Trump está metido numa bela embrulhada.
Depois do episódio da "piquena" subornada com fundos de campanha para se manter calada, surge agora o caso da documentação classificada que levou com ele, antes de sair da Casa Branca. No "pipeline" estão também as pressões feitas, na sequência das eleições de 2020, aos responsáveis políticos do estado da Geórgia, para tentar reforçar a sua votação. E falta ainda apurar as eventuais culpas no cartório no tocante ao criminoso assalto ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.
Trump vai ter muito com que se entreter e os americanos também.
Os candidatos que têm vindo a surgir no campo republicano hesitam, por ora, em puxar o tapete àquele que continua a ser, a grande distância, a figura mais popular do seu campo, no caminho para as eleições primárias que escolherão quem irá enfrentar Joe Biden, a caminho da "terça-feira mais próxima da primeira segunda-feira do mês de novembro no próximo ano par que aí vier" - esta é a mnemónica para definir a data de próximas eleições regulares nos EUA. Vale a pena relembrar que, nesse dia, será também renovado 100% da Câmara dos Representantes, um terço do Senado e serão eleitos governadores em alguns estado. E todos os candidatos a esses órgãos têm que refletir bem na forma como se definem face a quem teve largas dezenas de milhões de votos, dentre os quais há uma larga percentagem que não perdeu a fé em vê-lo regressar à Casa Branca.
Isto vai ter imensa graça.
26 comentários:
Ou talvez não.
E agora pergunto eu: como é que a constituição americana permite a bizarria de um tipo condenado poder ser Presidente dos EUA!?
Felizmente nos EUA, ao contrário da prática que se pretende instituir em Portugal, o Ministério Público não tem o direito de vetar candidatos declarando-os "arguidos" ou acusando-os - geralmente sem provas cabais e válidas - de quaisquer crimes. Trump pode-se candidatar, e pode até ganhar, apesar de todas estas manobras.
Albertino Ferreira,
é realmente uma bizarria que um indivíduo condenado possa ser presidente. Porém, recordemos que Trump ainda não foi condenado. Lá por ter sido acusado, deve-se presumir a sua inocência, e portanto nada há a objetar à sua candidatura. Mal estaríamos se o Ministério Público pudesse, com uma acusação, limitar os direitos civis de um indivíduo. (Que é aquilo que, lamentavelmente, na prática ocorre cá em Portugal.)
A Constituição dos EUA foi escrita 1787 e só ratificada em 1788.
Só existe no mundo uma mais antiga, de 1600, que é a de San Marino que tem 34 mil habitantes e só com muito boa vontade se pode considerar um "país".
Como os EUA têm 332 milhões, há por lá diferenças mais substanciais dentro de cada quarteirão de uma cidade do que em todo o San Marino.
O "Bill of Rights" tem 48 páginas e contém as 10 primeiras emendas à Constituição, que consideram os direitos dos cidadãos em relação ao governo, garantindo os direitos civis e as liberdades individuais.
Tendo em consideração que os EUA são uma democracia como há poucas, pela extensão do território e pela diversidade das gentes que o habitam não conheço nenhuma mais "sólida" porque pouco comparável na homogeneidade ou na heterogeneidade, não deixa de ser curioso que se ache estranho que lá seja permitido que um tipo ou uma tipa condenados e presos possam ser eleitos.
A razão é simplicíssima e evidente: a lei fundamental não o proíbe.
E o que não é expressamente proibido é permitido, ainda que sujeito a uma legislação geral muito baseada na jurisprudência e que acaba por ser mais dura pois pouca margem deixa (*).
É uma "lei fundamental" simples que funciona bem, que toda a gente percebe e de que ninguém se queixa, ao contrário de outras que eu conheço por aí que funcionam mal, ninguém percebe e de que toda a gente se queixa.
Se uma maioria de votantes, num país com 333 milhões de habitantes e uma democracia "à prova de bala", comparada com o que vai por aí, acabar por eleger um tipo ou uma tipa que estejam presos, a bizarria é capaz de estar por outros lados onde se candidatam personagens muito pouco recomendáveis que não estão nem nunca serão presos e acabam eleitos(**).
