sábado, maio 31, 2025

Israel e o mundo


Ver aqui.

A relação de Trump com Putin: estado da arte


Ver aqui.

Verdade incómoda

 


Idade

Nos últimos anos, tenho aprendido que, depois de velho, se fazem grandes amigos de infância.

Lembrar Pauleta

Apesar de ter grandes equipas nacionais de futebol, a França é um país com escassos clubes a ganharem troféus europeus. A extraordinária vitória de hoje do PSG deve ter agradado muito a alguém que ficou na história afetiva do clube, Pedro Pauleta. Que também está de parabéns.

Azedumes

O PSD está no poder e o poder abafa divergências. Mas o facto de Rui Rio ser o mandatário de Gouveia e Melo, combatendo abertamente a candidatura oficial de Marques Mendes, mostra que as laranjas estão bastante azedas.

Europa: gerir a diversidade


Intervim hoje, em Viseu, na conferência "As múltiplas crises da União Europeia", promovida pelo Beira – Observatório de Ideias Contemporâneas Azeredo Perdigão, iniciativa em que foi orador principal o antigo alto-representante da UE, Josep Borrell, e em que também participaram a jornalista Helena Garrido e o professor José Pedro Teixeira Fernandes, sob moderação de Henrique Monteiro. 

Abordei o tema da diversidade entre os Estados europeus e as suas decorrências para o processo decisório.

Para quem possa estar interessado, deixo acesso àquilo que comecei por dizer.

sexta-feira, maio 30, 2025

Colaterais

Comecei por estranhar a frase de um velho amigo que há tempos cruzei numa rua de Vila Real: "Cada vez mais me convenço de que o Covid deixa efeitos colaterais muito negativos". E perguntei: "Quais?" Fez um ar muito sério: "Olha! O Gouveia e Melo, por exemplo". 

O "Passar pela esquerda" acabou!


Até que enfim! Bem me cansou aquele programa que a SIC manteve no ar durante oito anos, para refletir o xadrez parlamentar de então. Lembram-se?

Era o "Passar pela esquerda" e lá tinha o Porfírio Silva, o Rui Tavares e o António Filipe. Disso, agora já basta, ou melhor: Chega!

Direitolices

O PSD anuncia estar fora da ideia da revisão constitucional. Sábia decisão, pela qual felicito Luís Montenegro, que assim mostra não se deixar arrastar para esta direitolice. 

Europas


 

quinta-feira, maio 29, 2025

Aqui chegámos

O senhor almirante apresentou hoje ao país a sua candidatura à presidência da República. Fê-lo com um discurso basicamente escorreito, uma "Christmas tree" de boas intenções onde, sem esforço, cada eleitor pôde reconhecer-se em algum ponto, em que nenhuma temática da atualidade foi esquecida. Sabemos como estas coisas se fazem. Pelo meio, estiveram as expectáveis referências motivacionais aos "mares nunca dantes navegados" e coisas assim, a puxar pela auto-estima nacional.

O senhor almirante, se for feito presidente por um país que pelos vistos pode vir a merecê-lo, não revela sinais de poder vir a fazer nenhum mal ao mundo. Meio século depois, o regime democrático já está suficientemente sólido para poder eleger o senhor almirante. 

Musk


A saída de Elon Musk do serralho de Trump é a novidade a que, há muito, só faltava a data.

Teixeira Gomes


Na passada terça-feira, em Portimão, lado a lado com o meu colega Luís Castro Mendes, participei numa conferência que homenageou o escritor, diplomata e político Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), no 165° aniversário do seu nascimento naquela cidade, onde está sepultado.

A organização foi da Casa Manuel Teixeira Gomes, sob direção científica de José Manuel Quaresma, biógrafo do homenageado.

Quem estiver interessado naquilo que eu disse na ocasião, pode ler o texto aqui.

Um leão bem atípico


O Sporting ganhou o campeonato e a taça de Portugal. Há anos que sou sócio do clube. Há anos que não vou a Alvalade. Porque, desde há muito tempo, no futebol como em quase tudo o resto, fujo das emoções como o diabo da cruz, não vejo em direto jogos do meu clube. (Logo eu, que adoro futebol, e vejo na televisão bastantes jogos entre clubes estrangeiros, cuidando sempre em não "puxar" por nenhum). Às vezes, vejo, em diferido, uns minutos de síntese dos jogos em que o Sporting intervem. Outras vezes, a maior parte das vezes, confesso, nem sequer isso. Limito-me a ficar satisfeito com as vitórias do Sporting, desagradado com as derrotas e a lamentar os empates. Reconheço ser, sem o menor complexo por sê-lo, um adepto muito atípico.

No passado domingo, para não variar, não vi o jogo da taça. E como andei ocupado com leituras e escrita, acabei por nem ver imagens dos golos. E, claro, por essa mesma razão, também não observei o que me disseram ser uma jogada altamente polémica, em que esteve envolvido um jogador do Sporting, que muitos consideram culpado por uma grave agressão. Mas esse lance, como todos os outros do jogo, por muito que isso possa parecer estranho, não mobiliza minimamente a minha curiosidade. Se o jogador foi culpado que o castiguem, se não foi que o ilibem. Nem sei bem o nome do homem, eu que, dentre os nossos jogadores, reconheço São Gyokeres e poucos mais.

Ao fim do dia, informado da vitória do meu clube na taça, e muito satisfeito com ela, e tal como já tinha feito na conquista do campeonato, coloquei uma brevíssima fotografia de congratulação pelo novo título, nas redes sociais que frequento. O que eu fui fazer! Convoquei com isso as iras de muitos que posso presumir serem adeptos de um clube que disputou o campeonato e a taça com o Sporting. Era lá possível que eu estivesse a comemorar, depois daquilo que se tinha passado? E houve logo quem, por essa razão, fizesse juízos de caráter sobre mim, pedindo-me satisfações pela minha alegria. Até mensagens privadas recebi nesse sentido.

Tenham juízo!

quarta-feira, maio 28, 2025

Ssudades de José Lello


Ao final do dia de hoje, lembrei-me muito de ti, meu caro Zé. Já saíste da vida há uns anos, mas deixaste muitas saudades. O teu sorriso, a tua alegria, o teu abraço, a tua amizade, fazem falta a quem gostava de ti.

Se eu te contasse que as comunidades portuguesas pelo mundo, por quem tu tanto lutaste, acabam de escolher dois deputados de um partido de extrema-direita, que detesta imigrantes, para os representar, acharias que eu não estava a falar a sério. "É lá possível! Estás a tanguear-me!" E explicarias o óbvio: "Então os portugueses que andam pelo mundo, que sentiram e sentem na carne a exclusão, o racismo e a xenofobia, iam lá escolhem gente dessa! Pode haver alguns que são "fachos", tu e eu conhecemos alguns, mas eles não são parvos!". Não sei o que eles são ou não, Zé, só sei é que as coisas são o que são.

Mas ainda não te disse outra coisa, Zé, e esta vai doer-te: o PS, pela primeira vez, não elegeu ninguém lá fora. Tu que foste o homem do 115, não do antigo número de emergências mas do número de deputados que, em 1999, o PS conseguiu. Em grande parte graças ao teu trabalho, à confiança que as comunidades em ti depositavam, nesse ano, pela primeira vez, dos quatro deputados ditos "da emigração", o PS obteve três. Desta vez, Zé, nem um só!

Não vou colocar aqui, porque este é um espaço de famílias, as imprecações que irias soltar. Mas quis que soubesses como isto anda. É a vida!, diria o engenheiro que chefiou os dois governos em que ambos participámos. É, mas ela não está fácil para as nossas cores. 

terça-feira, maio 27, 2025

Eu, maoísta?!


