quarta-feira, outubro 02, 2024

Acontece uma vez na vida


Foi na noite de ontem, num cruzamento, algures em Lisboa. Ao contrário do autocarro que se vê na imagem, aquele ia vazio, e apenas com o condutor, como vim a constatar. Não era um veículo fora de serviço, tinha o número de uma linha bem conhecida. Estranhamente, vi que estava a fazer marcha atrás, recuando de uma das ruas do cruzamento. Algum obstáculo inesperado? A operação, com um veículo daquela dimensão, não estava a ser fácil. Eu e os carros que me seguiam parámos. Como é de regra de civismo básico, tratando-se de um transporte público, aguardámos o fim da operação, com natural paciência. O autocarro, creio que ao fim de pouco mais de um minuto, completou a manobra. Ficou de frente para nós, ocupando toda a rua, impedindo a nossa passagem. Esperámos que o veículo arrancasse, para uma das duas direções possíveis. Mas não. Vimos a porta dianteira do autocarro abrir-se e a luzes interiores acenderem-se. O motorista, para minha surpresa, saiu pela porta por onde entram os passageiros e aproximou-se do meu carro. Pensei: deve ter uma avaria e vai informar-nos de que temos de tomar um percurso alternativo. Com ar calmo, o homem disse-me: "O senhor pode dar-me uma ajuda? Conhece bem esta zona?". Eu conhecia, muito bem. Ele perguntou então: "Como é que eu chego daqui a ...?". Abismado com o insólito da situação mas, confesso, também com a calma sorridente do homem (que devia ter consciência de que o seu interlocutor estava confrontado com uma circunstância em absoluto inédita), retorqui, apontando numa das direções: "Se continuar por ali, sempre em frente, vai dar lá". O motorista agradeceu, regressou calmamente ao autocarro "perdido" e avançou pelo caminho que lhe indiquei. No carro, eu e a minha mulher demos umas boas gargalhadas. Caramba! Foi a primeira (e seguramente será a última vez) na vida que ajudámos um motorista da Carris a encontrar o seu caminho pelas ruas de Lisboa. Que mais nos estará para acontecer? O mundo anda esquisito, não anda?

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