sábado, maio 31, 2025
Idade
Nos últimos anos, tenho aprendido que, depois de velho, se fazem grandes amigos de infância.
Lembrar Pauleta
Apesar de ter grandes equipas nacionais de futebol, a França é um país com escassos clubes a ganharem troféus europeus. A extraordinária vitória de hoje do PSG deve ter agradado muito a alguém que ficou na história afetiva do clube, Pedro Pauleta. Que também está de parabéns.
Azedumes
O PSD está no poder e o poder abafa divergências. Mas o facto de Rui Rio ser o mandatário de Gouveia e Melo, combatendo abertamente a candidatura oficial de Marques Mendes, mostra que as laranjas estão bastante azedas.
Europa: gerir a diversidade
sexta-feira, maio 30, 2025
Colaterais
Comecei por estranhar a frase de um velho amigo que há tempos cruzei numa rua de Vila Real: "Cada vez mais me convenço de que o Covid deixa efeitos colaterais muito negativos". E perguntei: "Quais?" Fez um ar muito sério: "Olha! O Gouveia e Melo, por exemplo".
O "Passar pela esquerda" acabou!
Era o "Passar pela esquerda" e lá tinha o Porfírio Silva, o Rui Tavares e o António Filipe. Disso, agora já basta, ou melhor: Chega!
Direitolices
O PSD anuncia estar fora da ideia da revisão constitucional. Sábia decisão, pela qual felicito Luís Montenegro, que assim mostra não se deixar arrastar para esta direitolice.
quinta-feira, maio 29, 2025
Aqui chegámos
O senhor almirante apresentou hoje ao país a sua candidatura à presidência da República. Fê-lo com um discurso basicamente escorreito, uma "Christmas tree" de boas intenções onde, sem esforço, cada eleitor pôde reconhecer-se em algum ponto, em que nenhuma temática da atualidade foi esquecida. Sabemos como estas coisas se fazem. Pelo meio, estiveram as expectáveis referências motivacionais aos "mares nunca dantes navegados" e coisas assim, a puxar pela auto-estima nacional.
O senhor almirante, se for feito presidente por um país que pelos vistos pode vir a merecê-lo, não revela sinais de poder vir a fazer nenhum mal ao mundo. Meio século depois, o regime democrático já está suficientemente sólido para poder eleger o senhor almirante.
Teixeira Gomes
Quem estiver interessado naquilo que eu disse na ocasião, pode ler o texto aqui.
Um leão bem atípico
No passado domingo, para não variar, não vi o jogo da taça. E como andei ocupado com leituras e escrita, acabei por nem ver imagens dos golos. E, claro, por essa mesma razão, também não observei o que me disseram ser uma jogada altamente polémica, em que esteve envolvido um jogador do Sporting, que muitos consideram culpado por uma grave agressão. Mas esse lance, como todos os outros do jogo, por muito que isso possa parecer estranho, não mobiliza minimamente a minha curiosidade. Se o jogador foi culpado que o castiguem, se não foi que o ilibem. Nem sei bem o nome do homem, eu que, dentre os nossos jogadores, reconheço São Gyokeres e poucos mais.
Ao fim do dia, informado da vitória do meu clube na taça, e muito satisfeito com ela, e tal como já tinha feito na conquista do campeonato, coloquei uma brevíssima fotografia de congratulação pelo novo título, nas redes sociais que frequento. O que eu fui fazer! Convoquei com isso as iras de muitos que posso presumir serem adeptos de um clube que disputou o campeonato e a taça com o Sporting. Era lá possível que eu estivesse a comemorar, depois daquilo que se tinha passado? E houve logo quem, por essa razão, fizesse juízos de caráter sobre mim, pedindo-me satisfações pela minha alegria. Até mensagens privadas recebi nesse sentido.