Acabo de saber, por um artigo de um colunista do "Sol", que terei sido um destacado militante ... do MRPP.  Eu, antigo maoísta?! Onde isto chegou!

segunda-feira, maio 26, 2025

Verdade?


Se isto é mesmo verdade (nos dias de hoje, só acredito no que me dizem na net depois de muita confirmação), é uma excelente notícia: para o mundo e para as corajosas mulheres do Irão, que merecem toda a nossa admiração.

... e estamos nisto!


É extraordinário como o destino do mundo pode depender da ciclotimia emocional de uma personagem deste calibre.

Acordei assim...


domingo, maio 25, 2025

Ucrânia, ao telefone


Ver aqui.

Os critérios da Europa

Cada vez que vejo um justo comunicado indignado da União Europeia sobre ataques russos que provocam vítimas civis na Ucrânia, vou à procura do comunicado diário que a mesma UE dever ter emitido sobre os mortos civis desse dia em Gaza. Que são sempre muitos mais. Mas não encontro.

Os Mortos e os mortos


Ver aqui.

Leis


Há leis para tantas coisas, por que não há uma lei para isto?

Está (re)feito!

 


Um viva a Espanha

A Espanha, na sua atitude face a Israel, honra, por estes dias, os valores e os princípios que a União Europeia vergonhosamente se recusa a assumir. Por uma vez, não ficaria mal a Portugal sair da política de colagem ao "mainstream" e ter a coragem de "chamar os bois pelos nomes"

Teixeira Gomes

 


sábado, maio 24, 2025

Os erros de Pedro Nuno Santos


Cumprindo o que disse na noite eleitoral, Pedro Nuno Santos saiu hoje da liderança do Partido Socialista. O PS vai ter de refazer o seu futuro imediato sem ele. O nome de José Luís Carneiro, que tinha ficado em segundo lugar na anterior escolha interna, para a substituição de António Costa, surge como a hipótese mais provável para titular o novo ciclo. Sem oposição? Ainda não se sabe, mas se ela vier a surgir o processo correrá com normalidade. Esta é a lógica serena de um grande partido democrático em democracia.

Estes momentos de mudança, propulsionados pelo voto popular, forçam a uma reflexão. Mais do que qualquer outra formação política, o PS tem de fazê-la. Os factos obrigam o partido a preparar-se para o novo tempo, com as "lessons learned" do passado. Aliás, o tema dessa reflexão é a resposta a uma questão imperativa: que aconteceu a um partido que, em menos de dois anos, passou de uma sólida maioria absoluta para um terceiro lugar no parlamento? 

Toda a gente tem explicações, mais ou menos adjetivadas, mais ou menos fulanizadas nas responsabilidades, para esta pergunta. Certas ou erradas, eu tenho as minhas. E faço já uma declaração de interesses: fui um dos derrotados no dia 18 de maio e tudo farei, naquilo em que puder ajudar, para criar condições para o reforço do Partido Socialista no futuro.

Pedro Nuno Santos substituiu António Costa com toda a naturalidade. Contrariamente à diabolização que a direita dele fez - e essa era uma excelente medalha que ele trazia ao peito - ele tinha sido, embora com alguns erros cometidos, um bom ministro. Tinha trabalhado dentro do partido para suceder a António Costa e o PS confiou maioritariamente nele. Pedro Nuno Santos é, contudo, o produto político de uma ilusão.

Em 2015, o Partido Socialista tinha chegado ao poder, de uma forma pouco comum na prática portuguesa, não sendo o partido mais votado. Mas António Costa, com toda a legitimidade, depois de Passos Coelho não ter conseguido convencer a Assembleia da República, formou um governo com apoio parlamentar de dois partidos à sua esquerda. Fê-lo com vista a uma governação destinada a repor, com sabedoria e sem extremismos, a normalidade em muitas políticas, que a "troika" tinha mudado de forma violenta. A Geringonça foi uma fórmula política pontual, que provou ter eficácia, razoabilidade e apoio popular. Pedro Nuno Santos, na pasta dos Assuntos Parlamentares, foi a cara dessa solução.

A Geringonça faliu ao fim da primeira legislatura. Os comunistas e o Bloco perceberam que António Costa tinha capitalizado em favor do PS a simpatia que a Geringonça tinha suscitado. E esgotada que tinha sido a agenda de 2015, e não estando António Costa disponível para ir além da reversão do essencial da agenda da "troika", os dois partidos à esquerda do PS não apenas mostraram indisponibilidade para renovar, num registo de mínimos, uma aliança que os estava a "grelhar", como caíram na patetice de não aprovar o orçamento que o novo governo minoritário do PS tinha apresentado. 

As novas eleições que se seguiram deram razão a António Costa e deram uma maioria absoluta ao PS. Pelo meio tinha havido uma pandemia que mostrara ao país o perfil de estadista de António Costa. Pedro Nuno Santos é um "general" dessas tropas. Mas não era só isso: era um "viúvo" da Geringonça. E essa é a tal grande ilusão.

O país pode ter gostado da Geringonça no período em que ela foi criada, tendo ela sido a cara de uma política que desfizera, com responsabilidade, o que a "troika" tinha imposto. Mas alguma água tinha entretanto corrido sob as pontes: a fórmula cheirava a passado. 

O Bloco mostrou evoluir para uma matriz ideológica algo agressiva, frequentemente paternalista (ou maternalista...), investindo numa agenda de políticas de nicho e de exploração de temáticas identitárias que, sendo porventura respeitáveis, não eram necessariamente populares. A sua mudança de liderança também não ajudou a tornar a proposta mais apelativa, "to say the least".  

O PCP afundou-se na simpatia popular com o seu seguidismo face a Moscovo na questão ucraniana, num tempo em que o país tinha optado sentimentalmente por Zelensky. O seu novo líder tem um estilo simpático de homem comum mas, como pretendem os nostálgicos que alinham naquela "igreja", foi escolhido precisamente para não trazer nada de novo.

Pedro Nuno Santos tentou retomar a ideia da Geringonça, com estas suas novas derivas? Claro que não, mas, no imaginário de muita gente, ele continuou a ser "o socialista da Geringonça" e, com ele na liderança, o PS passou a ser, para alguns, o partido que só não reeditou a Geringonça porque não teve condições para tal. E a Geringonça já tinha, há muito, deixado de ser popular. 

Além disso, o estilo público de Pedro Nuno Santos, que inteligentemente ele procurou suavizar, ainda surgiu marcado por um tom algo agreste, de uma espécie de "jota" escassamente amadurecido. E não teve tempo para reverter essa imagem, que a mim sempre me pareceu ter algo de bastante injusto. Repito o que disse atrás: Pedro Nuno Santos foi um governante de qualidade, a que é justo creditar um bom trabalho na área das Infraestruturas, não obstante algumas trapalhadas que não o ajudaram a acelerar a construção de uma imagem de Estado.

O apreciável resultado que tinha tido nas eleições de 2024 podem ter contribuído para Pedro Nuno Santos entender que estavam ultrapassados, no eleitorado, esses preconceitos a seu respeito. Não estavam. E num ambiente de crispada bipolaração, essa perceção negativa em seu desfavor acentuou-se.

O país só foi entretanto a votos porque Pedro Nuno Santos assim o quis. E essa, no domínio das culpas daquilo que aconteceu, é uma culpa apenas sua. O PS não devia ter caído na esparrela armada pelo primeiro-ministro, ao apresentar uma moção oportunista de confiança. E devia ter desmontado o "bluff" de Luís Montenegro, dizendo: "O primeiro-ministro quer um pretexto para ter eleições e quer embrulhar as trapalhadas éticas em que está envolvido numa moção de confiança. O PS não lhe dá essa oportunidade: por isso, não cai nessa esparrela, abstem-se na sua votação na Assembleia da República e avança para uma comissão parlamentar de inquérito onde tudo será devidamente esclarecido". 