É que a velha história de que os americanos são ignorantes e acriançados já não cola muito desde que na Europa se começaram a publicar sondagens à nossa (dos europeus) cultura geral e maturidade.
E não são muito diferentes, como se imagina, basta sair á rua por essa Europa fora, saber olhar e saber ouvir.
(*) Diziam-me em tempos pessoas do outro lado do Atlântico norte, com quem fiz vários contratos empresariais, que o que gostavam mesmo era dos nossos contratos terem meia dúzia de páginas enquanto os deles tinham pilhas de dossiers pois era preciso contemplar tudo o que podia correr mal.
Os resultados estão à vista por aí.
(**) De qualquer modo já aconteceu duas vezes por lá e não foram eleitos
«apesar de todas estas manobras»
O Luís designa as acusações a Trump como «manobras». Bravo. No meu livro, manobras é aquilo que tem permitido que um tipo que foi manifestamente responsável por uma tentativa de golpe de Estado continue feliz e contente como se nada fora.
marsupilami,
se Você não gosta do vocábulo "manobras" que utilizei, OK, reconheço que ele não foi o mais adequado, "procedimentos", "acusações", ou "incidentes" seria melhor.
Aquilo que me interessa salientar é que não é legítimo que - ao contrário daquilo que muitos defendem que se faça em Portugal - uma acusação levantada pelo Ministério Público leve à perda de direitos políticos, em particular o direito de ser eleito para um cargo público, pela vítima dessa acusação. Isso é que é para mim essencial enfatizar. Trump está atualmente na plena posse dos seus direitos cívicos e ninguém pode pretender impedi-lo de exercer esses direitos.
Com o Trum não funciona a presunção de inocência. Basta olhar para aquela alarvidade e boçalidade para o presumirmos culpado.
"não deixa de ser curioso que se ache estranho que lá seja permitido que um tipo ou uma tipa condenados e presos possam ser eleitos."
É-me difícil não achar estranho que o Presidente possa ser uma pessoa que está encarcerado num penitenciária. Não é o que aconteceria se fosse condenado e ganhasse as eleições?
Poderia sair do país para participar em reuniões políticas?
Se fosse ter conversações com o Presidente de outro país teria de ir com o uniforme às listas das penitenciárias?
Não sei a resposta a nenhuma destas perguntas.
Zeca
«Trump está atualmente na plena posse dos seus direitos cívicos»
O problema é mesmo esse. Ele tentou fazer um golpe de Estado e ainda está à solta.
Zeca
Agradeço a atenção que me deu mas daqui só leva uma citação do "POLITICO":
"A Trump electoral victory from behind bars would open a constitutional can of worms, but the general view among legal scholars is that the need for a duly elected president to fulfill the duties of office would override a criminal conviction and require the sentence to at least be put on hold. And if Trump were convicted of a federal crime, he could even try to pardon himself immediately upon taking office — a maneuver that Debs himself promised to undertake if he won.
“Then we’re just going to get into uncharted waters,” Seton Hall law professor Eugene Mazo said. “I don’t think we have an answer to this.”
E ainda da mesma fonte suspeita:
"Debs’ case raised a question many are asking now: Can a person run for president, or be elected president, after being convicted of a crime or even while in jail? The answer, then and now, appears to be yes.
“There’s nothing barring Trump from running. Even a federal conviction doesn’t prevent that. … Even if he were mentally insane,” Mazo said. “The Supreme Court has said what’s in the Constitution are the only requirements you need to run for federal office.”
Dirija-se assim por favor ao Supremo Tribunal dos EUA (que já se pronunciou como se constata) aproveitando para enviar cópias ao Senado e à Câmara dos Representantes, que decerto lhe responderão com mais ou menos prazer às suas pertinentes questões (conforme seja um democrata ou um republicano), pois estou certo que eles nunca pensaram em nada disso.
Não é proibido pela Constituição dos EUA.
