segunda-feira, abril 10, 2023

domingo, abril 09, 2023

Pelo ar

Se a comissão que está encarregada do "novo" aeroporto vier a pedir um prolongamento do prazo que lhe foi dado para análise das propostas ficará claro, em definitivo, que não haverá nunca um aeroporto. É com este tipo de procedimentos dilatórios que as coisas, por cá, nunca se fazem.

sábado, abril 08, 2023

"A Arte da Guerra"


Esta semana, no podcast "A Arte da Guerra", do Jornal Económico, converso com o jornalista António Freitas de Sousa sobre os tempos mais recentes na Rússia e na Ucrânia, as mudanças políticas o ingresso da Finlândia na NATO e, finalmente, as atribulações judiciárias de Trump, com as respetivas consequências políticas.

Pode ver aqui.

sexta-feira, abril 07, 2023

Zinha


Há uns tempos, falei por aqui do Vicente, um corvo (de que eu tinha algum medo, confesso agora) que, na minha infância, pousava pelo largo de S. Pedro, em frente às lojas do Borrão e do Taboada, junto à escola industrial e à Rosa das castanhas. Na Vila Real de então, o Vicente foi tão popular como o foram Bertelo e o Honório (desista de entender isto quem não for dessa cidade). A Zinha foi das poucas pessoas que, num comentário, aqui recordou comigo essa ave. 

A Zinha nasceu na mesma rua que eu, a Avelino Patena, chamada pelos antigos de rua da Travessa e que alguns vila-realenses menos atentos, que não ela, ainda hoje confundem com a rua das Pedrinhas. 

Eu era da idade de um irmão da Zinha, o Quim, que o tempo já levou. Mas já não de outro, mais velho, que sabia desenhador de mérito e que, na cidade, rivalizava, na arte da construção dos tapetes de flores, com o Lima do café Imperial. A família da Zinha, a família Claro, teve no passado um lugar bastante importante na história política e social de Vila Real, para quantos não saibam mas ficam agora a saber.

A nossa rua, a rua onde eu e a Zinha nascemos, trazidos ao mundo pelas mãos hábeis da dona Judite, que também era ali nossa vizinha, era, em si mesmo, um mundo! 

Ao alto, por debaixo da casa dos imensos Mota e Costa, havia a loja de fazendas do pai do Quim Rato, seguido da do senhor Olívio das bicicletas, cujo filho, com o mesmo nome, foi um dos meus grandes amigos de vida. Em frente, era o João Albardeiro, com os tiques que não são para aqui chamados, o seu inconfundível chapéu de abas e que era o organizador, sem falhas, por esta época, da "queima do Judas", rito que, por um tanto sinistro, nunca apreciei por aí além. Logo após, ficava o armazém do senhor Fernandes, com a casa da família ao lado, cheio de sacos de farinha e milho amontoados, por onde gostávamos de trepar e nos esconder. A barbearia do pai do Augusto (na rua, eu conhecia essencialmente os filhos das pessoas), que, ia jurar!, se situava ao lado da casa dos Claro, era quase em frente da tasca do senhor António (que será feito da filha Lucília?). Logo depois, vivia eu com os meus pais e os meus avós e, a seguir, era a casa de uma tal menina Adelaide, que me lembro de já não ser tão menina como isso, que punha fados na rádio muito alto e aguçava apetites aos meus tios solteiros. Na esquina, em frente à tipografia do senhor Agostinho, viviam o Vítor e o Carlos Almeida. Ali por perto, nas Pedrinhas, por cima do latoeiro, havia o dr. Lisboa com o filho Mário e, um pouco mais acima, depois do armazém do senhor Lito, habitava o imenso "rancho" dos Barreto, seguido da família Teixeiró. Saí com sete anos daquela rua, para ir viver com a minha família para outra, mas, como se pode observar, fui sempre passando por lá e dela fiquei com muitas memórias. 

Escrevi isto com a certeza de que a Zinha teria achado alguma graça a esta geografia afetiva dos nossos mútuos lugares da infância, mas com a antecipada tristeza de saber que ela acaba de desaparecer. Vai-se com a Zinha aquela alegria boa com que sempre nos cruzávamos na Gomes, o imenso e permanente sorriso com que nos dava as boas-vindas de regresso à cidade onde ambos nascemos e onde, no dia de hoje, eu estou de chegada e ela de partida definitiva.

Lula e Amorim

O presidente Lula, que vai a Pequim dentro de dias, diz esperar poder convencer Xi Ji Ping a que a China integre um grupo de países - com o Brasil, a Indonésia e a Índia - que tentariam uma paz negociada para a Ucrânia. 

Nas declarações que entretanto fez, o presidente brasileiro foi adiantando que a Crimeia poderá ter de ser cedida por Kiev à Rússia e que esta deve ponderar a possibilidade de renunciar à integração de território ucraniano que unilateralmente decidiu fazer.

Em diplomacia, está-se sempre a aprender e tenho forte esperança de que o presidente Lula, ao utilizar este método de trazer para a praça pública estas propostas, a montante de uma visita oficial a uma potência que sobre o assunto deve já ter algumas ideias bem assentes, saiba o que está a fazer e, no final, acabe por nos dar uma lição negocial, trazendo uma boa surpresa. 

Não esqueço, contudo, e espero que o Brasil também não tenha esquecido, a humilhação que a diplomacia brasileira sofreu em 2010, quando, com a Turquia, procurou imiscuir-se, com alguma ligeireza, na questão nuclear com o Irão e acabou a ser tirada de jogo, sem honra nem glória. Nessa altura, o Brasil deveria ter aprendido que é arriscado tentar "to punch above one's weight", isto é, que, às vezes, a areia é demasiada para a carroça que se tem.

Dito isto, que fique claro: se o Brasil viesse a conseguir desbloquear uma solução de paz para a Ucrânia, o mundo ficar-lhe-ia imensamente grato e a esplêndida diplomacia brasileira ficaria muito prestigiada. Mas se tal não acontecer, Lula talvez devesse colocar isso a débito dos conselhos da pessoa que já o conduziu ao erro de cálculo de 2010: Celso Amorim.

João Semana


Ontem, em Ovar, onde passei a buscar pão-de-ló para esta Páscoa, deparei-me com uma rua chamada "Dr. João Semana". É de imenso bom gosto um município ter decidido dar o nome de uma artéria da cidade a uma simpática figura de ficção criada pelo romancista Júlio Dinis, o qual, embora portuense, ficou fortemente ligado à terra. Deixo um imaginado retrato da personagem da autoria de Roque Gameiro.

quarta-feira, abril 05, 2023

Dignidade e falta dela

Que necessidade têm alguns deputados, em comissões parlamentares, durante as inquirições às pessoas convocadas, de assumirem um tom cáustico, intervalado com regulares esgares para a plateia? Por que razão não assumem um tom neutro e respeitoso? Por saberem que estão na TV?

