domingo, julho 02, 2023

"Allons, enfants..."


"Allons, enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé 
Contre nous, de la tyrannie 
L'étendard sanglant est levé"

Era a isto que Rouget de Lisle se referia em "La Marseillaise"? Ao pé do que se tem passado nestes dias, o Maio de 1968 foi uma doce brincadeira...

6 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Lamentável toda esta destruição, mas muito mais lamentável é que, num Estado de Direito, a autoridade fuzile à queima-roupa um jovem, delinquente ou não, de 17 anos.

Em Maio de 68, a juventude do baby-boom fez a sua revolução.

Os filhos protestam e revoltam-se contra a autoridade dos pais.
Filhas rebeldes levantam-se contra a submissão das mães.

Cinquenta e cinco anos depois, a juventude hiperconectada parece anos-luz de distância do estado de espírito revolucionário , de punhos cerrados e levantados, que incendiou a sociedade francesa naqueles anos.

Em 1968, ela possuía as chaves para a revolução cultural que transformaria a França nas décadas seguintes. Em 2023, ela possui as habilidades digitais essenciais para evoluir no mundo de amanhã.
Mas ao ver o que se passa hoje em França, e amanhà noutros paises, algo parece falhar no sistema.

Se os jovens olham para o futuro, o que eles veem?

Para muitos deles, uma série de biscates precários, (quando nao sao trafegos de toda a espécie), (mulher sanduíche de achocolatado, distribuidora de jornais grátis etc.) e humilhações da hierarquia: “Hoje à tarde, vamos testar o estagiário que te vai substituir.
Você vai treinar bem, hein?"

Para a estudante furiosa a situação é simples: é uma guerra de gerações. “Os jovens não são apenas uma categoria de idade, são uma classe social. Tudo nos é pedido sem nos dar nada em troca.
Ela decide agir contra esta situação. Ela cria um site e publica um vídeo para convocar os jovens à revolta. O movimento está se tornando viral. Os modos de acção são organizados. Mais que aquilo que as autoridades pensam !

A desvalorização dos diplomas ! que responder ao caixa do supermercado que se apresenta :"Olá senhor, meu nome é Julien, estou no 4º ano de arquitectura", diz um jovem caixa a um cliente estupefacto. Você tem o cartão fidelidade da loja?

Um planeta degradado pelos efeitos das alterações climáticas, uma biodiversidade em rápido declínio (anuncia-se o desaparecimento progressivo das aves), inteligências artificiais que se arriscam a substituir os humanos, o espectro do Big Brother , com radar e tudo, e super armado, onde o racismo é cada vez mais incontornável, e aos abusos de autoridade mortais, Estados que, em vez de democratizar, se tornam mais autoritários.
Terrorismo sem fim à vista, aumento sem precedentes de pessoas que fogem do seu país em todo o mundo, etc. E sabemos porquê ! E de quem é a culpa !
Em suma, a crença no progresso, firmemente enraizada em 1968, deu lugar ao cepticismo, se não ao medo.

APS disse...

Há que lembrar e juntar o gosto da juventude pela aventura, bem como a tentação da anarquia. Acrescentar, objectivamente, as delícias e delicadezas da democracia. Evitando aditar a caridade de explicações piedosas e metafísicas para justificar as razões humanas dos pobrezinhos.

Reaça disse...

Até os aitolas do irão pedem contenção na violência à França.
Não vá a França recorrer à guilhotina?

manuel campos disse...


A "rua" de França, como aliàs venho aqui escrevendo.
A comparação com Maio de 1968 só pode ser feita nos estritos termos em que o texto a apresenta, sendo qualquer outra ideia ou comparação um anacronismo mais que deslocado, direi mesmo disparatado.

A única curiosidade que “liga” as duas situações é o facto de Maio de 68 ter sido antecedido durante quase todo o ano de 67 por um vasto movimento contra as disposições visando a segurança social e a saúde (agrupadas num mesmo ministério para o efeito), o governo propunha-se uma redução das despesas públicas (pensões de reforma e serviços de saúde), preocupado que estava com as contas da S.S. em 1970 (!).

O passado é um país estrangeiro e, acrescento eu, cada vez mais distante, mesmo para os que lá viveram grande parte da vida (como será o nosso caso, de um modo geral, por aqui), de facto até quanto mais tempo lá vivemos mais se nos afigura estrangeiro e distante.
O mundo só continua “parecido” para os que ficaram lá atrás, entre os quais continuo a encontrar um número razoável de “soixante-huitards” mais ou menos fossilizados, gente que tem grande culpa de tudo isto que vai acontecendo e não parará mais, gente que não evoluiu nem quer evoluir, não percebeu nem quer perceber, há um conforto que encontraram nesse reaccionarismo (ver definição) a que se agarram como podem.

Costumo dizer que uma direita cega e instalada levou a que, um pouco por toda a Europa, a esquerda se tenha vindo a impor desde a WWII.
E lamento profundamente que o fenómeno oposto se esteja a impor agora na Europa, graças a uma esquerda que se tornou cega e instalada e que, em vez de tentar (já nem peço mais) um mundo para as novas gerações, não tem mais argumentos que “papões” ridículos aos olhos da enorme maioria dos que têm pela frente toda a vida e nenhum futuro.


J Carvalho disse...

Ouve-se e lê-se, por todo o lado, que se trata da revolta da juventude contra a policia. Mas será mesmo isso? Só isso?
Há dias uma professora dizia que todos os seus alunos negros ou árabes foram alguma vez identificados pela polícia enquanto que os alunos brancos só tiveram problemas quando acompanhavam os negros ou araves.
Falava do absoluto abandono a que aqueles jovens estão entregues, sem qualquer perspectiva de emprego, de integração sócio economica.
Talvez se os milhares de milhões que o governo francês desencantou ultimamente tivessem sido destinados a promover a integração social e económica dos seus residentes, provavelmente, não estaríamos a assistir às convulsões que têm marcado o mandato do le roi Macron.

Flor disse...

Lastimável!

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