E eu ainda me dei ao cuidado de o escrever.
Mas devia ser, segundo o Zeca.
Há que repensar a democracia.
Nota- Nas penitenciárias de lá não há uniformes às listas, convém levar as leituras mais longe que o Lucky Luke e os irmãos Dalton.
Uma situação muito grave e susceptível de procedimento criminal, sem dúvida.
Mas uma tentativa de golpe de Estado num país como os EUA, que é a única grande democracia que ocupa um continente quase inteiro, isso é que já é mais complicado.
É que não só é um país com 49 estados (incluindo o Alaska e excluindo o Hawaii) e ainda o Distrito de Columbia (mais conhecido como Washington D.C.), como ainda só a partir do 11º na classificação geral da população dos estados encontramos um estado com menos população que Portugal.
A Califórnia tem 40 milhões e a Florida 30 milhões.
Como é que se leva a cabo um golpe de estado em Washington que recolha um apoio popular massivo sem desatar tudo aos tiros no dia seguinte (armas continuam a não faltar por lá como nunca irão faltar, só conversa), quando os EUA têm 33 vezes a população de Portugal e 107 vezes a sua área, onde há estados com quase tanta gente como Espanha, que ficam na outra ponta e que nem querem ouvir falar em Trump, é um mistério que gostava que me explicassem.
Continuarmos a ver o mundo aqui à nossa medida não ajuda e nunca ajudou, o “nacional porreirismo” não é exportável para os States.
É precisamente porque a embrulhada, sendo enorme e bem merecida, pode bem não dar em nada, que concordo com o "jj amarante", que não fala nunca muito mas fala sempre bem: "Ou talvez não.".
Há que ler os MCS de lá ainda que isso dê trabalho.
Todas as correntes dos MCS de lá, mesmo que a gente não goste do que nos dizem.
Com isto de só lermos o que nos convém ou o que nos dão, acabamos por vezes desiludidos, só se desilude quem criou ilusões.
Nota- Eu sei que o sub-continente norte-americano também tem lá o Canadá.
Mas o Canadá tem mais 10% de área e 1/10 da população dos EUA, a Califórnia e a Florida têm mais ainda, não conta para este raciocínio.
Zeca
Desculpar-me-à (ou não, mas eu mantenho o pedido) se fui um pouco indelicado consigo, não era a minha intenção mas não o terei evitado (desculpas não se pedem, evitam-se).
De qualquer modo compreendo mal que se compreenda mal (saíu jogo de palavras) como é que os EUA funcionam politicamente tão bem há 225 anos.
Cumprimentos
Manuel Campos, isso da democracia americana ser à prova de bala e mais sólida do que as outras é um bocado exagerado. Caramba, isso parece um quadro do Norman Rockwell. Numa coisa os americanos são bons, na arte pop da propaganda. Dedicaram milhares de quilómetros de literatura e imagética ao assunto. A coisa do excepcionalismo americano entranha-se. Faz parte do soft power americano. É preciso recordar que ainda há por lá muita gente viva que era separada dos outros por força da cor e que é um país onde o estado mata os seus cidadãos para os castigar? Eu diria que a Europa lhes dá lições de democracia, há muito tempo. E ninguém se queixa da constituição? Como assim? Ninguém se queixa porque lhe foram introduzindo adendas e porque, de facto, o dia a dia das pessoas é muito pouco condicionada pelo que uns homens de cabeleira escreveram originalmente há 300 anos. Seria bizarro, se assim fosse. E não é mais ou menos homogéneo do que outros. Diria até que menos. A simbologia americana, incluindo a bandeira, está por todo o lado e é toda igual e abraçada por toda a gente. Grosso modo, é suposto que quem lá entra abrace um núcleo de valores e símbolos americanos. A Europa é um pouco mais saudavelmente anárquica, nas suas diferenças e comunidades. Só uma pequena história: Conheço um tipo que um dia quis abrir uma pastelaria e padaria em Manhatan, uma coisa gourmet, acho que na quinta avenida ou coisa assim. Passou por um redemoinho absurdo de regulamentos e burocracias da câmara municipal e acabou chumbado porque a guilda dos padeiros da zona lhe bloqueou o projeto, para não terem concorrência.