Tenham juízo!
quarta-feira, maio 28, 2025
Ssudades de José Lello
Ao final do dia de hoje, lembrei-me muito de ti, meu caro Zé. Já saíste da vida há uns anos, mas deixaste muitas saudades. O teu sorriso, a tua alegria, o teu abraço, a tua amizade, fazem falta a quem gostava de ti.
terça-feira, maio 27, 2025
Eu, maoísta?!
Acabo de saber, por um artigo de um colunista do "Sol", que terei sido um destacado militante ... do MRPP. Eu, antigo maoísta?! Onde isto chegou!
segunda-feira, maio 26, 2025
... e estamos nisto!
É extraordinário como o destino do mundo pode depender da ciclotimia emocional de uma personagem deste calibre.
domingo, maio 25, 2025
Os critérios da Europa
Cada vez que vejo um justo comunicado indignado da União Europeia sobre ataques russos que provocam vítimas civis na Ucrânia, vou à procura do comunicado diário que a mesma UE dever ter emitido sobre os mortos civis desse dia em Gaza. Que são sempre muitos mais. Mas não encontro.
Um viva a Espanha
A Espanha, na sua atitude face a Israel, honra, por estes dias, os valores e os princípios que a União Europeia vergonhosamente se recusa a assumir. Por uma vez, não ficaria mal a Portugal sair da política de colagem ao "mainstream" e ter a coragem de "chamar os bois pelos nomes"
sábado, maio 24, 2025
Os erros de Pedro Nuno Santos
Cumprindo o que disse na noite eleitoral, Pedro Nuno Santos saiu hoje da liderança do Partido Socialista. O PS vai ter de refazer o seu futuro imediato sem ele. O nome de José Luís Carneiro, que tinha ficado em segundo lugar na anterior escolha interna, para a substituição de António Costa, surge como a hipótese mais provável para titular o novo ciclo. Sem oposição? Ainda não se sabe, mas se ela vier a surgir o processo correrá com normalidade. Esta é a lógica serena de um grande partido democrático em democracia.
Outros tempos, outras horas!
"Esteja descansado, Francisco. Se eu atestar, acreditam".
E foi assim que, há mais de uma década, a "sedona" Alice Pinto Coelho, dona e senhora do bar Procópio, deixou atestado fidedigno daquela minha noitada.
Muitas saudades da Alice.
A ver vamos
A capacidade de resposta da União Europeia vai ser posta à prova dos nove perante os direitos alfandegários (não as "tarifas") impostos por Trump. Desejo-nos bom trabalho.
sexta-feira, maio 23, 2025
Emboscadas
Uma fotografia com um presidente americano na Sala Oval da Casa Branca foi, por muitas décadas, o testemunho de um momento importante na vida de qualquer político mundial. Trump está a transformar o lugar num local de emboscadas. Foi assim com Zelensky, agora com Ramaphosa.
A defesa e a segurança da Europa
"A crescente imprevisibilidade na atitude dos EUA, que foi, por décadas, o principal parceiro garante da paz e regulador da segurança e defesa da Europa, torna mais imperativa e urgente a questão da "autonomia estratégica" do continente nesses domínios. Procurando deliberadamente fazer sair o debate de uma perspetiva voluntarista - daquilo que seria desejável - seria interessante abordar, de forma pragmática, o que realisticamente pode vir a ser possível fazer:
Viver no lixo
Esta é uma questão que preocupa muito pouca gente em Portugal, país habituado a viver no meio de constante poluição visual da propaganda política. Mas já pensaram que nenhum partido cumprirá os prazos para a retirada dos cartazes eleitorais? E que ninguém os multará por isso?
quinta-feira, maio 22, 2025
Revisionismo
Imagino que o Partido Socialista esteja a viver, como será natural, um momento de alguma interrogação quanto ao futuro, em função dos resultados eleitorais e da necessidade de escolher uma nova liderança. Mas, que eu saiba, o PS não vive nenhuma crise de identidade.
Gostava, contudo, de dizer que o património político do partido estaria em seriamente em causa se acaso alguém, dentre as suas figuras com alguma responsabilidade (não me refiro aos espontâneos habituais, que fazem a alegria dos que não gostam do PS), viesse a dar o mínimo aval a qualquer proposta oportunista de revisão constitucional, oriunda dos suspeitos do costume, com "velhos e relhos" objetivos.
