A TVE deu ontem uma lição de como se constrói um painel plural de comentadores. Em Portugal, já quase não se estranha que, na maioria dos debates, cada vez haja menos contraditório ou que ele seja caricatural ou de falsa representatividade. Depois, queixem-se das audiências!
8 comentários:
Ainda agora tive de desligar o telefone por já não conseguir aguentar um programa do Observador sobre as eleições espanholas. Todos os canhões apontados aos "partidos nacionalistas", com um desfilar de "argumentos" copiados do mais bafiento discurso nacionalista espanhol. Até descobriram que os catalães não são um povo!
Eu bem sei que 52,8% do Observador estão nas mãos de uma firma espanhola (tem vindo a aumentar), mas podiam ser mais discretos e "fingir" que ali há pluralismo.
Na minha modesta opinião, além do contraditório, falta sobretudo Qualidade nos comentadores ( comentadeiros, como agora jocosamente os apelidamos, justamente por isso ).
Em Portugal não existe verdadeiramente liberdade de imprensa.
Existe liberdade de imprensa no sentido em que ninguém é perseguido pelo que lá diz ou escreve e também ninguém vai para casa com medo de perder o emprego ou até ser agredido por qualquer afirmação que tenha feito.
Contudo falta algo de fundamental para que se possa considerar uma comunicação social verdadeiramente livre, falta o pluralismo. O caso dos canais de notícias por cabo é ilustrativo, sendo que a quase ausência de pluralidade de opiniões se acentuou muito desde o advento da CNN P e do tal protocolo de colaboração com o Observador.
Quase de um momento para o outro o ecrã foi invadido por dezenas de comentadores de direita, que se sucedem, revezam e repetem interminavelmente.
Nesses canais de notícias a situação é particularmente grave no que se refere ao exercício da profissão de jornalista. Os jornalistas de esquerda têm de facto acesso negado aos microfones e camaras de TV.
Em mais de três dezenas de jornalistas que habitualmente opinam na SICN, Canal 3, CNN P e CMTV, APENAS DOIS são de esquerda, Daniel Oliveira (SICN) e Anabela Neves (CNNP).
Por amor de deus (com letra pequena que eu sou ateu)!
Os jornalistas de esquerda têm acesso vedado? Basta ver frequentemente a RTP3 para perceber a "onda" daquilo. E não é só ali, é em todo o lado.
Quanto ao contraditório, basta ver como desde os comentadores às peças noticiosas, há determinados tipos de opinião que nos são impingidos sem que alguém possa argumentar em contrário.
Pensem na questão da imigração. Já viram alguém na TV fazer eco da "vox populi"? Nem pensar! Só se pode dizer que todaa imigração é bem vinda, que é fantástica e absolutamente necessária.
Pensem na questão do racismo. Já viram alguém na TV contestar abertamente o discurso quase oficial de que somos todos uns negreiros em potência?
E a lista continuava, bem longa. Mas como estes dois exemplos já devem ser suficientes para eu levar com a etiqueta de porco fascista, fico-me por aqui.
A falta de pluralismo não se fica, apenas, pelas questões políticas. Até em questões de gosto, há uma espécie de discurso único.
Vejam na arte: quantas vezes viram alguém na TV contestar arte pública de "artistas de renome"? Não se pode. Ou de arquitetos de topo? Impossível! Se o Siza plantar um cubo branco no cimo de um monte, só se pode dizer que melhorou a natureza. Qualquer coisa abaixo disso é heresia.
Estamos no verão com os seus festivais de música. Veem alguma reportagem relativa aos concertos de música mais pesada? Nada! Dez ou vinte mil pessoas a ouvir Metal contam menos do que quinhentas em Perdigão da Pena Torta com o seu festival de jazz alternativo. Aí vai estar uma reportagem para cobrir o importante evento, de certeza.
Francisco F.,
Não ser xenófobo, nem racista é uma questão de decência humana, não tem nada a ver com ser de esquerda ou de direita. Portanto se os media têm alguma pedagogia nesse sentido fazem muitíssimo bem.
O que o PedroM disse, e com bastante razão, é que o jornalismo nacional, sob a capa de independência, se alinha globalmente pelo pelo diapasão neoliberal, veiculando muitas vezes o pensamento político-económico desta área política como modelo inquestionável.
Quanto às artes, dou-lhe alguma razão.
Francisco de Sousa Rodrigues, obrigado pelo seu comentário porque ele veio - precisamente -, ao encontro do que eu quero expressar: há um pensamento único, definido por pessoas como si, que estabelece padrões sociais e de caráter e que, consequentemente, diaboliza quem pense de forma diferente.
As etiquetas que me colou à testa de forma maniqueísta são a perfeita expressão do mal de que padecemos.
Francisco F.,
Nada a acrescentar, estamos conversados.
Enviar um comentário