Poirot em S. Bento

Há comissões parlamentares que parecem filmes do Poirot: uns entram como vilões e passam a vítimas, os bons afinal não eram tão bons assim e, vai-se a ver, o delito, afinal, tem vários progenitores. E é tudo na TV! É um fartote para o país do "eles são todos iguais!"

Aviso à navegação

Há alguns (muito poucos, felizmente) comentadores que, pelas razões há dias referidas, deixaram de poder opinar sobre o que aqui é publicado. É assim escusado tentarem fazê-lo de novo.

E agora, Manuela?




A minha amiga Manuela Júdice, uma mulher "dos sete instrumentos" que, entre montes de outras coisas que fez e faz (bem) na sua vida, organizou, magistralmente, por Portugal, a Temporada cultural cruzada Portugal-França 2022, foi ontem justamente condecorada pelo Estado francês, numa cerimónia que teve lugar na respetiva embaixada em Lisboa, ao final da tarde.

Tive o gosto de ser convidado, já há semanas, para essa cerimónia, por indicação da Manuela. E tive agora o desgosto de constatar que, inadvertidamente, faltei ao evento, porque, por uma qualquer razão, ele sumiu da minha agenda eletrónica. Estou mesmo a pensar regressar ao confiável Moleskine.

E agora, Manuela? Os meus sinceros parabéns e as minhas imensas desculpas. Sei que vais acabar por me perdoar...

(Aqui fica uma fotografia da Manuela Júdice que tirei no Alvor, em dia de céu chamuscado).

terça-feira, abril 04, 2023

Finlândia

A prova de que a Federação Russa persiste numa narrativa completamente desligada da realidade é o facto de não saber ler, fora dos clichés habituais, as razões da adesão da Finlândia à NATO e o que motivou a profunda mudança do paradigma estratégico daquele país.

Habitação

Haverá algum estudo académico - sério, independente e não tributário de agendas politiqueiras - que ajude a explicar o estado da arte da questão habitacional em Portugal em 2023, com ponderação serena das razões que conduziram às principais disfunções agora evidenciadas?

Congresso da Oposição Democrática - 1973

 


Dia 19 de abril, no Centro Cultural de Belém.



segunda-feira, abril 03, 2023

Hi ! Donald !

Tinha acabado de falar dele na televisão e logo Donald Trump me mandou este email. Como dizia alguém, não há coincidências, mas sei lá!



Mistério


Quando Tarja Hallonen, que conheci como uma excelente ministra dos Negócios Estrangeiros da Finlândia, foi a primeira mulher a ascender à chefia do Estado naquele país, não se falou tanto dela como agora se fala de Sanna Marin.

Na terra de Steinbroken

Sanna Marin sofreu a síndroma Gorbachev: afinal, gostam mais dela cá fora do que dentro da Finlândia.

Grande Estado!

Ah! Grande Estado! Ou te condenam porque tudo o que fazes é para esmagar o pobre do cidadão ou te batem à porta, por tudo e por nada, para que possas responder aos anseios mais ínfimos de cada um. Afinal, inimigo ou amigo, o Estado está sempre contigo.

Ó diabo!

O autor de um blogue russo foi ontem pelos ares. Isto da blogosfera começa a ser um terreno perigoso...

O nabal e a eira

 


Não há almoços grátis. Não é possível andarmos anos e anos a tentar atrair estrangeiros, acenando-lhes com as amenidades deste país à beira-praia hipotecado, apelando a que viessem para aqui largar os carcanhóis, encher os restaurantes que quisemos cada vez mais estrelados, esportular em roupas finas na Liberdade, enfrascando-os em quintas requintadas do Douro e ensoleirando-os em golfes regados com água cara no Allgarve do Pinho, sem, ao mesmo tempo, não lhes dar o direito de comprarem casas por aí, ou de os estimularmos ao uso do Alojamento Local, em face da penúria de hotéis na estação alta. Ou será que queremos voltar às ruas da amargura da Nazaré, ao ala-arriba do xaile e do chambres/zimmer/rooms? Face ao défice de capital caseiro, é bom ter gente de fora a estimular a nossa economia? Ah! Pois é, mas, para isso, convençam-se!, essa gente tem de andar por aí, a abarrotar o Chiado, a atulhar-nos as filas do SEF da Portela e as do Gomes da Comporta, com as suas reformas altas que inflam os nossos preços e compram, por uma tuta e meia, aquilo a que o portuga médio não consegue chegar. É escolher! Ou uma coisa ou outra! Só mais uma coisa, para que não restem dúvidas: reagir contra os da estranja tem um nome, chama-se xenofobia.

domingo, abril 02, 2023

O cozido do Chiringuito


Em Lisboa, aos domingos, há algumas casas que servem "cozido à portuguesa". Há excelentes, como é o caso do Nobre e do Faz Figura. E há um caso sério de qualidade e merecida popularidade, como é o cozido do Chiringuito, em Campo de Ourique.

Para o almoço dominical no Chiringuito, no pico do inverno, há que reservar com imensa antecedência. Mas também há bambúrrios, desistências de última hora, para gente com sorte, como me aconteceu para o almoço de hoje, com o dono da casa a informar-me, horas antes, da vaga de uma mesa para quatro, como eu pretendia. 

O Chiringuito, convém dizê-lo a quem não conheça a casa, é muito mais do que o cozido do domingo. Nos outros dias, é um belo restaurante, num improvável espaço, onde é recriado um ambiente quase rústico, bastante acolhedor. Aconselho a que, em lugar de consultarem a carta de vinhos, os clientes se inspirem na prateleira do corredor entre as duas salas. Fica-se logo com uma imensa e sofisticada sede.

Notícias do caos

Tenhamos alguma esperança de que o resultado do referendo parisiense sobre as trotinetes urbanas acabe por ter também algum efeito por cá. O caos a que se assiste, neste domínio, na cidade de Lisboa configura um imenso escândalo. Quererá Carlos Moedas tentar um referendo?

Os cromos

Este blogue tem mais de catorze anos de publicações diárias. Estou certo que me creditarão alguma experiência no tratamento dos imensos comentadores que por aqui têm surgido, que deixaram mais de 70 mil comentários publicados. 

Alguns foram visitantes fugazes, outros mantêm-se por bastante tempo. Alguns são parcimoniosos na escrita, outros são prolixos nos comentários. Uns gostam daquilo que escrevo, outros não gostam. Uns são "de um lado", outros são "do outro". É assim que deve ser. 

Há, dentre os meus comentadores, um grupo, a que intimamente chamo os cromos, que acabam, um dia, por ver a porta de saída apontada. Acontece depois de um ciclo. 

