quarta-feira, outubro 09, 2024

Passadeiras

Sou de um tempo - muito antigo - em que as pessoas, antes de atravessar as passadeiras, olhavam para ambos os lados da rua. Numa outra encarnação geográfica, lembro-me que o peão estendia o braço, para assinalar a sua intenção, antes de iniciar a travessia. Isso acabou. Agora, olha-se o telemóvel e caminha-se lentamente. Às vezes, raramente, alguns peões deitam um olhar sobranceiro para o automóvel estacado a uns metros, numa coreografia que quer significar: "Só quando eu quiser é que tu vais passar, percebes?"

23 comentários:

Anónimo disse...

Perfeito, perfeitíssimo, nada a acrescentar.
Ainda hoje, regressados de algures a Lisboa, só dizíamos um ao outro "que saudades tínhamos disto...".
E quando param de repente a meio da passadeira muito ocupados com o que estão a fazer?
Aí já dá para desengatar e dar uma boa aceleradela em seco, é cada cagaço (atenção, eu escrevi desengatar antes).
Sou peão muito mais vezes e durante muito mais tempo de cada vez em Lisboa do que o sou como automobilista, sou mesmo dos que insistem com os carros para avançarem eles quando vejo que posso atravessar logo a seguir, mas reconheço que isso se deve aos milhares de vezes que estou
"do outro lado".

manuel campos disse...

Às 00.47 era eu, tinha que ser, foi o entusiasmo, falhou o nome.
O Código da Estrada tem algumas regras de cautela para os peões, que os avisam de que as passadeiras não são para atravessar à balda só porque estão ali.
No entanto se algum for atropelado porque não as cumpriu, duvido que seja possível prová-lo, já para não falar de arranjar testemunhas.
Aqui há imensos anos, a atravessar uma vila em festa, dei um toque numa pessoa que surgiu de repente por detrás de uma carrinha grande, eu ia muito devagar e não aconteceu nada de grave.
Fui eu que chamei a GNR e, enquanto não chegavam, fui recebendo o apoio e a oferta de testemunhas várias, quando chegou a GNR nem uma lá estava para amostra ou fizeram-se de desentendidas.
Devo dizer que os agentes foram impecáveis, accionei de imediato o seguro (que tem que pagar obrigatóriamente idas ao hospital), ainda hoje tenho o telemóvel da pessoa mas nem nos temos telefonado nem nos temos atropelado.

Anónimo disse...

as pessoas em portugal mandam-se para as passadeiras...

Luís Lavoura disse...

sou mesmo dos que insistem com os carros para avançarem eles quando vejo que posso atravessar logo a seguir

A pessoa que me ensinou a conduzir (na Pensilvânia, que foi onde tirei a carta), um instrutor profissional, ensinou-me que um condutor (e, pela mesma via, um peão) não é um polícia sinaleiro: ele deve cumprir as regras do tráfego, em particular as regras da prioridade, e não andar a dizer aos outros se devem passar primeiro ou passar depois. Isso só causa confusão e mal-entendidos que podem acabar a descambar num desastre.
Quando as pessoas têm prioridade, devem exercê-la o mais depressa possível, para que os outros possam passar depois também o mais depressa possível. Não devemos pôr-nos a dizer aos outros que passem eles primeiro, se eles não têm prioridade.

Anónimo disse...

Penso que a questão base é a falta de educação, formação ou formatação das pessoas, começando pelos jovens e estendendo-se aos mais idosos.
Se não está na APP, não sabem fazer. E não há nenhuma APP para respeitar os outros.
Outra questão base é a absoluta necessidade de termos uma DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DEVERES DO HOMEM. Não há ninguém que não invoque constantemente os seus direitos (até de chatear os outros na passadeira), mas nunca encontramos ninguém a invocar os seus deveres.
Tony Fedup

manuel campos disse...

Ó Luis Lavoura

Não tenho a sua vida, hoje ainda menos que noutros dias, já fiz mais e me chateei mais que V. num dia inteiro.
Quando os mando avançar é quando ainda vêm ainda a andar normalmente, é preciso ser pouco vivo para achar que um gajo com 78 anos e 60 de carta, com centenas de milhares de quilómetros em cima (trabalhei em 5 distritos e só vinha a casa ao fds) é um nabo, não veja os que não conhece à imagem dos que conhece.
Em resumo: vá bugiar.
E agora volto a saír para as "corridas" da tarde, outro programa semelhante ao da manhã, este conta por todo o seu trabalho da semana que vem.