Se tal acontecesse, esses socialistas estariam a dar mostras de não ter percebido que o óbvio propósito da discussão agora lançada em torno da Constituição é, pura e simplesmente, tentar toldar a comemoração do seu cinquentenário em 2026 e envolver o histórico documento num manto de polémica, numa espécie de "révanche" contra o texto que consagra o 25 de Abril e os novos equilíbrios que dele resultaram. Espero, aliás, e não sentado, que nos setores social-democratas do PSD isto seja também entendido.
Manuel Alberto Valente
quarta-feira, maio 21, 2025
Indignómetro
Quanto mais não seja por razões corporativas, estou 100% de acordo com a reação do nosso governo à atitude agressiva de Israel face aos diplomatas em Jenin. Mas - e isto nada tem a ver com Portugal - gostava de perceber melhor os patamares do "indignómetro" europeu face a Israel.
Vamos lá ver...
Vamos lá ver se nos entendemos: o Chega é um partido de extrema-direita, mas as pessoas que votaram no Chega não são, apenas por essa razão, pessoas de extrema-direita. Como nem toda a gente que, alguma vez na vida, votou no PS se converteu, necessariamente, num socialista.
"Beer, Norm?"
terça-feira, maio 20, 2025
Estejam atentos
De agora em diante, vamos começar a assistir à tentativa de descaraterização do Chega como um grupo de extrema-direita. Vai começar (se é que já não começou) em certa imprensa, nos comentadores e nos agentes políticos a quem convém normalização do Chega.
segunda-feira, maio 19, 2025
Razão e razões
Não, o eleitorado não tem sempre razão. Tem é sempre razões e é para elas que devemos olhar.
Pior era possível
"Escapámos ao pior cenário: uma maioria absoluta do PSD", dizia-me há pouco, cúmplice, um socialista de carteirinha. Respondi-lhe, por uma vez convicto: "Estás enganado! Muito pior cenário era o PSD necessitar dos liberais para a maioria absoluta. Esse era o cenário de tragédia".
Bravães
Na minha primeira vez por ali, no início dos anos 70, foi-nos dito que podíamos visitar a igreja falando com uma senhora, que vivia numa casa vizinha. Lá fomos, entregou-nos confiadamente a chave da porta lateral, fizemos a visita com total liberdade, devolvendo-lha no final.
No sábado, a igreja estava fechada e já não havia senhora na vizinhança nem chave para levantar. É que Portugal, por várias e nem sempre simpáticas razões, vai mudando de hábitos.
O partido holograma
Com a AD, Luís Montenegro presta um considerável serviço à História contemporânea: prolonga a simpática ilusão de que o CDS, um partido que está inscrito no passado da nossa democracia, ainda existe nos dias que correm.
A boa notícia
Nesta dia de subida exponencial da extrema-direita e de reforço ligeiro da velha direita, a boa notícia é constatar que a direita radical a-social foi bafejada por um crescimento minúsculo.
Pedro Nuno Santos
domingo, maio 18, 2025
A esquerda de Abril
No meio de todo este descalabro da esquerda, fico muito satisfeito pelo facto de o PCP e o Bloco terem tido candidatos eleitos. Não voto por aquelas bandas, estou frequentemente em desacordo com eles, mas, com o Livre, eles fazem parte da diversidade da nossa esquerda de Abril.
Em modo de voo
Sou um desalinhado: soube aqui na net os resultados, mas não estou a ver televisão, nem comentários, nem caras e vozes de políticos. E assim farei até ao fim da noite. Ah! E quem me tentou telefonar nas últimas horas deve ter percebido que estou em "modo de voo"...