Há uma coisa, mencionada pelo Manuel Campos, e que vem diretamente à propósito do tema do Post, em que os US são particularmente maus: o seu sistema de justiça. Não vale a pena apontar falhas aos sistemas europeus continentais,que são muitas, porque as apreciações que fazemos nunca são absolutas, mas relativas, isto é, uns são melhores, outros piores. O US é bastante pior. Para além da pena medieval da morte, fico arrepiado, como jurista e cidadão, com coisas como o three strike law, que permite que alguém seja condenado a pena perpétua por uma infração menor, se tiver antecedentes de infrações maiores. Há outros exemplos absurdos no sistema judicial americano, este é apenas um exemplo. A justificação habitual é que eles sâo diferentes. Não, são maus, têm um sistema de justiça muito deficiente.
Caramelo
Agradeço a sua atenção.
Como sempre vimos todos aqui com o pretexto de responder a outros mas enfiar as nossas histórias e as nossas teorias.
No seu caso compreende-se que se me dirija, fiquei de o convidar para almoçar e nada, é naturalíssimo que esteja chateado.
A ver se não perco o apetite.
Não vejo onde é que eu defendi os valores americanos, os hábitos americanos, a vida americana ou os políticos americanos.
Achava eu que me tinha limitado a alguns factos e pouquíssimas opiniões, mas pelos vistos não, sou um "quadro" do Norman Rockwell, eventualmente um anúncio da Coca-Cola ou um poster do Santa Claus.
Ora eu nem bebo Coca-Cola nem festejo o Santa Claus e a única coisa que me interessa nos USA é o "Great American Songbook", a última vez que tive oportunidade de ir a Nova Iorque em serviço enviei outra pessoa (e sem ser em serviço nunca fui, até vivi no Japão mas os EUA nunca me disseram grande coisa).
A Europa continua cheia de um anti-americanismo primário, este sim curioso, porque quando está à rasca (1914-1918, 1939-1945, 2021-...), eles que venham enquanto o colaboracionismo por cá grassava e agora eles que paguem, até 15 de Janeiro p.p. foram 77 mil milhões de dólares, 53.5% dos 144 mil milhões que a Ucrânia recebeu de ajudas
A seguir a Alemanha com 13.4 mil milhões, o Reino Unido com 8.3 mil milhões, a França com 7.7 mil milhões, não vale a pena ir mais longe.
A Europa dá lições e os EUA pagam a conta, parece-me bem.
Se deixassem de pagar a conta era uma chatice, a Europa já anda a fugir ao rearmamento por razões ideológicas e financeiras, como é que se explicava à Ucrânia que as reformas dos idosos europeus pesam mais nas sondagens?
Você não chegou agora e já deixou assim há tanto tempo de me ler?
Venho aqui falar de 2 ou 3 pontos e começo a levar com a imagética americana, o racismo, a pena de morte, tudo o que toda a gente sabe desde sempre e, julgava que se imaginava, eu não desconhecia.
Escrevo "lençóis" sobre tudo e mais alguma coisa e o "caramelo" nunca tem nada para dizer, hoje enche-se de "calores" e, à falta de melhor oportunidade para o fazer, atira-os para cima de mim que me pus ali a jeito.
Ninguém se queixa porque lhe foram introduzindo adendas?
Pois claro, foram-lhe introduzindo adendas para que ninguém se queixasse.
A Constituição tem 226 anos, é capaz de não ser de todo parvo introduzir-lhe de vez em quando uma adenda.
Que ocupe as ultimas 4 linhas com um "fait-divers" que tanto pode ter acontecido ontem como há 100 anos é sintomático: é que sempre foi assim que essas situações se passaram por lá.
