainda é o meu caso. E como faço parte daqueles que vão para os comboios (para os aviões também) com imenso tempo de antecedência, já incluí na minha rotina passar uns minutos naquelas lojas.

Hoje, tendo chegado à estação bem antes da hora do comboio, lá fui direito ao meu novo vício. A imagem mostra aquilo que dali trouxe: um pequeno estudo de Vasco Pulido Valente que não recordo ter lido, o primeiro volume de uma conhecida crónica satírica sobre a presidência de Nicolas Sarkozy, um livro de conversas conduzidas por Artur Portela e um outro de ensaios do "Otavinho" Frias, diretor da Folha de São Paulo, que conheci no Brasil e que morreu há cinco anos. Tudo isto por pouco mais de 10 euros! 

O preço dos bilhetes de comboio têm um desconto para seniores, modo elegante de designar os velhos que somos, mas, pelo menos no meu caso, passaram a ter o que podemos qualificar como uma sobretaxa para curiosos obsessivos, como também me orgulho de ser. 

3 comentários:

Luís Lavoura disse...

Quando passo por Campanhã não compro livros, mas sim uma regueifa ("pão espanhol"). Tem a vantagem de se comer, não ficando por isso a ocupar lugar em casa.

manuel campos disse...


Ou sou eu ou é o PC, um dos dois está pior do que julgava.
Escrevi ontem ao serão umas patacoadas sobre os meus hábitos nesta matéria (e não só), pelos vistos não publiquei e o sistema - sempre tão atento na hora da despedida - não me avisou.


Anónimo disse...

Sempre sai mais barato que o café
Fernando Neves

Dê-lhe o arroz!

"O Arroz Português - um Mundo Gastronómico" é o mais recente livro de Fortunato da Câmara, estudioso da gastronomia e magnífico cr...