segunda-feira, julho 17, 2023

"Afonso" (Mora)


Mora fica próximo do "vermelho" Couço, nome que ainda faz sonhar os "ontens que cantaram" dos meus amigos comunistas. Também se lá chega ido de Avis, de Montargil ou de Pavia. O "Afonso" é uma casa com bem mais de meio século, no centro da vila. A lista é farta, com os clássicos da culinária alentejana. Por ser fim de semana, estava à pinha. Por isso, as vitualhas essenciais tardaram um pouco mais do que a minha paciência. Fui sustentando esta a queijo (um esplêndido curado, talvez de Nisa), pão, azeitonas e vinho (razoável, de Estremoz). Foi pena terem-se esgotado as sobremesas que escolhemos, talvez porque fossem as escolhas mais certas. Acabou por ser um almoço simpático, idêntico à memória de outros que por ali tive, agora a um preço já um tanto puxadote. É a vida! 

Jane Birkin


Era (ainda) longilínea, embora longe do seu esplendoroso tempo "modiglianico". Não parecia tão bonita como a imagem que dela guardava. Mas seria mesmo ela? Tentei olhá-la de frente, junto a um balcão do Conran, em Londres. Abriu a boca para dizer qualquer coisa e - pronto! - lá estava o famoso espaço entre dois dentes da frente ("les dents du bonheur"), que tanto animava os seus fãs (tal como os de Vanessa Paradis ou Léa Seydoux). Era ela! Era Jane Birkin. Nunca achei que fosse grande cantora, nem grande atriz. Mas, como mulher, teve imensa graça. Bastante mais do que a filha, Charlotte, saída do casal que fez com Serge Gainsbourg, o qual, por acaso, tinha morrido pouco tempo antes desse meu "encontro" com Birkin, em South Kensigton, na cidade onde ela tinha nascido e onde deu belo sinal de si no "Blow up". Jane Birkin morreu agora. Era uma rapariga da minha idade.

sábado, julho 15, 2023

A Turquia e o ocidente

 


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"Bonne adresse"


Nesses idos de 80 do século que há muito se foi, estando de passagem pela cidade onde ele estava colocado, bastante longe de Portugal, passei a visitá-lo, para lhe dar um abraço. Não era um amigo íntimo, mas tínhamos construído um cordial entendimento pessoal. Tratávamo-nos por "você", talvez fruto da diferença de idades ou daquelas irrecuperáveis casualidades que fazem com que, no primeiro contacto, não tivéssemos desformalizado totalmente o relacionamento.

Era um homem simpático, disponível, embora um pouco "afetado" e - mesmo muito! - preocupado com aquilo que se costuma qualificar como os "sinais exteriores da carreira".

Essa é a auto-caricatura em que alguns profissionais da "casa" se deixam cair: uma certa forma de vestir, o desenho de uma rede de conhecimentos "certos", convites a quem mais convém, carro adequado ao seu estatuto, férias com grupos selecionados, opção por desportos típicos das elites com que se querem identificar, um discurso sempre cuidadoso, na política como no resto, para não criar arestas nem suscitar rejeições, etc.

Só não casou "bem", para completar aquele perfil, porque é dos que não estão para aí virados. E, verdade seja, depois de todo esse esforço, mas também fruto de alguns erros próprios, a sorte profissional acabou por lhe não sorrir. Mas, sempre que o encontrei, não me parecia infeliz. Parecia-me viver bem acomodado àquilo que tinha conseguido. 

A certa altura daquelo nosso encontro, a conversa derivou, já nem sei bem porquê, para a zona onde, quando em Lisboa, cada um de nós vivia.

Disse-me que necessitava de trocar urgentemente de casa. Estava insatisfeito com o lugar apartamento que então possuía. "Imagine você que moro numa rua Capitão Félix, em Benfica! Acha que posso dizer isso a um colega estrangeiro?"

Dei uma gargalhada. E, sem a menor relutância, expliquei que vivia em Santo António dos Cavaleiros, num andar barato, alugado desde os meus tempos de tropa.

Olhou-me com uma espécie de horror social! "Mas isso é quase em Loures! Não é "bonne adresse"!

Não levei a mal. Achei mesmo delicioso o francófono comentário, que me ficou para sempre na memória e que muitas vezes tenho citado, sempre sem o nomear.

Anos mais tarde, vi-o sair de carro de uma agradável moradia, numa zona socialmente prestigiada de Lisboa. Já reformado, tinha, finalmente, "une bonne adresse", concluí.

Soube que morreu. Será o seu último "adresse".

sexta-feira, julho 14, 2023

Repito, as vezes que for necessário


Cada vez valorizo mais o contraste de perspetivas sobre a guerra na Ucrânia que a CNN Portugal cuida em manter. Como dizia o genial Nelson Rodrigues, "toda a unanimidade é burra".

A democracia é isto mesmo: poder ouvir todas as vozes. Eu defenderei sempre que possam ser escutadas as opiniões com que não concordo. Para pensar como eu... basto eu!