O que teria acontecido, se Pedro Nuno Santos tivesse procedido dessa forma? Montenegro estaria agora fragilizado, entre a espada e a comissão de inquérito, o PS mantinha um número de deputados igual ao PSD e a extrema-direita mantinha o peso que tinha.

Depois, na inevitabilidade de eleições, o PS que Pedro Nuno Santos liderou não soube ler o país que ia votar em 18 de maio. Não apresentou políticas minimamente motivantes para setores de um eleitorado que, entretanto, se tinha deslocado para um terreno tomado por uma agenda de preocupações e de desencanto muito diversa das de um passado recente. A proposta socialista foi um pouco mais do mesmo, a que foram acrescentados uns pozinhos de novidade escassamente mobilizadora. E foi o que se viu. 

Pedro Nuno Santos fez, entretanto, uma campanha eleitoral quase monotemática, não entendendo que o país vivia já num ambiente de amoralidade política que não iria punir excessivamente Montenegro. 

Com esses seus erros, e por essas razões, as coisas são hoje o que são. Essa é a sua culpa e, por isso, fez bem em sair. E esta é a minha opinião.

(Em tempo: para que se não diga que fiz "prognósticos depois do jogo", deixo aqui isto, escrito em 8 de março passado.)




Outros tempos, outras horas!


"Bolas! Só agora olhei para o relógio! Acho que, lá em casa, ninguém vai acreditar que estive no Procópio até estas horas".

"Esteja descansado, Francisco. Se eu atestar, acreditam".

E foi assim que, há mais de uma década, a "sedona" Alice Pinto Coelho, dona e senhora do bar Procópio, deixou atestado fidedigno daquela minha noitada.

Muitas saudades da Alice.

A ver vamos

A capacidade de resposta da União Europeia vai ser posta à prova dos nove perante os direitos alfandegários (não as "tarifas") impostos por Trump. Desejo-nos bom trabalho.

sexta-feira, maio 23, 2025

Sebastião Salgado


... e Sebastião Salgado não esteve em Gaza.

Emboscadas

Uma fotografia com um presidente americano na Sala Oval da Casa Branca foi, por muitas décadas, o testemunho de um momento importante na vida de qualquer político mundial. Trump está a transformar o lugar num local de emboscadas. Foi assim com Zelensky, agora com Ramaphosa. 

Liberdade de imprensa


Continuo fascinado pelo pluralismo mediático no Irão.

A defesa e a segurança da Europa


"A crescente imprevisibilidade na atitude dos EUA, que foi, por décadas, o principal parceiro garante da paz e regulador da segurança e defesa da Europa, torna mais imperativa e urgente a questão da "autonomia estratégica" do continente nesses domínios. Procurando deliberadamente fazer sair o debate de uma perspetiva voluntarista - daquilo que seria desejável - seria interessante abordar, de forma pragmática, o que realisticamente pode vir a ser possível fazer:

1. Que formato institucional e prático pode assumir a afirmação da autonomia estratégica nos domínios da segurança e defesa? Qual o papel que a União Europeia pode desempenhar nesse esforço europeu e como compatibilizar os seus mecanismos funcionais com posições anunciadas por alguns países membros, que se aproximam de um modelo de "diretório" - que os tratados não preveem?

2. Que evolução é plausível que a NATO possa vir a ter, que venha a ser compatível com um contexto político e institucional de maior autonomia estratégica?

3. Como assegurar apoio político, maioritário e constante, dentro das democracias europeias, e sob uma geometria variável, de vontades e de quadros políticos internos, ao esforço financeiro e militar que vai ser necessário desenvolver para esse novo modelo?"

Este foi guião que propus para o debate que moderei esta manhã, entre mais de duas dezenas de especialistas, com o embaixadora da UE, Sofia Moreira de Sousa, numa iniciativa conjunta do Clube de Lisboa / Global Challenges e da Representação da União Europeia em Portugal.

Viver no lixo

Esta é uma questão que preocupa muito pouca gente em Portugal, país habituado a viver no meio de constante poluição visual da propaganda política. Mas já pensaram que nenhum partido cumprirá os prazos para a retirada dos cartazes eleitorais? E que ninguém os multará por isso?

quinta-feira, maio 22, 2025

Revisionismo

Imagino que o Partido Socialista esteja a viver, como será natural, um momento de alguma interrogação quanto ao futuro, em função dos resultados eleitorais e da necessidade de escolher uma nova liderança. Mas, que eu saiba, o PS não vive nenhuma crise de identidade. 

Gostava, contudo, de dizer que o património político do partido estaria em seriamente em causa se acaso alguém, dentre as suas figuras com alguma responsabilidade (não me refiro aos espontâneos habituais, que fazem a alegria dos que não gostam do PS), viesse a dar o mínimo aval a qualquer proposta oportunista de revisão constitucional, oriunda dos suspeitos do costume, com "velhos e relhos" objetivos.

Se tal acontecesse, esses socialistas estariam a dar mostras de não ter percebido que o óbvio propósito da discussão agora lançada em torno da Constituição é, pura e simplesmente, tentar toldar a comemoração do seu cinquentenário em 2026 e envolver o histórico documento num manto de polémica, numa espécie de "révanche" contra o texto que consagra o 25 de Abril e os novos equilíbrios que dele resultaram. Espero, aliás, e não sentado, que nos setores social-democratas do PSD isto seja também entendido.

Ordem

Manuel Alberto Valente


Manuel Alberto Valente, além de poeta, é um nome maior do mundo editorial português. Teve responsabilidades de topo em algumas das grandes casas de edição em Portugal e, nessa qualidade, fez um percurso raro pelo mundo dos livros. Desse trajeto, guardou bastantes episódios, onde surge gente maior do território da escrita. Ao longo dos anos, os seus amigos foram ouvindo algumas dessas histórias da sua boca. Um dia, passou a partilhá-las no "Expresso", onde elas foram surgindo, semana após semana, escritas num português de lei, sempre com muita graça e interesse. Agora, "a pedido de várias famílias" (eu sou uma delas), decidiu editá-las. E elas aí estão, numa bela edição da Quetzal. No dia 2 de junho, na Livraria da Travessa, às 18.30, lá estaremos - e sei que seremos muitos - para dar um abraço ao Manel no lançamento de "O Outro Lado dos Livros - Memórias de um Editor".

quarta-feira, maio 21, 2025

Indignómetro

Quanto mais não seja por razões corporativas, estou 100% de acordo com a reação do nosso governo à atitude agressiva de Israel face aos diplomatas em Jenin. Mas - e isto nada tem a ver com Portugal - gostava de perceber melhor os patamares do "indignómetro" europeu face a Israel.

Vamos lá ver...

Vamos lá ver se nos entendemos: o Chega é um partido de extrema-direita, mas as pessoas que votaram no Chega não são, apenas por essa razão, pessoas de extrema-direita. Como nem toda a gente que, alguma vez na vida, votou no PS se converteu, necessariamente, num socialista.

"Beer, Norm?"


A mais desnecessária pergunta feita no "Cheers" - "Beer, Norm?" - tinha da parte dele respostas magníficas. A série era muito divertida e Norm, bem como o seu colega de balcão, o chatíssimo empregado dos correios, Cliff, eram alguns dos belos "cromos" que nos faziam rir. 

O actor que fazia de Norm, George Wendt, morreu agora. Tinha nascido no mesmo ano que eu.

