sexta-feira, outubro 04, 2024

... e o rei ficou sem jantar!


Faz amanhã 114 anos, dia por dia, o rei dom Manuel II devia ter jantado em Vila Real, como se constata pelo menu na imagem. 

Mas o rei não foi a Vila Real. No dia 4 de outubro de 1910, chegou a Mafra, pernoitando no palácio. No dia seguinte, dali seguiu para a Ericeira, onde embarcou para o exílio em Inglaterra.

Mas que diabo ia o rei fazer a Vila Real no dia 5 de outubro? Tratava-se de uma visita inserida na sua deslocação ao Vidago, onde ia inaugurar o Palace Hotel. E quem era o proprietário desse hotel? Nada mais nada menos do que o seu primeiro-ministro, Teixeira de Sousa.

Por essa altura, em Vila Real, os republicanos movimentavam-se. Na noite de 3 de outubro, juntaram-se no nº 44 da rua da Travessa que, com o tempo, viria a chamar-se de Avelino Patena. 

Era uma casa particular onde, com regularidade, ao que hoje se sabe, os conspiradores locais reuniam, em torno de gente da Maçonaria. António José de Almeida tinha ali estado, tempos antes, clandestinamente, numa dessas reuniões.

Em 2010, aquando das comemorações do centenário da República, eu era embaixador em Paris. O presidente da Câmara de Vila Real, Manuel Martins, convidou-me para proferir uma intervenção sobre a implantação da República em Vila Real. A cerimónia teria lugar em frente à casa onde a conspiração republicana local tinha ocorrido, com a inauguração de uma lápide a assinalar o facto, cem anos depois.

A noite, recordo, estava invernosa, mas tivemos muita gente a juntar-se no evento. Eu lá disse o que tinha para dizer (quem quiser saber o que disse, basta clicar aqui).

Revelei uma (para mim) curiosa coincidência, que quem me convidou desconhecia por completo: aquela casa, aquele nº 44 da rua de Avelino Patena, era o local onde eu tinha nascido, algumas décadas depois do 5 de Outubro de 1910.

Uma última nota sobre a imagem. O jantar não teve lugar, mas o menu ficou para a História. Alguém ofereceu um exemplar ao meu pai e hoje sou dele proprietário.

11 comentários:

Anónimo disse...

O menu está todo em francês. Que pedantice!

Lúcio Ferro disse...

Ora muito boa noite. Por falar em restaurantes; escreveu aqui Senhor Embaixador Francisco Seixa da Costa, 24 de Setembro, a propósito da Livraria Martins, ali à Guerra Junqueiro, que uma célebre Pastelaria-Restaurante havia mudado de nome. Hoje, ao final da tarde, cumpridos que estavam os meus deveres amanuenses, tratando-se por cima de uma sexta-feira com amena temperatura, resolvi ir visitar a Livraria Martins. Dado ter tido alguns assuntos mundanos a tratar numa frutaria muito em conta na Praça Francisco Sá Carneiro, vulgo Areeiro, fui pela João XX, desci a Almirante Reis e entrei na Rua Guerra Junqueiro pela parte de baixo. Fui subindo a rua e lá encontrei a Livraria, espaço bem compostinho, música ambiente agradável, mas logo veio a insatisfação: na secção "Actualidade" eram tudo livrecos de duvidoso quilate, desde títulos como "Os perigos do Facebook" até "Os Homens de Putin: Como o KGB se apoderou da Rússia e depois atacou o Ocidente". Do mal o menos, aqui poderei tomar um cafezito, alvitrei para com os meus botões. Encaminhei-me até um rapaz e uma rapariga e pedi. Oh desconsolo, oh infortúnio, a máquina de café estava avariada. Lá sorri entre dentes e, para não perder o passeio, subi até aquilo que o senhor embaixador referira ter mudado de nome. Ao passar, não vejo qualquer indicação da nova toponímia do lugar. Todavia, visto o restaurante ser no interior, para lá me dirigi, onde encontrei o senhor Silva, empregado do estabelecimento pelo menos há vinte anos e acabei a fazer figura de tolo, quando lhe perguntei se agora a parte de restauração se chamava "Tasca". Acho que o que me safou foram os meus Ray Ban na cabeça e o Breitling no pulso. Ora, senhor embaixador Francisco Seixas da Costa, isto não se faz, então leva um seu leitor ávido como eu a uma situação embaraçosa destas?!? Vá lá que, ainda assim, o rácio de mulheres queques, mas bonitas e elegantes, por metro quadrado na Rua Guerra Junqueiro continua a ser muito agradável à vista; tenha um bom fim de semana, caro senhor.

manuel campos disse...