Esperança

Pedi uma tosta mista e uma cerveja. Entrei à conversa com o rapaz ao balcão e comentei que, com a chegada do pessoal para as jornadas católicas, o negócio iria ser muito bom. Respondeu-me: "Estamos mesmo a pensar vender tostas místicas..." Não perco a esperança nesta juventude.

quinta-feira, julho 13, 2023

Os não-deputados


Creio ter sido no ano de 1996. Eu era secretário de Estado dos Assuntos Europeus e, num qualquer dia, estava na bancada do governo, na Assembleia da República, a responder aos deputados. Ao meu lado, tinha, como única companhia, o meu colega secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. Chamava-se António Costa.

Entre os deputados da oposição que me colocaram questões, um deles, Luís Marques Mendes, abandonou o plenário antes de eu ter tido oportunidade de responder à pergunta que me colocara. Irritei-me. Quando passei pela resposta que lhe era devida, fiz uma ironia algo "grossa" e desajeitada. 

O PSD entrou em ebulição, os deputados do PS ficaram encavacados com a minha ousadia, ao provocar alguém que, daí a dias, ia passar a líder parlamentar dos social-democratas. 

Ao meu lado, António Costa, em voz baixa, reagiu: "O que você foi fazer, Francisco! Agora, vai ser o bom e o bonito!".

E foi. A honra da bancada do PSD foi invocada por alguém exaltado, que desancou a minha ousadia, ninguém do PS saltou em minha defesa, eu decidi, erradamente, não me retratar e António Costa lá teve de defender-me, "tant bien que mal". Foram uns minutos menos agradáveis.

Nesse dia, aprendi que o meu estatuto de membro (júnior) do governo não me permitia colocar-me ao nível dos deputados. É que eu não tinha sido deputado, não era "um deles", pelo que eles não aceitavam (PS incluído) que eu atirasse graças e ironias sobre uma figura grada do estrelato oposicionista (na ocorrência, o hoje meu amigo Luís Marques Mendes). Ah! E ser independente também não ajudava nada.

Medidas todas as distâncias, lembrei-me disto ao ver a sarilhada em que Pedro Adão e Silva se meteu, ao criticar os deputados da comissão parlamentar de inquérito à TAP, dizendo, aliás, algumas coisas certas e óbvias. Mas o Pedro também nunca foi deputado...

quarta-feira, julho 12, 2023

Hoje

Hoje é o dia da insustentável leveza das redes sociais.

Ucrânia

Blinken à NBC: "Ultimately, Ukrainians have to decide when to put an end to this, because this is their country. This is their land. This is their future. These are their decisions."

Media

Anda aí um rebuliço (gosto destas palavras com sonoridade quase gráfica) na comunicação social, com mudanças da titularidade da propriedade e com novas chefias a despontar. Se disto resultar uma melhor informação, tudo bem!

Rio

Não tenho a menor intimidade com Rui Rio, mas ando na vida há tempo suficiente para, há muito, ter concluído que é uma pessoa a quem a palavra honestidade se cola à pele.

Guerra no écran

No acompanhamento televisivo que tenho feito da guerra na Ucrânia, na CNN Portugal, dei-me conta que me enganei algumas vezes e admito ter medido menos bem algumas situações. Mas nunca encontrei razões para alterar a firme opinião que tenho, desde o início do conflito, sobre os principais atores e as suas motivações. Bem pelo contrário.

terça-feira, julho 11, 2023

O esgar de Sunak

É chocante observar o esgar usado por Rishi Sunak, num video, ao falar, com alguma crueldade, das medidas anti-imigração. Vou dizer algo que sei politicamente incorreto: a origem étnica de Sunak agrava esse choque.

A Ucrânia e a NATO

Em Vilnius, ficou claro o óbvio: a Ucrânia será membro da NATO se "prevalecer" na guerra contra a Rússia. O contrário também é verdade: se a Rússia vier a "prevalecer", a adesão não será possível.

EUA bem

O objetivo da NATO é procurar criar, no limite através de medidas de defesa comum, segurança aos Estados que já são membros da organização. A extensão dessas medidas a Estados terceiros tem de fazer-se sem aumento de riscos de segurança para a organização. Os EUA decidiram bem.

Os erros da Rússia

Se, em fevereiro do ano passado, a Rússia tivesse conseguido colocar a Ucrânia "de joelhos", como ficou evidente ser a sua intenção no frustrado movimento de tropas para Kiev e Kharkiv, teria ficado dona do jogo e podia estar numa outra posição para negociar com os EUA. Ao ter falhado clamorosamente no plano militar, provocou exatamente o contrário: ressuscitou os seus piores demónios e está agora a pagar um elevado preço, nomeadamente no reforço conjuntural da NATO. No fim de contas, há que convir que Prigozhin tinha alguma razão: alguém levou Putin a cometer aquele imenso erro, avaliando mal a relação de forças no terreno. Terão sido Shoigu ou Gerasimov, como ele também diz? Como exercício político-militar, a Rússia é hoje um "case study" fascinante.

