domingo, julho 16, 2023

O poder global da China e os EUA


Ver aqui.

5 comentários:

manuel campos disse...


Há um desconhecimento profundo sobre este conjunto de situações que aqui explicou e enquadrou de forma clara, desconhecimento esse que não sei se é fruto de uma indiferença generalizada propositada ou não.
É um facto que muitas vezes penso que "ninguém quer pensar muito nisso", não compreendendo de todo o que está em causa e o que eventualmente se prepara, opta-se por um "não há de ser nada" muito característico.

Ora não foi com Trump que surgiram as primeiras preocupações com o que o "duelo" EUA-China iría trazer ao resto do mundo, foi com Obama e logo no seu 1º mandato, ainda que só se tenha começado a falar disso na "onda" de chatear o Trump, escamoteando o facto de que neste particular os democratas até são mais críticos que os republicanos.

A questão tem portanto uns 13 anos mas a China dava jeito pelas razões que apontou, não se metia na vida de ninguém (e ia proporcionando um bem-estar material ao ocidente, fornecendo todo o tipo de coisas úteis e inúteis a preços imbatíveis, acrescento eu).

Mas a China acordou e a Índia vai acordar um dia.
Um terço da população mundial está ali entre os dois e não há por lá temas fracturantes porque quem os levante acaba fracturado.
E a Europa trata de "envelhecer" enquanto os EUA se preocupam em "cancelar".
Não é difícil fazer uma pálida ideia de que numa geração ou duas isto está tudo virado do avesso.

Claro que, como todos nós, estou rodeado de gente que se diz "preocupada com o mundo que vamos deixar aos netos" quando nem filhos têm.
Por isso dizem "vamos" e não "vou", devem estar raladíssimos com os "meus".
Paciência para estas conversas nem zero tenho, é mesmo negativa.

Joaquim de Freitas disse...


O Sr.Manuel Campos escreve: Claro que, como todos nós, estou rodeado de gente que se diz "preocupada com o mundo que vamos deixar aos netos" quando nem filhos têm.” Tem razão? Também ouço isso.

Um poder inegável, a China raramente se envolveu (Guerra contra o Vietname, confronto armado contra a URSS, confronto limitado com a Índia) nas últimas décadas em guerras em comparação com o imperialismo americano e os seus aliados em guerra.
Enquanto a retórica belicista continua a intensificar-se à medida que o Eixo imperialista euro-atlântico aumenta os seus preparativos de guerra e ameaças contra Pequim.
Mas já não estamos no tempo da canhoneira do Yang-Tsé-Kiang, e as coisas são muito mais sérias hoje. Não creio que os europeus ou ocidentais irão de novo acampar nos Jardins de Verão, de Pequim.
Os ocidentais estão tão acostumados a guerrear contra os outros que o fazem quase sem saber, sempre se valendo de ideais elevados destinados a preservar a sua consciência imaculada. Mas essa autocegueira esconde outra: sendo a guerra uma segunda natureza para eles, eles também lutam para imaginar um grande poder que lhe é repugnante. Enquanto isso, os factos falam por si: os Estados Unidos e os seus aliados multiplicaram as guerras e os massacres nas últimas quatro décadas, enquanto a China os absteve cuidadosamente.
Um cliché da média ocidental incrimina o País do Meio pela chamada "brutalidade" da sua relação com os outros, mas é de se perguntar em que factos se baseia tal interpretação.
Esses jornalistas de ética irrepreensível quase nos fariam esquecer que os somalis, os sérvios, os afegãos, os iraquianos, os sudaneses, os líbios e os sírios nunca receberam bombas chinesas na cabeça . Vivendo no mundo maravilhoso do benfeitor Ocidente que distribui a sua luz a povos maravilhados, tais “experts” são antes de tudo especialistas em fabricação e, se não tivéssemos cuidado, tomaríamos bexigas por lanternas.
Os falsificadores certificados que povoam a média ocidental cuidam para enganar a opinião pública, regando-a com clichés sobre "dominação chinesa". Barbárie asiática” e “perigo amarelo”.

Andei por lã muitos anos, desde 1964, ano do reconhecimento da RPC por De Gaulle. Vi-os trabalhar com afinco para sair da miséria ancestral, isso sim. E vi muitos e bons resultados, hoje patentes. E que põem medo? E porquê?
Devíamos antes ter medo das nossas ineficiências! Ou/e insuficiências. Isso sim.
Quanto aos nossos netos ,"daqueles que os têm", um conselho: Que aprendam a língua. A China é um mercado de trabalho do futuro.

manuel campos disse...


