domingo, outubro 06, 2024

O surto da extrema-direita


Ver aqui.

4 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

"Já há a extrema-direita má e extrema-direita boa. Leyen deu a mão a Meloni” ...Exacto.

Mas o sucessso aparente da extrema direita é o resultado de quê? No período de decomposição política que atravessamos, a social-democracia encarna uma forma de derrota da ideologia progressista, acusada de ter abandonado os seus ideais como razão de ser.

É verdade que vem acumulando desilusões desde o início do século. Em França é claro: incapaz de se reinventar depois da derrota de Lionel Jospin em 2002, no centro das oposições entre as diferentes correntes da esquerda do governo nos cinco anos anteriores mandato, marginalizada na dinâmica lançada por Macron, já não parece capaz de propor um projecto político desejável.

Vamos là dizer que é a má qualidade do pessoal político, ou ingratidão do eleitorado. Mas eu creio que hà e houve muito mais. A esquerda no poder foi influenciada pelo neoliberalismo, que visa libertar o mercado e a lógica da rentabilidade das restrições políticas e sociais que os poderiam dificultar.

A prioridade do político e a prioridade do social foram postas em causa pelo aumento generalizado dos objectivos de competitividade e atractividade.

Tem havido uma diluição da social-democracia na lógica comercial dominante no quadro do capitalismo financeirizado e globalizado. Isso sim. E isso paga-se no dia do voto...

As concessões iniciais sobre a prioridade do político através da perda de ferramentas de intervenção - o Estado nao pode tudo, dizia Jospin, e outros, - levaram a concessões sobre a prioridade do social.

manuel campos disse...

Uma boa leitura do que se passa, ainda que eu por vezes me veja tentado a substituir “extrema direita” por “extrema esquerda” no discurso e chegue a conclusões curiosas, os extremos tocam-se (mas são “os nossos extremos”, para uns e para os outros).
Seja como for agora é a extrema direita que está em foco e duvido muito que a extrema esquerda volte a estar tão depressa, já terá tido os seus momentos de alguma glória.
Como já falei aqui “the times they are a-changing” e não há evidências de que “o tempo volte para trás”, pelo menos na minha vida e dos da minha geração.
Já aqui falei que para se aguentarem no balanço eleitoral das novas realidades, cada vez mais a esquerda terá que defender causas tradicionalmente de direita e que cada vez mais a direita terá que defender causas tradicionalmente de esquerda, o Maio de 68 e outras situações politicas que nos encheram de entusiasmo e recordações já só existem nas lembranças de alguns (bastante esfumadas em alguns casos, diga-se de passagem), não vai ser com isso que ninguém irá ganhar eleições quando estas gerações que os viveram já não votarem.
Por isso estas suas análises têm sido até hoje importantes, porque não se apresenta como um “especialista”, mas sim como uma “pessoa culta”.
É que uma pessoa culta sabe fazer as necessárias ligações entre todos os aspectos da realidade, um especialista só sabe aquilo que bem definiu Konrad Lorenz:
“Every man gets a narrower and narrower field of knowledge in which he must be an expert in order to compete with other people. The specialist knows more and more about less and less and finally knows everything about nothing.”

Joaquim de Freitas disse...

“eu por vezes me veja tentado a substituir “extrema direita” por “extrema esquerda”; escreve o Senhor Manuel Campos.

Permita uma opinião diferente: Em França, os resultados eleitorais da “esquerda” aumentaram moderadamente, enquanto dentro dela os sectores mais radicais aumentaram o seu peso específico. Representados pela France Insoumise (LFI) e seus aliados (NPA, ecologistas radicais, estes sectores registaram um claro aumento de um milhão de votos nas últimas eleições. da juventude e das classes trabalhadoras que se mantiveram longe das urnas nos últimos anos.

A Nova Frente Popular (NFP) tem sido, desde as últimas eleições legislativas, a única força política com legitimidade democrática para governar o país. A maioria relativa de um terço dos votos expressos, combinada com uma participação sem precedentes dos cidadãos nas urnas e a mobilização em torno de um programa claro de 150 propostas são hoje condições suficientes para inaugurar um governo de esquerda.

Ao mesmo tempo, a crescente dinâmica eleitoral da extrema direita faz dela hoje uma importante força política em França, capaz de desempenhar pelo menos um papel regulador, apesar de um resultado final relativamente modesto e do seu fraco desempenho em termos de número de assentos.

Os resultados das eleições legislativas francesas fazem da Esquerda (Nova Frente Popular) a força dirigente na Assembleia Nacional. A governação imediata do país pela esquerda, com Lucie Castets como Primeira-Ministra, proposta pela Nova Frente Popular, teria sido a solução mais democrática para o país.

No entanto, Emmanuel Macron, obedecendo às ordens dos seus amigos capitalistas, fez todo o possível para afastar tal possibilidade, utilizando a Constituição Francesa da pior forma possível. O risco de uma deriva para a ditadura continua a ser real, um cenário que a França já viveu várias vezes na sua história.

Sob a governação a riqueza das 500 pessoas mais ricas triplicou. A dívida pública francesa ultrapassou a marca fatídica de 3 biliões e 110% do PIB. O défice público já ultrapassa os 5% e a França foi chamada a explicar-se à União Europeia como parte do procedimento de défice excessivo (PDE), que deverá começar no Outono. A posição geopolítica da França está a deteriorar-se rapidamente, ao ponto de se encontrar agora num seguidor de segunda categoria dos Estados Unidos.

manuel campos disse...

Sr. Joaquim de Freitas
Claro que permito uma opinião diferente, é com essas que aprendo.
Isso no entanto não me impede de naturalmente as refutar se for caso disso.
Não é no entanto o caso aqui, a minha observação era mais “abrangente”, outra palavra com que não simpatizo mas não me apareceu mais nenhuma.
E não é o caso aqui porque não acompanho a situação em França com interesse suficiente (não vivo da política, não vivo com a política, não vivo para a política).
Vivo no entanto para outras coisas e, muito em especial, para outras pessoas.
Cumprimentos

O novo embaixador americano...

... em Portugal, segundo o Inteligência Artificial.