O que aí vem

Todo este afã de Zelensky para garantir um calendário garantido para entrada na NATO, não se destina apenas a tentar evitar a repetição de Bucareste, em 2008. Tem como objetivo (um tanto ingénuo) condicionar a flutuação dos atuais aliados e um possível presidente Trump, em 2025.

Fronteira do Caia

O pragmatismo e o bom-senso fazem com que, no histórico das relações Portugal-Espanha, o equilíbrio de interesses prevaleça sempre sobre a tentação de cumplicidades ideológicas. Cavaco deu-se lindamente com González, tal como Guterres com Aznar. Se Feijóo vier a sair na rifa eleitoral, Costa saberá encontrar o tom certo.

Espanha

No único frente-a-frente das eleições espanholas, o líder do PP espanhol, Núñez Feijóo, revelou-se um melhor "performer", embora com uma cara "expressionless". Foi a grande novidade, face a um Sánchez defensivo e nervoso. Tudo indica que deve ganhar.

Vale tudo, não é?

Pelos vistos, ainda bem que os EUA tinham, à mão, bombas de fragmentação, para acorrerem à necessidade de munições da Ucrânia. É que, se não fosse esse o caso, talvez arriscassem oferecer armas químicas ou biológicas. Afinal, se já vale tudo...

RTP

Ao protestar, junto da administração da RTP, sobre os desenhos visando a polícia, o governo revela que não interiorizou que, estatutariamente, aquela entidade não tem hoje a menor interferência na direção de informação e que a tutela da empresa é o Conselho Geral Independente.

segunda-feira, julho 10, 2023

Jornada Mundial da Juventude

Jornada Mundial da Juventude: rezem para que corra bem!

Isto está bonito...

O que levou à completa desaparição de agentes da polícia das ruas da Baixa lisbieta? Os carros já passam no vermelho dos semáforos com toda a "lata", ninguém respeita passadeiras e, aparentemente, já ninguém se importa com nada. 

Longe dali, perto da minha casa, a acompanhar funcionários da MEO, dois agentes da PSP (sem boné, nova moda), olham o telemóvel.

Isto está bonito, está!

Biden

Há um trágico dilema nos e com os EUA. Biden é, a longa distância, a pessoa mais bem preparada em termos de política externa e de segurança. Por outro lado, dá mostras de extrema fragilidade física e de expressão. Ter o mundo dependente deste dilema é trágico.

BRICS

Brasil e China vão situar-se em campos opostos no momento de decidir sobre o alargamento dos BRICS. A China quer usar essa plataforma como eixo para o seu futuro poder global, pelo que deseja abrir o grupo. O Brasil percebe que a sua força relativa se diluirá com esse alargamento.

Manda quem pode

Se Van der Leyen tiver uma resposta acomodatícia ou equívoca a uma eventual pressão dos EUA para a retoma das negociações da entrada da Turquia na UE, ficamos a conhecer o nome da próxima SG da NATO. Chama-se a isso "the powers that be".

Wagner

Putin "proposed further employment options and further combat options" em conversa com Prigozhin, dias depois do Wagner ter liquidado 13 militares da força aérea, na marcha sobre Moscovo. Isto revela a força do Wagner e a sua indispensabilidade na ação externa russa.

O dito do primeiro-ministro

O que deveria António Costa ter dito, depois do problema com o SE da Defesa? Simples: que lamenta o que aconteceu, que espera que a justiça faça o seu trabalho com serenidade e rapidez e que a democracia tem sempre, como se vê, mecanismos para superar acidentes de percurso.

O dito do ministro

Tenho dúvidas sobre se um ministro (que já não é comentador) deveria dizer o que disse sobre a CPI da TAP. Mas só disse uma evidência.

Tapetes

Erdogan joga com o seu peso geoestratégico. Diz que sim à Ucrânia na NATO enquanto (até ver) diz que não à Suécia. No final, os EUA acabarão por lhe vender os F16 e, para fechar, como compensação, fará um qualquer gesto favorável à Rússia. Vende-se tapetes na Turquia.

Os britânicos estão arrependidos do Brexit?

 


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domingo, julho 09, 2023

Vasco


Num álbum qualquer, lá por Vila Real, existe uma fotografia, tirada na sala da nossa casa em Luanda, há quase 40 anos, em que se vê o Vasco, sentado no chão, debruçado sobre um imenso e excelente mapa de África, que eu tinha comprado em Londres. Nele, o Vasco ia antecipando a fantástica viagem de jeep que, tempos depois, iria fazer, entre Angola e Portugal. Ele estava tão fascinado pela qualidade do mapa, que a mim quase de nada servia, a não ser para o exercício da minha curiosidade geográfica, que, no final da noite, lho ofereci.

Ontem, ensombrou-nos uma bela festa a notícia de que o Vasco Corrêa Mendes tinha morrido nessa manhã. Tinha 88 anos. Mas o Vasco era daquele género de amigos que "adolescem" com o tempo, de tal maneira a juventude do seu espírito se sobrepunha sempre ao calendário.