Começam por uma linguagem crítica face àquilo que o autor do blogue propõe nos seus posts. Ora isso é sempre de estimular, porque, sem contraditório, mesmo forte, isto não tem a menor graça. Depois, adquirida que foi alguma "confiança", ensaiam tiradas cada vez mais agressivas, mais provocatórias, o que, dentro de um certo limite, até acho graça publicar, para surpresa de muitos. Finalmente, um escasso e muito pequeno grupo não consegue controlar, mantendo-se num registo de urbanidade, o facto de se sentir em contradição insanável com quase tudo o que escrevo. Gente desse núcleo, um dia, descamba e entra pelo insulto e - limite dos limites para mim, que sou, há que convir, o "dono da bola" - tem expressões de desrespeito, já de cariz pessoal, que não me apetece tolerar. Nos últimos dias, dois cromos, gente ácida e triste, foram mandados dar uma volta ao bilhar grande, como se diz na minha terra. 

Reis

A coroação do novo rei inglês, com todo o fausto protocolar que implicará, pode vir a ser percecionada como estando em flagrante contraciclo com o tempo político turbulento que a Europa e o próprio Reino Unido atravessam, nos dias de hoje, pelo que talvez se recomendasse alguma contenção festiva. Se o funeral de Isabel II foi um tempo de óbvia e excecional união para o reino, este evento pode não sê-lo, em especial se a mobilização popular não vier a ser significativa. A acontecer, isso teria um efeito detrimental na imagem e autoridade do rei e, por essa via, no futuro da monarquia, já tão fustigada por reais "fait divers".

sábado, abril 01, 2023

A verdade de cada um

Pergunto-me se uma comunicação social dita independente não terá os seus dias contados. Com as pessoas a confiarem, cada vez menos, em quem não pensa como elas, em quem lhes não conforte os preconceitos, a tendência não será caminhar para órgãos de imprensa "de seita"?

Era mas não é

Para a China, a construção de uma aproximação com o Brasil seria um passo importante na sua estratégia de composição de um poder alternativo aos Estados Unidos. Contudo, o que poderia configurar uma mudança decisiva a nível global seria um entendimento geopolítico com a Índia. Que não vai acontecer.

Jantar no Snob


Consta que o João Botelho tem aparecido menos, depois de ser proibido fumar por ali. O senhor Albino (que está na cozinha, onde, em tempos idos, reinava a dona Maria) diz-me que já se conformou com o facto do seu Porto, este ano, só poder lutar pelo segundo lugar. O costumeiro bife, nas suas várias declinações, mantém um preço adequado à sua qualidade. E o menu Snob, a €15, é uma excelente opção.

Gosto (mas só às vezes e moderadamente) de lugares decadentes. O Snob está decadente desde que o conheço, e eu conheço-o há décadas. O Snob não está na moda. Esta é, portanto, uma boa época para se ir mais ao Snob.

Mentiras

Há pouco, dei-me conta de que, afinal, há uma coisa de que tenho alguma saudade: das inócuas mentiras do primeiro de abril que a nossa imprensa trazia, connosco a acordar "à procura das petas". 

(Por favor, poupem-nos à estafada "graça" de que agora os jornais só trazem mentiras).

sexta-feira, março 31, 2023

Américas

Tenho a convicção de que Jair Bolsonaro vai estar muito atento ao percurso de Donald Trump pelos corredores da justiça. É que algum tropismo seguidista do parceiro yankee que, desde sempre, fez escola no Brasil, deve inquietá-lo. Com razão.

quinta-feira, março 30, 2023

"A Arte da Guerra"


Esta semana, no "podcast" sobre temas internacionais do Jornal Económico, ' A Arte da Guerra", falo com o jornalista António Freitas de Sousa sobre a atualidade da guerra na Ucrânia, da nova liderança independentista na Escócia e das atribulações do primeiro-ministro israelita.

Pode ver aqui.

quarta-feira, março 29, 2023

Allons, enfants!

Um amigo dizia-me, há pouco, sem se rir, que a França talvez não tenha enviado tanques para a Ucrânia porque tem dúvidas sobre se não precisará deles, em breve, na Praça da Concórdia. E, também sem se rir, chamava assim à praça.

É desta!

A Arábia Saudita decidiu tornar-se parceiro da Organização de Cooperação de Xangai.

É desta que os Estados Unidos vão apoiar (e, se não existir, vão criar) um movimento republicano em Riade.

Ora bem!

 


A Inteligência Artificial a provar que não é tão artificial como isso.

É assim:

"À quelque chose malheur est bon", dizem os franceses. Um cruel assassinato em Lisboa fez surgir à tona a canalhice xenófoba de alguns políticos e comentadores e destacou a dignidade humanista das instituições da comunidade ismaelita em Portugal.

terça-feira, março 28, 2023

Saudar

Um abraço solidário para a comunidade ismaelita em Portugal.

Ricos

Se há terreno em que este país é de uma imensa riqueza é na produção de "especialistas" disponíveis para o comentário público. Seria curioso fazer-se uma verificação dos currículos de toda essa infinita plêiade de notáveis conhecedores das mais microscópicas áreas do saber.

Pois!

Porque a medida de redução do IVA foi popular, a crítica teve de mudar de patamar: agora, passa a ser vista como uma decisão de dimensão insuficiente, com consequências práticas limitadas e que chegou tarde.

segunda-feira, março 27, 2023

"Uma bela amizade"


Dia após dia, a relação entre Costa e Marcelo faz recordar aquela que o "Casablanca" consagrou nas suas derradeiras imagens, com o avião para Lisboa ao fundo.

Uma confissão

E, pronto: Sem fazer nada, lá tenho outra vez a hora certa no meu Smart! Há seis meses que aquilo me fazia confusão, mas não tinha paciência para ir outra vez às instruções...

domingo, março 26, 2023

O Piauí de Juca Chaves


O atual ministro do Desenvolvimento do Brasil, Wellington Dias, era governador do Estado do Piauí, no Brasil, quando, em 2008, lhe fiz uma visita. Tinha ido a Teresina, a capital, para apoiar a apresentação de uma companhia portuguesa de teatro, aproveitando para assistir à abertura um congresso com a participação de juristas nacionais.

Na conversa, Wellington Dias perguntou-me o que é que eu sabia do seu Estado. Ficou surpreendido quando lhe disse que conhecia, de nome, o Piauí, desde há várias décadas: "Foi Juca Chaves quem me ensinou a existência do Piauí", esclareci. O Piauí é, muitas vezes, utilizado pelos brasileiros como nome caricatural para significar um lugar distante: "Isso é lá para o Piauí..." 