Caro Manuel Campos, os US não pagam a conta a ninguém. Tudo se reveste em investimento, como na segunda guerra ou no Plano Marshall, como na atual guerra, com a industria militar, a energia, a tecnologia, etc. Isto é um facto, não um juízo de valor. Não os trate como parvos, a pagar contas dos outros, que eles não merecerem essa desconsideração. No resto, foi o Manuel Campos que disse que eles eram uma democracia muito avançada, à prova de bala, a constituição e coiso e tal, ao contrário de nós. Eu dei-lhe exemplos em contrário, óbvios, até intuitivos, e o Manuel vem com isso agora não me interessa, eu nem sequer lá vou, quero lá saber isso. Ok, pronto. Eu acho que de facto lhes damos lições em democracia e justiça e em justiça social. Quanto ao antiamericanismo, claro que há. Mas um país que se assume como maior potência mundial e policia do mundo, tem de aturar essas coisas. Faz parte. Haver antiamericanismo pelo mundo se calhar até os envaidece. Não tome as dores deles, não é preciso.
Vou pôr já em duas prestações a conversa toda, sem esperar que o sistema me diga que está cansado de me avisar que 4096 caracteres é o limite.
Para além disso atinge-se o número redondinho de 20 comentários neste texto.
caramelo
Esses factos que V. aqui traz, como devia imaginar mas não imagina, não são novidade para mim nem para ninguém que tenha mais que estudos rudimentares.
Conte-me novidades, algo que saia da sua cabeça, opiniões pessoais e não histórias que são do conhecimento geral desde pequeninos.
Ainda há dias aqui contei que sou um muito modesto “especialista” da WWII, sujeito assim a ser posto â prova dado que nunca “me fico”, e V. traz-me informação avulsa?
Isso até lhe fica mal.
Que V. não pensa está logo no parágrafo seguinte, ao usar o truque manhoso (e pouco decente, no mínimo) de tirar coisas ao que eu disse e adicionar outras de modo a pôr no meu escrito o que não está lá.
"Se uma maioria de votantes, num país com 333 milhões de habitantes e uma democracia "à prova de bala", comparada com o que vai por aí..."
Comparada com o que "o que vai por aí..." não está lá por acaso, falo de democracias por esse mundo fora, democracias com muito menos gente a votar, democracias muito mais "simples" de gerir, não estou a falar de Portugal, raio de auto flagelação constante por interposta pessoa.
É preciso ter um espírito estranho e uma considerável dose de partidarismo persecutório para achar que os outros estão todos de má fé e são uns perigosos capangas do capitalismo mais desbragado, idiotas úteis ao serviço da tenebrosa CIA e dos interesses mais obscuros.
"Ao contrário de nós"?
Onde é que isso está dito por mim?
O "caramelo" tem que se deixar disso e ler com mais cuidado, já aqui disse que eu não tenho absolutamente nenhum problema de saúde, além de um coração que segundo o meu médico me “levará até aos 150 anos” (sic), mas preocupo-me com a saúde dos outros.
Claro que as Constituições de muitas democracias são exageradamente complicadas, qualquer pessoa o sabe e o sente por esse mundo fora, então se tiverem por trás um Código Civil de raízes napoleónicas bem marcadas é uma festa em 2023 encontrar conceitos de 1804, ainda que devidamente "modernizados".
Os exemplos disparatados que nós damos são sempre fruto do maior bom senso e acentuada sabedoria, direi mesmo de uma brilhante "intuição" ao alcance de qualquer criança de 3 ou 4 anos, os que os outros dão são suspeitos, inúteis, perigosos e, bem vistas as coisas, caca de cão na melhor das hipóteses.
V. deu-me exemplos infantis e queria que eu me interessasse por eles.
(continuação)
Eu disse que não dávamos lições?
O que eu disse foi:
"A Europa dá lições e os EUA pagam a conta, parece-me bem."
Para mim é uma conclusão linear, clara e ainda bem que é assim
Para um espírito mais tortuoso parece sempre uma ironia com laivos de gozação.
"Se deixassem de pagar a conta era uma chatice, a Europa já anda a fugir ao rearmamento por razões ideológicas e financeiras, como é que se explicava à Ucrânia que as reformas dos idosos europeus pesam mais nas sondagens?"
