ALCOBAÇA
ALMADA
- Atira-te ao Rio
ALMEIRIM
CALDAS DA RAINHA
- Sabores d'Itália
NAZARÉ
ÓBIDOS
- Traçadinho
PENICHE
SANTARÉM
- Dois Petiscos
SERRA D'EL REI
SESIMBRA
SETÚBAL
TOMAR
- Chico Elias
Há o português suave e há o português mesquinho. O português suave é o patriota simplório que se delicia com o facto dos estrangeiros gostarem daquilo que fazemos, da Expo ao Euro, passando agora pelas Jornadas. O português mesquinho é aquele que, a partir de hoje, vai dizer "se houve Metro a horas para quem veio de fora, era só o que faltava que agora não passasse a haver também para nós". O português suave deu, com inocente generosidade, o benefício da dúvida aos gastos das Jornadas, ou porque o Marcelo os tinha abençoado, ou porque o governo de que gosta tinha decidido abrir os cordões à bolsa, ou porque o Moedas em quem votou também esteve empenhado nisso. O português mesquinho, para quem qualquer êxito nacional é um irritante a menos no processo de densificação do mal-estar público que está na sua agenda ácida de vida, não deve tardar muito, vai pedir uma CPI para os ajustes diretos e clamar que "se houve dinheiro para o altar, tem de haver para a saúde". O português suave e o português mesquinho são uma e a mesma pessoa, só que à vez, como as mudanças da lua e dos ciclos políticos.
São exatamente 26 livros. O mais grosso com 924 páginas, o mais fino é um "Que sais-je?", logo, tem 128 páginas. São os livros que trouxe para duas semanas de férias. Pela experiência de anos passados, conseguirei ler quatro ou cinco, no máximo. Mas a sensação de poder escolher é um prazer que nunca dispenso.
Ao observar este ambiente, não pude deixar de lembrar uma historieta, num Verão também quente, embora por virtude de outras temperaturas, em 1975.
Era agosto e eu andava por Vila Real, meio de férias em família, meio feito militante político-militar. Na esplanada da Gomes ("where else?"), cruzei-me com o meu velho amigo José Araújo, também conhecido como Zé Foquita, negociante de velharias, proprietário da "Galeria d'Artes".
O Zé era conservador, eu estava muito longe disso, mas nunca, até ao final da sua vida, essa diferença de perspetivas projetou a menor sombra sobre a nossa forte amizade.
Na conversa, o Zé contou-me que tinha ido na sua carrinha a Beja, para comprar um piano que ali estava à venda. Lembro-me sempre de que não acompanhou a minha ironia: "A música no Alentejo agora é outra, não é?".
Perguntei-lhe por que razão, na ida, não me tinha ido visitar a Lisboa. Podia ter ficado em minha casa, eu ter-lhe-ia mostrado coisas da cidade que ele conhecia mal.
O Zé foi perentório (na altura, escrevia-se peremptório): "Estás doido! Então tu achas que eu me arriscava a passar pela 'cintura industrial' !"
O meu amigo Zé Foquita, que era mais um assustado desses tempos, pelos vistos achava que, em torno de Lisboa, as estradas eram patrulhadas, durante toda a "saison", por figuras de fato-macaco operário, com ar patibular, de barras de ferro na mão, controlando os movimentos e olhando com suspeição todos os forasteiros. Afinal, era isso, para ele, a tal "cintura industrial".
Para a semana, começa a "cintura celestial". Vai correr tudo bem, vão ver!
Tendo o MI6 sido o involuntário fornecedor da maior fornada de espiões soviéticos de qualidade de que a história da "intelligence" tem memória, este apelo parece acarretar um curioso sentido de vingança.
A ver vamos se o "appeal" que o comunismo tinha naquele tempo do pós-segunda guerra conseguirá ser emulado pela sedução que a filosofia do mundo capitalista hoje pode exercer sobre as gentes lá por Moscovo.
Josef Stalin vs Boris Johnson?
Entre os deputados da oposição que me colocaram questões, um deles, Luís Marques Mendes, abandonou o plenário antes de eu ter tido oportunidade de responder à pergunta que me colocara. Irritei-me. Quando passei pela resposta que lhe era devida, fiz uma ironia algo "grossa" e desajeitada.
O PSD entrou em ebulição, os deputados do PS ficaram encavacados com a minha ousadia, ao provocar alguém que, daí a dias, ia passar a líder parlamentar dos social-democratas.
Ao meu lado, António Costa, em voz baixa, reagiu: "O que você foi fazer, Francisco! Agora, vai ser o bom e o bonito!".