Sinto saudades do "Cheers" e a reforma vai ser o tempo certo para revisitar a série. Mas apenas quando me reformar, claro.

terça-feira, maio 20, 2025

Estejam atentos

De agora em diante, vamos começar a assistir à tentativa de descaraterização do Chega como um grupo de extrema-direita. Vai começar (se é que já não começou) em certa imprensa, nos comentadores e nos agentes políticos a quem convém normalização do Chega.

segunda-feira, maio 19, 2025

Razão e razões

Não, o eleitorado não tem sempre razão. Tem é sempre razões e é para elas que devemos olhar.

Pior era possível

"Escapámos ao pior cenário: uma maioria absoluta do PSD", dizia-me há pouco, cúmplice, um socialista de carteirinha. Respondi-lhe, por uma vez convicto: "Estás enganado! Muito pior cenário era o PSD necessitar dos liberais para a maioria absoluta. Esse era o cenário de tragédia".

Bravães


Quando ando por perto, sabe-me bem, e conforta-me o patriotismo, passar pela igreja românica de Bravães, às portas de Ponte da Barca. Estou a ouvir o meu pai dizer, numa das vezes que ali foi comigo: "Temos sempre de nos lembrar que isto é do tempo do Afonso Henriques!" Aquele pórtico de pedra antiga trabalhada é de uma beleza que comove.

Na minha primeira vez por ali, no início dos anos 70, foi-nos dito que podíamos visitar a igreja falando com uma senhora, que vivia numa casa vizinha. Lá fomos, entregou-nos confiadamente a chave da porta lateral, fizemos a visita com total liberdade, devolvendo-lha no final. 

No sábado, a igreja estava fechada e já não havia senhora na vizinhança nem chave para levantar. É que Portugal, por várias e nem sempre simpáticas razões, vai mudando de hábitos.

O partido holograma

Com a AD, Luís Montenegro presta um considerável serviço à História contemporânea: prolonga a simpática ilusão de que o CDS, um partido que está inscrito no passado da nossa democracia, ainda existe nos dias que correm.

A boa notícia

Nesta dia de subida exponencial da extrema-direita e de reforço ligeiro da velha direita, a boa notícia é constatar que a direita radical a-social foi bafejada por um crescimento minúsculo.

Pedro Nuno Santos

Num ato de dignidade e coerência política, Pedro Nuno Santos pediu a demissão de líder do Partido Socialista e anunciou que não será candidato à reeleição. 

Não sou atualmente militante do Partido Socialista, mas fui apoiante da candidatura titulada por Pedro Nuno Santos nestas eleições. Faço assim parte dos derrotados da noite de ontem, com muito orgulho e total solidariedade. 

Nestas eleições, a mensagem política do PS não passou. Os portugueses não lhe deram suficiente suporte em votos e, como tal, há que ter humildade democrática para o aceitar, refletir e seguir adiante. 

O exercício de governo continua assim a competir à direita, a quem caberá encontrar soluções para prolongar essa governação. Se o quadro de representação parlamentar mudou, isso deveu-se exclusivamente a um exercício eleitoral provocado por um primeiro-ministro que, por motivos exclusivamente pessoais, gerou uma crise política, totalmente artificial. Sem estas eleições desnecessárias, provocadas por Luís Montenegro e por mais ninguém, a extrema-direita não teria chegado ao ponto a que chegou.

Na sua história, que se confunde com a da nossa democracia, o PS passou já por momentos bastante difíceis e, com o tempo, soube sempre superá-los e recuperar a confiança do povo português. O partido de Mário Soares, de Jorge Sampaio, de António Guterres e de António Costa é o eixo da nossa democracia, goste a direita de ouvir isto ou não.

Por isso, embora o que ontem se passou me entristeça, tenho a certeza de que o tempo fará justiça à mensagem socialista e de que, com ele, a esquerda voltará futuramente a orientar a governação do país.

domingo, maio 18, 2025

A esquerda de Abril

No meio de todo este descalabro da esquerda, fico muito satisfeito pelo facto de o PCP e o Bloco terem tido candidatos eleitos. Não voto por aquelas bandas, estou frequentemente em desacordo com eles, mas, com o Livre, eles fazem parte da diversidade da nossa esquerda de Abril.

Em modo de voo

Sou um desalinhado: soube aqui na net os resultados, mas não estou a ver televisão, nem comentários, nem caras e vozes de políticos. E assim farei até ao fim da noite. Ah! E quem me tentou telefonar nas últimas horas deve ter percebido que estou em "modo de voo"...

19 de julho de 1987

Eu estava em Genebra, integrado na delegação portuguesa à VII UNCTAD, a meio de algumas semanas de interessante trabalho, com um grupo divertido. Na nossa delegação, havia diplomatas e técnicos de vários ministérios. Nesse dia, 19 de julho, estavam a ter lugar eleições legislativas em Portugal. Em missão no estrangeiro, nós não votávamos mas, com maior ou menor entusiasmo e diferente "lateralização" ideológica, tínhamos acompanhado, dia a dia, o prélio eleitoral em Portugal. Que se decidia nesse dia.

Mário Soares, há ano e meio presidente, havia dissolvido o parlamento, para evitar que o então secretário-geral do PS, Vitor Constâncio, formasse um governo com o PRD, o partido "regenerador" que, numa eleição anterior, com um discurso "moralizador", havia "roubado" imensos votos aos socialistas. Com essa decisão, Soares "matou" o PRD de Eanes e criou as condições para Cavaco Silva arrancar a primeira das suas duas maiorias absolutas. Entre dois ódios de estimação, Soares fez a sua escolha.

Nessa noite, eu, o Rui Felix Alves e o João Luís Niza Pinheiro, três diplomatas, e o técnico do Ministério da Indústria, Frederico Alcântara de Melo, estávamos politicamente do mesmo lado. Como creio que estamos, até hoje. Juntámo-nos, "like-minded", no gabinete do Niza Pinheiro, então colocado em Genebra, para saber as últimas de Lisboa. Que, tal como no dia de hoje, acabaram muito longe de ser boas para as nossas "cores".

Recordo-me da reação de cada um de nós à maioria absoluta do PSD, e, em especial, tenho na memória o ar extraordinariamente abatido, quase em desespero, do Rui Félix Alves. "E agora! Como é que vai ser? Onde é que isto nos leva?" Cada um de nós expressava, de maneira diferente, o seu abatimento. Mas o Rui estava inconsolável! Lembro de lhe ter dito: "Ó homem! O Cavaco é um direitolas, mas não me parece nada que venha aí o fascismo!"

O Rui Félix Alves era mais antigo do que eu, no MNE, mas tinha sido meu instruendo na tropa. Um dia dos primeiros meses de 1974, antes do 25 de Abril mas depois do golpe de 16 de Março, veio ter comigo no meio da parada e, sem que nos conhecêssemos bem, atirou-me: "Eu sei que você é de esquerda. Queria dizer-lhe que estou à disposição para alinhar numa revolta contra o regime". Temendo ser uma provocação, saí da conversa como pude e "fiz-me de novas". Afinal, como depois vim a saber, no meio daquela sua ingenuidade, o Rui era mesmo "dos nossos".

Nesta que é uma noite menos simpática - gosto destes "understatements" - para a esquerda, a que eu, o Rui, o João Niza e o Alcântara continuamos orgulhosamente a pertencer, não "empanico" como o Rui fez naquela noite de 1987. Mas, desta vez, confesso que estou bastante menos sossegado com o rumo das coisas pátrias. Embora, como intravável otimista, eu continue a achar que um dia os amanhãs voltarão a cantar. Será apenas "whishful thinking"? 

(Deixo aqui um abraço solidário e saudoso ao Rui Felix Alves, ao João Luís Niza Pinheiro e ao Frederico Alcântara de Melo)

É assim

A democracia, como a quisemos depois do 25 de Abril, é a expressão política da vontade das pessoas. Vence quem consegue convencer mais pessoas, independentemente da qualidade das suas propostas. Numa sociedade livre, como é Portugal, os democratas aceitam sempre os resultados.

sábado, maio 17, 2025

Está feito!