19 de julho de 1987
Eu estava em Genebra, integrado na delegação portuguesa à VII UNCTAD, a meio de algumas semanas de interessante trabalho, com um grupo divertido. Na nossa delegação, havia diplomatas e técnicos de vários ministérios. Nesse dia, 19 de julho, estavam a ter lugar eleições legislativas em Portugal. Em missão no estrangeiro, nós não votávamos mas, com maior ou menor entusiasmo e diferente "lateralização" ideológica, tínhamos acompanhado, dia a dia, o prélio eleitoral em Portugal. Que se decidia nesse dia.
Mário Soares, há ano e meio presidente, havia dissolvido o parlamento, para evitar que o então secretário-geral do PS, Vitor Constâncio, formasse um governo com o PRD, o partido "regenerador" que, numa eleição anterior, com um discurso "moralizador", havia "roubado" imensos votos aos socialistas. Com essa decisão, Soares "matou" o PRD de Eanes e criou as condições para Cavaco Silva arrancar a primeira das suas duas maiorias absolutas. Entre dois ódios de estimação, Soares fez a sua escolha.
Nessa noite, eu, o Rui Felix Alves e o João Luís Niza Pinheiro, três diplomatas, e o técnico do Ministério da Indústria, Frederico Alcântara de Melo, estávamos politicamente do mesmo lado. Como creio que estamos, até hoje. Juntámo-nos, "like-minded", no gabinete do Niza Pinheiro, então colocado em Genebra, para saber as últimas de Lisboa. Que, tal como no dia de hoje, acabaram muito longe de ser boas para as nossas "cores".
Recordo-me da reação de cada um de nós à maioria absoluta do PSD, e, em especial, tenho na memória o ar extraordinariamente abatido, quase em desespero, do Rui Félix Alves. "E agora! Como é que vai ser? Onde é que isto nos leva?" Cada um de nós expressava, de maneira diferente, o seu abatimento. Mas o Rui estava inconsolável! Lembro de lhe ter dito: "Ó homem! O Cavaco é um direitolas, mas não me parece nada que venha aí o fascismo!"
O Rui Félix Alves era mais antigo do que eu, no MNE, mas tinha sido meu instruendo na tropa. Um dia dos primeiros meses de 1974, antes do 25 de Abril mas depois do golpe de 16 de Março, veio ter comigo no meio da parada e, sem que nos conhecêssemos bem, atirou-me: "Eu sei que você é de esquerda. Queria dizer-lhe que estou à disposição para alinhar numa revolta contra o regime". Temendo ser uma provocação, saí da conversa como pude e "fiz-me de novas". Afinal, como depois vim a saber, no meio daquela sua ingenuidade, o Rui era mesmo "dos nossos".
Nesta que é uma noite menos simpática - gosto destes "understatements" - para a esquerda, a que eu, o Rui, o João Niza e o Alcântara continuamos orgulhosamente a pertencer, não "empanico" como o Rui fez naquela noite de 1987. Mas, desta vez, confesso que estou bastante menos sossegado com o rumo das coisas pátrias. Embora, como intravável otimista, eu continue a achar que um dia os amanhãs voltarão a cantar. Será apenas "whishful thinking"?
(Deixo aqui um abraço solidário e saudoso ao Rui Felix Alves, ao João Luís Niza Pinheiro e ao Frederico Alcântara de Melo)
É assim
A democracia, como a quisemos depois do 25 de Abril, é a expressão política da vontade das pessoas. Vence quem consegue convencer mais pessoas, independentemente da qualidade das suas propostas. Numa sociedade livre, como é Portugal, os democratas aceitam sempre os resultados.
