terça-feira, julho 25, 2023

Males que não se confundem


Após a queda das ditaduras ibéricas, gerou-se a ideia de que Espanha e Portugal estavam imunes ao surgimento de partidos de extrema-direita, graças à vacina do autoritarismo vivido. Pensava-se que os partidos da direita democrática seria capazes de seduzir, ainda que "by default", os votantes mais propensos a soluções radicais do extremo político discriminatório - fossem elas securitárias, xenófobas ou racistas, anti-identitárias ou de moralismo saloio-machista. Quem assim pensou enganou-se.

Costuma dizer-se que a extrema-direita propõe respostas erradas para problemas reais. Nem sempre é assim, nem sempre os problemas existem realmente. Muitas vezes eles são meras caricaturas, trajadas de mal-estar e de um discurso javardo, sobre temáticas defensivas de certos grupos.

No Vox e no Chega encontramos tudo isso, mas também encontramos diferenças que derivam de especificidades próprias.

Sendo a Espanha um país onde as tensões regionalistas há muito colocam riscos para a unidade do país, o Vox soube cavalgar a nostalgia unitarista, a que somou a bandeira de defesa do país retrógrado, aturdido pelos avanços das agendas identitárias.

O reaccionarismo do Vox, com laivos fascistóides iniludíveis, tem assim raízes muito próprias, que o diferenciam do Chega. Contudo, um bom resultado do Vox nestas eleições será naturalmente um alento para o Chega, sendo embora males que não se confundem.

(Texto publicado no semanário Novo, escrito em meados da semana passada, como resposta à pergunta sobre se um bom resultado para o Vox espanhol teria consequências favoráveis para o seu congénere português).

6 comentários:

manuel campos disse...


"Após a queda das ditaduras ibéricas, gerou-se a ideia de que Espanha e Portugal estavam imunes ao surgimento de partidos de extrema-direita, graças à vacina do autoritarismo vivido."

Também se pensou o mesmo de sólidas democracias e regimes que a seu tempo foram brutais e nos levaram à WWII.
Passaram quase 50 anos sobre umas (2 gerações) e 75 anos sobre os outros (3 gerações), o mundo e a vida dos que o habitam mudaram mais nos últimos 25 anos que nos dois (ou mesmo três séculos anteriores), no sentido em que

O problema é que "se pensou" e "se continua a pensar" em muitos meios (e alguns bem influentes), por convicção arreigada ou comodismo intelectual, dada a terrível dificuldade que é saber o que fazer com o que "aí está".





Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Um retrato preciso que de caricatura nada tem 😁

Penso que uma das características centrais dos adeptos dessa área, especialmente aqueles que não beneficiraim nada desse tipo de políticas, é a necessidade de diminuir, deitar abaixo, desqualificar, ou seja padecem da doença da inveja.

manuel campos disse...


Apagou-se ali o fim da frase por inadvertência ou mesmo nabice pura.

Aqui segue:

Passaram quase 50 anos sobre umas (2 gerações) e 75 anos sobre os outros (3 gerações), o mundo e a vida dos que o habitam mudaram mais nos últimos 25 anos que nos dois (ou mesmo três séculos anteriores), no sentido em que deixámos de poder acompanhar minimamente tudo o que vai acontecendo e como vai acontecendo e, portanto, de fazer as necessárias interligações.
Isto mesmo para pessoas com conhecimentos razoáveis nos campos culturais e científicos, quanto mais para a grande maioria da população mundial.

J Carvalho disse...

Na verdade tudo muda e mudou muita coisa. Mas há um coisa que não muda, a natureza humana. Por isso "O Eterno Regresso do Fascismo".

Joaquim de Freitas disse...

J.Carvalho disse: "Na verdade tudo muda e mudou muita coisa. Mas há um coisa que não muda, a natureza humana. Por isso "O Eterno Regresso do Fascismo".

Muito bem dito. A besta levanta a cabeça por todo o lado. E em França. A questão de um golpe de extrema-direita não se coloca mais em termos de possibilidade, mas de tempo. Dissolver a polícia não é mais uma ideia irracional, mas uma necessidade de curto prazo.

Leiam bem:

"“Na carreira de polícia você necessariamente cometerá uma ilegalidade. Hoje temos que tratar a polícia diferente, deve haver desigualdade no tratamento da polícia em favor desses polícias. Deve haver uma desculpa para a violência, eu peso as minhas palavras. Tem que passar por um determinado tribunal, ou uma comissão, ou um determinado órgão.»


Este homem não é apenas o sósia do vilão de Avatar, o superpolícia que massacra os habitantes de Pandora em nome de corporações capitalistas.

Jean-Michel Fauvergue é o ex-chefe do RAID, uma unidade policial especializada em antiterrorismo e crime organizado, recentemente usada contra ambientalistas e nos subúrbios. Acima de tudo, foi deputado macronista durante cinco anos e agora é conselheiro de segurança de Macron.

O lobo entrou no redil...

É, portanto, um homem do seio do poder que pede, num canal de extrema-direita, que os polícias supostos garantidores da lei beneficiem oficialmente de medidas excepcionais que lhes permitam espancar ou matar com a garantia de estarem protegidos: “uma desculpa para a violência”.

Ele agora reconhece que os policiais, que ele conhece bem, cometem actos ilegais. Mas, em vez de impedi-los de fazê-lo, seria necessário criar um sistema de justiça excepcional especialmente para eles.

Essas declarações ocorrem quando centenas de policiais tiram licença médica ilegal para contestar decisões judiciais. O CRS 8, conhecido pela sua ultra violência e alvo de várias denúncias de violência policial, publicou uma foto da instituição alegando "actividade zero" em apoio ao "BAC de Marselha", que deixou um jovem como morto em 1º de Julho, e "ao colega de Nanterre" que executou Nahel no final de Junho.

O que o governo faz? Nada. Ele permite que oficiais armados ameacem a justiça enquanto retêm os seus salários graças a médicos complacentes.

Eu conheço um discurso do chefe da SA hitleriana, antes de Hitler chegar ao poder...copia conforme do discurso acima. Ou vive versa.

O fascismo, o nazismo, sentem-se revigorados, quando os líderes da UE vão abraçar Zelensky a Kiev.


Nuno Figueiredo disse...

não teve, enhorabuena...

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