O músico, cantor e humorista brasileiro, Juca Chaves, que chegou a ser bastante popular em Portugal, onde esteve exilado, ao tempo da ditadura militar, criou uma canção que veio a ficar famosa: "Take me back to Piauí" ("Adeus Paris tropical/adeus Brigite Bardot/o champanhe me fez mal/caviar já me enjoou/Simonal que estava certo/ na razão do Patropi/eu também que sou esperto/vou viver no Piauí") E, em outras ocasiões, também usou o nome do Estado em piadas, nem sempre com agrado dos piauienses. Juca Chaves dizia, numa dessas histórias, que, no Piauí, o calor era tal que as aves batiam uma das asas para refrescar a outra... O meu amigo José Pereira, o mais antigo funcionário da nossa embaixada em Brasília, contava, com gosto, esta graça sobre o seu Piauí natal.

Wellington Dias disse-me então que o Piauí, ao reagir negativamente às referências caricaturais de Juca Chaves, não se dava conta de quanto elas tinham contribuído para a difusão do nome do seu Estado, como eu próprio ali confirmara. E estava grato por elas.

Juca Chaves morreu agora, com 84 anos.

sábado, março 25, 2023

Cafeína


Há quantos anos conheço o Cafeína, o restaurante na Foz do Porto? Há muitos. E nunca me recordo de lá ter comido mal. Há uns tempos, queixei-me da música demasiado alto, em outra ocasião de um pormenor do serviço, que me pareceu algo ligeiro para um restaurante daquele nível. Mas, da comida, não tenho na memória a menor reclamação - e foram muitas as vezes em que por ali me sentei.

Regressei para jantar, no domingo passado. A refeição correu sobre rodas. Tudo estava a preceito, a senhora que nos atendeu era de um profissionalismo rigoroso (creio que era a mesma que, na outra ocasião, acorrera a salvar a honra da casa, perante a imperícia de um colega sem formação), o ambiente tinha a serenidade que me habituei a ter como fazendo parte da identidade da casa. A conta tinha uma relação satisfação/preço razoável. Saímos muito satisfeitos. E com vontade de regressar. O Cafeína continua a ser, no Porto, um porto muito seguro.

sexta-feira, março 24, 2023

O país ideal

O país ideal seria aquele em que, num dia como o de hoje, em que foram apresentados excelentes resultados macro-económicos, os políticos da oposição viriam a terreiro, com galhardo civismo democrático, reconhecer - sem usarem qualquer "mas", "porém" ou "no entanto" - aquilo que foi conseguido e que muito se repercute sobre a credibilidade externa do país.

O país ideal não existe, como sabemos. Nem agora nem nunca. É que todos temos a absoluta certeza de que quem está hoje no poder, se acaso estivesse na oposição, comportar-se-ia de forma simetricamente idêntica. Custa-me ter de assumir isto, mas todos sabemos que assim seria.

Digam lá!

Depois de ter chamado aos tercios o tema Touradas, que, em especial no Facebook, acabou de sair em ombros pela porta grande, com direito a rabo e orelhas, que outro tema fraturante, daqueles que excitam pela certa os teclados, acham que suscite neste fim de semana, para usufruto dos nossos comentadores mais emocionáveis: a TAP, Salazar, Ucrânia, Acordo Ortográfico, Cavaco, Monarquia / República, Sócrates, a Catalunha ou o quê mais? Ou o Passos? Até já pensei fazer ressuscitar o Varufakis e o Syriza, que, no passado, provocaram por aqui tantos suspiros derretidos e taquicardias balzaquianas? Estas redes sociais são sempre uma animação!

Polícia com arte

Haverá um concurso de criatividade, dentro da Judiciária, entre quem dá o nome às operações policiais? Chamar "Última Edição" à ação levada a cabo contra o detentor de um grupo de comunicação social é muito bom!

"A Arte da Guerra";


Em "A Arte da Guerra" desta semana, o podcast sobre temas internacionais do "Jornal Económico", converso com o jornalista António Freitas de Sousa sobre as atribulações do presidente Putin, em face do mandado de captura determinado pelo TPI, e a visita que lhe fez o presidente chinês, sobre o difícil diálogo entre a Sérvia e o Kosovo, mediado pela União Europeia, para acabar na análise à complexa situação social e política que a França atravessa.

Pode ver aqui.

Ou ou

Sobre a questão da guerra da Ucrânia, a avaliar pelas redes sociaus, a maioria das pessoas apenas aprecia os comentadores televisivos que confortem as suas ideias ou, na falta delas, os seus preconceitos. Os outros ou são "lacaios" de Washington ou são "marionetas" de Moscovo. Não há meio termo.

Conselhos

Vejo abrir por aí restaurantes, bares e outro tipo de lojas em locais e com um perfil que se percebe, logo à partida, que estão condenados ao fracasso e à falência a curto prazo. 

Às vezes, isso é tão, mas tão, evidente que até  já pensei em abrir uma empresa de aconselhamento, que produzisse estudos sobre a viabilidade potencial desses projetos, por forna a procurar evitar que as pessoas façam investimentos ruinosos. 

Mas, depois, dei comigo a refletir melhor e interrogar-me sobre se seria uma boa ideia. Mas não tenho quem me aconselhe...

quinta-feira, março 23, 2023

Veremos!

Não há absoluta certeza de que Napoleão tenha dito a célebre frase: "Laissez donc la Chine dormir, car lorsque la Chine s'éveillera le monde entier tremblera". Desde então, com variantes, a expressão tem sido repetida. Napoleão teria razão? Veremos.

O senão da bela


Nesse ano de 1976, com menos de um ano de experiência como diplomata, após uns meses de destacamento no efémero Ministério da Cooperação, fui chamado a prestar serviço nas Necessidades. 

Colocaram-me numa obscura Repartição, embora com bastante serviço. Entre outras tarefas, cabia-me redigir correspondência, que manuscrevia para, depois, as dactilógrafas passarem a papel de ofício, após o que as coisas seguiam para o chefe de Repartição assinar.

Escassos dias após ter entrado naquele serviço, fui chamado a esse meu chefe. Dizia-se que estava de saída, o que, efetivamente, se confirmaria ser verdade. Poucas semanas depois, foi colocado num consulado nos Estados Unidos.

Era um homem muito formal, que criava uma deliberada distância, embora sem deixar de ser educado e correto. Para mim, que vinha do ambiente técnico na área da Cooperação, olhei-o logo como um paradigma de uma certa carreira diplomática, com um formalismo que me irritava, mas com que ia passar a ter de conviver, a partir daí. 

"Quero dizer-lhe que apreciei o trabalho que fez nestes dias, Seixas da Costa. Entrou bem no estilo da casa e vê-se que está habituado a escrever". 

Eu já tinha então 28 anos, cinco anos de funcionalismo público anterior e, posso agora confessar, alguma auto-suficiência, quiçá mesmo, ao que lembro, uma certa arrogância. O elogio satisfazia-me, era simpático, mas não me comovia demasiado. 

"Mas não há bela sem senão! Você cometeu aqui um erro de palmatória".

Mau! O que é que ele queria dizer com aquilo?