sábado, maio 17, 2025
Soajo
Coisas do muito tempo
Ontem, durante uma conversa telefónica com um amigo jornalista (cujo nome não interessa mas que todos conhecem), referi que estava a ler as memórias de um seu colega francês, Jean-François Kahn, onde ele fala do caráter "trotskizante" do regime argelino, logo após a independência do país, em 1961. Como esse meu amigo tinha navegado nessas mesmas águas políticas, perguntei-lhe o que sabia ele disso. Ele logo lembrou o "camarada" Pablo/Michel Raptis, envolvido no apoio aos independentistas e que teria sido depois um conselheiro de Ben Bella. (Por minutos, passámos então ao "fine tuning" do mundo dos admiradores de Trotsky, com a sua conhecida propensão para a cissiparidade. E, entre outros, vieram a jogo os lambertistas e a corrente de Frank, que fiquei a saber que tinha como coroa de glória ter reunido com o próprio Trotsky, antes dos tempos mexicanos). Aí, eu interroguei-me se teria sido Pablo o interlocutor trotskista de um representante da oposição portuguesa, numa congeminação que sabia montada em Bruxelas, que iria permitir a posterior instalação em Argel da FPLN, a frente anti-fascista portuguesa criada em Roma. O meu amigo disse ser provável e adiantou que, nesse caso, nessa conversa, pelo lado português, poderia ter estado Manuel Sertório, figura relevante no início da FPLN, ele próprio ligado ao trotskismo. E logo fez uma pausa de bom senso: "Não acha que isto é uma conversa muito estranha! Já imaginou quantas pessoas ainda a poderiam acompanhar?" E rimo-nos. Aventei que, aqui em Arcos de Valdevez (ou "nos Arcos", para quem é do Minho), onde me encontro a banhos de preguiça, a menção a Sertório talvez trouxesse à baila o nome de Viriato, que imagino que ainda se deva aprender na escola. E acrescentei: "Conhecerão esse Viriato mas, com toda a certeza, nunca ouviram falar de Viriato da Cruz", o poeta e revolucionário angolano que passou as passas do Algarve na China. E daí a nossa conversa transbordou, por largos minutos, para o MPLA, de Neto a Mário de Andrade, e coisas assim. Depois, cada um de nós foi à sua vida, que, como é sabido, são dois dias: amanhã já é sábado e jogam para o título dois clubes que nos dividem, a mim e ao meu amigo, e depois é domingo e há eleições em que, por vias diferentes, juntamos vontades e esperanças contra os mesmos.
O meu pai chamava a isto "conversas arbóreas": de um ramo saem outros e assim sucessivamente. De facto, é uma evidência que há cada vez menos gente capaz de acompanhar estas conversas de gente já com muito tempo na vida. Mas eu gosto delas, confesso. E acho que o Zé também.
sexta-feira, maio 16, 2025
Sorry, mas é verdade
"The meeting itself was a tactical victory for Putin, who managed to start the negotiation process without prior agreement to a ceasefire, which Ukraine and almost all of its supporters in the West had tried to make a precondition for the talks", The New York Times.
quinta-feira, maio 15, 2025
Trump ou a orgia de poder
Sempre achei bastante frágil a ideia de que os Estados Unidos da América vivem um período de inexorável declínio, no sentido de que a ascensão da China e a multi-polaridade têm nas mãos os destinos do mundo.
Do risco
Um amigo, há minutos: "Arriscaste muito, ao afirmares, desde há dias, que Putin não iria à Turquia". Acho que não arrisquei nada. Dei uma opinião, à base do bom senso. E se Putin tivesse ido? Eu teria errado. Infalível só papa, mas em matéria de fé. No resto, sabe tanto como nós.
Estatísticas
Da Michelin
Nos tertulianos da mesa havia belíssimos cozinheiros, dos que sabiam da poda e do polme, tal como havia meros usufrutuários gustativos da arte alheia, de que eu era um insigne e incorrigível exemplar. Cada um de nós mandou então solenes bitaites sobre pataniscas - no meu caso centradas na sua deglutição, outros no processo de produção a montante da fase no prato. Nomes de restaurantes, chefes com fama e até mães dos alguns presentes que "as cozinhavam como ninguém", foram chamados a terreiro.
A certo ponto, um comentário de um dos até então silenciosos membros à mesa chamou a nossa atenção, pelo seu caráter imperativo: "Conheço um sítio onde se servem umas pataniscas dignas do Michelin". No meu caso, porque gosto muito dessa forma de honrar o bacalhau, que até nem tem de ser "de primeira", logo pedi o endereço dessa casa. Outros mostraram intenção de também tomar nota.
