quarta-feira, julho 12, 2023

Media

Anda aí um rebuliço (gosto destas palavras com sonoridade quase gráfica) na comunicação social, com mudanças da titularidade da propriedade e com novas chefias a despontar. Se disto resultar uma melhor informação, tudo bem!

4 comentários:

Rui Mesquita Branco disse...

“Deus t’ouva”, desculpe a familiaridade Sr. Embaixador.

manuel campos disse...



Gosto de "rebuliço" mas "balbúrdia" também não é mau, com a vantagem adicional de a língua ficar um pouco entaramelada ao pronunciá-la, o que só aumenta a confusão do momento.

Carlos Antunes disse...

«Para ser jornalista é preciso ter uma base cultural considerável e muita prática. Também é preciso muita ética. Há tantos maus jornalistas que quando não têm notícias, as inventam». Gabriel Garcia Márquez
Sem dúvida, que o jornalismo em Portugal vive um dos piores momentos. Reina soberanamente no nosso país, um certo jornalismo que faz e desfaz poderes, promove e derruba personalidades, decreta juízos e recebe vassalagem de muitos interesses obscuros. A imprensa – a escrita, áudio e televisiva – traz muita análise, intriga, fofoca, boato, emoção, mas muito pouca informação. Parte do princípio de que o público não quer seriedade, prefere entretenimento.
São os inúmeros os casos em que o jornalista parece preocupar-se mais com o aspecto insólito da notícia, caindo na vulgaridade de julgar que tem mais sucesso se publicar notícias sensacionalistas. Antecipa no relato o que acha que deve ser o veredicto popular, condenando ou absolvendo aqueles que devia apenas retratar. «Triunfa quando apanha desprevenido e consegue atrapalhar o interlocutor». Enquanto descreve o que julga estar a ver, não se dá conta da perda de dignidade profissional. «Pode ter sucesso, mas não tem rigor jornalístico».
Aliás, neste género de jornalismo, «relatar o sucedido é o que menos interessa». O jornalista vai ao evento para impor a agenda mediática que levou da redacção. A inauguração de um projecto bem-sucedido, por exemplo, só interessa pela oportunidade de fazer aquela pergunta incómoda ao governante presente na inauguração sobre qualquer escândalo do momento. Investimentos de milhões, trabalhos aturados dos portugueses nos mais variados domínios, avanços e benefícios notáveis são detalhes omitidos pela intriga que cega tais jornalistas.
Como o áudio visual é mais sugestivo que a imprensa escrita, as televisões, carentes de telespectadores, não se cansam de apelar ao sensacionalismo, ao ponto de promoverem todo o tipo de programas, desde que tenham mais audiência, o que é bem notório na televisão, em que coisas dignas de nota que acontecem ficam na obscuridade.
O pior é que, embora a imprensa escrita e falada seja intensamente opinativa, raramente se assume em termos político-partidários, com a certeza de que cada meio de comunicação social obedece a uma carta de princípios ideológica e partidariamente bem definida! Há figuras públicas sobre as quais este jornalismo publica excessivamente as “gafes” que as imortalizam, seja qual for a cor partidária da vítima, mas muito mais notória se não pertencerem à oposição.
É significativo que existam em Portugal muitos jornalistas-analistas mediáticos, mas poucos jornalistas reputados por serem jornalistas. É evidente que este mau jornalismo tem fraca imagem por lhe faltar «objectividade, respeito e idoneidade».
Onde é que tudo isto nos leva? Acho que nos conduz à necessidade de uma reflexão ética sobre o jornalismo actual, que padece de um erro grave sobre a ideia de jornalismo. Ora, para que alguém decida emendar um erro, precisa de reconhecer que é um erro, precisa de o assumir como seu e de sentir a responsabilidade pelo mesmo.
Caro Embaixador, tenho sinceras dúvidas que sem uma mudança de perspectiva ética por parte do jornalismo actual, resulte uma melhor informação.

manuel campos disse...


Um excelente texto do Carlos Antunes, bem pensado e melhor escrito.

Os dois últimos parágrafos, que abarcam todo "o" e todo "um" futuro, são aquilo que mais se desejaria e aquilo que menos se vai ter, entre os interesses imediatos de uns e os interesses mediatos de outros há que, de modo menos simbólico do que parece, continuar a vender para continuar a comer.




Isto é verdade?