É o que lá está depois de eu dizer que eles pagam a conta.
E é na sequência disto que eu o escrevi, não há outra razão.
Que haja muita gente que ache que já não vai viver tempo suficiente para se preocupar com esses pormenores da sustentabilidade da Segurança Social, do SNS, dos aumentos de impostos se fôr preciso aumentar as verbas para as F.A. europeias, já me faz confusão como faceta egoísta que é.
É que já se sabe há muito tempo, mesmo que a guerra acabe para a semana, que a Europa para ser livre e soberana tem que ter umas F.A. próprias (conjuntas ou coordenadas em conjunto) para se ver livre da enorme dependência nessas matérias daquele tal país que “eu adoro” e que V. “odeia”.
Eu quero ver-me livre deles e o “caramelo” vive aparentemente feliz porque é do interesse deles, eles ganham com isso, não é favor nenhum que nos fazem, os ricos que paguem a crise.
Há quem goste de ser subsidio dependente, eu não.
E mais uma vez não me leu as vezes que por aqui falei nos últimos tempos do “complexo militar-industrial” americano e de como ele continuará a mandar no mundo como sempre mandou, aconteça o que acontecer e ganhe quem ganhar.
“Não tome as dores deles, não é preciso” é de antologia paternalista e comovedora.
Eu digo que não quero saber deles para nada excepto da música pop dos anos 40, 50, 60, 70, que nada ali me interessa particularmente, que andei por muitos sítios no mundo mas que ír lá só em serviço e nem sempre e afinal tomo as dores deles.
O “caramelo” não sei se deu a volta ao mundo dez vezes ou se nunca saíu do quarteirão onde vive e, não se tomando de dores por eles, toma-se de calores contra eles (por interposto eu).
“Haver antiamericanismo pelo mundo se calhar até os envaidece.”
É evidente, falem mal de mim, mas falem de mim.
É uma máxima que todos os que passaram da cepa torta conhecem bem.
Não quero deixar no entanto de lhe agradecer publicamente estas oportunidades que me dá de estar ocupado aqui a pensar e a escrever.
Como algumas pessoas daqui sabem, preciso de ter o espírito sempre ocupado por razões várias, entre as quais se inclui (ainda que não seja a mais importante), o facto de o cérebro ser um músculo e necessitar de exercício diário.
Até breve no local do costume.
Aqui, se não fôr corrido por indecente e má figura.
PS- Despeço-me já porque tenho ali um problema do selector de uma caixa de velocidades do carro de um neto meu que ainda não está resolvido e a oficina é a 200 kms daqui, só com fotos é mais difícil dar palpites quando há pormenores que mudam mesmo dentro do mesmo modelo.
Sobre isso é que eu precisava agora de trocar opiniões, que esse problema podemos nós resolver sem o apoio dos EUA (ainda que tenha que ser com o da RPC, é a vida que vai ficar por aí e pouca gente percebe que não lhe vai conseguir fugir).
caramelo
Permito-me a indelicadeza de um conselho.
Faça parágrafos, separe os assuntos.
Do meu estrito ponto de vista seria cansativo e até de pouco proveito para efeitos do diálogo, que se pretende siga uma sequência lógica e se possível exaustiva, tentar ler os seus textos na forma compacta em que os apresenta.
Por isso eu tenho por hábito fazer esse “trabalho” nos textos do tipo compacto a que pretendo responder, suponho que outros também apreciariam a ideia.
PS- Um telheiro à sombra com cómodas cadeiras, 400 m2 de relva flanqueada por sebes em frente, um poço antigo todo coberto por vinha virgem, duas palmeiras à direita, uma grande buganvília à esquerda, a minha mulher sentada no seu canto favorito, neste momento é o que peço à vida.
É fazer “publicar” e daqui a um minuto é lá que estou.
Aproveito para lembrar que cada vez que os europeus manifestam alguma veleidade de se autonomizarem militarmente dos EUA (força de intervenção europeia - o plano eram uns meros 60000 soldados, os satélites galileo, ...), este manifestam imediatamente a sua oposição. Eles querem e fazem tudo o que podem para que os europeus lhes paguem para serem protegidos.