Não tenho nenhum neto com menos de 18 anos e ando há anos a chateá-los para que aprendam mandarim mas sem nenhum êxito (há pelo menos uns 10 anos com o mais velho).

Começo a achar que eles têm razão, aquilo não é uma língua fácil, eles não têm uma vida fácil e, ainda que o turista se sinta incomodado por não perceber ninguém nem ninguém o perceber, as profissões que escolheram não incluem preocupações como turistas, terão do outro lado sempre alguém que fale inglês, é o que acontece por toda a parte à medida que as gerações mais velhas vão desaparecendo.




Joaquim de Freitas disse...


Sr. Manuel Campos : Creio que as empresas que pretendem trabalhar na China, e os governos, devem ser implicados. Não se pode deixar esse projecto à única responsabilidade dos indivíduos ou das suas famílias. Conheço alguns bons exemplos franceses, por ter trabalhado com eles na China.

Há vinte anos, havia uns 8 000 estudantes nos colégios e liceus Hoje são mais de 60 000, com 20% no secundário.

O China Technical Center da PSA,( Peugeot Citroen) tem um centro de pesquisa e desenvolvimento com sede em Xangai, onde emprega 800 pessoas. 600 São expatriados franceses.
Aulas de chinês são dadas aos funcionários e às suas famílias antes de partirem. A PSA vai mais longe ao oferecer uma "abertura cultural" aos futuros expatriados: oferece-se assim formação em códigos e hábitos, lições de história e boas maneiras.

Hà milhares de firmas estrangeiras a trabalhar na China.

Todos não falam um perfeito chinês e também não lhes é exigido, mas devem ter nível para entrar em contacto e criar um vínculo de confiança.

O chinês, é a língua da segunda maior economia do mundo e maior exportador de mercadorias. Será, no futuro, uma destinação para o emprego.

Um CV dum expatriado com a disciplina da língua, é apreciado e muito bem remunerado.

manuel campos disse...


Sr. Joaquim de Freitas

Sei do que fala e concordo genéricamente com o que diz.
Eu próprio tendo trabahado toda a vida como director e administrador de empresas segui o espantoso crescimento industrial e comercial da China, continuo a achar que 90% das pessoas que me cercam ficaram lá "muito atrás" e não fazem a mais pequena ideia do que é a China de hoje, devem achar que as fotografias e os filmes que aparecem por aí são montagens "à Hollywood".

Mas uma coisa é alguém ter uma profissão que tudo leve a crer lhe poderá proporcionar um emprego na China um dia ou, mais ainda, trabalhar para uma empresa já lá instalada e que ela própria promove ou exige o conhecimento (nem que seja básico) da língua.

Outra coisa será o caso de profissões que se sabe à partida que não farão muita falta lá porque já não faltam por lá e de pessoas que não têm o espírito adequado a deixar tudo e mudarem-se para o outro lado do mundo (há quem goste de estar "regressavel" e não só "contactavel", são feitios).
Como falava dos meus netos em particular, tenho-os de todos os estilos e feitios, os mais aventureiros terão profissões que de certeza dão para emigrar mas não para a China e os mais pacatos terão profissões que talvez dessem para emigrar para a China mas não é para lá que emigrariam.

Só para lhe dar um exemplo, eu sempre tive o meu lugar-base em Lisboa mas trabalhei quase 20 anos, durante toda a semana, em 5 distritos de norte a sul do país em participadas da casa-mãe, nunca me passando pela cabeça não poder ver a família todas as semanas ou pelo menos de 15 em 15 dias, mesmo que isso me custasse ganhar menos não era do dinheiro que me arrependeria.
Mas tenho conhecidos também com família, menos ralados com estas questões, que foram para França ou Inglaterra, numa altura em que vir ver a família (a família ir lá é mais complicado quando são muitos) não dava para ser empreendido com frequência, as viagens de avião não eram mais baratas que o almoço no restaurante da esquina como são hoje.

PS- Pianista clássico, por exemplo, não dá na China.
Há 15 anos havia 10 milhões de crianças em conservatórios, hoje nem imagino.

Dê-lhe o arroz!

"O Arroz Português - um Mundo Gastronómico" é o mais recente livro de Fortunato da Câmara, estudioso da gastronomia e magnífico cr...