segunda-feira, março 20, 2023

Na soleira da generosidade


Ofereceram-me um vinho tinto com esta graduação. Nunca tinha visto. Quando provar o néctar, com toda a sobriedade, darei a minha opinião.

21 comentários:

manuel campos disse...


É produzido onde se sabe (quem sabe) a partir das castas Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca da região.
Consta ainda que dá sinais de potencial em garrafa (é normal) e que termina longo e persistente (também é normal).
Não parece ter contra-indicações rodoviárias no caso de ser bebido em Amarante antes de se iniciar qualquer viagem de meia hora.
Aguardam-se notícias.

João Cabral disse...

Mas isso é legal, senhor embaixador?

Flor disse...

Desconhecia uma graduação assim mas aconselho que ao prova-lo não o faça com o estômago vazio :)

Arber disse...

Será uma novidade de Moscatel Tinto especial?
Pelo menos o nível de álcool é 0,5% superior a um Moscatel de Setúbal que ali tenho!...

manuel campos disse...


O vinho tinto “100 Hectares 18 Graus Tinto 2018” tem, como o nome indica, 18%.
A região é a mesma e as castas são Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca.
O tinto “Flor do Tua Superior 17”, também do Douro, tem 17%.
Suponho que haja mais, deve haver, há sempre.
Existem nas casas da especialidade, que eu visito sempre que passo à porta de alguma, mas admito que nunca tinha reparado na graduação alcoólica deles, também nunca bebi vinho tinto acima dos 15.5%, os 14.5% são a minha fronteira entre o que me sabe bem e o que já me é dispensável, porquê não sei nem interessa porque gostos são gostos.
De resto não há impedimento para cima, para baixo é que penso que seja obrigatório terem mais de 8.5% para poderem ser chamados de vinhos.

No entanto, desde que não se emborque o líquido todo de uma vez, sempre têm um pouco menos de metade da graduação do whisky, pelo que dá para ir saboreando.
Existem aí pela net fórmulas que nos dão a taxa de álcool no sangue conforme a quantidade de bebida alcoólica que tragámos, para isso sendo necessário saber qual a quantidade ingerida, qual a graduação da bebida em causa, qual o nosso peso, se foi em jejum ou à refeição e, finalmente, se é mulher ou homem.
Pela minha parte fiz em tempos as contas e agora jogo à defesa, sei onde devo parar e, pelo sim pelo não, paro um bom bocado antes da quantidade que a conta deu, mesmo quando não vou guiar a seguir (já fui mais novo).
E nunca por nunca beber álcool em jejum, é um cuidado que todo o sistema digestivo por aí abaixo agradece (eu nem provo, só depois de 2 ou 3 garfadas de comida é que o vinho me sabe melhor, como a garrafa já foi aberta tenho muito tempo para me dar conta se está bom ou não e fazer uma fita).

Aprendi a beber em casa com o meu Pai.
Dízia ele que era melhor assim que aprender com os da minha idade...e foi.
É assim com enorme vergonha que assumo que nunca fiquei "com os copos" em toda a vida, nem nos 3 anos do SMO, quando era dia de copos no quartel passava pela despensa, pegava num "pão de casqueiro" de um quilo e meio, tirava-lhe o miolo que engolia, aquilo era a esponja perfeita, já se sabia que quem levava os outros oficiais já muito "felizes" de volta aos quartos era eu.
E assim fiz com os filhos e agora com os netos, aliàs o meu neto mais velho (22 anos) está a ficar um autêntico "enólogo amador", quando almoçamos por aí já é ele que escolhe o vinho, eu não faço mais figuras tristes com escolhas suspeitas para ouvir um "Ó avô, nem parece teu...".





josé ricardo disse...

Também me ofereceram uma dessas, em Vila Real. Poderá ser bom para manter em garrafa durante 10 anos. No entanto, parece-me que a graduação alcoólica é excessiva e notória ao paladar.
Vila Real tem o Grande Reserva que é um vinho excelente.

Luís Lavoura disse...

Que eu saiba, graduações dessas não se podem obter sem destilação, uma vez que as bactérias que fermentam o mosto morrem quando o teor de álcool excede os 14 graus. Portanto, vinho com esta graduação será provavelmente o resultado da adição de álcool ao vinho normal.

Luís Lavoura disse...

manuel campos

Um primo meu uma vez, há poucos anos, ficou com a carta de condução apreendida durante seis meses porque bebeu um bocado de uísque a mais num boteco situado na borda da estrada, a somente 500 metros da sua casa, em ambiente rural. Ele foi para esse sítio de carro e, quando ia a regressar a casa, a GNR, conhecedora do que por lá se praticava, tinha-se postado um pouco adiante, escondida, a fazer o teste aos condutores incautos.