Conhecemos o Vasco nessa Luanda difícil dos anos 80, com a guerra por todo o lado, com o recolher obrigatório a azucrinar-nos as noites. A casa do Vasco e dos seus primos Sérgio Guedes de Sousa e Zé Tó Arantes Pedroso - que se revezavam em Angola para tratar do negócio familiar da Guedal - foi o porto seguro de tantas e tantas jantaradas divertidas. 

A "casa dos Guedais", como lhe chamávamos, era uma espécie de ilha de boa disposição permanente, um "acelerador de trigliceridos", como eu a qualificava, à vista dos efeitos dos excessos de consumos líquidos sobre o meu fígado. Naquela cidade de Luanda, com uma vida então muito difícil, nós tivemos o inestimável privilégio de ser cooptados para esse grupo extraordinário, de sermos os parceiros constantes de uma mescla que ia variando à medida que os primos rodavam na sua tarefa de gestão. Quanta gente interessante - os chatos eram sempre dispensados! - por ali conhecemos! 

O Vasco era o mais aventureiro dos três primos. Era com ele que se montavam as melhores expedições à Quiçama, às lagostas do Mário, em Cabo Ledo, os pôr-do-sol no Morro da Lua. Um dia, conseguimos mesmo fazer uma improvável ida de Jeep à ilha do Mussulo, aproveitando uma conjuntural baixa-mar. Também guardo algures uma cobertura fotográfica desse feito, então raro.

Lá se foi o Vasco! Se calhar, ele gostaria que dispensássemos as nostalgias e bebêssemos um copo à sua memória. Foi o que ontem fiz, com a maior cumplicidade, com a Ana Poppe, alegre comparsa desses tempos de Luanda. Na festa de ontem, marcaram presença outros amigos do Vasco: a Graça e o Fernando Andresen Guimarães, a Papucha e o Fernando Neves, a Bá Burnay, o António Vallera. E, pela mesma razão que ali levou à ausência do Vasco, marcámos falta triste a alguns mais. "Cheers", Vasco! À amizade! 

(Um perfil do Vasco aqui.)

França: o saldo

 


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sexta-feira, julho 07, 2023

Não, não vale tudo

A questão das armas de fragmentação estabelece uma fronteira moral entre os aliados. E isto nada tem a ver com a Ucrânia. Tem a ver com a decência.

Nunca mais é sábado!

O secretário de Estado demitiu-se na sexta-feira. Quem mandou o "Expresso" deixar de sair aos sábados?

Ah! Pois é!

O PS concordou com o regresso dos debates quinzenais com o primeiro-ministro. Sem querer ser desagradável para ninguém, não se está mesmo a ver que quem ganha com esta decisão é António Costa? Ou já viram o primeiro-ministro perder um desses debates? Costa sabe-a toda...

quinta-feira, julho 06, 2023

O café da Caravela e o bilhete do comboio


Até há alguns anos, havia na Praça da República, em Viana do Castelo, junto ao chafariz, a esplanada da Caravela. Quando passava pela cidade, gostava de me sentar por ali a digerir, com um café, a pilha de jornais e revistas que sempre comprava (hoje compro cada vez menos imprensa em papel) na excelente, e felizmente eterna, tabacaria situada da esquina da praça com a rua Manuel Espregueira.

Nessas ocasiões, a minha mulher, com quem eu entrava numa intravável meia hora de conjuntural incomunicabilidade, atravessava a praça e entrava na Adolfo Dominguez. Vinte minutos depois, surgia com uns sacos de roupa. Feitas as contas, a paragem para um café na praça tinha saído "uma nota". Entre nós, passou, para sempre, a dizer-se que o café na Caravela era o mais caro do mundo! 

A que propósito vem isto? 

Desde há uns anos, descobri que, em três estações de comboio, em Lisboa e no Porto, existem umas lojas de venda de restos de edições de livros, a preços magníficos. São coisas que as livrarias normais já não devem aceitar. Há por ali de tudo, maioritariamente monos ilegíveis, lado a lado com livros bem curiosos para gente curiosa sobre quase tudo, como ainda é o meu caso. E como faço parte daqueles que vão para os comboios (para os aviões também) com imenso tempo de antecedência, já incluí na minha rotina passar uns minutos naquelas lojas.

Hoje, tendo chegado à estação bem antes da hora do comboio, lá fui direito ao meu novo vício. A imagem mostra aquilo que dali trouxe: um pequeno estudo de Vasco Pulido Valente que não recordo ter lido, o primeiro volume de uma conhecida crónica satírica sobre a presidência de Nicolas Sarkozy, um livro de conversas conduzidas por Artur Portela e um outro de ensaios do "Otavinho" Frias, diretor da Folha de São Paulo, que conheci no Brasil e que morreu há cinco anos. Tudo isto por pouco mais de 10 euros! 