 


Soajo



"Desta vez, não vamos ao "Espigueiro"! Onde fica o "Videira"?". Verdade seja que, desde há muitos anos, dos tempos em que as estradas não eram tão boas, estas eram as minhas únicas duas referências gastronómicas no Soajo.

Ia-se para o Soajo, em regra, por Espanha, saindo do Gerês, pela Peneda e pelo Lindoso. Depois, descia-se aos Arcos, com uma vista lindíssima a caminho do cume e dois miradouros a não perder, embora também haja uma estrada, um pouco apertada, que leva à Barca (passei por ela ontem e está "ível").

Fomos assim ao "Videira". Comemos uma posta de cachena com um gosto e uma suavidade que há muito não experimentávamos. Valeu a pena. Deixo o registo.

Coisas do muito tempo

Ontem, durante uma conversa telefónica com um amigo jornalista (cujo nome não interessa mas que todos conhecem), referi que estava a ler as memórias de um seu colega francês, Jean-François Kahn, onde ele fala do caráter "trotskizante" do regime argelino, logo após a independência do país, em 1961. Como esse meu amigo tinha navegado nessas mesmas águas políticas, perguntei-lhe o que sabia ele disso. Ele logo lembrou o "camarada" Pablo/Michel Raptis, envolvido no apoio aos independentistas e que teria sido depois um conselheiro de Ben Bella. (Por minutos, passámos então ao "fine tuning" do mundo dos admiradores de Trotsky, com a sua conhecida propensão para a cissiparidade. E, entre outros, vieram a jogo os lambertistas e a corrente de Frank, que fiquei a saber que tinha como coroa de glória ter reunido com o próprio Trotsky, antes dos tempos mexicanos). Aí, eu interroguei-me se teria sido Pablo o interlocutor trotskista de um representante da oposição portuguesa, numa congeminação que sabia montada em Bruxelas, que iria permitir a posterior instalação em Argel da FPLN, a frente anti-fascista portuguesa criada em Roma. O meu amigo disse ser provável e adiantou que, nesse caso, nessa conversa, pelo lado português, poderia ter estado Manuel Sertório, figura relevante no início da FPLN, ele próprio ligado ao trotskismo. E logo fez uma pausa de bom senso: "Não acha que isto é uma conversa muito estranha! Já imaginou quantas pessoas ainda a poderiam acompanhar?" E rimo-nos. Aventei que, aqui em Arcos de Valdevez (ou "nos Arcos", para quem é do Minho), onde me encontro a banhos de preguiça, a menção a Sertório talvez trouxesse à baila o nome de Viriato, que imagino que ainda se deva aprender na escola. E acrescentei: "Conhecerão esse Viriato mas, com toda a certeza, nunca ouviram falar de Viriato da Cruz", o poeta e revolucionário angolano que passou as passas do Algarve na China. E daí a nossa conversa transbordou, por largos minutos, para o MPLA, de Neto a Mário de Andrade, e coisas assim. Depois, cada um de nós foi à sua vida, que, como é sabido, são dois dias: amanhã já é sábado e jogam para o título dois clubes que nos dividem, a mim e ao meu amigo, e depois é domingo e há eleições em que, por vias diferentes, juntamos vontades e esperanças contra os mesmos.

O meu pai chamava a isto "conversas arbóreas": de um ramo saem outros e assim sucessivamente. De facto, é uma evidência que há cada vez menos gente capaz de acompanhar estas conversas de gente já com muito tempo na vida. Mas eu gosto delas, confesso. E acho que o Zé também.

sexta-feira, maio 16, 2025

Sorry, mas é verdade

"The meeting itself was a tactical victory for Putin, who managed to start the negotiation process without prior agreement to a ceasefire, which Ukraine and almost all of its supporters in the West had tried to make a precondition for the talks", The New York Times.

Discutir a União Europeia em Viseu

 

Ver aqui.

Teixeira Gomes em debate

Ler aqui.

quinta-feira, maio 15, 2025

Trump ou a orgia de poder


Sempre achei bastante frágil a ideia de que os Estados Unidos da América vivem um período de inexorável declínio, no sentido de que a ascensão da China e a multi-polaridade têm nas mãos os destinos do mundo.

É uma evidência que o poder mundial tem vindo a ficar progressivamente mais disperso, mas gostava que me respondessem, com sinceridade, a esta pergunta: salvo se alguém anunciasse que ia mandar executar um celerado ataque nuclear, quem, senão um presidente americano, tem a antecipada garantia de conseguir deixar o resto do mundo atarantado, por virtude de decisões que assume em nome do seu país?

Se os líderes chinês, russo ou indiano, para não falar de qualquer europeu, decidirem falar grosso em termos de comércio internacional, alguém se assusta e entra em quase pânico, como aconteceu depois de Trump ter dito o que disse? 

O poder não é outra coisa senão isso: a capacidade de conseguir constranger os outros. E essa pressão só é eficaz porque se sabe que, por detrás das palavras, há formas poderosas de a levar à prática.

Por uma conjugação até agora única de circunstâncias, os EUA reunem em si, desde há já muitos anos, o controlo de vários e importantes eixos de poder. Acresce que, com formas diferentes, a América instalou modelos de dependência um pouco por todo o mundo, que lhe servem de fator potenciador dos seus interesses. Até aos dias de hoje, nenhum outro país conjuga dimensões militares, económicas e diplomáticas tão poderosas no seu conjunto. Isto pode vir a alterar-se? Talvez, mas confesso que, por ora, não consigo prever o cenário de concretização desse futuro.

Um poder benévolo?

É sabido que os EUA tiveram um papel determinante no desenho da ordem mundial instituída desde a Segunda Guerra mundial. Essa ordem pressupunha a observância de um conjunto de regras que os EUA, curiosamente, muitas vezes se eximiam a cumprir. Porquê? Porque a América se arrogava uma excecionalidade que fazia com que o normativo internacional só fosse "enforced" quando ela deixava. Vejam-se, como elucidativo exemplo, as resoluções do Conselho de Segurança da ONU sobre Israel.

Dir-se-á que, durante a Guerra Fria, do "outro lado do espelho", ou do "muro", as coisas se passavam de forma similar. É e não é verdade: o poder condicionadoramericano, dentro da ordem multilateral, nunca teve um rival de nível equivalente, tanto mais que, com mais ou menos relutância, o mundo ocidental, sob influência ou tutela americana, foi aceitando essa liderança, às vezes vergando-se simplesmente à sua inevitabilidade. Quando, depois da implosão da União Soviética, a América passou a "hiperpotência", esse desequilíbrio acentuou-se ainda mais.

Não obstante esta preeminência, o mundo ocidental foiconstatando que, em certos ciclos políticos, mais democráticos do que republicanos, a América se coibia, algumas vezes, na demonstração arrogante da sua força, dando sinais de que tinha em alguma atenção a vontade dos outros, os interesses dos aliados e amigos, de ocasião ou não. Porém, invariavelmente, isso só acontecia, em conjunturas em que interesses essenciais dos EUA não estavam em jogo. Em muitas outras ocasiões, a palavra americana esteve sempre longe de ser suave. É que osEUA dão-se sempre ao luxo de não esconderem, ou de darem por entendido pelos outros, o seu poderio, sempre que desejam afirmar a sua vontade.

Os primeiro tempos de Trump

Tudo o que ficou escrito dizia respeito a outra América. Achegada ao poder de Trump conduz-nos para um tempo novo na atitude dos Estados Unidos na ordem internacional. A atitude de alguma condescendência com os interesses alheios deixou de ser praticada.