Generoso e sorridente, o nosso informador deixou então as coisas mais claras: "Quando me refiro ao Michelin, não me refiro às estrelas, mas à consistência: as pataniscas que se servem naquela casa parecem borracha de pneu!"
Ontem à noite, no Porto, fui jantar ao último dos restaurantes clássicos da cidade que ainda não conhecia. O que é obra, acreditem! Há anos que andava para visitar esta casa. Esperava mesmo poder sair dali com umas notas que me permitissem escrever uma apreciação positiva, para uso e proveito dos leitores que fazem o favor de aqui me ler. E até previa ir penitenciar-me por só agora ter feito esta visita.
Mas de boas intenções está a Baixa portuense cheia! Entre outras coisas que se provaram, que estavam razoáveis mas nada de excecional, caí na asneira de mandar vir umas pataniscas. Uma desilusão: altas, maçudas, sem sabor, fritas por fora e desgostantes por dentro. Michelin? Mabor e é um pau! O arroz de feijão, num tacho a acompanhar, estava bom, vá lá!
E assim se não fez uma crónica gastronómica que a simpatia da empregada, as sobremesas e até o espaço talvez merecessem. Mas umas más pataniscas põem-me fora de mim!
quarta-feira, maio 14, 2025
O periscópio
O senhor almirante tem todo o direito de se candidatar à Presidência da República. Mas ficamos a conhecê-lo melhor, depois do tempo das agulhas. É que é de muito mau gosto democrático içar o periscópio no meio da campanha para a escolha parlamentar em curso.
terça-feira, maio 13, 2025
Com amigos destes...
Numa entrevista concedida a televisões na noite de hoje, Macron disse que ucranianos já estão convencidos de que não vão conseguir recuperar os territórios ocupados pela Rússia. Ora aqui está uma estranha maneira de ajudar a Ucrânia, ainda antes das negociações terem começado.
Terroristas e oficios correlativos
Um terrorista é alguém defende por meios violentos e inaceitáveis causas de que não gostamos. Um dia, a ação desse terrorista começa a "dar jeito" aos nossos interesses estratégicos: passa a "freedom fighter" enquanto luta, quando chega ao poder é "one of us". Síria 2025.
Hipocrisia
Os ditadores de vestes longas do mundo árabe dão, por estes dias, a imagem mais hipócrita da sua "solidariedade" com a causa palestina e de repúdio do genocídio israelita em Gaza: traficam contratos milionários, entre sorrisos e tâmaras, com o protetor de Netanyahu.
Pepe Mujica
Com 89 anos, morreu Pepe Mujica, estimabilíssimo antigo presidente uruguaio. Um dia, disse: "Yo me dediqué a cambiar el mundo y no cambié un carajo, pero estuve entretenido y le di un sentido a mi vida".
Influencer?
Hoje, fui buscar o meu carro que há dias tinha deixado numa loja, de que já me haviam falado bem, e que tem como "arte" ajudar a recuperar os automóveis, no plano estético, exterior e interior. O trabalho que requeri era de pequena dimensão. Mas fui muito bem tratado, com profissionalismo, fiquei satisfeito com o resultado final, que naturalmente paguei, e vim para casa a pensar: se um "influencer" pode dizer bem de uma loja ou de um produto e ainda por cima recebe por isso, não tenho eu o direito de falar na satisfação por um trabalho que foi bem feito, que paguei e me agradou?
Por isso, aqui fica a nota: a Mr. Cap. (vejam contactos na net) tratou lindamente do que pedi para fazerem no meu carro. Recomendo.
Passei, com isto, a "influencer"? Embora seja uma designação que detesto (vinha no carro e ouvi que vai haver uma reunião de "influencers" internacionais em Lisboa), já me chamaram coisas piores. (Ah! o automóvel da fotografia não é meu, esclareço.)
