domingo, maio 05, 2024

Cabo Verde


Descolonizado e descomplexado

5 comentários:

manuel campos disse...


Cabo Verde sempre foi e é um caso especial, poderia (e dizem que quereria) ter ficado com um estatuto semelhante ao dos Açores e da Madeira, mas os ventos na altura sopravam de outros lados e havia outros interesses em jogo.

Um filho meu vai lá de vez em quando no âmbito das suas actividades profissionais e já fala em passar a viver lá uns meses por ano, dado que pode fazer o que faz a partir de qualquer sítio no mundo, desde que haja aviões e internet com frequência.
Dado que a descendência dele está bem e recomenda-se, é mais fácil.

Adora aquelas gentes (e aquelas praias).

Carlos Antunes disse...

A propósito deste post, não pude deixar de o relacionar com a recente publicação do antropólogo cabo-verdeano Manuel Brito-Semedo "Cabo Verde: Ilhas Crioulas - Da Cidade-Porto ao Porto-Cidade (Séc. XV-XIX)", onde resumidamente afirma que “Cabo Verde não pertence a África, que as ilhas cabo-verdianas não são africanas e que o destino deste país não é África, pois a sua viragem é toda para a Europa".
A curiosidade é que ao ler o livro, me pareceu que Manuel Brito-Semedo acaba em 2023 por dar razão a Mário Soares quando, muito criticado, defendeu (Colóquio ISCTE "Vozes da Revolução: Guerra Colonial e Descolonização", Abril de 2010) que “Cabo Verde não devia ter sido independente”.
Constate-se a similitude de ideias:
Manuel Brito-Semedo: «Desde sempre, Cabo Verde esteve de costas viradas para o continente. As ilhas estão dispostas no formato de meia-lua, de costas viradas para o continente e culturalmente sempre foi assim. Nós não nos conhecemos e há uma relação de desconfiança deles em relação a nós por causa disso. Nos anos 50 do séc. XX, diante dos movimentos anticolonial e pró-independência, os intelectuais consideraram que "era preciso negar Portugal e voltar para África”. Não é verdade que Cabo Verde seja uma “sociedade africana”: Somos é uma “sociedade crioula” que por razões geográficas estamos ligados a África, mas que importamos de África uma coisinha de nada e a nossa viragem é toda para a Europa. E como exemplo dá a forma como a Cidade Velha, na ilha de Santiago, é apresentada a quem a visita, com enfoque no aspecto africanista e na escravatura, quando assevera “Está lá, sim, mas a cidade não é importante por causa disso, é reconhecida como Património da Humanidade pela UNESCO por ter sido uma cidade europeia”, a primeira cidade europeia dos trópicos.»
Mário Soares: «Eu pensava que Cabo Verde não é propriamente África porque é um arquipélago do norte do Atlântico e que há uma relação que deveria ter sido mais explorada entre os três arquipélagos existentes que são os Açores, a Madeira, e as Canárias e podia ser Cabo Verde. Eu sempre achei que Cabo Verde não deveria ter sido independente, não assisti à independência de Cabo Verde por isso mesmo. Admitindo que "era muito difícil" que o caminho seguido não tivesse sido então a independência, explicou que não explicitou o seu pensamento sobre o assunto, porque eu já estava fora do combate no processo que conduziu à independência de Cabo Verde».
Mário Soares, como sempre “à frente do seu tempo”!
Nota: a região da Macaronésia, constituída por estes quatro arquipélagos, foi politicamente oficializada em Cabo Verde em 2010 (Cimeira dos Arquipélagos da Macaronésia (CAM), Secretariado e Comissão Técnica Conjunta (CTC).

balio disse...

Cabo Verde e a Maurícia são os países melhor governados de África.

Carlos Antunes disse...

Acrescentaria, o Botswana, as Seycheles e a Namíbia, porque são democracias em que os processos eleitorais, ao contrário do que sucede nos países da África Austral (África do Sul, Angola, Moçambique, Zimbabwe, etc.) têm permitido a alternância do poder entre as diferentes forças políticas.

Reaça disse...

Tambem Açores e Madeira poderiam ter essa sorte seriam mais dois palopes.

Hello!

Há muitos anos, fingidamente confundido com as diversas vozes que falavam com os EUA em nome do Velho Continente, Henry Kissinger comentou: ...