No seu primeiro mandato tinha sido evidente, na ordem externa, a introdução de uma agenda já fortemente "revisionista", embora um pouco caótica na sua coerência global. Veio a perceber-se, o novo presidente havia sido forçado a acomodar na sua administração personalidades que ainda estavam marcadas por uma agenda republicana mais tradicional. Isso fez com que as tensões no seio do seu primeiro governo fossem evidentes, com uma resultante final que acabou por revelar-se algo confusa. 

Mesmo correndo o risco da caricatura, ficava a sensação de que Trump tinha então como prioridade desmontar a herança dos oito anos de Obama e confrontar virtualmente a agenda que Hillary Clinton tinha anunciado que se iria seguir. Era uma outra América que aí vinha.

O essencial dessa mensagem externa, parte dela anunciada para consumo interno, foi-se clarificando: tensão deliberada com a China, uma estranha propensão para um diálogo privilegiado com a Rússia, abandono dos compromissos económicos e ambientais multilaterais, assumido protecionismo radical, egoísmo transacional no terreno securitário externo, descaso flagrante com os aliados, em especial europeus, e com o sistema multilateral em geral, obsessão com as fronteiras, desengajamento de presença militar em cenários de tensão ou conflito. A isto se somou um endurecimento com Cuba e Venezuela, um estender de mão em jeito de ultimato à Coreia do Norte. E algo mais.

A agenda pró-israelita, que nos EUA tem uma conhecida relevância interna transpartidária, ficou evidente no "upgrading" das relações bilaterais (mudança da embaixada para Jerusalem e reconhecimento da ocupação dos Golan), no endurecer da atitude face ao Irão e na saída do acordo nuclear, na promoção dos "acordos de Abraão"para atenuar bilateralmente as dificuldades israelitas no mundo árabe, no assumido viés anti-islâmico, com introdução de restrições no acesso de cidadãos dessa origem aos EUA, bem como no abandono do Conselho de Direitos Humanos da ONU. 

Trump fazia o que tinha prometido: colocar, desbragadamente, a "America first", assim respondendo aos preconceitos, medos e obsessões do eleitorado que o elegera. 

O Trump II

Há dias, alguém qualificou, de forma simples mas certeira, a postura externa de Trump neste segundo mandato: imperialista e expansionista. Sem surpresas, muitas das linhas que tinham estado presentes na gestão externa anterior surgem plasmadas neste novo tempo. Contudo, háalgumas "novidades" que permitem pensar que a nova equipa de Trump, já desembaraçada do empecilho de algum pensamento mais tradicional, trouxe para a Casa Branca, sem peias nem limites de qualquer moralidade, uma agenda nacionalista hiper-egoísta, com umaafirmação extrema de poder, só limitado pela sua própria vontade. 

O segundo mandato de Trump veio encontrar a Rússia já em disputa armada por territórios ucranianos, o que é um cenário verdadeiramente novo face ao antecedente. Trump não se acanhou perante o desafio: em dois dias, segundo disse, resolveria o assunto, acabaria com a guerra, guerraessa que, se ele tivesse estado no lugar de Joe Biden, nunca teria sido iniciada. Nisto, há que reconhecer, pode ter alguma razão, por muito que isso possa ser desagradável aos ouvidos de alguns. A Rússia poderia ter obtido de Trump, sem um tiro, algo que ainda está longe de ter conseguido, depois de três anos de luta.

Mas a guerra estava lá. E o facilitismo quase primário com que Trump tende a abordar, em geral, os temas internacionais começa a confrontar-se, neste caso particular, com um choque de realidade na complexidade do pantanoso tema da Ucrânia. À hora em que este texto está a ser escrito, ainda não é muito claro como Trump conseguirá ou não salvar a face da América neste dossiê. Uma coisa é certa: perca ou ganhe, sairá sempre "vitorioso", porque o desaire não faz parte da suanarrativa.

As surpresas

Trump II trouxe, na área externa, quatro iniciativas verdadeiramente inesperadas. 

Desde logo, a afirmação do desejo de afirmar a soberania americana sobre a Gronelândia, território sobre tutela dinamarquesa onde os EUA já operavam militarmente, em aparente ambiente pacífico. O discurso agressivo e ofensivo de Trump sobre Copenhaga é demonstrativo do grau de consideração que os países europeus lhe oferecem.

Num segundo tema, os EUA assumem uma espécie de nova Doutrina Monroe, ao afirmarem o desejo de reverter o poder do Panamá sobre o canal que o atravessa, cujo estatuto parecia ter sido eternamente resolvido. A palavra de Washington, pelos vistos, já não vale o que valia.

Surpresa imensa está a ser, também, o modo como o Canadá tem vindo a ser tratado por Trump. Não é apenas a imposição de fortes direitos aduaneiros, de que já falaremos. Trata-se do alimentar de um discurso desrespeitoso e agressivo para com um dos países que, ao longo da História, tem mostrado cultivar uma relação departicular proximidade com a América, um aliado fidelíssimo e sem falhas. Ao insinuar que o Canadá deveria passar a ser o 51º estado americano, que se trata de uma entidade internacional que não tem razão de existir com soberania própria, Trump assume uma deriva quase imperial.

A quarta surpresa, que aqui distingo porque é paradigmática de um mundo trumpiano que tem a virtualidade de se situar em limiares quase oníricos, é a ideia de transformar Gaza num grande projeto imobiliário, naturalmente considerando como questão menor o destino dos quase três milhões de pessoas que lá vivem ou viviam - porque Israel, com a complacência cúmplice da América e perante a cobardia do mundo, tem vindo a atenuar o peso demográfico no território. Quando os nazis fizeram o que fizeram aos judeus, isso fazia parte da "solução final" do problema judaico. Agora, com a vítima anterior a ser osujeito da nova oração genocida, ainda não há nome para qualificar, para a História, esta ignomínia.

O comércio

Trump é um homem de negócios. Olha o mundo como um espaço de transações. Vive obcecado com o lucro, com as vantagens. Já no seu primeiro mandato tinha ficado claro que considerava que os EUA, em lugar de terem sido os grandes ganhadores de um mundo globalizado, feito à imagem e semelhança da ideologia que a América tinha espalhado e promovido como a filosofia capitalista salvífica, era, afinal, um perdedor da História. É estranho que a potência que fez grande parte da sua riqueza global nesse registo doutrinário se revolte contra si mesma. Porquê? Por ter sido eleito, em grande parte, por uma América que pagou o preço da "destruição criativa" que está na própria essência do capitalismo, como Shumpetersempre alertou ser o mal indispensável à bondade e sobrevivência do sistema. Afinal, Joseph Siglitz deve estar a rir-se, a ver Trump associar-se, um quarto de século depois do seu livro clássico, ao "descontentes" da globalização.

Ainda não passou tempo suficiente para percebermos se Trump brincou demasiado com o fogo ao ter incendiado os mercados com os seus brutais anúncios tarifários. Claro que há um limite de impactos que, mais cedo ou mais tarde, ele terá de digerir e acomodar. Mas também é evidente que o peso dos EUA acabará por favorecer o seu "bullying" e garantir-lhe ganhos no reequilíbrio dealgumas balanças comerciais bilaterais. 

Mas como terminará a tensão com a China, cuja rigidez política lhe permite levar muito mais longe um "bluff" a que as verdadeiras economias de mercado não de podem dar ao luxo? 

E agora?

Vale a pena pensar - por muito que pensar nisso possaangustiar muita gente - que Trump só agora está a começar este seu segundo mandato. Passaram apenas 100 dias! 

Claro que a sua ação vai acabar por ser moderada pelo inevitável impacto de algumas realidades exteriores, a que não poderá escapar, mesmo que muito contra a sua vontade. É óbvio que tudo indica que as eleições intercalares de novembro de 2026 acabarão por "atar-lhe" as mãos, de alguma forma, no plano legislativo - e isso pode justificar, de certo modo, este afã decisório neste ano de aturdimento e surpresa. 