"Você escreveu 'durante a estadia do ministro'. Ora, como devia saber, a forma correta é 'estada'. A palavra 'estadia' é para embarcações".

Apanhado de surpresa, sem dicionário à mão, esclareci que, de facto, achava que as palavras eram sinónimos. Que não, que não se podiam confundir os conceitos, retorquiu-me. Saí do gabinete do homem intrigado. 

À noite, liguei para o meu pai, em Vila Real, que era orgulhoso possuidor do melhor dicionário de Português que continua a existir à face da terra, o inigualável "Moraes Silva", e pedi-lhe para ir ao volume quarto dos doze que compõem a obra (que vai da palavra "Desvalora" à palavra "Eza", porque, desde criança, sei de cor as palavras limites de cada volume, que surgem na lombada...) comparar "estada" com "estadia". Em tese, o meu chefe tinha alguma razão, mas ali também ficava claro que as palavras podiam ser tidas como sinónimas uma da outra, tal como eu pensava.

O tempo passou. Uma noite de 1990, no bar de um hotel de Maastricht, perante o olhar espantado de Durão Barroso e do meu colega António Monteiro, re-suscitei o assunto como o nosso embaixador na Holanda, que era, nem mais nem menos, aquele meu antigo chefe. Ficou espantado com o facto de eu me lembrar do episódio. Continuava a teimar na sua e eu fiquei na minha, embora nos ríssemos da nossa divergência.

Tenho, na realidade, boa memória. De tal maneira que, ontem, logo me ocorreu esta historieta, quando soube do funeral do meu colega embaixador Francisco Moita, que havia sido aquele meu primeiro chefe nas Necessidades, a quem deixo esta modesta homenagem de lembrança, no termo da sua estada - ou estadia - por este mundo.

quarta-feira, março 22, 2023

Ó diabo!

Posso estar enganado (e às vezes estou), mas tenho a sensação de que, depois do que foi dito por Marcelo Rebelo de Sousa e por António Costa, há algumas coisas que não voltarão a ser iguais, daqui em diante. Gostava de ser mosca e estar na reunião entre os dois, nesta quinta-feira.

Olé!

Há apenas oito países no mundo (dentre os 193 membros da ONU) onde as corridas de touros são permitidas: Espanha, França, Portugal, México, Colômbia, Venezuela, Perú e Equador. Na Colômbia, o assunto está em discussão parlamentar. Há medalhas mais honrosas para Portugal.

terça-feira, março 21, 2023

Tamames e Cavaco


A maioria dos leitores deste espaço está farta (não sei se a palavra é bem escolhida) de saber quem é Cavaco Silva, mas o mais certo é que muitos ignorarão o nome de Ramón Tamames. 

E, isso com absoluta certeza, não fazem a menor ideia da razão por que eles aparecem juntos no título deste texto.

Começo por deixar uma pista: ambos são economistas. 

Cavaco Silva, agora com 83 anos, esteve em recente evidência, por ser o quarto (contei bem!) dos antigos líderes do PSD que, nas últimas semanas, surgiram a terreiro a atacar o governo PS, substituindo-se ao presidente atual do partido, o qual, coitado!, se debate com as aparições destas figuras "sombra", que assim contribuem para a sua dificuldade de afirmação.

Ramón Tamames é um caso de transmutação política radical. Quase patética. Depois de ter sido um opositor ao franquismo, tendo estado nas prisões da ditadura, ingressou no Partido Comunista nos anos 50, após o que iniciou um inexorável percurso para a direita. Agora, nas últimas horas, acaba de surgir como o putativo "primeiro-ministro", proposto pela extrema-direita, pelo VOX, por ocasião da apresentação da moção de censura, nas Cortes, ao governo socialista. Aos 89 anos...

Cavaco e Tamames são duas velhas figuras da direita, opostas aos dois líderes socialistas ibéricos. É isso? 

Não, não é apenas isso. 

Em 1975, quando fiz concurso pública para entrar para a diplomacia, tive como arguente, na prova oral de Economia Política, um jovem professor, convidado pelo MNE, recém-regressado do seu doutoramento em Inglaterra. Chamava-se Aníbal Cavaco Silva. 

Para esse exame, lembro-me muito bem, estudei um único livro: "Estrutura da Economia Internacional". Autor: Ramón Tamames, à época um óbvio marxista. 

Foi com base no que aprendi no livro de Tamames que Cavaco Silva me aprovou. E como ele nunca se engana...

segunda-feira, março 20, 2023

Na soleira da generosidade


Ofereceram-me um vinho tinto com esta graduação. Nunca tinha visto. Quando provar o néctar, com toda a sobriedade, darei a minha opinião.

domingo, março 19, 2023

O dia do meu pai


O meu pai tinha nascido em 25 de novembro de 1910. "Já pela data do meu nascimento se devia pressentir que eu ia ser republicano", dizia, sorrindo, mas com orgulho pela indefectível opção cívica que dele herdei. 

"O teu avô era da Maçonaria, andou de armas na mão a combater as invasões da Traulitânia, na Monarquia do Norte. Era do partido de Álvaro de Castro". 

Nem o meu pai nem eu fomos tentados a seguir os rumos do "grande arquiteto universal". Mas, para uma família em que, nas gerações dos meus avós e tios paternos, todos haviam nascido em Ponte de Lima, terra de forte tendência monárquica, não deixa de ser assinalável este saudável desvio coletivo para as belas cores da República.

O meu pai morreu com 97 anos. Há dias, ofereceram-me esta sua fotografia, tirada meses antes do seu último dia. Aqui a deixo, com esta brevíssima memória, neste dia do pai.

Morreu Rui Nabeiro


Diz muito da sua personalidade e forma de estar na vida, na relação com os outros, o facto de ser difícil encontrar fotografias em que Rui Nabeiro não esteja a sorrir para o mundo.

Jorge Edwards


O meu colega Luís Castro Mendes acaba de dar nota, no Facebook, da morte do escritor chileno Jorge Edwards. 

Entre 2009 e 2013, em Paris, fiz parte do júri do "Prix des Ambassadeurs", um galardão literário que anualmente é atribuído a uma obra de um autor francês dedicada a temáticas de História política, quer interna francesa, quer de relações internacionais. 

O prémio era decidido por um júri de não mais de 20 embaixadores (na prática, só cerca de 12-15 participavam), todos claramente francófonos, escolhidos entre os embaixadores acreditados em França, junto da UNESCO ou da OCDE, cooptados pelo júri em funções, à medida que se processava alguma "baixa", pela partida de um dos membros. Presidia ao exercício Henri Lopes, antigo primeiro-ministro do Congo e então embaixador do seu país em Paris... desde 1998!

Recordo que a minha entrada, em abril de 2009, foi apadrinhada pelos meus colegas checo e polaco, respetivamente Pavel Fischer e Thomasz Orlowsky, dois queridos e velhos amigos que tinha reencontrado em Paris. 