O preço dos bilhetes de comboio têm um desconto para seniores, modo elegante de designar os velhos que somos, mas, pelo menos no meu caso, passaram a ter o que podemos qualificar como uma sobretaxa para curiosos obsessivos, como também me orgulho de ser. 

quarta-feira, julho 05, 2023

"O Marcelo"

"O Marcelo" é isto e aquilo, "já não se pode ouvir" e coisas assim. Mas, se adoece, parte do país é atravessada por uma pré-orfandade, o que prova que, na realidade, os portugueses gostam dele, se sentiriam inseguros sem ele e sem a sua ubiquidade. As melhoras, caro presidente!

Tape

Tenho a sensação de que o relatório da comissão parlamentar à TAP interessa muito pouco. A obsessiva transmissão televisiva das sessões da comissão fez com que cada português tivesse entretanto criado a sua verdade. Se coincidir com o que o relatório diz, ele é bom. Se não...

E cá?

É muito sintomática a atitude da direita espanhola ao dizer que, se vier a ser mais votada, espera que a esquerda a ajude a dispensar a necessidade da extrema-direita para governar. Portanto, a direita não rejeita em absoluto a extrema-direita, apenas "passa a bola" à esquerda.

terça-feira, julho 04, 2023

Empregos

Em Portugal, há negócios que remuneram mal os seus trabalhadores, embora sejam muito lucrativos. Não é desses que vou falar.

Falo da imensidão de pequenos negócios, em geral no comércio e serviços, que geram lucros ínfimos e que, naturalmente, oferecem salários muito baixos. São tarefas que há cada vez menos portugueses a quererem aceitar, muitas das quais por serem penosas, em outros casos, por estarem socialmente desqualificadas. Os negócios pouco lucrativos oferecerão sempre, necessariamente, baixos salários. Ou isto não é uma evidência?

Não será por acaso que, para a execução dessas tarefas, apenas se oferecem estrangeiros oriundos de sociedades mais pobres, para quem o pouco que lhes pagam em Portugal acaba, não obstante, por ser interessante. Quem se lembra das tarefas executada pela emigração portuguesa que ia para a Europa dos anos 70 percebe do que falo.

Por isso, querer dificultar o acesso desses estrangeiros - "já há estrangeiros a mais!" - ao nosso imenso mercado de tarefas pouco qualificadas e de baixos salários, onde se verifica uma crescente escassez de mão-de-obra nacional, é uma atitude sem o menor sentido, economicamente estúpida e, no fundo, se bem pensarmos, desumana.

Repito que este post não trata do caso de negócios rentáveis, que empregam muitos estrangeiros, e que, não obstante isso, pagam mal. Essa é outra conversa.

Em que ficamos?

Andamos, há muito, a gastar balúrdios a promover pelo mundo a imagem de Portugal: praias, verde, gastronomia, segurança, bom acolhimento, local para investir. Os estrangeiros acreditaram e vieram, para ficar ou visitar. Agora: aqui d'el rei que há gente a mais! Em que ficamos?

SNS (4)

Já não percebo nada! Sou eu quem está a ler mal ou a dedicação exclusiva dos médicos é, afinal, compatível com trabalho fora do SNS ?

Turistas

Se se vier a considerar que a pressão turística, em certas cidades, ameaça atingir níveis preocupantes, não teria maior objeção a que houvesse um aumento sensato da taxa turística, com bem publicitada alocação das verbas a obras feitas em benefício dos "nativos".

"Small print"

Terei estado desatento, mas não notei que a ERC tentasse pôr termo ao escândalo que é certas publicações, cada vez mais, procurarem diluir a separação entre os conteúdos jornalísticos e as páginas de publicidade paga. A identificação desta última é feita quase em "small print".

SNS (3)

E se nos deixássemos de ilusões e aceitássemos que, face aos constrangimentos financeiros, à incapacidade de atração de recursos humanos e à pressão dos números, um SNS, num país com a riqueza de Portugal, pode sofrer melhorias mas nunca deixará de ter grandes deficiências?

SNS (2)

Posso estar enganado, mas começa a criar-se um caldo de cultura político-jornalística que, não tarda muito, levará ao pedido de demissão do ministro da Saúde e do CEO (que raio de nome!) do SNS. Como se isso resolvesse alguma coisa!

SNS (1)

Tenho suficiente consideração pelos médicos do SNS para admitir que, seguramente, não se demitem de funções de chefia por dá-cá-aquela-palha. Mas é estranho ouvir isso anunciado, com uma frequência impressionante. Será que, depois, regressam aos cargos?

segunda-feira, julho 03, 2023

OKimby

Um político socialista acaba de criar um imaginativo émulo para o clássico NIMBY (not in my back yard). Trata-se do OKIMBY (OK in my back yard). O PS pode ser muito divertido.

domingo, julho 02, 2023

Mateus


Ao final da tarde de hoje, ir à Casa de Mateus para um espetáculo de dança - nos pátios, escadarias, jardins, capela e eira - foi um privilégio para quem, um tanto por acaso, estava por Vila Real.