Contudo, todas essas "boas notícias" poderão pouco significar se Donald Trump, neste entretanto, vier a mudar a realidade institucional dos EUA, se conseguir levar à prática o desmantelamento ou a fragilização do aparelho constitucional, derrubando os "checks-and-balances" em torno dos quais foi consolidada a democracia americana.

Confesso que não desisto de ser otimista e de pensar, como cantava o meu saudoso amigo Fausto, que "atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir". Ou, para ser mais simples, que há mais vida para além de Trump. Mas haverá?

(Artigo publicado na revista "Visão", em 1 de maio de 2025. Agora, duas semanas passadas sobre a sua publicação, sem risco de prejudicar as vendas da "Visão", já posso republicar o texto aqui.)

Do risco

Um amigo, há minutos: "Arriscaste muito, ao afirmares, desde há dias, que Putin não iria à Turquia". Acho que não arrisquei nada. Dei uma opinião, à base do bom senso. E se Putin tivesse ido? Eu teria errado. Infalível só papa, mas em matéria de fé. No resto, sabe tanto como nós.

Estatísticas



Para satisfazer a curiosidade de uns tantos, que têm mostrado interesse em conhecer os números das visitas a este blogue - as atuais e a sua evolução nos últimos 16 anos - aqui deixo um quadro extraído da estatísticas do Blogger, ao final do dia 14.

Da Michelin


Há uns anos, num grupo de bons garfos, conceito que algumas vezes coincide com o de bons gastrónomos, vieram à baila da conversa as pataniscas. 

Nos tertulianos da mesa havia belíssimos cozinheiros, dos que sabiam da poda e do polme, tal como havia meros usufrutuários gustativos da arte alheia, de que eu era um insigne e incorrigível exemplar. Cada um de nós mandou então solenes bitaites sobre pataniscas - no meu caso centradas na sua deglutição, outros no processo de produção a montante da fase no prato. Nomes de restaurantes, chefes com fama e até mães dos alguns presentes que "as cozinhavam como ninguém", foram chamados a terreiro.

A certo ponto, um comentário de um dos até então silenciosos membros à mesa chamou a nossa atenção, pelo seu caráter imperativo: "Conheço um sítio onde se servem umas pataniscas dignas do Michelin". No meu caso, porque gosto muito dessa forma de honrar o bacalhau, que até nem tem de ser "de primeira", logo pedi o endereço dessa casa. Outros mostraram intenção de também tomar nota. 

Generoso e sorridente, o nosso informador deixou então as coisas mais claras: "Quando me refiro ao Michelin, não me refiro às estrelas, mas à consistência: as pataniscas que se servem naquela casa parecem borracha de pneu!"

Ontem à noite, no Porto, fui jantar ao último dos restaurantes clássicos da cidade que ainda não conhecia. O que é obra, acreditem! Há anos que andava para visitar esta casa. Esperava mesmo poder sair dali com umas notas que me permitissem escrever uma apreciação positiva, para uso e proveito dos leitores que fazem o favor de aqui me ler. E até previa ir penitenciar-me por só agora ter feito esta visita.

Mas de boas intenções está a Baixa portuense cheia! Entre outras coisas que se provaram, que estavam razoáveis mas nada de excecional, caí na asneira de mandar vir umas pataniscas. Uma desilusão: altas, maçudas, sem sabor, fritas por fora e desgostantes por dentro. Michelin? Mabor e é um pau! O arroz de feijão, num tacho a acompanhar, estava bom, vá lá!

E assim se não fez uma crónica gastronómica que a simpatia da empregada, as sobremesas e até o espaço talvez merecessem. Mas umas más pataniscas põem-me fora de mim!

quarta-feira, maio 14, 2025

O periscópio

O senhor almirante tem todo o direito de se candidatar à Presidência da República. Mas ficamos a conhecê-lo melhor, depois do tempo das agulhas. É que é de muito mau gosto democrático içar o periscópio no meio da campanha para a escolha parlamentar em curso.

terça-feira, maio 13, 2025

Com amigos destes...

Numa entrevista concedida a televisões na noite de hoje, Macron disse que ucranianos já estão convencidos de que não vão conseguir recuperar os territórios ocupados pela Rússia. Ora aqui está uma estranha maneira de ajudar a Ucrânia, ainda antes das negociações terem começado.

Terroristas e oficios correlativos

Um terrorista é alguém defende por meios violentos e inaceitáveis causas de que não gostamos. Um dia, a ação desse terrorista começa a "dar jeito" aos nossos interesses estratégicos: passa a "freedom fighter" enquanto luta, quando chega ao poder é "one of us". Síria 2025.

Hipocrisia

Os ditadores de vestes longas do mundo árabe dão, por estes dias, a imagem mais hipócrita da sua "solidariedade" com a causa palestina e de repúdio do genocídio israelita em Gaza: traficam contratos milionários, entre sorrisos e tâmaras, com o protetor de Netanyahu.

Pepe Mujica


Com 89 anos, morreu Pepe Mujica, estimabilíssimo antigo presidente uruguaio. Um dia, disse: "Yo me dediqué a cambiar el mundo y no cambié un carajo, pero estuve entretenido y le di un sentido a mi vida".

É verdade, já Albert Camus havia constatado: "Chaque génération se croit vouée à refaire le monde. La mienne sait pourtant qu'elle ne le refera pas. Mais sa tâche est peut-être plus grande. Elle consiste à empêcher que le monde ne se défasse".

Influencer?


Há quase dez anos, recebi uma proposta para colocar publicidade à margem do meu blogue. Segundo me foi dito por uma empresa que me procurou, ela encarregar-se-ia de recolher essa publicidade (tendo eu o direito de não aceitar qualquer anúncio que entendesse menos adequado), teria meios para "potenciar" as visitas ao blogue e eu, à luz dos visitantes dessa altura e do crescimento provável dos leitores, poderia ganhar pelo menos dois mil euros por mês. Há dez anos. Pensei menos de um minuto e disse que não. No dia seguinte, a proposta já era outra: que, nos meus textos, eu falasse, "como quem não quer a coisa", de um relógio ou de uma joia ou de um hotel. Ofereciam-me a possibilidade de ganhar o estatuto de "influencer". Recusei, desta vez em menos de um segundo, e esqueci o assunto.

Hoje, fui buscar o meu carro que há dias tinha deixado numa loja, de que já me haviam falado bem, e que tem como "arte" ajudar a recuperar os automóveis, no plano estético, exterior e interior. O trabalho que requeri era de pequena dimensão. Mas fui muito bem tratado, com profissionalismo, fiquei satisfeito com o resultado final, que naturalmente paguei, e vim para casa a pensar: se um "influencer" pode dizer bem de uma loja ou de um produto e ainda por cima recebe por isso, não tenho eu o direito de falar na satisfação por um trabalho que foi bem feito, que paguei e me agradou?

Por isso, aqui fica a nota: a Mr. Cap. (vejam contactos na net) tratou lindamente do que pedi para fazerem no meu carro. Recomendo. 

Passei, com isto, a "influencer"? Embora seja uma designação que detesto (vinha no carro e ouvi que vai haver uma reunião de "influencers" internacionais em Lisboa), já me chamaram coisas piores. (Ah! o automóvel da fotografia não é meu, esclareço.)

Conversas

Parece-me haver um imenso equívoco na questão das negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia. Está criada a ideia de que delas poderão sair resultados que possam pôr fim à guerra. Não tenho essa ideia. Com efeito, sabendo-se as posições de partida das partes, à luz daquilo que tem sido afirmado por ambas, não descortinei até hoje qualquer margem de flexibilidade que permita indiciar uma convergência mínima.