Anónimo disse...

outra coisa: alguém lhe diga que advérbios de modo, obrigatoriamente, NÃO são acentuados

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

O princípio de que a prevenção primária no evitamento de acidentes com elementos mais vulneráveis cabe aos menos vulneráveis é sagrado.
Da mesma maneira que devo estar pronto para parar quando me aproximo de um local onde tenho o dever de ceder passagem a outros condutores, da mesma maneira devo preparar-me para a travessia de um peão numa passadeira.
E é com todo o prazer que aplico estes princípios e até à data sem sustos e com eficácia quase total.

António disse...

Concordo com Luís Lavoura.
Mas discordo do Senhor Embaixador: os condutores devem respeitar os peões. Bem como devem respeitar as regras de trânsito o que não é muito comum. Existe até um conceito que muita gente cita que é o de "caça à multa". Supondo que o polícia não comete um erro, se multa é porque o condutor prevaricou. Para mim em vez de "caça à multa" devia ser "caça ao prevaricador". Havia muito que caçar e evitar-se-iam muitos desastres.
Zeca

Luís Lavoura disse...

Recordo-me que quando emigrei para a Alemanha, em 1989, uma coisa que me fez muita confusão foi presenciar, repetidamente, automobilistas a parar só porque eu me encontrava especado ao pé de uma passadeira, sem no entante fazer mênção de a ir atravessar (muitas vezes eu estava parado sem saber exatamente onde me dirigir). Enquanto que em Portugal os automobilistas só são supostos parar quando um peão coloca o pé na passadeira, na Alemanha eles são supostos parar - e param mesmo! - desde que haja um peão ao pé da passadeira.

manuel campos disse...

Eu paro sempre quando vejo alguém especado.
Há dias ali na esquina onde fica o Cinema Alvalade, fui dando voltas ao quarteirão à procura de um lugar (vive ali um neto meu) e parei 4 vezes junto daquela passadeira que atravessa da Escola Marquesa de Alorna para o Cinema.
O que é que isto tem de especial?
Bastante pois, de todas as vezes, foi para deixar passar a mesma pessoa, ali especada a escrever mensagens há mais de 10 minutos, já só nos ríamos, nós e ela.

manuel campos disse...

Desde as 9 da manhã até às 5 da tarde fiz 40 kms de carro dentro de Lisboa em deslocações várias, passei 3 horas em salas de espera, almocei sentado, viajei na linha vermelha e também na linha verde do Metro e ainda fiz um pequeno percurso na Carris (e vim pelo meio a casa e escrevi aqui).
Dentro do carro contabilizei 15 situações como a que descreve no texto, 3 situações de virem normalmente pelo passeio fora e atirarem-se de repente para a passadeira e uma de atravessarem fora da passadeira e pararem no meio da rua a olhar para o aparelho.
No Metro fui abordado por uma senhora que, dado o meu aspecto geral de adepto da extrema direita, resolveu dizer-me o que pensava da situação politico-social na Europa (e ficou visivelmente incomodada por eu não lhe responder), bem como por um senhor que subia a pé comigo uma escada rolante parada e que, chegados quase ao cimo, se virou para trás e me informou “está avariada” ao que respondi “não me diga!” (e ficou visivelmente incomodado por eu lhe responder assim).
No autocarro não deu tempo a nada e, de resto, ia quase vazio.

António disse...

Luis Lavoura (das 16:36).
Tem graça porque tive sensações muito semelhantes quando, em 1966, cheguei à Inglaterra. Fiquei espantadíssimo porque quando o peão atravessava, depressa ou devagar, os motoristas esperavam todos sem refilar.
Nesse tempo muita gente em Portugal nem sabia bem para que serviam as passadeiras. Hoje já se respeitam mais, mas eu penso que ainda não se chegou ao nível da Inglaterra em 1966.
Zeca

Anónimo disse...

A propósito da Alemanha, em Berlim, que visitei em 2008, até numa artéria comprida e com excelente visibilidade como a Kurfürstendamm espantou-me que os peões só passavam para o outro lado quando o semáforo para os peões estava verde, houvesse ou não trânsito algum, até me pareceu extremado, mas era mesmo assim.

afcm disse...