As coisas funcionavam num modelo há muito testado. Um "petit comité" de membros da Academia Francesa, que era titulado por Alain Decaux e, até pouco tempo antes da minha chegada, o fora pela figura histórica de Maurice Drouon, fazia uma pré-seleção de uma dúzia de obras, sobre as quais o júri se iria pronunciar. 

As reuniões do júri, que tinham lugar no "Cercle de l'Union Interalliée", conduziam sempre a animados debates, que eram apoiados em apresentações orais e relatórios escritos, sempre mais do que um dos membros, sobre a mesma obra. A cada reunião, as obras eram "retenues" ou afastadas, por consenso, processando-se no final um voto secreto, com base numa "short list" de três livros.

Um dia de 2010, chegou ao nosso grupo Jorge Edwards. Depois de uma carreira de 16 anos como diplomata, que tinha terminado com a chegada de Pinochet ao poder, Edwards tinha sido embaixador junto da UNESCO, entre 1994 e 1997. Quando coincidimos em Paris, acabara de ser convidado pelo governo do seu país, já com mais de 80 anos, para ser embaixador em França. 

Contrariamente ao Luís Castro Mendes, infelizmente, eu nada tinha lido de Edwards. (E, até hoje, nada li, devo confessar). Por isso, quando ele chegou ao grupo, apenas comecei por tomar nota de que se tratava de um escritor chileno famoso. E, a partir daí, fomos convivendo um pouco, nas reuniões mensais de trabalho. 

Edwards era uma figura muito simpática, conversadora, nada vedeta, com um permanente sorriso e uma bonomia cativante. Insistia em testar o meu "portuñol" e, de uma das vezes, coincidindo saírmos juntos da reunião do Cercle, sugeri que fôssemos almoçar a um pequeno bistrot, que não distava muito dali, cujo dono era português e onde se vendia um paté delicioso. Edwards fez, ali mesmo, uma encomenda do produto e, recordo, gracejou com a delícia que aquilo faria ao seu colesterol. E aturou a minha grande curiosidade sobre os "tempos de chumbo" do seu país. 

Com a passagem do tempo, Edwards ter-se-á desinteressado do nosso grupo, cujas prioridades de leitura intensiva talvez não fossem as suas. E deixou de aparecer. Nunca mais o vi, nem sequer naqueles infernais cocktails onde, entre os "infamous" croquetes e um champanhe raramente razoável, saudávamos os dias nacionais de Estados amigos ou, às vezes, nem sequer isso. Compreensivelmente, Edwars queria o seu tempo melhor aproveitado. Tempo esse que agora, infelizmente, terminou. 

Em honra do meu apenas conhecido e ex-colega Jorge Edwards, vou pedir ao Luís Castro Mendes que me "receite" uma sua obra que eu deva ler. É que nunca é tarde na vida para ler um bom livro.

Independência

Independência é poder dizer isto: é obscena e criminosa a exploração mediática, feita pelo regime russo, das crianças levadas da Ucrânia; é patético ver o presidente americano aplaudir a decisão do TPI, quando a América se recusa a submeter-se ao tribunal. É preciso um desenho?

O mundo dos tendenciosos

Alguém, que me vê comentar na CNN, escrevia no Twitter que ainda não tinha percebido qual era a minha "tendência". Eu esclareço, sem a menor dificuldade: a minha "tendência" é dizer o que penso, sabendo que, naquilo que penso, há coisas que agradam e outras que desagradam, umas vezes a quem está de um lado, outras vezes a quem se situa no outro lado da guerra. É tão simples!

"A Arte da Guerra"


Estes são os três temas que, esta semana, com o jornalista António Freitas de Sousa, abordei no podcast "A Arte da Guerra", para o "Jornal Económico": a guerra na Ucrânia, a mediação chinesa na aproximação entre o Irão e a Arábia Saudita e, finalmente, o debate interno britânico sobre a imigração.

Para ver aqui.

sábado, março 18, 2023

Lá em cima


Sempre invejei este cocuruto na minha terra.

O meu liceu


Na passada sexta-feira, na abertura das comemorações do 175° aniversário do Liceu Nacional de Vila Real, escola Camilo Castelo Branco, fui convidado a ser o primeiro orador do Ciclo “Conferências da Camilo”, enquanto antigo aluno.

Durante mais de hora e meia, num auditório sem lugares vazios, com os alunos a serem a esmagadora maioria das presenças - e a serem autores de muitas, diversas e algumas bem difíceis perguntas -, dei o testemunho que me tinha sido pedido. Foi uma experiência muito agradável, por onde não passou a mais leve nostalgia. Cada tempo é um tempo. 

What if ?


Para quem não saiba, num jornal, as páginas par são consideradas menos importantes do que as ímpar. Esta notícia veio numa página par, com uma chamada discreta na primeira página. Agora, pensem bem o "foguetório" que teria sido se o resultado fosse ao contrário...

A verdade é dura


Um amigo, há pouco, ao ver esta fotografia: "Não acho muita graça às jantes". Respondi: "Tens toda a razão. Não te tinha dito, mas essa foi a principal razão por que decidi não comprar este carro". Às vezes, temos de ser sinceros e assumir as coisas com frontalidade.

Já não há pachorra!

 


sexta-feira, março 17, 2023

A invasão do Iraque


Nesta edição do programa "Sociedade Civil", dirigido por Luís Castro, emitido pela RTP 2 no dia 16 de março de 2023, tive oportunidade de dizer o que pensava sobre a aventura americana no Iraque, a partir de 2003, e deixar a minha perspetiva sobre o modo como quem representava então Portugal se comportou nesse contexto. 

Pode ver aqui.

quinta-feira, março 16, 2023

 


A posta da Quinta do Outeiro


Há bem mais de uma década, tive um tempo de "clandestinidade" gastronómica. Eu explico. Era então embaixador em Paris e a revista "Sábado" tinha-me convidado para ser seu "crítico mistério", durante creio que meio ano. A combinação era eu enviar 20 e tal crónicas, semana após semana, sob pseudónimo, e, no fim, ser revelado o meu verdadeiro nome. O nome falso que escolhi foi "Augusto Maria de Saa" (assim mesmo, com dois "a"), lembrando uma figura fictícia que já tinha usado em outras ocasiões.

Embora, desde há muitos anos, organizasse listas policopiadas de restaurantes por mim selecionados, por zonas do país, para usufruto dos meus amigos, e, no Brasil, tivesse feito parte do júri de seleção de restaurantes da revista "Veja", nunca me tinha atrevido a enveredar pela crítica gastronómica. Mas, depois de alguma insistência de Edgardo Pacheco, decidi correr o risco. Um estímulo foi também saber que, na minha tarefa na "Sábado", eu tinha tido ilustres predecessores: Miguel Esteves Cardoso, Daniel Proença de Carvalho, Paula Teixeira da Cruz e Ruben de Carvalho.

