segunda-feira, julho 24, 2023

Jogos de cintura


Sinto por aí uma quase paranóia com o próximo encontro religioso. Ouço que há pessoas que temem passar "perto de Lisboa", com medo à confusão que supostamente se irá instalar. Valha-lhes deus! 

Ao observar este ambiente, não pude deixar de lembrar uma historieta, num Verão também quente, embora por virtude de outras temperaturas, em 1975.

Era agosto e eu andava por Vila Real, meio de férias em família, meio feito militante político-militar. Na esplanada da Gomes ("where else?"), cruzei-me com o meu velho amigo José Araújo, também conhecido como Zé Foquita, negociante de velharias, proprietário da "Galeria d'Artes".

O Zé era conservador, eu estava muito longe disso, mas nunca, até ao final da sua vida, essa diferença de perspetivas projetou a menor sombra sobre a nossa forte amizade. 

Na conversa, o Zé contou-me que tinha ido na sua carrinha a Beja, para comprar um piano que ali estava à venda. Lembro-me sempre de que não acompanhou a minha ironia: "A música no Alentejo agora é outra, não é?". 

Perguntei-lhe por que razão, na ida, não me tinha ido visitar a Lisboa. Podia ter ficado em minha casa, eu ter-lhe-ia mostrado coisas da cidade que ele conhecia mal. 

O Zé foi perentório (na altura, escrevia-se peremptório): "Estás doido! Então tu achas que eu me arriscava a passar pela 'cintura industrial' !"

O meu amigo Zé Foquita, que era mais um assustado desses tempos, pelos vistos achava que, em torno de Lisboa, as estradas eram patrulhadas, durante toda a "saison", por figuras de fato-macaco operário, com ar patibular, de barras de ferro na mão, controlando os movimentos e olhando com suspeição todos os forasteiros. Afinal, era isso, para ele, a tal "cintura industrial".

Para a semana, começa a "cintura celestial". Vai correr tudo bem, vão ver!

6 comentários:

Luís Lavoura disse...

Eu vivo em Lisboa e felizmente tenho (já desde há um ano, ainda nem havia JMJ em perspetiva) marcadas férias num hotel bem fora de Lisboa, de 2 a 6, e sinto-me bem feliz por ir poder estar bem longe de Lisboa durante a maior parte da Jornada.
Ainda não sei como me hei de escapar à capital durante o dia 1 e a manhã do dia 2, mas irei tentar por todos os meios estar longe de Lisboa também nesse período.
Não quero ter nada a ver com ruas bloqueadas ao tráfego (moro na zona central de Lisboa) nem com magotes de miúdos aos gritos pelas ruas.
A minha adesão à JMJ é tão grande como o foi à Expo 98 e ao Europeu de futebol de 2004, ou seja, nenhuma.

manuel campos disse...


"O Zé foi perentório (na altura, escrevia-se peremptório):..."

Foi muito sensata a chamada de atenção acima, os tempos não estão fáceis.

Pelo que sei e confirmei o AO amite a dupla grafia, mas todo o cuidado é pouco.

Rui Figueiredo disse...

Ninguém para a JMJ (na altura escrevia-se pára)

Lúcio Ferro disse...

Dou graças a nosso senhor jesus cristo, à virgem maria, sua mãe imaculada e a seu "pai" josé, encontrar-me longe da capital. Estou um pouco como o Jacinto do Eça, entre a cidade e as serras. Bom dia.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

"Cintura celestial" - muito bom!!

JMJ fico-me pela pela TV e eventualmente pelas atividades locais.
Mas, sim, correrá bem e no final lá nos gabaremos de sermos grandes organizadores de mega-eventos.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Luis Lavoura,

"já desde há um ano, ainda nem havia JMJ em perspetiva"

Por acaso até havia, a data das JMJ foi marcada a 4/10/2021.

Dê-lhe o arroz!

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