terça-feira, maio 14, 2024

Muito bem!

Acho muito bem que o primeiro-ministro português tenha decidido fazer hoje, às 20 horas, uma comunicação ao país, com vista a reagir, com a firmeza que a decência exige, ao inaceitável ato racista e xenófobo de que foi vítima uma criança nepalesa. 

Muito bem, Luís Montenegro! Que as mãos não lhe doam!

6 comentários:

João Cabral disse...

Alhos e bugalhos, senhor embaixador? Já temos Marcelo para comentar tudo e mais alguma coisa, e chega.

Unknown disse...

Com a devida vénia, faço meu o comentário anterior.

A.Teixeira disse...

Afinal, lendo o editorial do Público de ontem (17), afigura-se como muito provável que a criança nepalesa nunca terá existido. Que azar o seu o de ter publicado esta estruturada ironia e que sorte a do primeiro-ministro não ter pronunciado afinal um discurso ao país sobre uma criança que... não existia.

Francisco Seixas da Costa disse...

Para A. Teixeira: O caso do linchamento de um menino nepalês, de nove anos, por outros cinco colegas numa escola da Amadora, em Lisboa, com ofensas xenófobas e racistas, tornado conhecido na passada terça-feira pela Rádio Renascença, mas ocorrido há dois meses, deixou o país novamente em alerta para a intolerância e ódio, que chega também ao espaço escolar.

E deu-nos conta do medo e desproteção que as comunidades imigrantes sentem perante as nossas instituições. As graves agressões deixaram um impacto físico e psicológico na criança.

Os socos e pontapés foram servidos com frases de ódio como “vai para a tua terra”, “tu não és daqui”, “não queremos nada contigo” e outras ofensas não contadas por pudor. Mas ainda mais grave do que este episódio, é como o sistema reagiu.

ESCOLA DESVALORIZOU

A escola encolheu os ombros. Afinal de contas eram “apenas crianças”. E entre crianças não se mete a colher, já se sabe. Eles que se resolvam. Não se deve valorizar. São miúdos. Faz parte. A direção considerou ser um ato isolado. E não denunciou as agressões com motivações xenófobas. Um escola pode fazer isto, num país que preza os direitos das crianças e os direitos humanos? Não, não pode.

E, com isso, normalizaram um episódio de extrema violência física e verbal contra um rapaz. Nepalês. Se fosse um menino português a escola teria reagido de maneira diferente?

Em Portugal quantas crianças imigrantes, ou filhas de imigrantes, sofrerão ataques de ódio no recinto escolar desta natureza e gravidade com a conivência das direções, auxiliares e professores?

O ódio aprende-se também em casa e ganha espaço nas escolas quando não há tolerância zero para estes atos.

Neste caso, os pais não se sentiram apoiados e protegidos, optaram por não apresentar queixa, por medo, e acabaram por pedir transferência da escola para garantir a segurança do filho.

O MEDO DE FAZER QUEIXA

Depois desta tareia grupal, o menino ficou com um corpo de Cristo, inúmeros hematomas e feridas abertas, que “acabaram por ser tratadas pela mãe porque teve medo e quis evitar ir a um hospital ou centro de saúde.”, relatou a diretora executiva de uma instituição da igreja, o Centro Padre Alves Correia (CEPAC). Isto é tudo atroz e grave.

Este medo dos pais de fazerem queixa ou de recorrerem a um hospital ou centro de saúde português, antevendo não serem igualmente bem tratados e acolhidos nestes lugares, diz tudo sobre o tempo de intolerância que vivemos.

Entretanto, o Expresso apurou que a Procuradoria-Geral da República confirmou na passada quinta-feira a “receção de uma denúncia relacionada com a matéria."

Este episódio aconteceu semanas depois de ser noticiado que seis homens encapuzados, armados com bastões, facas e uma arma de fogo invadiram a casa onde vivem dez imigrantes argelinos e um venezuelano, para os espancar, destruir a residência e proferir insultos racistas e xenófobos. O Expresso apurou que dois irmãos sob suspeita de terem organizado estes ataques integram o núcleo nortenho do Grupo 1143, liderado pelo ativista neonazi Mário Machado.

Não dá para ignorar que estes atos são validados, e incentivados até, pelos recorrentes discursos xenófobos e racistas da extrema direita.

A.Teixeira disse...

Ao pespegar-me com um artigo do Expresso de hoje (a que eu respondo com a transcrição mais abaixo do editorial do Público de ontem para que quem leia esta caixa de comentários leia as duas versões), fica-me a certeza que perdeu de vista o essencial desta questão:

Ainda acha que teria ficado bem ao primeiro-ministro português ir pronunciar-se em comunicação ao país em horário nobre sobre um episódio que continua em dúvida ter ocorrido? Ou que, a ter ocorrido, terá ocorrido há dois meses?

Porque foi isso mesmo que sugeriu, ao escrever o que escreveu. E espero que, desta vez não censure ainda mais este comentário.

Eis o editorial do Público:

Criança nepalesa: não sabemos

Há momentos em que o jornalismo tem de dizer que não sabe. É a atitude mais honesta quando se chega a um beco sem saída numa questão que tem despertado tantas paixões como a da alegada agressão por um grupo de crianças a uma outra criança, de nove anos, que seria de origem nepalesa. A verdade é que, quatro dias depois da primeira notícia, não conseguimos garantir sequer que a agressão tenha acontecido.

Recordemos como tudo começou. Na terça-feira de madrugada, a Rádio Renascença noticiou que um menino nepalês de nove anos teria sido “vítima de linchamento” numa escola de Lisboa. Ao início da tarde, já havia muitas reacções ao caso e este jornal noticiou pela primeira vez a ocorrência, recorrendo a uma notícia da agência Lusa que dava conta de que uma associação de nepaleses denunciava “o aumento do bullying contra filhos de imigrantes”.

Daí para cá, fomos noticiando as contradições em torno do caso, com várias entidades, do Ministério da Educação à Procuradoria-Geral da República, a levantarem mais dúvidas do que certezas. Pelo nosso lado, fomos tentando encontrar respostas junto das diferentes entidades oficiais, escolas, associações de imigrantes, que nos permitissem reconstituir um episódio que teria ocorrido no início do ano. Sem quaisquer resultados que nos permitam, neste momento, garantir que o episódio de facto aconteceu.

Um episódio ocorrido na semana passada tem paralelos com este caso, embora com resultados diferentes. Digitem num motor de busca o nome Anthony Shaukat e vão ver uma série de notícias sobre um investigador paquistanês que teria sido morto no Porto num assalto. Acontece que não existe nenhum registo do sucedido na polícia portuguesa e por isso não escrevemos uma linha, mas a “notícia” continua a correr mundo.

Vivemos uma era de profunda desinformação e é por isso que, com enorme sentido de responsabilidade, nos empenhamos todos os dias para trabalhar o mais possível junto da verdade. Outro tanto têm a obrigação de fazer os responsáveis políticos. Um caso que ainda hoje não sabemos se existiu motivou reacções do Presidente da República, de forças políticas na Assembleia da República e mesmo a tomada de medidas concretas pela ministra da Administração Interna – que, depois dos delinquentes juvenis no Exército, continua a ser de uma precipitação exemplar.

Se mais não se conseguir apurar, ao menos que o episódio fique como um gigantesco alerta sobre os cuidados com que temos de nos munir para não contribuir com ruído para o barulho ensurdecedor que nos rodeia.

Francisco Seixas da Costa disse...

A. Teixeira não percebeu a ironia do post. Eu sabia bem do que LM ia falar, descanse!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...