Haveria de repetir a aventura, no futuro, como crítico das revistas "Evasões", a convite da Catarina Carvalho, e da "Epicur", a convite de Mário Rui de Castro, tarefa em que me diverti imenso, embora com efeitos sensíveis na balança e nos ralhetes do meu médico. Noto que foi-me sempre dada total liberdade de escolha dos restaurantes, por todas as revistas.

Decidi então apostar em alguns restaurantes pouco conhecidos, mas que representavam um esforço profissional que reputava de interessante. Creio que o primeiro terá sido o restaurante Quinta do Outeiro, na zona oeste de Amarante, relativamente próximo da A4. Já por lá tinha comido algumas vezes, a sugestão do meu amarantino amigo Albano Tamegão, e tinha-os achado merecedores de um elogio em forma de artigo.

Porque é que falo agora disto? Porque, ao final da tarde de ontem, cansado da condução desde Lisboa, à passagem por Amarante, deu-me para ir jantar à Quinta do Outeiro. Estava com alguma pressa (CNN Portugal oblige...) e levava expetativas apenas moderadas. Das últimas vezes que por lá passara, lembrava uma deriva para um serviço algo errático e duas ou três memórias de mesa não excessivamente deslumbrantes. Mas, no entanto, sabia que ia comer numa casa com alguma constância e tradicional variedade de oferta.

O que eu não estava à espera, neste jantar casual e rápido, era que me fosse apresentada uma das melhores Postas de vitela que alguma vez me foi dado provar em toda a minha vida. E eu tenho alguns "benchmarks" na matéria que são dificilmente batíveis: desde a dona Iracema do Geadas, em Bragança, passando pelo Abel, em Gimonde, até à histórica Gabriela, em Sendim, a outros tempos da Lareira, em Mogadouro, ou do Artur, em Carviçais (com o mudo a servir o vinho), até à memorável Posta do há muito desaparecido Abade de Priscos, em Braga - que se podia cortar com o lado contrário da faca.

O resto que nos foi servido estava à altura, mas aquela Posta!

Pronto, fica feita a recomendação: passem pela Quinta do Outeiro! E peçam a Posta. É claro que não é a minha, porque essa já cá canta!

Putinistas e outra gente com piada

Regressaram os insultos. Estranho! Logo agora que dei umas "bicadas" à máquina de propaganda ocidental é que me ressurge nos comentários este espécimen: 



Assado

Há coreografias verbais que são muito reveladoras. Ver o líder sírio utilizar, no seu encontro com Putin, uma linguagem que, mesmo no léxico, traduz uma deliberada colagem à narrativa russa sobre a guerra na Ucrânia, revela bem o isolamento de Damasco no mundo.

quarta-feira, março 15, 2023

A glória da banca

Agora é que iremos perceber se os "treinos" de stress de Basileia deram indicações confiáveis para a saúde dos bancos europeus.

terça-feira, março 14, 2023

Bases militares


Olhando estes mapas, representando bases militares em território estrangeiro, percebe-se melhor a preocupação do mundo ocidental com a dimensão militar da ameaça que a China hoje representa.



Cartas de amor


Carta da Autoridade Tributária. Área de cobrança! Ó diabo! Abro: "Fica notificado do processo de acerto de contas...". Pronto! Deve vir aí uma bolada das antigas! Continuo: "... em resultado do qual haverá lugar a reembolso". Uáu! São só €25, mas é tão raro! Aleluia! 

À espera do Eça!

 


segunda-feira, março 13, 2023

António Sequeira Nunes


Era dezembro de 1987. A porta do meu novo gabinete tinha uma mola. Ele passou metade do corpo e ficou por ali, qual Martim Moniz, atravessado na entrada, com a barriga saliente a segurar a porta.

"Tu é que és o Seixas da Costa?", perguntou, da sua insólita postura. Confirmei e ele entrou, dando-me uma forte mãozada. "Sou o António, António Sequeira Nunes. Vamos ser vizinhos". Com o António, não havia um segundo de oportunidade para não nos tratarmos por tu.

António Sequeira Nunes era chefe de gabinete do ministro João de Deus Pinheiro, ministro dos Negócios Estrangeiros. Eu era o novo assessor do secretário de Estado Durão Barroso. Os nossos dois gabinetes eram muito próximos. E próximos ficámos, criando uma relação pessoal muito boa.

Às vezes, nos mais de dois anos que passei por ali, o António entrava e sentava-se no único sofá da minha sala. Trazia historietas, raramente da casa, algumas picantes, coisas com graça. Outras vezes, era eu quem empurrava a porta dele, ao contrário da minha quase sempre entreaberta e, depois de um "Estás livre?", entrava, levando uma anedota.

Numa casa por onde sempre perpassa alguma snobeira e espírito de casta, o António deve ter percebido, desde muito cedo, que, comigo, estaria mil por cento à vontade. Imagino que deve ter embirrado com alguns dos meus colegas mais velhos, muito "stiff upper lip", prenhes de importância, mas que eram obrigados a frequentar, por razões de serviço ou exigência de carreira, o gabinete de um homem simples, direto, que todos sabiam de uma dedicação extrema ao ministro, com quem já viera da sua estada na Educação.

O António era, no dizer de alguém, um verdadeiro "character". Tinha patilhas, faltava-lhe o cabelo no topo da cabeça que lhe sobrava, em dois tufos, ao lado das orelhas, fazia, às vezes, um carão, falava grosso e fumava imenso. Quero crer que não fazia o género de alguns "plenipotenciários"! E ele ralado!

Era um fanático do Belenenses, de que foi presidente, por alguns anos. Acho até que gostava mais do clube do que do PSD - ele que andara pelas origens do PPD e até ajudara na sua segurança, em tempos que entendia como heróicos, de que me contava alguns episódios pitorescos, perguntando: "Nessas alturas, tu achavas que éramos uns fachos, não era?" Eu não lhe respondia...

Um dia, quase que se zangou comigo: recusei um convite para ir para "número dois" na nossa missão na OCDE, depois de ele ter "vendido" o meu nome, recheado de elogios, ao embaixador político que estava por lá. Ficou furioso, escandalizado: "Não percebo! Não queres ir viver para Paris?". Fosse eu presciente e ter-lhe-ia respondido que iria ter tempo para isso.

Voltámos a ver-nos, episodicamente e sempre por mera casualidade, salvo no dia em que, simpaticamente, foi ao lançamento de um livro meu, no Centro Cultural de ... Belém - "where else?", para um belenense.

Ao longo dos anos, fui sabendo dele. Ontem, soube que o meu amigo António Sequeira Nunes morreu.

sábado, março 11, 2023

Inteligência Artificial

A Inteligência Artificial pode estar ainda algo atrasada, mas aquilo que produz é já surpreendente. Perguntei ao Chat GPT o que podia dizer sobre as relações entre Portugal e Espanha. Vejam o resultado:



Vidas


Vale sempre a pena conhecer Antes, para melhor poder se apreciar Depois, que é o lugar onde iremos morar o resto das nossas vidas.

