sexta-feira, julho 07, 2023

Não, não vale tudo

A questão das armas de fragmentação estabelece uma fronteira moral entre os aliados. E isto nada tem a ver com a Ucrânia. Tem a ver com a decência.

13 comentários:

balio disse...

Exatamente. Agora os EUA vão fornecer à Ucrânia, e a Ucrânia vai utilizar, em parte contra a população civil que diz ser sua, uma arma que é proibida em muitos dos países aliados dos EUA.

Isto mostra bem o estado de desespero dos EUA e da Ucrânia, que não estão a ter sucesso na guerra, apesar do dinheiro sem fim (obtido a crédito) que estão a gastar nela.

Joaquim de Freitas disse...



De acordo com a lei internacional, essas armas (UA) são ilegais porque infligem "danos supérfluos e sofrimento desnecessário, não são discriminatórias, causam danos sérios e duradouros ao meio ambiente e permanecem mortais por muito tempo após o fim do conflito".

O seu uso foi condenado por uma resolução das Nações Unidas de 1996. Por sua vez, o Parlamento Europeu votou em 2001 por uma moratória sobre seu uso.

Deviam exilar aqueles que as querem utilizar na Ucrânia, passar férias em Fallouja, no Iraque, ver o triste espectàculo da democratizaçao à "americana"!Uma cidade destruida! Porque era sunita !

Um número altíssimo de crianças nascidas malformadas, tanto que “toda família ou quase tem o seu 'bebê-monstro' em Fallouja”.

37 nascimentos de bebês malformados em apenas três semanas. Uma pobre Mae,conta: Nenhum dos seus três filhos, de três a seis anos, consegue andar. Eles também não podem alimentar-se.

Joaquim de Freitas disse...

Senhor Embaixador: Se me permite, gostaria de acrescentar o que segue, para a historia :

O mais importante bombardeamento com essas armas foi o realizado pelos Estados Unidos, entre 1965 e 1973, na província de Xieng Khouang, no Laos, durante a "guerra secreta" contra o Pathet Lao.

Este bombardeiamento é considerado o maior do mundo, antes do de Dresden ou dos de Tóquio (bombardeio incendiário de casas em sua maioria de madeira, maio de 1945), ambos também dos Estados Unidos.

Mais de 2 milhões de toneladas foram lançadas lá. Estima-se que actualmente, concentradas principalmente em torno da cidade de Long Tien, outros 30% dessas bombas não explodiram. Houve mais de 20.000 vítimas dessas bombas não detonadas desde o fim da guerra.

manuel campos disse...


Confrontam-se dois mundos que Jacques Prévert definiu magistralmente:

"Qu'est-ce que cela peut faire que je lutte pour la mauvaise cause puisque je suis de bonne foi?
Et qu'est-ce que ça peut faire que je sois de mauvaise foi puisque c'est pour la bonne cause?".

Depois cada um escolhe de que lado está, isto são argumentos que dão para todos, seja o lado de que estiverem, seja o assunto o que for, da trica de trânsito à guerra generalizada.
Uma escalada na guerra que uma volta pelos jornais europeus de ontem e hoje nos mostra que agora estão assustados, finalmente devem ter percebido que a guerra é na Europa.

Em resumo: o "Tratado Internacional de Proibição de Bombas de Fragmentação" no lixo, mais ninguém vai querer saber disso a reboque dos que nunca quiseram saber disso.


É interessante ler o que a CNN diz em "What are the cluster munitions the US is supplying Ukraine with and why are they so controversial?

Ali quase no princípio temos que: "The US has a stockpile of cluster munitions known as DPICMs, or dual-purpose improved conventional munitions, that it no longer uses after phasing them out in 2016".
E quase no fim: "US forces began phasing them out in 2016 because of the danger they pose to civilians, according to a 2017 statement from US Central Command".

J Carvalho disse...

Vale tudo, vale, se o que está em causa é a defesa dos direitos e dos valores americanos.

Joaquim de Freitas disse...

J Carvalho disse...
"Vale tudo, vale, se o que está em causa é a defesa dos direitos e dos valores americanos."

Claro, mas aparecem agora alguns mais honestos dizendo coisas que os outros, os falcoes, nao querem ouvir. Como escreve o Sr. Manuel Campos :"Depois cada um escolhe de que lado está".

Uma vitória da Ucrânia é uma vitória essencial para as democracias em todo o mundo, mas essa vitória não pode ocorrer às custas dos nossos valores americanos e, portanto, da própria democracia. Eu desafio a ideia de que deveríamos estar empregando as mesmas tácticas que a Rússia usou, turvando as águas quando se trata de moralidade. »

— Chrissy Houlahan, representante democrata da Pensilvânia e veterana da Força Aérea, reagindo à decisão do governo Biden de fornecer munições cluster à Ucrânia, cujo uso é proibido por uma convenção à qual aderiram mais de 120 países, incluindo o Canadá.

manuel campos disse...


Eu espero sempre que impere algum bom senso mas admito que cada vez espero menos, a ver vamos o que acontecerá em Vilnius mas duvido que alguém volte atrás, não se volta atrás quando já se andou muito para a frente.

Ainda que de um modo demasiado tímido para o que está em causa (o respeitinho é muito bonito) há cada vez mais países da NATO a porem objecções às armas de fragmentação, mas que só podem pôr objecções, não o podem impedir pois estão a lidar com 3 países que não assinaram a Convenção (EUA, Russia, Ucrânia).

E não só estes, conta-nos o "Le Monde" que "Le Cambodge met en garde Kiev contre l’usage d’armes à sous-munitions", o Cambodja continuando a ser um dos países mais minados do mundo, onde milhares de pessoas foram mortas ou ficaram mutiladas precisamente com este tipo de armamento.

