quarta-feira, outubro 09, 2024

Passadeiras

Sou de um tempo - muito antigo - em que as pessoas, antes de atravessar as passadeiras, olhavam para ambos os lados da rua. Numa outra encarnação geográfica, lembro-me que o peão estendia o braço, para assinalar a sua intenção, antes de iniciar a travessia. Isso acabou. Agora, olha-se o telemóvel e caminha-se lentamente. Às vezes, raramente, alguns peões deitam um olhar sobranceiro para o automóvel estacado a uns metros, numa coreografia que quer significar: "Só quando eu quiser é que tu vais passar, percebes?"

1 comentário:

Anónimo disse...

Perfeito, perfeitíssimo, nada a acrescentar.
Ainda hoje, regressados de algures a Lisboa, só dizíamos um ao outro "que saudades tínhamos disto...".
E quando param de repente a meio da passadeira muito ocupados com o que estão a fazer?
Aí já dá para desengatar e dar uma boa aceleradela em seco, é cada cagaço (atenção, eu escrevi desengatar antes).
Sou peão muito mais vezes e durante muito mais tempo de cada vez em Lisboa do que o sou como automobilista, sou mesmo dos que insistem com os carros para avançarem eles quando vejo que posso atravessar logo a seguir, mas reconheço que isso se deve aos milhares de vezes que estou
"do outro lado".

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