O futuro da democracia em Israel

 


Ver aqui.

Papa

Afeta a imagem de um Estado laico esta coisa dos perdões de penas, por ocasião das visitas de papas a Portugal. Além de que, sem a menor justificação, a decisão beneficia os infratores e desvaloriza o comportamento de quem cumpre a lei.

Ironia


A vingança serve-se quente: os iranianos pedem que a França trate bem os seus cidadãos. Para quem tem uma grande autoridade moral em matéria de respeito pelos direitos cívicos, só pode ser uma ironia. De todo o modo, não deixa de ter graça!

Twitter


Desde há algumas horas, o Twitter anda em rebuliço. O novo proprietário, Elon Musk, resolveu limitar as visitas diárias à plataforma, que já tinha vindo a sofrer outras restrições, e isso está a provocar uma visível angústia em quem passava por ali os dias e fazia daquilo a sua vida. Chega a ser patética a orfandade destilada pela perda do brinquedo. Se os gestores de outras redes sociais fizessem o mesmo, o mundo seria muito mais saudável. E, de caminho, eles também podiam acabar com o flagelo do anonimato, obrigando toda a gente a ter a coragem de assinar o que escreve com o seu próprio nome.

Bistrô da Quinta do Tedo



Habituou-se a ir ao DOC, do Rui Paula, na Folgosa, na famosa estrada 222, que liga a Régua ao Pinhão? Então experimente, sem remorsos, andar um par de quilómetros mais, no lugar onde o rio Tedo encontra o Douro, suba o monte umas escassas centenas de metros e lá vai encontrar a Quinta do Tedo. Reserve pelo 910832707, sempre! (Estou certo que o Rui Paula, distraído na Casa de Chá da Boa Nova, me vai perdoar esta pontual "traição".)

O Bistrô (o nome completo é Quinta do Tedo Família Geadas Bistro Terrace) é a mais recente obra dos irmãos Óscar e Tó Luís, a dupla de sucesso que transformou o restaurante da Pousada de Bragança numa Estrela do Michelin. E que, no castelo da cidade, criou entretanto o Contradição. Verdade seja que tinham a quem sair: à mãe Iracema, que oficia com uma imensa qualidade no Geadas, e ao pai Adérito, ali a tomar conta da cena. 

O Bistrô não é muito grande, não é deslumbrante como espaço interior (e têm de cuidar da acústica), mas tem a vista deliciosa que a imagem mostra e, no jantar de ontem, tinha o serviço solto e bem disposto da Cíntia, que me tratava por "cavalheiro" - a última vez que me haviam chamado assim foi numa tasca de polvo, em Orense. 

A lista, desenhada pelo Óscar, não é imensa: creio que uma meia dúzia de entradas, outra tanta de peixes, idem de carnes e outra de sobremesas. A carta de vinhos tem o dedo inconfundível do Tó Luís, com um excelente equilíbrio na oferta. Fomos para dois vinhos da Quinta do Tedo: um belo rosé, mais poderoso e seco do que o habitual, e um reserva tinto, robusto, com o clássico trio de castas dos T (touriga nacional, touriga franca e tinta roriz).

Não vou recomendar o que o leitor deve comer: cada um sabe de si. Apenas posso dizer que, dos quatro ocupantes da nossa mesa, ninguém se queixou: magnífica apresentação dos pratos, qualidade excecional dos produtos, sabor magnífico em tudo, do pão da casa às belas sobremesas, completado por um Porto, a fechar as hostilidades.

Falemos então de preços: não foi uma refeição barata. Mas, caramba, come-se muito bem, a paisagem é soberba e uma vez não são vezes!

"Allons, enfants..."


"Allons, enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé 
Contre nous, de la tyrannie 
L'étendard sanglant est levé"

Era a isto que Rouget de Lisle se referia em "La Marseillaise"? Ao pé do que se tem passado nestes dias, o Maio de 1968 foi uma doce brincadeira...

sábado, julho 01, 2023

Lavrov e Nogueira


Ao ouvir Sergei Lavrov, na entrevista à RTP, veio-me à memória Franco Nogueira. Com as óbvias diferenças de cada caso, bem entendido - para os mais puristas, que sempre saltam a terreiro fácil.

Em ambos, encontramos uma diplomacia de altíssima craveira, posta ao serviço de uma linha política acossada, sob forte pressão externa, com guerra pelo meio. Em ambos, é patente uma laboriosa criatividade no argumentário utilizado, tentando vender coisas que, intimamente, sabem serem de impossível aceitação por imensa gente. Em ambos, encontramos excelentes diplomatas "doublés" de políticos, ao serviço de poderes autoritários, para quem a "accountability" democrática é um empecilho à afirmação de uma megalomania nacionalista. Em ambos, os fins justificam amplamente os meios a utilizar.

Não conheci pessoalmente Franco Nogueira, embora tenha lido tudo o que escreveu. Conheci razoavelmente bem Sergei Lavrov, de quem fui colega, há mais de 20 anos.