Conversas
Parece-me haver um imenso equívoco na questão das negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia. Está criada a ideia de que delas poderão sair resultados que possam pôr fim à guerra. Não tenho essa ideia. Com efeito, sabendo-se as posições de partida das partes, à luz daquilo que tem sido afirmado por ambas, não descortinei até hoje qualquer margem de flexibilidade que permita indiciar uma convergência mínima.
Senão vejamos.
A Rússia entende que está fora de causa recuar, um milímetro que seja, das posições que tem na Crimeia e nos quatro "oblasts" que integrou posteriormente na Federação, parte dos quais, aliás, não ocupa totalmente. Além disso, considera essencial a renúncia formal da entrada da Ucrânia na NATO e tem um discurso, embora não muito claro, sobre a desmilitarização da Ucrânia (curiosamente, hoje um dos países mais militarizados do mundo...) e a sua "desnazificação" - conceito pouco preciso, na forma de levar à prática, e que, para muitos analistas, começaria pela saída do poder de Zelensky. O discurso sobre novas eleições presidenciais, que Trump parecia ter "comprado" até ter conseguido o "acordo das terras", poderia ir nesse sentido, embora, se as eleições fossem "a sério", nada pudesse garantir à Rússia que a eleição de um sucessor de Zelensky iria necessariamente significar um futuro equilíbrio político em Kiev muito diferente. Finalmente, e aqui seguindo a racionalidade subjacente ao que estava na carta de Lavrov aos seus homólogos ocidentais, em finais de 2021, e que agora seria importante revisitar, a Rússia teria como ambição (máxima, embora dificilmente exequível) um "reset" no sentido do "status quo" existente antes dos alargamentos da NATO aos países do Centro e Leste europeus. Isso incluiria, naturalmente, o fim das ambições de entrada na NATO para a Moldova e para a Geórgia. Esta, porém, é uma questão que pouco tem a ver com a Ucrânia e que releva da leitura de Moscovo de que, no fundo, esta guerra é uma mera sequela do conflito político-estratégico que mantem com os poderes ocidentais, tutelados pela América pré-Trump. Do mesmo modo, Moscovo não aceitaria qualquer acordo que não conduzisse ao levantamento total da sanções unilaterais que impendem sobre a Rússia, bem como a devolução dos bens russos congelados, por exemplo pela UE. Esta seria a agenda maximalista russa.
Por seu turno, a Ucrânia, que não reconhece qualquer legitimidade à secessão do Donbass, muito menos de Kherson e Zaporizhzhya, e que nunca se conformara com a anterior tomada da Crimeia (embora a aparente complacência ocidental com a sua inclusão na Rússia tivesse atenuado, por algum tempo, o seu protesto), pretende, muito simplesmente, o regresso ao "status quo ante", isto é, às fronteiras de 1991, definidas aquando da implosão da URSS. A Ucrânia não se compromete sequer a retomar as previsões do acordo de Minsk II, que criava, entre outras coisas, alguma autonomia para o Donbass. Verdade seja, o regresso ao acordo de Minsk não tem hoje qualquer atualidade, depois da Rússia ter incorporado essas regiões na Federação. Essas são, na linguagem diplomáticas de Moscovo, as "novas realidades geopolíticas" de que nunca deu ar de poder abrir mão. A Ucrânia quer também reparações de guerra e a sujeição de Putin à justiça internacional. Para se ver a agenda maximalista da Ucrânia é necessário reler o seu "plano da vitória", de 2024, uma evolução dos anteriores "dez pontos".
Perante estas duas posturas, qualquer acordo só poderá vir a fazer-se por flexibilização de atitude de uma das partes. E essa evolução de posições só surgirá se e quando uma das partes considerar que não tem condições para sustentá-la, por exaustão de recursos ou por consciência de derrota irreversível no campo de batalha. É aqui que ainda não estamos. Qualquer conversa que não incorporar isto na sua agenda servirá para muito pouco.