"marsupilami" tem razão mas alguma vez teremos que sair disto sempre pela porta da frente, seria trágico continuarmos a sair tanta vez pela porta de serviço, nunca deixando de nos apresentar como a "velha fidalga falida" que quer dar lições ao mundo que o mundo não quer receber.
O "caramelo" dizia esta manhã que lhes damos lições em democracia, justiça e justiça social.
Podíamos de facto dar, concordo com ele no sentido de ninguém estar mais bem colocado para o fazer.
Mas eles querem-nas e ouvem-nas?
Fazem sequer um esforço para as querer e as ouvir?
É que, não as querendo nem as ouvindo, podemos ser um exemplo para o mundo sem que isso nos adiante seja o que for, estamos a falar para o "boneco".
Duvido que as nações grandes que se debatem na cena mundial pelo "controlo" do mundo nos vejam (europeus) como sábios conselheiros que os encaminharão pelos caminhos da virtude.
Digamos que é cá um "feeling".
«estamos a falar para o "boneco"»
Manuel Campos, Há esse risco, de facto. Falar menos, fazer mais. Regular o nosso mercado (que é, actualmente, aquilo que de mais valioso e poderoso temos) de modo a dar vantagem às empresas europeias, entre muitas outras coisas.
marsupilami
Exactamente como diz mas não estou a ver como isso se faz em tempo útil.
Continuaremos no "falar mais, fazer menos" por uns bons tempos.
As "deslocalizações" deram muito jeito a todos, governos e individuos.
As "relocalizações" não são um processo fácil e foi-se longe de mais.
Do meu ponto de vista a questão não é poder-se fazer quase tudo na Europa, disso não tenho dúvidas, a questão é o preço a que seriam disponibilizadas,
dadas as estruturas de custos locais, especialmente mão-de-obra.
Como é que se convence todo um continente com o nível de vida médio que tem, tão (mal) habituado a ter a casa, os bolsos e os carros cheios de equipamentos de todos os tipos que dizem "Made in R.P.C." (ou outro por ali, para disfarçar) na parte de trás, comprados por tuta e meia, a pagar o dobro ou o triplo (pelo menos) pelas mesmas coisas ou, em alternativa, a não as poder ter?
Se a minha geração talvez sobrevivesse, viveu muito tempo sem isso tudo, a dos 50 já não acharia muita graça e então a dos 20 perdia toda a sua razão de ser, passe o exagero.
PS- Muita gente se insurge contra todo o tipo de exploração que se sabe existir no oriente de onde nos chegam estas coisas todas.
Às vezes o tema surge em conversa e, quando o dono da casa se começa a entusiasmar nos seus ideais, o único que eu comento é se posso ir espreitar por trás da TV, do PC, do micro-ondas, do telemovel, etc, etc onde aquilo tudo é "Made in...".
Aí a conversa acalma e lá vem o "O que é que tu queres, é tão barato".
O problema está aí: é táo barato.
Eu também as compro, mas não lavo a minha má consciência, admito-o.
Ainda ninguém me atirou a 1ª pedra.
Cumprimentos
No mundo actual os Estados Unidos da América são uma Nação incontornável.
E "como cada cabeça cada sentença" dizem-se coisas sobre aquele gigantesco e deversificado País e sobre os seus nacionais. Tudo bem.
Quanto aos recentes acontecimentos políticos por lá, uma observação.
Imaginemos que em Portugal em vez de se mencionar o "Sistema Judicial português", se afirmava "o sistema Judicial de A. Costa", literalmente.
Actualmente há quem defenda ser correcto afirmar, hoje em dia, "Democrat´s or Biden´s Justice Department"....
Conhecem realmente o desempenho do procurador especial R. Mueller (5 anos de poder absoluto, dezenas de advogados, milhões de dolars) e agora os antecedentes do procurador Jack (e do seu chefe Procurador Geral Garland)?.
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