A figura com quem, ontem, Evgueni Mouravitch falou para a RTP, num interessante "furo" jornalístico, embora pouco conseguido como entrevista política, é um homem muito mais tenso e crispado do que o diplomata com quem trabalhei em Nova Iorque. O Sergei Lavrov desses tempos era um homem de sorriso pronto, com humor e grande cordialidade.

A verdade é que, quer Lavrov quer Franco Nogueira, poderiam repetir Ortega y Gasset: "Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim".

A extrema-direita alemã


Ver aqui: https://youtu.be/TtaN0d--KsM

Temido temida?

A urticária criada pelo anúncio de uma possível candidatura de Marta Temido à Câmara de Lisboa, já muito evidente nas redes sociais, revela que ela pode ser uma excelente escolha por parte do PS. O meu amigo Carlos Moedas que se cuide!

Lavrov

Esteve bem a RTP na sua decisão de entrevistar Sergei Lavrov. Contudo, Evgueni Mouravitch, um excelente jornalista, com um histórico de coragem e grande equilíbrio, não deveria ter deixado Lavrov prolongar as suas arengas e podia tê-lo confrontado com algumas questões incómodas.

A revolta da Wagner (antes de Surovikin)

 

Pode ver aqui.

sexta-feira, junho 30, 2023

"Déjà vu"



Ontem, ao sentar-me numa sala da Alfândega do Porto, para uma reunião empresarial que haveria de se prolongar por mais de oito horas, tive um súbito "déjà vu": há mais de 20 anos, em início de dezembro de 2002, naquela mesma sala, coube-me coordenar, durante três dias, os 55 embaixadores da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), no termo de um ano de presidência portuguesa da organização. 

Nessa altura, foram muitas mais as horas de negociação, pela madrugada dentro, que permitiram conseguir chegar a conclusões que, sob proposta portuguesa, juntaram países politicamente tão distantes como a Rússia e os Estados Unidos, ou a Arménia e o Azerbaijão, com bastantes outras notórias conflitualidades pelo meio. No final, o acordo obtido foi formal e rapidamente aprovado pelos ministros, como é de regra.

Nunca, desde então, qualquer outra presidência anual da OSCE voltou a ser capaz de assegurar posições comuns no seio de toda a organização. 

Há dois anos, tive o gosto de ser convidado a ir a Viena, à sede da OSCE, para recordar essa experiência, que ficou bem gravada na memória daquela instituição.

Foi graças a uma fantástica equipa de diplomatas, técnicos e oficiais das Forças Armadas, que então me coube chefiar, e que havia sido organizada pelo meu antecessor no posto, embaixador João Lima Pimentel, que foi possível atingir aquele resultado, para o qual muito contribuiu também o meu "deputy", embaixador Carlos Pais. 

Porque, à época, a hipótese de um fracasso nos acompanhou até muito tarde, ver cumprido com total êxito o nosso objetivo deu muito mais gozo.

Marta Temido

Marta Temido passa a chefiar do PS de Lisboa e tudo indica que virá a ser a futura candidata socialista à autarquia. A acontecer, seria uma escolha inteligente. Enquanto ministra, ela criou uma forte popularidade no eleitorado de esquerda, muito para além dos socialistas.

quinta-feira, junho 29, 2023

Viva o contraditório!

Disse na CNN Portugal as razões pelas quais acho que Putin sai claramente fragilizado do episódio Wagner. Constato que outros comentadores da estação têm uma opinião oposta. Satisfaz-me colaborar com um canal que oferece aos seus espetadores visões diferentes, para que eles possam refletir e formar a sua própria opinião.

quarta-feira, junho 28, 2023

A Ucrânia e a NATO

O que vier a passar-se em Vilnius, na cimeira da NATO, no tocante à Ucrânia, é completamente irrelevante. Se ganhar a guerra, a Ucrânia será, inevitavelmente, membro da NATO. Se a Ucrânis perder a guerra, a Rússia exigirá, além de territórios, a sua neutralidade. Há outra hipótese?

Por que será?

O mundo dos Zoom e aparentados passou a ter um uso acentuado com a pandemia. Estranhamente, parece serem ínfimas as melhorias tecnológicas que ocorreram desde então nesse domínio. Estou num evento com interventores à distância e as deficiências continuam a ser as de sempre.

Lérias



Ainda não tinha ido à nova "Casa das Lérias", em Amarante, por tantos anos fechada. Tratou-se de uma magnífica recuperação do espaço (dizem-me que os quartos são muito bons). A zona de cafetaria está decorada com bom gosto e a varanda - a histórica varanda sobre o Tâmega, onde, em tempos idos, se ia "apanhar ar", depois dos enjoos das curvas do Marão - ficou muito bem. Só não apreciei que os scones fossem da antevéspera. Mas a culpa foi minha: devia ter pedido as últimas lérias do dia.

terça-feira, junho 27, 2023

As três vezes


Imaginem um filho único adolescente, oriundo de uma cidade de província (Vila Real), nos anos 60 do século passado, desaguado, para frequentar a universidade, na cidade grande (Porto). Ele ali estava, sem o menor controlo, instalado num lar de estudantes que, no final desse ano (já é azar, ou então foi sorte), viria a ser cautelarmente encerrado, como reação à anarquia e à indisciplina que a reitoria por ali detetara.