Luís Lavoura disse...

manuel campos

nunca por nunca beber álcool em jejum

Os alemães bebem correntemente cerveja antes das refeições, ou fora delas. E nalgumas partes da Alemanha não bebem pouca, um litro pode ser uma quantidade corrente.

manuel campos disse...


Luis Lavoura

1. Em relação às graduações altas penso de um modo genérico o mesmo, serão os denominados "vinhos fortificados".

2. O problema é sempre esse, bebem mais vinho do que devem e ainda acrescentam um whiskyzito para rebater, é algo que sempre me confundiu, tanta displiscência.
Bebo um whisky todos os dias depois de jantar em casa ou depois de chegar a casa se jantei fora, nunca antes de conduzir ou se sei que vou conduzir (e nunca ao almoço).
Como tenho casa aí algures em zona urbana mas rural a toda a volta, conheço bem esses hábitos dos que bebem e dos que multam (e fazem bem em multar, nos botecos da borda da estrada e não só vê-se muito disparate desses e os outros é que muitas vezes os "pagam").

3. Eu sei, mas nem sou alemão nem tenho o estômago calejado, um litro de cerveja é grosso modo (a conta não é linear) pouco mais de 1/2 garrafa de vinho.
Não é só o ir guiar ou não, é o "peso da asneira" no organismo.
De resto não sou apreciador de cerveja pelo que não lhe conheço grande coisa dos efeitos.

caramelo disse...

Carradas de açucar no binho, a chaptalização. Bem bom. Era assim que a minha avó o fazia. Uma pomada.

Luís Lavoura disse...

manuel campos

Registo que quando você janta fora e depois conduz até casa bebe um uísque após chegar a casa. Nada tenho a comentar sobre isso.

A questão que coloquei há uns dias ao Francisco é, o que acontece quando o jantar é opíparo e num bom restaurante. Nesse caso, o jantar é ou não é regado com uma quantidade generosa de vinho? E, se fôr, o Francisco vai depois conduzir, ou tem outra pessoa que conduza por ele?

Francisco Seixas da Costa disse...

Mind your own business, Luís Lavoura!

manuel campos disse...


Luis Lavoura

Dei-me eu ao trabalho de trocar aqui uma palavritas consigo, dado que não sou tão mau rapaz como pareço, você responde que "Registo que quando você janta fora e depois conduz até casa bebe um uísque após chegar a casa. Nada tenho a comentar sobre isso."

Devia ter acabado com um "Arquive-se" e um "A bem da Nação".

Pois se não tem nada a comentar porque é que veio comentar que não tem nada a comentar sobre a única frase da minha conversa que só alguém sem nada para comentar se iria pôr a comentar como justificação para a seguir comentar outro assunto?

Fico um pouco mais aliviado que não tenha nada a comentar ainda que não de todo descansado, resta-me a terrível dúvida se concorda ou discorda que eu beba o whisky quando chego a casa e, enquanto a tiver, certamente não voltarei a ser o mesmo.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Ora, ora, tenho ali um de 15 que já achava ser record.
De qualquer maneira, detesto Vinho Tinto.

Renato disse...

De facto a observação do Luís Lavoura è particular. Registrar registramos todos mas não todos nos demos ao trabalho de observar que registamos os hábitos do pós-jantar/ceia do Manuel Campos... è no minimo curioso... Mas de facto Arquive-se e a Bem da Nação é uma boa resposta... E esses arquivos estão já a tomar pó em qualquer depósito das memórias cerebrais ligadas aos arquivos...

Uma observação de (não-)enologo ignorante: mas aqui 3-4 décadas atrás era normal encontrar tintos do Douro e da Beira com 13,5-15° como se vêem agora? Lembro-me dos alentejanos que se bebiam lá por casas tinham máximo 14° mas eram mesmo tirados... O normal era 13,5°. Quando cheguei a terras da outra peninsula europeia os vinhos da "Puglia", da Campania e da Sicilia eram os mais fortes que havia e os 14° eram muito fáceis de encontrar mas para o norte do Lazio era dificil ter vinhos com essa graduação. Ora claro não tenho esse conhecimento viti-vinicola que me permita dizer isto com certeza absoluta mas a minha sensação é que os processos de vinificação foram modernizados em modo consistente. Se melhorativo ou piorativo (e perdoem-me o italianicismo os puristas) não sei. A consequência dessa modernização é que a graduação alcoolica mesmo de vinhos brancos aumentou de modo significativo. Quanto às leveduras algumas estirpes resistem a graduações superiores a 14°C e por isso podem talvez ser usadas. O limite era, se tiveram essa fascinante experiencia de juventude de assistir à produção de vinho em casa e de ter o cheiro do mosto no ar e ouvir o borbulhar dele a ferver como dizia a minha avó, era a resistência às altas temperaturas que se desenvolvem durante o processo de vinificação dado que a conversão dos açucares em alcool é um processo altamente esogernico (ou seja liberta muita energia na forma de calor)e as temperaturas do mosto superam os 50°C o que claro dá cabo das ditas leveduras... Ora se as temperaturas de vinificação são mantidas a temperaturas ideais para as leveduras estas continuam alegremente a fazer o seu serviço para a qual a natureza as preparou e nesse caso a conversão em alcool prosegue. Por outro lado adicionar alcool ao vinho é um processo já testado da qual o nosso famoso vinho do Porto é testemunha... Não se chegava a 18° sem mais aquelas noutros tempos...
Desculpem o post muito longo mas estou de facto curioso de saber se a minha teoria tem uma base concreta (e se alguém pode confirmar) ou é só isso, uma teoria avulsa...

