Morreu Bernard Pivot. Tinha 89 anos. Há hoje uma França (e não só) de luto. Não terá chegado a receber a chamada telefónica que mais temia: "Ainda vou acabar por ter um telefonema da imprensa a convidar-me a comentar a notícia da minha morte", como sempre lhe acontecia quando morria um escritor. Quem teve o ensejo de assistir, na televisão, a emissões do "Apostrophes" ou do "Bouillon de Culture" percebe melhor a importância que este homem teve para a divulgação e popularização, neste caso num bom sentido, da cultura francesa. Pivot era um excelente entrevistador, sempre em tom suave e pouco confrontacional, que sabia extrair o melhor do interlocutor. A promoção da edição e a preservação de uma escrita escorreita - Pivot lançou os Campeonatos de Ortografia - mobilizaram o seu trabalho mediático. Alguns criticavam a ligeireza dos seus programas, que acusaram de serem um favor à indústria editorial. Pivot também escrevia. Deixou alguns livros. Do pouco que dele li, confesso que não me ficou uma marca forte. A palavra e o tom de interesse com que falava com os outros (sempre acreditei que Carlos Pinto Coelho se inspirou em Pivot para desenhar a sua "persona" televisiva, mesmo no traje) eram o segredo do seu êxito. Para sempre, guardei a resposta de François Mitterrand, não longe da morte, perante a sacramental pergunta do questionário que Pivot usava: "Si Dieu existe, quel est le mot par lequel vous voudriez qu'il vous accueille". O ainda presidente respondeu: "Enfin, tu sais...". E ainda: "J'espère qu'il ajoutera: Sois le bienvenu".
4 comentários:
Fernando Neves
Não perdia um programa dele, com os quais aprendi muitíssimo. Muitos ficaram-me para sempre na memória. Mantenho a frustração de ser impossível que ele me perguntasse, como fazia no início de cada entrevista, “quel est votre
parole prefere?”, para poder responder, “parole”.
Peço desculpa pela ausência de acentos franceses.
Ainda vale a pena (re)ver algumas das emissões, lembro-me particularmente de uma em que se assiste a um diálogo delicioso entre Bourdieu e Braudel. Não assisti em directo, hélas !, só umas décadas mais tarde. Ver Bourdieu na defensiva -- et pour cause -- não é espectáculo para todos os dias. A ironia fina de Braudel é de uma elegância difícil de igualar.
Peço licença para deixar uma ligação para essa gravação, parece-me assaz pertinente deixá-la aqui (espero que sem ser em jeito de "cabide").
https://vimeo.com/91879037
e também o seu conhecimento dos vinhos (Douro incluído) e o foot...
Sem esquecer o "Boião de Cultura" do "Parabéns" de Herman José.
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