Ontem o mesmo "Le Monde" dizia em editorial da redacção que se está a ultrapassar "un cap éthique", que é exactamente a "fronteira moral entre os aliados" de que fala este texto.
E se o "Le Monde" o diz é porque o assunto é sério, eles têm o seu campo perfeitamente demarcado desde sempre, mas começam a ver que as consequências disto tudo podem abrir brechas graves entre esses mesmos aliados que, com alguma razão, se começarão a interrogar do que é que virá a seguir sem o poderem impedir.
E o que virá a seguir pode vir de qualquer dos lados, ía escrever connosco a vê-las passar por cima, mas porventura ou quase decerto connosco a "apanhar com elas" quando pura e simplesmente não estávamos em condições de as impedir.

PS- Ontem chamei "Tratado" ao que é uma "Convenção", não é grave mas 8acho eu), fui atrás de documentação produzida por Bruxelas em 2007, ainda na fase de preparação, que lhe chamava assim.

Anónimo disse...

Devagar, devagarinho, o "Ocidente" - Nato, Washington e a UE - vão-se atolando na Ucrânia. Seria bom saber quantos milhões de milhões já foram gastos, concedidos ao regime corrupto de Zelensky, em armas, sobretudo, mas também noutro tipo de ajudas. E que nos digam, a nós contribuintes, quanto isso irá custar e pesar nos nossos respectivos OGE. Por outro lado, em momento algum, quer a UE, Nato e EUA se prontificaram a apresentar um plano de paz, pelo contrário, tudo têm feito para aumentar a fogueira no conflito. A Ucrânia nunca, mas nunca, sairá vencedora desta guerra, só mesmo um tonto acreditará nisso e, nesse sentido, fica a pergunta: valeu a pena tanto gasto em armamento, etc? Não, não valeu a pena. Pior, perdeu-se credibilidade, da parte da UE, Nato e EUA para poderem, um dia, servir de intermediário para a paz no conflito. E, quem sabe, um dia, as FA ucranianas, cansadas da guerra e sem resultados ou capacidade para a ganhar, ainda acabam por enviar o traste do Zelensky para um qualquer exílio dourado, na Polónia, Bálticos, RU, ou EUA e iniciam conversações de paz com Moscovo, talvez com outros parceiros de permeio (Turquia, China, Brasil?).
Esta decisão de Washington, no que respeita às bombas de fragmentação é criminosa. Há que dizê-lo sem subterfúgios. Uma palavra final para os comentários de Joaquim Freitas, sempre excelentes.
P.Rufino

Unknown disse...

Se não servir para atacar populações civis, acho justificado. Aliás, é o que a Rússia merece depois do ataque à estação de comboios em Kramatorsk.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Sem dúvida, Sr. Embaixador, mas infelizmente, guerra e decência combinam muito pouco ou nada e o relativismo facilmente se impõe.
Estamos a chegar a um ponto que só falta mesmo ressuscitarem o napalm.

Joaquim de Freitas disse...


Unknown disse...
Se não servir para atacar populações civis, acho justificado. Aliás, é o que a Rússia merece depois do "ataque à estação de comboios em Kramatorsk."

Um bom estomago ocidental, o deste "unknown" das 10.08, que digere tudo o que vem dos nazis de Kiev.

So que, a màquina de propaganda do regime de Kiev cometeu mais uma vez um grave erro ao mostrar o número de série do foguete (mais precisamente, do seu motor): 5V55.

Por que isso é um grande erro? É muito simples: este número 5V55 (5B55 em russo) é o atribuído à primeira série do complexo de defesa aérea S-300 PS. Ou seja, que este é precisamente um dos três únicos sistemas de mísseis antiaéreos que as forças armadas ucranianas têm desde 1991 (além das entregas muito recentes de sistemas ocidentais): S-300 PT, S-300 PS e S-300V .

Quanto às unidades de defesa aérea das Forças Armadas da Federação Russa, foram completamente reequipadas anos atrás, muito antes do início do conflito na Ucrânia, com a versão subsequente e profundamente modernizada desse sistema de defesa. Versão estruturalmente distinta e que possui números de série completamente diferentes dos exibidos no corpo do propulsor atualmente exibido pela Ucrânia.

Nem um único sistema S-300 PS está em serviço no exército russo.

Outro caso conhecido, quando esse mesmo modelo de míssil ucraniano caiu no território da Polônia, em 15 de Novembro de 2022, e ali causou uma vítima civil( um agricultor). Uma declaração da mentira premeditada de Zelensky imediatamente seguiu o erro ao culpar a Rússia. Mesmo depois de a Polónia ter fornecido provas materiais incontestáveis ​​em contrário, que assim teve de o fazer, face à flagrante evidência dos factos.



José Correia da Silva disse...

O Joaquim de Freitas é um moralista de pacotilha..!
Porque não, proibir todo o armamento e respectivas munições?????

Pois é,do maior tráfico a nível mundial (armamento e munições) ninguém vem a terreiro debitar bitaites..!
E, sabemos muitíssimo bem, qual a razão,que que assiste
essa "omissão":
A promiscuidade politico-militar...!!!!!!

Joaquim de Freitas disse...





José Correia da Silva disse:

Moralista ? Creio que não leu o tema proposto pelo Sr.Embaixador, onde escreve e muito bem que não se trata só de moral mas de decência! Sobretudo quando se conhecem os efeitos de tais armas. Os iraquianos, os habitantes do sudeste asiático, os servos sabem o que é…

Então o Sr quer “proibir todo o armamento e respectivas munições?????• Quer condenar o “ganha-pão” das grandes potências “? Particularmente dos EUA?

Isto é verdade?