Compramos um livro com a intenção de o ler, se não de imediato, pelo menos num prazo razoável. Em regra, ninguém guarda um livro cinquenta e tal anos sem lhe tocar. Pois foi isso que me aconteceu com estas "Histórias à Margem de um Século de História", de Francisco Keil do Amaral, editado pela Seara Nova, em 1970. Mas como é que posso ter a certeza de que nunca abri o livro? Muito simples. Porque tinha todas as suas páginas "fechadas", necessitando de ser aberto com uma faca. Já não me acontecia fazer isto a um livro há uns tempos! Pois aconteceu ontem.
O livro integra uma coleção que começa com o " 'O Mundo' de 5 de Outubro de 1910 - Um Jornal na Revolução", de Jacinto Baptista, segue com três volumes de estudos económicos (um de Armando de Castro e outros de dois pseudónimos, "Eduardo Guerra" e "Álvaro Neto") e com o clássico de Victor de Sá "A Crise do Liberalismo e as Primeiras Manifestações das Ideias Socialistas em Portugal (1820-1852)".
Dou conta de que sou proprietário de um exemplar de cada um desses livros. Li com atenção, e tive o privilégio de o comentar, à época, com o seu autor, numa noitada em casa de Carlos Eurico da Costa, o livro de Jacinto Baptista. Estudei com cuidado, lembro-me bem, o volume de Victor de Sá, que marcou muita gente da minha geração. Terei folheado, não mais, os restantes.
O grafismo de todas as capas é do meu velho amigo e artista plástico Guilherme Lopes Alves, com quem ando, há tempos, para ir beber um copo a Almoçageme.
Estou a deliciar-me com estas notas de Keil do Amaral, que começam nas lutas entre os liberais e absolutistas e terminam no meio da I República. O livro era para chamar-se "Papéis de Família", o que espelhava melhor a sua natureza, mas o editor teve outra ideia.
Este é um livro sem tempo. Podia ter sido lido em 1970, quando eu andava nas "guerras" associativas e me preparava para entrar no meu primeiro emprego. Leio-o agora, com mais calma, com mais tempo, talvez com um pouco mais de sabedoria para o poder apreciar. Cheguei a tempo.
13 comentários:
Tenho saudades desses livros, que era preciso uma faca para os Abrir. Em contraprtida, comprei ontem, aqui perto, num alfafarrbista, Pappilon, Henry Charrière, tradução de Mario Varela Soares, Livraria Bertrand. Já o tinha lido antes, estou a reler, que grande odisseia. Grande bem haja e uma excelente tarde.
Tenho muito livro desses tempos não lido mas nenhum com as páginas por abrir, era a primeira coisa (e pelos vistos em vários casos a única) que lhes fazia, com os cuidados ajustados ao tipo de papel e a faca de cozinha que tivesse sido a última a passar pelas mãos do amolador.
Dependendo do papel e da nossa falta de jeito ou precipitação, de vez em quando lá ficava o corte torto, outras vezes o topo do livro ficava tão cheio de borbotos de papel que era preciso ir buscar uma escova.
Não tenho este do Francisco Keil do Amaral.
Do Jacinto Baptista só tenho “O 5 de Outubro” que, com este aqui, são as duas obras mais marcantes dele e que na altura o The Times Literary Supplement considerou obra de referência.
“A Crise do Liberalismo e as Primeiras Manifestações das Ideias Socialistas em Portugal (1820-1852)" tenho-o numa edição posterior ainda que agora não possa dizer de que ano pois estou a uns bons quilómetros dele.
De Armando Castro tenho “Portugal na Europa do seu tempo".
Pois, senhor embaixador, com o mesmo tempo de compra tenho ali (no sítio exacto da ordem alfabética da ficção) um exemplar do Ulisses, mal começado. E o pior é que mesmo ao lado desse tenho outro exemplar do Ulisses, esse comprado umas duas dezenas de anos mais tarde , numa noite de voluntariado numa feira do livro de uma das parais do Algarve...quando me convenci que nessas férias é que era; desse ainda li menos páginas. Mas quando os ler - um ou outro - vai ser uma delícia deambular por Dublin durante um dia inteiro...
MB
Sr. Embaixador. O Guilherme António Faria Lopes Alves (Guilhas), veio hoje, do Mucifal, almoçar comigo, à Capital, uma bela Mão de Vaca com Grão. O grande artista, ainda está porreiro. Deixou, foi, de fumar.
Caro Tony
A pedido de alguém muito necessitado, que sou eu.
Onde é que ainda se come uma bela Mão de Vaca com Grão na capital?
Todos temos que ter um sonho que perseguimos toda a vida sabendo muito bem que o mais certo é que nunca o iremos concretizar.
Ler o "Ulisses" é para muitos de nós esse sonho.
Manuel Campos,
No meu caso, era a mais a faca que estivesse a jeito, sempre gostei muito de ler e dos livros que então existiam. Lembro-me de um, que eu e um amigo meu abrimos, com uma canivete suíço, dum poeta português, há muito falecido e que declamámos, a duas vozes. O poeta era Garcia Resende, declamámos à noite, num dos locais mais improváveis de todos. Saudações cordiais, L.
Tony, há um sítio muito bom para se comer Mão de Vaca com Grão na capital. Na minha casa. Traz o grão, eu forneço o resto, Alvalade. ;)
Caríssimo Manuel Campos. Eu cá, também tenho uma Cantina e de alta qualidade, mas sem fazer publicidade. O restaurante, é nos nos Olivais,(apesar de eu morar perto do Estádio de Alvalade), tem o nome de O Beiral. Vejo por lá, com frequência, maltas da RTP. A lista é variada, em função dos dias. A mão de Vaca é à terça; Cozido à quarta, etc. Ah.E todos os dias Bacorinho à Bairrada, a lenha. Tel. 218 511 637. Experimente e dê feedback. por esta via se o "Patrão" deixar. Abraço.
Lúcio Ferro. Obrigado. Mas tomei a devida nota. Pelos vistos, até somos vizinhos.
Caro Tony
Só lhe respondo agora porque tive que ir buscar um pano e tapar o teclado do PC, salivo com muita facilidade e podia descuidar-me.
Terça é um bom dia para mim mas não será na próxima nem nas seguintes, espero bem por essas alturas já andar a almoçar com frequência na minha cantina aí algures no país dado que, no último ano, não esteve fácil de por lá estar mais que 2 ou 3 dias de cada vez (e muito poucas vezes).
Mas irei experimentar sem dúvida e irei comentar sem dúvida por esta via, nestas coisas de comezainas o "Patrão" é muito compreensivo.
Obrigado e abraço para si
Boa noite.
Fiquei com o contacto, estou pelo centro, negócios e tal, vou ter de ir a LX deixar o toyota e buscar o alfa, mais dia menos dia. Tenho o alfa guardado mas, infelizmente, também tenho negócios pela capital, esse inferno chamado Lisboa. Seja como for, deixo lá o toyota, a barrar a garagem, trago o alfa. A minha janela de oportunidade é curta. Hoje foi terça feira, mas há outras terças feiras. Porreiro. Estrada, comer, beber, fazer amigos novos. Porque não, num tempo tão interessante quanto este em que vivemos, um homem salta quando tem de saltar.
Caro Manuel Campos
se passar por Vila Real, a cidade berço do nosso anfitrião,
pode degustar uma excelente mão de vitela com grão,
à quinta-feira, no restaurante Lameirão.
Bom apetite
Elisa Serra
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