Mas por que não ler os Códigos e cumprir as regras que neles constam ?
Com todo o respeito, o art.o 101° do Cód. da Estrada é muito claro.
Pena que não o ensinem nas escolas.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

E já agora o 103.º!
Naturalmente que se deve atravessar uma estrada assegurando o disposto no artigo 101.º, é uma questão lógica de zelo pela própria integridade, agora a moralização excessiva que algumas pessoas fazem de comportamentos temerários por parte dos peões, muitas vezes não encontra paralelo na posição face a comportamentos de risco (para os outros) por parte dos condutores.
Com o volante nas mãos, o princípio plasmado num ditado politicamente incorreto é de alto valor e não me chateia nada fazê-lo cumprir.

manuel campos disse...

No transito a “prioridade” (tem aspas!) é do que pode causar mais estragos no outro, é evidente.
Por mais teorias que se tenham sobre o cumprimento ou não da lei por uns e por outros, no fundo da escala está o peão.
O pesado espatifa o carro, o carro espatifa a motoreta, a motoreta espatifa a bicicleta, a bicicleta espatifa a trotineta e a trotineta espatifa o peão.
É tudo muito lindo se tenho a lei do meu lado quando um pesado força a prioridade que não tem com o meu carro, mas o facto é que, se algo correr mal, eu fico sem carro (pelo menos) mas cheio de razão (que não me serve de muito).
E isto é válido para o resto da escala toda.
Portanto o peão tem que ter todos os cuidados e mais alguns para não passar uns meses numa cama de hospital (se não for pior), enquanto quem o derrubou nem uns arranhãzitos no veículo por vezes sofre (e por veiculo entendo tudo o que tem rodas, não falo só de carros, bicicletas e trotinetas não terá muita gente nos seus bairros porque estão quase todas no meu).

Como já contei o que segue muitas vezes, não o estou a inventar agora porque me dá jeito.
Ando sempre que posso 3 a 4 horas a pé em Lisboa, na Lisboa da bagunça (a começar pela Baixa) e não na Lisboa das ruas desertas, sou assim capaz de ter umas ideias “práticas” sobre o assunto, leio por aqui algumas “teorias”), pelo que me acontece e mais ainda pelo que vejo acontecer aos outros, já vi morrer alguma gente ali mesmo e já vi ficar bastante ferida muita gente à minha frente (e também fui eu o primeiro a chamar o 112 de vez em quando).
Já andei mais, durante uns cinco anos foi todos os dias, com chuva ou com sol, a vida que me cerca deu umas voltas e agora ando menos a pé porque tenho que transportar outros, mas continuo a andar todos os dias por semana em que tenho “folgas” (por isso subo 75 degraus com malas nas calmas e desço 75 degraus no estilo "adolescente inconsequente".

Pela minha parte tenho em 60 anos duas contravenções ligeiras por excesso de velocidade (a 80 kms/hora num troço de estrada de 60 e a 70 Kms/hora numa avenida circular em Évora em vez dos 50 urbanos).
Também tenho duas coimas também leves por estacionar na Rua Nova do Almada (fica no Chiado) num local de descargas cujo sinal estava tapado por um andaime e até comprei o “bilhete” e o pus lá, outra por ter duas rodas em cima do passeio aqui na área, como todos os outros, foi esta a coima que levou minha mulher a ír ali e alugar os dois lugares no estacionamento privado que ainda uso).
Isto tudo para dizer que, para um tipo de Lisboa, com casa e a viver em Lisboa desde que nasceu, que andou 25 anos por fora fazendo mais de um milhão de quilómetros só aí, não me considero particularmente criminoso.
E continuo a dizer, como peão em Lisboa que continuo a ser regularmente por horas seguidas e motorista na cidade e na estrada há 60 anos que, não sabendo eu qual o curriculum dos meus colegas comentadores, tanto em horas andadas como em horas guiadas, como em multas apanhadas, me permitam uma opinião que tem pouco a ver com decretos e grandes princípios.
O peão pode ter toda a razão do mundo, as coisas estão muitíssimo mais civilizadas por cá (e muito menos civilizadas em países que o eram há 50 anos, mas nem vou por aí), mas quem se magoa forte e feio em caso de azar já se sabe quem é.


manuel campos disse...