Os menus da Corte eram todos em francês no final do século XIX, entrando um pouco pelo século XX (depois acabou a Corte).
As pessoas que iam a estes jantares sabiam francês e não iriam dizer "não tem um menu em português?".

Ora neste tempo de agora estamos rodeados de gente que se nos dirige todo o dia com frases inteiras cheias de palavras inglesas, muitas vezes de natureza muito especializada, sabendo-se que um número considerável de pessoas a quem se dirigem não domina o inglês a esse nível.
Como quase todas essas palavras têm tradução portuguesa, os pedantes é agora que estão entre nós, entre eles os que acham normal que assim seja.

Ponho então aqui ligação para um estudo sobre o assunto, não quero que vos falte nada (com licença):

file:///C:/Users/Utilizador/Downloads/Mestrado%20traduzir%20a%20gastronomia%20an%C3%A1lise%20das%20ementas%20da%20corte%20portuguesa%20-%20vers%C3%A3o%20definitiva%20(4).pdf

Anónimo disse...

Truttes?

Anónimo disse...

Chá, umas folhinhas de darjeeling ajudam à digestão.

Anónimo disse...

Senhor Campos: o ficheiro "file:///C:/Users/Utilizador/etc" só existe no seu computador. Se pretende divulgar o documento terá de colocá-lo online, por exemplo no serviço Meo Cloud, e de seguida informar-nos o link respectivo.

manuel campos disse...

Senhor Anónimo das 07.59

O ficheiro existe em todos os computadores que se prezam porque está online, põe "análise das ementas das cortes portuguesas" na pesquisa do Google, o ficheiro em PDF é descarregado automáticamente como transferência, não interessa ficar com ele guardado e elimina-se, foi o que eu fiz, quando o pus aqui fui outra vez buscá-lo (acabei de confirmar duas vezes que funciona assim).
Também tem a possibilidade de ler o Resumo (ou o Abstract) noutra ligação que abre normalmente e será suficiente para a maior parte das pessoas .
Pesquisando por aquela frase que indico aparecem à cabeça as duas ligações para o estudo de 2013 de Chantal Marie Joelle Louchet na da Universidade de Évora (tem lá mais ligações mas não adiantam nada a estas).
Agradeço o seu conselho.
Cumprimentos


manuel campos disse...

Talvez me tenha explicado mal acima, sem ír pelo caminho que entretanto indico não se vai lá.
Por isso indiquei outro caminho à atenção de quem lá queira chegar sem grande dificuldade..
E volto a agradecer ao Anónimo das 07.59 a atenção e o cuidado.
Em casos destes passo a "indicar o caminho" que segui.

Basket-Spot disse...

Que engraçado, antigamente punham tudo em francês, é como agora porem tudo em inglês, porque será sempre chique e progressista, em estrangeiro. Desde que não seja em português, tudo bem. Mas depois querem promover a língua, até na ONU. Não é de espantar tanta falta de juízo de tanta gente com ares de importante?

isabel disse...

E nós comemoramos o aniversário de casamento dos nossos avós,o qual se realizou em Lisboa
A modista não conseguiu trazer o vestido, no carro em direção á basílicaia um padre que teve de se esconder e , como não conseguiram ir para o hotel escolhido para a refeição, contentaram se com o almoço da vizinha, a qual também emprestou o vestido.

Flor disse...

Gostei muito. Estive há pouco a ler os comentários ao mesmo post no Facebook e fiquei bem agradada com os factos relatados da época .

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