"The American way..."
segunda-feira, maio 12, 2025
Ucrânia ("à suivre")
1. A Rússia ignorou a iniciativa de cessar-fogo e propôs um encontro bilateral com a Ucrânia na Turquia, na quinta-feira. Na ocasião, não ficou claro se seria apenas um face-a-face ou se incluiria um mediador, neste caso a Turquia. A Rússia parece não querer perder o simbolismo de regressar à mesma mesa de onde a Ucrânia saiu, por pressão ocidental, quando estava prestes a assinar um acordo que equivaleria à sua parcial rendição, ainda em 2022. Na altura, com mediação turca, recorde-se.
2. Trump reagiu: "President Putin of Russia doesn't want to have a Cease Fire Agreement with Ukraine, but rather wants to meet on Thursday, in Turkey, to negotiate a possible end to the BLOODBATH. Ukraine should agree to this, IMMEDIATELY. At least they will be able to determine whether or not a deal is possible, and if it is not, European leaders, and the U.S., will know where everything stands, and can proceed accordingly! I'm starting to doubt that Ukraine will make a deal with Putin, who's too busy celebrating the Victory of World War ll, which could not have been won (not even close!) without the United States of America. HAVE THE MEETING, NOW!!!"
3. Este "tweet" de Trump (e, provavelmente, algo mais, em termos de pressão de Washington e dos "minders" europeus da Ucrânia), levou Zelensky a anunciar estar disposto a reunir-se pessoalmente com Putin em Istambul, sabendo perfeitamente que o líder russo nunca poderia estar disponível para isso - não era a um encontro de presidentes que Putin se referia. É curioso que parece estar ainda em vigor uma lei ucraniana que, em princípio, impede Zelensky de se encontrar com Putin, mas foi ignorada. A jogada de Zelensky é interessante, fazendo regressar a bola ao campo russo. Se Putin não for, e com toda a certeza não vai, a Istambul, abre-se a caixa de Pandora anunciada no "tweet" de Trump.
4. Note-se a ironia de Trump no "tweet", ao referir que Putin esteve "demasiado ocupado" nas celebrações do 9 de Maio - com uma "bicada" histórica suplementar sobre o papel dos EUA na Segunda guerra mundial. O tom de Trump face à Rússia está claramente a mudar. O efeito nisto do acordo assinado com Kiev sobre as "terras raras" é muito evidente e a "cimeira" comemorativa em Moscovo não lhe foi indiferente e deve ter soado aos seus ouvidos como um evento irritante. Se a isso se somar a luz verde entretanto dada ao envio de mais material militar para a Ucrânia, parece estar criado um "mood" em Washington cada vez menos simpático para Putin. Veremos agora como o presidente americano vai reagir à, mais do que provável, recusa de Putin de ir a Istambul.
5. O que mudou na atitude americana face à questão ucraniana? No início, havia a ideia de que Trump faria um "diktat" à Ucrânia, anunciando o congelamento da ajuda militar e impondo-lhe a aceitação de uma derrota (parcial) face à Rússia: perda de território (desde logo, a Crimeia), impossibilidade de entrada na NATO, eleições internas (com afastamento de Zelensky). Era o Trump "fazedor de paz"... em 48 horas. Putin esfregava as mãos de contente. Lentamente - porque foi algo lentamente - as coisas foram mudando. O efeito da imagem "Trump-está-no-bolso-de-Putin" deve ter-se começado a sentir naquele ego sem limite, tanto mais que o tempo de Moscovo era muito mais lento do que os sucessos rápidos que o presidente americano queria obter para dourar a sua imagem pública. A Zelensky, depois de o humilhar, Trump comprou o subsolo a preço de saldos. Com Putin, passou agora à fase do encosto à parede, com a cena do cessar-fogo a servir de pretexto. Não fosse isto trágico e teria a sua graça como jogo. É que não é evidente o "script" para as cenas dos próximos capítulos.
Europa
Ontem, no Mosteiro dos Jerónimos, recordámos a assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às então Comunidades Europeias. Há cinco anos, no...