Senão vejamos.

A Rússia entende que está fora de causa recuar, um milímetro que seja, das posições que tem na Crimeia e nos quatro "oblasts" que integrou posteriormente na Federação, parte dos quais, aliás, não ocupa totalmente. Além disso, considera essencial a renúncia formal da entrada da Ucrânia na NATO e tem um discurso, embora não muito claro, sobre a desmilitarização da Ucrânia (curiosamente, hoje um dos países mais militarizados do mundo...) e a sua "desnazificação" - conceito pouco preciso, na forma de levar à prática, e que, para muitos analistas, começaria pela saída do poder de Zelensky. O discurso sobre novas eleições presidenciais, que Trump parecia ter "comprado" até ter conseguido o "acordo das terras", poderia ir nesse sentido, embora, se as eleições fossem "a sério", nada pudesse garantir à Rússia que a eleição de um sucessor de Zelensky iria necessariamente significar um futuro equilíbrio político em Kiev muito diferente. Finalmente, e aqui seguindo a racionalidade subjacente ao que estava na carta de Lavrov aos seus homólogos ocidentais, em finais de 2021, e que agora seria importante revisitar, a Rússia teria como ambição (máxima, embora dificilmente exequível) um "reset" no sentido do "status quo" existente antes dos alargamentos da NATO aos países do Centro e Leste europeus. Isso incluiria, naturalmente, o fim das ambições de entrada na NATO para a Moldova e para a Geórgia. Esta, porém, é uma questão que pouco tem a ver com a Ucrânia e que releva da leitura de Moscovo de que, no fundo, esta guerra é uma mera sequela do conflito político-estratégico que mantem com os poderes ocidentais, tutelados pela América pré-Trump. Do mesmo modo, Moscovo não aceitaria qualquer acordo que não conduzisse ao levantamento total da sanções unilaterais que impendem sobre a Rússia, bem como a devolução dos bens russos congelados, por exemplo pela UE. Esta seria a agenda maximalista russa. 

Por seu turno, a Ucrânia, que não reconhece qualquer legitimidade à secessão do Donbass, muito menos de Kherson e Zaporizhzhya, e que nunca se conformara com a anterior tomada da Crimeia (embora a aparente complacência ocidental com a sua inclusão na Rússia tivesse atenuado, por algum tempo, o seu protesto), pretende, muito simplesmente, o regresso ao "status quo ante", isto é, às fronteiras de 1991, definidas aquando da implosão da URSS. A Ucrânia não se compromete sequer a retomar as previsões do acordo de Minsk II, que criava, entre outras coisas, alguma autonomia para o Donbass. Verdade seja, o regresso ao acordo de Minsk não tem hoje qualquer atualidade, depois da Rússia ter incorporado essas regiões na Federação. Essas são, na linguagem diplomáticas de Moscovo, as "novas realidades geopolíticas" de que nunca deu ar de poder abrir mão. A Ucrânia quer também reparações de guerra e a sujeição de Putin à justiça internacional. Para se ver a agenda maximalista da Ucrânia é necessário reler o seu "plano da vitória", de 2024, uma evolução dos anteriores "dez pontos".

Perante estas duas posturas, qualquer acordo só poderá vir a fazer-se por flexibilização de atitude de uma das partes. E essa evolução de posições só surgirá se e quando uma das partes considerar que não tem condições para sustentá-la, por exaustão de recursos ou por consciência de derrota irreversível no campo de batalha. É aqui que ainda não estamos. Qualquer conversa que não incorporar isto na sua agenda servirá para muito pouco.

"The American way..."

Para se entender melhor o modo como os EUA estão a intervir no processo ucraniano, convém ler esta declaração da figura que Trump escolheu como negociador principal do processo.



Falando da Ucrânia


Ver aqui

segunda-feira, maio 12, 2025

Ucrânia ("à suivre")

1. A Rússia ignorou a iniciativa de cessar-fogo e propôs um encontro bilateral com a Ucrânia na Turquia, na quinta-feira. Na ocasião, não ficou claro se seria apenas um face-a-face ou se incluiria um mediador, neste caso a Turquia. A Rússia parece não querer perder o simbolismo de regressar à mesma mesa de onde a Ucrânia saiu, por pressão ocidental, quando estava prestes a assinar um acordo que equivaleria à sua parcial rendição, ainda em 2022. Na altura, com mediação turca, recorde-se.

2. Trump reagiu: "President Putin of Russia doesn't want to have a Cease Fire Agreement with Ukraine, but rather wants to meet on Thursday, in Turkey, to negotiate a possible end to the BLOODBATH. Ukraine should agree to this, IMMEDIATELY. At least they will be able to determine whether or not a deal is possible, and if it is not, European leaders, and the U.S., will know where everything stands, and can proceed accordingly! I'm starting to doubt that Ukraine will make a deal with Putin, who's too busy celebrating the Victory of World War ll, which could not have been won (not even close!) without the United States of America. HAVE THE MEETING, NOW!!!"

3. Este "tweet" de Trump (e, provavelmente, algo mais, em termos de pressão de Washington e dos "minders" europeus da Ucrânia), levou Zelensky a anunciar estar disposto a reunir-se pessoalmente com Putin em Istambul, sabendo perfeitamente que o líder russo nunca poderia estar disponível para isso - não era a um encontro de presidentes que Putin se referia. É curioso que parece estar ainda em vigor uma lei ucraniana que, em princípio, impede Zelensky de se encontrar com Putin, mas foi ignorada. A jogada de Zelensky é interessante, fazendo regressar a bola ao campo russo. Se Putin não for, e com toda a certeza não vai, a Istambul, abre-se a caixa de Pandora anunciada no "tweet" de Trump.

4. Note-se a ironia de Trump no "tweet", ao referir que Putin esteve "demasiado ocupado" nas celebrações do 9 de Maio - com uma "bicada" histórica suplementar sobre o papel dos EUA na Segunda guerra mundial. O tom de Trump face à Rússia está claramente a mudar. O efeito nisto do acordo assinado com Kiev sobre as "terras raras" é muito evidente e a "cimeira" comemorativa em Moscovo não lhe foi indiferente e deve ter soado aos seus ouvidos como um evento irritante. Se a isso se somar a luz verde entretanto dada ao envio de mais material militar para a Ucrânia, parece estar criado um "mood" em Washington cada vez menos simpático para Putin. Veremos agora como o presidente americano vai reagir à, mais do que provável, recusa de Putin de ir a Istambul.

5. O que mudou na atitude americana face à questão ucraniana? No início, havia a ideia de que Trump faria um "diktat" à Ucrânia, anunciando o congelamento da ajuda militar e impondo-lhe a aceitação de uma derrota (parcial) face à Rússia: perda de território (desde logo, a Crimeia), impossibilidade de entrada na NATO, eleições internas (com afastamento de Zelensky). Era o Trump "fazedor de paz"... em 48 horas. Putin esfregava as mãos de contente. Lentamente - porque foi algo lentamente - as coisas foram mudando. O efeito da imagem "Trump-está-no-bolso-de-Putin" deve ter-se começado a sentir naquele ego sem limite, tanto mais que o tempo de Moscovo era muito mais lento do que os sucessos rápidos que o presidente americano queria obter para dourar a sua imagem pública. A Zelensky, depois de o humilhar, Trump comprou o subsolo a preço de saldos. Com Putin, passou agora à fase do encosto à parede, com a cena do cessar-fogo a servir de pretexto. Não fosse isto trágico e teria a sua graça como jogo. É que não é evidente o "script" para as cenas dos próximos capítulos.

Europa

Ontem, no Mosteiro dos Jerónimos, recordámos a assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às então Comunidades Europeias. Há cinco anos, no...