manuel campos disse...


Renato

O "(não)-enólogo ignorante" é modéstia sua, não enólogo admito-o já que o diz, ignorante não é de certeza.
Não me parece uma teoria avulsa, muito pelo contrário há muitos argumentos (por assim dizer) bastante consistentes na análise lógica e bem desenvolvida que faz do tema, bem desenvolvida e bem escrita, de forma simples e clara.

A referência que faz às graduações dos vinhos de há 30 ou 40 anos atrás são mesmo a base de partida correcta para analisar o que está a acontecer hoje um pouco por toda a parte.

Sendo eu um curioso destes assuntos, limito-me a procurar no "Dr. Google" alguma informação e pesquisando com as palavras "vinho tinto graduação alta" encontrei alguns artigos que me ajudaram a perceber que o que diz no seu texto faz sentido.

Conheço razoàvelmente alguns produtores de alguma dimensão na zona do país onde tenho uma casa, mas reconheço que evito ír muito longe nas minhas dúvidas quando falo com eles, a conversa torna-se demasiado "técnica", é difícil encontrar alguém que nos explique tudo de forma acessível, não são "divulgadores" e estão demasiado habituados a falar quase só com outros mestres do mesmo ofício.

O seu texto lança mesmo algumas pistas adicionais, o que é muito útil e agradeço.
Mas nota-se bem que o que escreveu vem de quem teve alguma experiencia do que fala, isso faz sempre toda a diferença.

Luís Lavoura disse...

Renato,
eu uma vez, há já muitos anos, fiz a vindima no Beaujolais, numa quinta do produtor. À noite assistia à vinificação. Vi como o agricultor entornava sacos enormes cheios de açúcar puro, branquinho, para dentro do mosto a ferver. Eu, que na infância vira o meu avô a fazer vinho, achei aquilo nojento. O agricultor francês explicou-me que era totalmente legal adicionar, na produção de Beaujolais, até uma certa quantidade de açúcar por quilo de uvas.
Tudo isto para explicar que há uma forma fácil de aumentar a graduação do vinho: adicionar açúcar às uvas.
No tempo da minha infância, cá em Portugal, ninguém em seu perfeito juízo adicionaria açúcar às uvas. Mas, como eu digo, em França fazia-se e era legal. Provavelmente, atualmente cá em Portugal também se faz.
Quanto às estirpes: eu lembro-me de uma vez o meu avô, ao fazer vinho, se ter gabado de estar com o mosto já com 16 graus. Para mim, então uma criança, isso não significava nada. Não sei de que forma ele obteve esses 16 graus. Foi somente uma recordação de infância que me ficou.

manuel campos disse...


Francisco Sousa Rodrigues

Lá porque detesta vinho tinto não deite fora a(s) garrafa(s), os (s) são optimismo da minha parte.
É que perante esta situação estou a encarar sériamente a hipótese de ir aí partilhá-lo comigo próprio dado que não seria possível partilhá-lo consigo.
Tenho é que depois fazer um repouso de 12 horas antes de voltar à estrada, que é o tempo que levam os últimos vestígios a desaparecer do organismo pelo que, não o querendo incomodar, ficarei hospedado naquele motel em frente ao antigo restaurante de que se falou há tempos aqui, tomando no entanto todos os cuidados para que ninguém me veja entrar ou saír, esses sítios devem ter sempre uma porta das traseiras discreta.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Eu não bebo do dito, mas bebem os outros, terei todo o prazer em partilhar com o Manuel.
Agora, isso de ficar no Ponderosa, se calhar não é boa ideia, fica a 38 km daqui.

manuel campos disse...


Francisco Sousa Rodrigues

Muito obrigado, era mesmo isso que eu esperava ler, como decerto imagina.
Pois eu sei que fica a essa distância, o Francisco disse isso na altura.
Se calhar não é grande ideia, de facto.
E como experiência de vida talvez pouco enriquecedora.

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