sexta-feira, maio 10, 2024

Carlos Fernando Mathias


Em janeiro de 2005, poucos dias depois de ter assumido funções como embaixador no Brasil, fui informado de que estava na embaixada e tinha manifestado interesse em falar comigo um magistrado brasileiro, o desembargador Carlos Fernando Mathias. 

Como ele não tinha audiência marcada e os meus dias estavam muito preenchidos, perguntei a que título ele queria ver-me. Creio que foi a Daisy, uma das minhas secretárias, que me esclareceu, com um sorriso: "Como grande amigo de Portugal que ele é". Estou ainda a ver a figura pequena e ligeiramente avantajada do visitante a entrar no meu gabinete. Trazia os braços abertos, para um primeiro abraço que me deu, como se me conhecesse de toda a vida.

O Carlos, com a sua mulher Maria Luísa, constituiam um dos mais simpáticos casais de Brasília. O sorriso, naquelas duas caras, era uma imagem de marca permanente. Cedo ficámos bons amigos. Ambos eram visita frequente da nossa residência e recordo sempre a grande festa anual que organizavam no jardim da sua casa, naquele que era um ponto alto da vida social de Brasília, coberto pela reportagem televisiva do Gilberto Amaral - que, com a coluna da Jane Godoy, determinavam então quem era "gente" na sociedade brasiliense. Essa era também uma ocasião que eu aproveitava para visitar a imensa coleção de placas "Cuidado com o cão", em várias línguas, que o Carlos se entretinha a colecionar. Uma delas foi oferecida por mim, creio que trazida de Bangkok.

O meu amigo Carlos Mathias, com uma vida muito ativa no mundo judiciário e universitário, tinha uma caraterística raríssima para quem se movia na complexa sociedade de Brasília: nunca lhe ouvi dizer uma palavra desagradável sobre ninguém. O Carlos era um homem positivo, congregador, apreciado por todos, sempre com uma imensa disponibilidade para os amigos e conhecidos. Ah! E era, de facto, como o vim a provar, um grande amigo de Portugal. Por aqui o voltei a encontrar um par de vezes, com a alegria, a bonomia e a abertura pessoal de sempre.

Do Brasil, dizem-me agora que o Carlos morreu, aos 85 anos. Sabia-o doente há uns tempos e que já tinha atravessado períodos bem difíceis. À Maria Luísa e restante família deixo um forte abraço de pesar e de muita e sincera saudade.

2 comentários:

Flor disse...

Que descanse em Paz.

Tony disse...

Sr. Embaixador. morre-se muito. como diz, com frequência, um amigo meu. As pessoas boas, sobretudo, deviam viver mais tempo. Que a sua alma, descanse em paz.

Gaudin

Um dia de 2010, quando era embaixador em França, fui alertado para o facto de uma empresa portuguesa de construção civil, sedeada em Braga e...