A fotografia da praia


Ontem, o Diário de Notícias trazia, na primeira página, um conjunto de fotografias creio que do "who's who" das finanças europeias. Posso crer que o retrato do cavalheiro da imagem não foi reconhecido pela maioria dos leitores. É Werner Hoyer. Desde há onze anos, é presidente do Banco Europeu de Investimentos. Trata-se de um liberal alemão que, por algum tempo, foi secretário de Estado dos Assuntos Europeus, no último governo de Helmut Kohl.

Foi nessa mútua qualidade que nos conhecemos. Chefiámos as nossas delegações nacionais na negociação do Tratado de Amesterdão e criámos, a partir de então, uma relação pessoal muito agradável. Werner é uma figura afável e dialogante, embora muito firme nas suas convicções. Perdemo-nos de vista desde então e só viemos a dar um abraço, há uns anos, num encontro casual de rua, numa noite, na Promenade, cheia de neve, no centro de Helsínquia.

Um dia, naqueles tempos de governo, convidei Werner Hoyer para vir a Lisboa. Ele tinha-me recebido, meses antes, no seu espartano gabinete de Bona e, ao entrar no espaço que eu ocupava no Palácio da Cova da Moura, ficou verdadeiramente deslumbrado.

O gabinete do secretário de Estado dos Assuntos Europeus, com azulejos nas paredes, um teto de madeira e belas pinturas nas portas, é, na minha opinião, um dos mais bonitos espaços de trabalho de qualquer governante português. Expliquei-lhe que, naquele mesmo local, tinha tido lugar a reunião dramática da última tentativa de golpe de Estado para derrubar Salazar, em 1961. E que aquele espaço fora também o gabinete do general Spínola, chefe da Junta de Salvação Nacional, nos dias revolucionários de 1974.

Portugal desenvolvia, por esse tempo, um esforço diplomático para tentar convencer os nossos parceiros de que a nossa aproximação aos critérios para a entrada na moeda única europeia estava a fazer-se de uma forma sustentada.

A moeda única era uma aposta política mas era, igualmente, um teste à nossa credibilidade. Os países da Europa mais a norte mantinham fortes dúvidas de que Portugal pudesse vir a reunir condições para partilhar o futuro euro. Ainda não havia por ali nórdicos, mas a Alemanha e a Holanda eram, visivelmente, os mais reticentes. Para os alemães, que, no processo da moeda única iam dispensar o seu tão prestigiado marco, todos os cuidados eram poucos. Em todas as conversas, eu ia sentindo que Hoyer, como liberal ortodoxo que era, embora sem o dizer, desconfiava bastante que Kohl pudesse vir a tomar uma decisão política, de cariz voluntarista, em favor de Portugal, dando menos importância às condições financeiras objetivas do nosso país.

A certa altura da nossa conversa, levei Werner Hoyer a ver o magnífico terraço em frente ao meu gabinete. Estava um belíssimo dia de sol lisboeta e, por qualquer óbvia razão, vieram à baila as praias portuguesas. Foi então que lhe ouvi este comentário: "Tenho algum receio que vocês, em Portugal, façam uma fotografia de praia". Não percebi e, como falávamos em inglês e eu podia ter entendido mal, repeti: "Uma fotografia de praia? O que queres dizer com isso?".

Hoyer sorriu e explicou: "Como sabes, nas fotografias que tiramos na praia, temos sempre a tentação de encolher a barriga, para ficarmos mais elegantes para a imagem. Logo que a fotografia é feita, relaxamos os músculos e lá regressa a barriga. O que eu quero dizer é que, na Alemanha, alimentamos o receio de que Portugal - mas não só Portugal - faça um esforço pontual para cumprir os critérios de convergência, em especial em matéria de dívida e défice, estando preparado para o momento em que a decisão sobre a entrada na moeda única vier a ser tomada mas, depois, passado que seja esse instante, venha a haver um progressivo laxismo e um menor empenhamento no esforço orçamental que vai ser necessário manter para sustentar o projeto monetário."

Já tivemos altos e baixos, mas acho que Portugal, nos últimos tempos, tem dado provas de querer ficar cada vez melhor no retrato.

sexta-feira, março 10, 2023

Notícias do reino


O governo conservador britânico, pelas mãos do par de governantes de que aqui deixo um retrato, acaba de dar a conhecer uma das medidas mais discriminatórias, face a imigrantes, de que há memória na história democrática da Europa.

Sei lá bem porquê, lembrei-me deste episódio passado comigo, já lá vão uns bons anos, lá por Londres.

Foi em 2016, no caminho para o aeroporto, num “mini-cab”. Viviam-se os tempos anteriores ao referendo sobre o Brexit.

Perguntei ao motorista o que é que ele pensava da possibilidade do Reino Unido vir a sair da União Europeia.

O homem, de tez escura e sotaque iniludível, tinha ideias firmes sobre o assunto: nas últimas eleições tinha votado pelo partido anti-europeu UKIP, por achar que havia toda a vantagem em que o país abandonasse “essa coisa de Bruxelas”. E logo acrescentou: “Não sei de que país o senhor é, mas nós já estamos cheios de estrangeiros, não queremos cá mais”.

Expliquei que era português, mas que não vivia no Reino Unido. Ele comentou, pouco afável: “Há já cá muitos portugueses”.

Deixei “pousar” a conversa. “Onde é que nasceu?”, perguntei, minutos depois. O homem: “No Sri Lanka. Vim há 11 anos para cá. Tenho nacionalidade britânica”. Não me enganara e não resisti a comentar: “Como a rainha...” Calou-se.

Um cidadão da Comunidade britânica, como era aquele motorista, sentia-se “um deles” (lembrei-me da expressão clássica de Margareth Thatcher: “one of us”). E “eles”, sentiriam o mesmo?

Estrangeiro, para aquele homem, era um português ou um grego que, graças a “essa coisa de Bruxelas”, andava a disputar-lhe os postos de trabalho.

Semanas depois, no referendo, esse meu motorista ocasional iria votar “leave”. Ao seu lado, exatamente com o mesmo sentido de voto, iriam estar milhões de cidadãos nascidos e residentes fora das grandes cidades do Reino Unido. Essa sua atitude era, entre outras razões, o resultado dos crescentes receios contra a imigração, nomeadamente de pessoas como o meu motorista, o qual, por outro motivo, iria também ser favorável ao Brexit.

A graça do mundo é que ele nunca é linear.

Nobel

Nunca acreditei que o comité Nobel de Oslo viesse a atribuir o Prémio Nobel da Paz a António Guterres, o qual, aliás, nunca foi "candid...