O texto das 01.38 está menos cuidadoso, tem parenteses que abrem e não fecham ou que fecham e não tinham aberto.
E agora Champalimaud com eles para começar o dia, depois outras se seguirão por esta Lisboa.
As coisas são o que são, como dizia sempre Victor Cunha Rego.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Manuel Campos.
Isto hoje em matéria de bichas está profícuo, estava a ver que não entrava em Lisboa, pelas 10 e picos o trânsito no acesso "saloio" costuma fluir.

manuel campos disse...

Francisco de Sousa Rodrigues
Pode ser impressão minha por ter estado aquelas 3 semanas longe desta maluquice toda, mas dou-me conta que anda aí uma agitação no ar que não me parecia andar há um mês.
Hoje lá fomos a Belém, depois viemos almoçar na zona do Saldanha, passámos pelo CI para virem cá trazer amanhã a reposição de stocks e fomos à zona norte da capital buscar o meu carro (a luzinha voltou a acender há dias, lá fiz os 300 kms de regresso com ela acesa – e se fosse só isso!).
Muita gente de um lado para o outro, porventura reformados que anteontem receberam a pensão com o “bónus” (gosto desta do “bónus”) do IRS retroactivo que, quando chegar o acerto do ano que vem logo se vê (por mim óptimo, prefiro devolver a receber, eu consigo gerir o meu dinheiro melhor).
Quando voltámos da oficina pelas 5 e pouco da tarde (um carro atrás do outro) confrontámo-nos com isso de que fala pois apanhámos já bastante trânsito “de regresso”, de tal modo que só na zona do Areeiro nos voltámos a juntar em “combóio”, para pouco depois nos perdermos de vista outra vez.
Só porque pode ser útil a alguém, dado que todos os carros a gasóleo a partir de 2015 passaram a ter o famoso (e vagamente pouco útil) AD-Blue, antes só nos pesados era obrigatório.
Lá na oficina “algures” apagaram a luzinha, era o sensor de NOx a dar sinal (de quê é que não sei, nem eu nem ninguém, mas as electrónicas acabaram com as soluções óbvias).
O carro andou assim 20 dias e uns 600 a 700 kms sem problemas até que, dois dias antes de voltar lá acendeu a luzinha amarela outra vez, desta vez com o aviso “não é possível medir o nível do Ad-Blue”, mas desligava o carro e voltava a ligar e estava lá o nível (típico da informática).
Estar ou não estar, eis a questão, para o carro não estava, aconteceu então o pior, acendeu o aviso de que “o carro pára dentro de 800 kms”, pois quando falta o Ad-Blue (e era essa a opinião do carro) finda aquela quilometragem, o motor não arranca enquanto não se reabastecer de Ad-Blue (bastam 5 litros para o efeito).
Portanto levei-o à minha “nova” oficina em Lisboa (um dia explico porque deixei a “velha”, também pode ser útil nestes novos tempos), o sistema foi reprogramado, cobraram-me uma hora e parece estar novo (parece!).
Tudo isto para dizer que já me via a ter que substituir o sistema todo, o que em algumas marcas parece estar a ser muito vulgar e custa umas massitas boas (não digo que marcas são para não assustar sem necessidade).


Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Estou a ver que o seu AdBlue anda embruxado, espero que as artes dos mecânicos da nova oficina sejam proveitosas e o problema esteja resolvido.

manuel campos disse...

Francisco Sousa Rodrigues
Com 82000 kms em 8 anos e uns mesitos, levou um sensor de pressão aí a meio deste tempo (150€ com m.o) e agora esta reprogramação (50€ de m.o), não me posso queixar de todo.
De resto pneus aos 60 mil kms (agora tem Michelin nas jantes de 17'' e é um descanso) e levou uma bateria também por essa altura, quando a bateria começa a ir-se o start-stop (que aliás desligo sempre) deixa de lá estar com a luz a verde, fica no amarelo, é o 1º aviso para trocar a dita.
Se não fizermos nada e aquilo ficar mesmo fraquito, o carro não deixa ser desligado enquanto a bateria não recarregar um mínimo até à próxima oficina...
Vou contando estas histórias aqui, com licença do dono da casa, porque todos os dias constato que pouca gente sabe destes pormenores que muitos carros actuais trazem de fábrica, as pessoas depois entram um bocado na dúvida e por vezes enfiam grandes barretes em coisas afinal simples.

Nuno Figueiredo disse...

11:43 "em resumo: vá bugiar." a síntese é um bem raro...

25 de novembro