E foi. A honra da bancada do PSD foi invocada por alguém exaltado, que desancou a minha ousadia, ninguém do PS saltou em minha defesa, eu decidi, erradamente, não me retratar e António Costa lá teve de defender-me, "tant bien que mal". Foram uns minutos menos agradáveis.
Nesse dia, aprendi que o meu estatuto de membro (júnior) do governo não me permitia colocar-me ao nível dos deputados. É que eu não tinha sido deputado, não era "um deles", pelo que eles não aceitavam (PS incluído) que eu atirasse graças e ironias sobre uma figura grada do estrelato oposicionista (na ocorrência, o hoje meu amigo Luís Marques Mendes). Ah! E ser independente também não ajudava nada.
Medidas todas as distâncias, lembrei-me disto ao ver a sarilhada em que Pedro Adão e Silva se meteu, ao criticar os deputados da comissão parlamentar de inquérito à TAP, dizendo, aliás, algumas coisas certas e óbvias. Mas o Pedro também nunca foi deputado...
Se, em fevereiro do ano passado, a Rússia tivesse conseguido colocar a Ucrânia "de joelhos", como ficou evidente ser a sua intenção no frustrado movimento de tropas para Kiev e Kharkiv, teria ficado dona do jogo e podia estar numa outra posição para negociar com os EUA. Ao ter falhado clamorosamente no plano militar, provocou exatamente o contrário: ressuscitou os seus piores demónios e está agora a pagar um elevado preço, nomeadamente no reforço conjuntural da NATO. No fim de contas, há que convir que Prigozhin tinha alguma razão: alguém levou Putin a cometer aquele imenso erro, avaliando mal a relação de forças no terreno. Terão sido Shoigu ou Gerasimov, como ele também diz? Como exercício político-militar, a Rússia é hoje um "case study" fascinante.
O pragmatismo e o bom-senso fazem com que, no histórico das relações Portugal-Espanha, o equilíbrio de interesses prevaleça sempre sobre a tentação de cumplicidades ideológicas. Cavaco deu-se lindamente com González, tal como Guterres com Aznar. Se Feijóo vier a sair na rifa eleitoral, Costa saberá encontrar o tom certo.
Ontem, ensombrou-nos uma bela festa a notícia de que o Vasco Corrêa Mendes tinha morrido nessa manhã. Tinha 88 anos. Mas o Vasco era daquele género de amigos que "adolescem" com o tempo, de tal maneira a juventude do seu espírito se sobrepunha sempre ao calendário.
Conhecemos o Vasco nessa Luanda difícil dos anos 80, com a guerra por todo o lado, com o recolher obrigatório a azucrinar-nos as noites. A casa do Vasco e dos seus primos Sérgio Guedes de Sousa e Zé Tó Arantes Pedroso - que se revezavam em Angola para tratar do negócio familiar da Guedal - foi o porto seguro de tantas e tantas jantaradas divertidas.
A "casa dos Guedais", como lhe chamávamos, era uma espécie de ilha de boa disposição permanente, um "acelerador de trigliceridos", como eu a qualificava, à vista dos efeitos dos excessos de consumos líquidos sobre o meu fígado. Naquela cidade de Luanda, com uma vida então muito difícil, nós tivemos o inestimável privilégio de ser cooptados para esse grupo extraordinário, de sermos os parceiros constantes de uma mescla que ia variando à medida que os primos rodavam na sua tarefa de gestão. Quanta gente interessante - os chatos eram sempre dispensados! - por ali conhecemos!
O Vasco era o mais aventureiro dos três primos. Era com ele que se montavam as melhores expedições à Quiçama, às lagostas do Mário, em Cabo Ledo, os pôr-do-sol no Morro da Lua. Um dia, conseguimos mesmo fazer uma improvável ida de Jeep à ilha do Mussulo, aproveitando uma conjuntural baixa-mar. Também guardo algures uma cobertura fotográfica desse feito, então raro.
Lá se foi o Vasco! Se calhar, ele gostaria que dispensássemos as nostalgias e bebêssemos um copo à sua memória. Foi o que ontem fiz, com a maior cumplicidade, com a Ana Poppe, alegre comparsa desses tempos de Luanda. Na festa de ontem, marcaram presença outros amigos do Vasco: a Graça e o Fernando Andresen Guimarães, a Papucha e o Fernando Neves, a Bá Burnay, o António Vallera. E, pela mesma razão que ali levou à ausência do Vasco, marcámos falta triste a alguns mais. "Cheers", Vasco! À amizade!
(Um perfil do Vasco aqui.)