terça-feira, julho 04, 2023

Empregos

Em Portugal, há negócios que remuneram mal os seus trabalhadores, embora sejam muito lucrativos. Não é desses que vou falar.

Falo da imensidão de pequenos negócios, em geral no comércio e serviços, que geram lucros ínfimos e que, naturalmente, oferecem salários muito baixos. São tarefas que há cada vez menos portugueses a quererem aceitar, muitas das quais por serem penosas, em outros casos, por estarem socialmente desqualificadas. Os negócios pouco lucrativos oferecerão sempre, necessariamente, baixos salários. Ou isto não é uma evidência?

Não será por acaso que, para a execução dessas tarefas, apenas se oferecem estrangeiros oriundos de sociedades mais pobres, para quem o pouco que lhes pagam em Portugal acaba, não obstante, por ser interessante. Quem se lembra das tarefas executada pela emigração portuguesa que ia para a Europa dos anos 70 percebe do que falo.

Por isso, querer dificultar o acesso desses estrangeiros - "já há estrangeiros a mais!" - ao nosso imenso mercado de tarefas pouco qualificadas e de baixos salários, onde se verifica uma crescente escassez de mão-de-obra nacional, é uma atitude sem o menor sentido, economicamente estúpida e, no fundo, se bem pensarmos, desumana.

Repito que este post não trata do caso de negócios rentáveis, que empregam muitos estrangeiros, e que, não obstante isso, pagam mal. Essa é outra conversa.

6 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Sem tirar nem pôr!

afcm disse...

Pois...e então, não será uma absurda incongruência que nós, como sociedade, não nos sobressaltemos com o facto de se remunerarem pior os trabalhos mais penosos ?
Tenho pensado muito no assunto e cada vez mais me convenço que os trabalhos mais penosos ( de quem toda a gente foge) deveriam ser dos mais bem remunerados....
Haveria de se encontrar uma forma...

Joaquim de Freitas disse...

Bom tema Senhor Embaixador...

O dever de resgatar os pobres da miséria e o dever de distribuir equitativamente a riqueza produzida não são da mesma ordem.
O primeiro é um dever de urgência .

Basta que um único homem seja mantido conscientemente, ou, o que dá no mesmo, deixado conscientemente na miséria, a porta da sociedade fechada na sua cara, para que o ódio acorde e com ele todas as incivilidades.

Mas isso não diz nada sobre as suas condições de vida, não diz nada sobre as habitações exíguas ou insalubres, a vergonha sentida na fila do banco alimentar, o corte de electricidade, o medo da expulsão, do esgotamento e da humilhação diária.

Aqueles que ficariam satisfeitos (por constrangimento, como escreve) com salários abaixo da linha de pobreza, nunca subirão de patamar se nada for feito. Soluções existem, entre as quais a de “ajudar” o empregador, através dos impostos ou das cotizações sociais, sem se contentar com “as migalhas” da riqueza global.

“Há pano para mangas”, sem questionar seriamente a extrema concentração de riqueza ou a indecência dos rendimentos e bens dos mais ricos.

O problema de financiamento não é económico, não é saber "quanto custa" e se "podemos pagar", porque a resposta a essa pergunta é obviamente “sim” A questão é política, é decidir “quem paga e quanto”

Poder-se-iam prever muitos mecanismos completamente gratuitos, no que diz respeito a transportes, água e energia, alimentação... Mas sabemos que estes mecanismos de socialização e partilha equitativa da riqueza se opõem aos de privatização e maximização dos lucros. E se é este que se impõe, esperem pela explosão…na rua.

Luís Lavoura disse...

O facto é que o acesso de estrangeiros é dificultado. Não se trata de uma questão de opinião, trata-se de um facto.
O facto é que há enormes carências no mercado de trabalho português - por exemplo, na construção civil -, carências essas que não se consegue colmatar.
O facto é que ainda agora um colega meu, indiano, não pôde sair do país para ir a uma conferência porque o seu visto caducou e o SEF está incapaz de renovar vistos. Ele está, efetivamente, prisioneiro em Portugal: se sai, não pode voltar a entrar.

Francisco disse...

Meu caro Francisco, as contradições do sistema capitalista têm-se acentuado e evidenciam-se de forma directamente proporcional à complexidade que o sistema reveste nas sociedades contemporâneas e nomeadamente naquelas que integram o chamado "mundo desenvolvido" (e que estranho é este planeta, no qual parece ser sina constante que apenas uns se desenvolvam, enquanto outros definham...).
Contudo e apesar disso, não deixa de continuar a ser evidente que a via social-democrata, tanto na visão primacial do séc. XIX como agora, depois dos "up-grade" de 1945 e 1989, não representa efectivamente qualquer utópica terceira via. É também por isso que acontece França, que acontece Espanha e que, creio bem, acabará por acontecer também Portugal.
Tal como o Francisco evidencia, o capitalismo é em si mesmo, uma civilização das desigualdades, irreformável naquilo que representa o seu âmago.

Luís Lavoura disse...

a imensidão de pequenos negócios, em geral no comércio e serviços, que geram lucros ínfimos e que, naturalmente, oferecem salários muito baixos. São tarefas que há cada vez menos portugueses a quererem aceitar

Mas muitos desses pequenos negócios têm necessariamente que ter funcionários portugueses. Refiro-me por exemplo a livrarias, farmácias, papelarias e uma multitude de outras pequenas lojas, em que grande parte dos clientes são portugueses e é essencial ter desenvoltura na língua portuguesa. Esses negócios geralmente também oferecem salários muito baixos - mínimo ou muito próximo disso. Conheço diversos exemplos...

Falemos então da velhice, através de Philippe Noiret

"Il me semble qu'ils fabriquent des escaliers plus durs qu'autrefois. Les marches sont plus hautes, il y en a davantage. En tou...