Imaginem esse miúdo a ser amavelmente tutorizado pelos mais velhos, numa iniciação à noite do Porto, à descoberta de mundos até então só suspeitados. Numa noite dessas, ele foi com dois ou três à Foz. Bateram à porta do "Xeque-Mate", recentemente aberto. Atendeu um cavalheiro, com ar grave. O fulano olhou o grupo e, com a insondável arrogância dos guardas de caverna, alegando um pretexto qualquer, impediu-lhes a entrada. Não havia recurso. Humilhados, eles lá regressaram à base, ao famigerado Lar na Torrinha.

Esse miúdo, eu, deixou, entretanto, de viver no Porto, concluída que tinha sido uma experiência académica de dois anos que deve ter ficado registada como um "benchmark" negativo dificilmente batível (duas cadeiras concluídas, num total de dois anos de "estudo"). 

Para sempre, levei comigo um "azar" ao "Xeque Mate" e jurei a mim mesmo nunca lá entrar. E quase cumpri.

Ontem, acabada a função na CNN, já bem tarde, deu-me para ir jantar (bem, como sempre) ao "Cafeína". Na circunstância, sozinho, como aliás não gosto de jantar. No final, a caminho do hotel, avancei com o carro até ao fim da rua. E lá estava ele, o "Xeque Mate". Ainda existia! Estacionei, toquei à porta, abriu-ma um sósia do Prigozhin. Disse-lhe boa noite e entrei. Um minuto depois, com um "Bushmills" novo, sem gelo, na mão, olhei o DJ a encher o tristonho ambiente de música dos anos 80, com pífias luzes coloridas a flashar numa pista de dança deserta. Todo o pessoal em redor, que não era muito, tinha nascido bem depois da data em que, por ali, me/nos tinham dado com os pés, nesse ano de 1967. 

Acabada a bebida, paguei a uma empregada que tinha um bonito sorriso e saí. Na rua, olhei a frente bem iluminada do bar e disse para comigo: já posso dizer a um velho amigo da Foz que fui três vezes ao "Xeque Mate": a primeira, a única e a última.


segunda-feira, junho 26, 2023

A justiça e as eleições nos EUA


Ver aqui.

À Europa!

"Isto é um escândalo! Costa tem de dizer, de uma vez por todas, se vai ou não para a Europa". Costa disse que não vai para a Europa. "Costa já no passado mentiu aos portugueses. Não acreditem que ele não vai para a Europa". Costa devia mandar estes tipos ... à Europa!

Não é por acaso...

Não sei se já apareceu, mas não deve tardar muito até um desses maluquinhos das teorias da conspiração vir aventar: "Não é por acaso que o golpe do Prigozhin surgiu logo depois da reunião do Bilderberg em Portugal..." 

Qual dos dois?

Num mundo em que se constata um crescente tropismo para tomar partido, em face de qualquer tema de dimensão internacional, foi curiosa a hesitação de muita gente, entre preferir Prigozin a Putin ou vice-versa.

Entender

A propósito da trapalhada que persiste na Rússia, um colega lembrou-me, há pouco, o que, sobre outra situação muito confusa, disse um dia um embaixador português: "Não estou a perceber quase nada e não estou a gostar nada do pouco que percebo". Grande João Sá Coutinho!

domingo, junho 25, 2023

Visitantes

 


Ao longo da sua já vetusta existência, este blogue recebeu visitantes oriundos de 178 países. Quem o diz é o FlagCounter, o qual, contudo, mistura, na lista de países em falta, estados verdadeiros com territórios dependentes. Postas as coisas como deve ser, constata-se que faltam 15 dos 193 estados representados nas Nações Unidas: 

Coreia do Norte
Djibuti
Eritreia
Kiribati
Lesotho
Micronesia
Palau
Samoa
Serra Leoa
Sudão do Sul
Tchad
Tonga
Turquemenistão
Tuvalu
Vanuatu


Se a algum leitor calhar fazer um fim de semana na Samoa ou em Vanuatu, ou lhe der para umas descansadas férias na Coreia do Norte ou no Sudão do Sul, e quiser ter a maçada de, a partir de lá, consultar o "Duas ou Três Coisas", isso tinha graça e ganhava um doce.

Dilema

Comentário (a brincar, quero crer) de um amigo liberal e direitolas: "Aquilo, lá na Rússia, venham o diabo e escolha: cada um é pior do que o outro. Mas pus-me a pensar que, se calhar, entre Prigozhin e Putin, devia apoiar o homem da Wagner. Sempre é a iniciativa privada..."

A retoma do diálogo americano com a China

 


Ver aqui.

Pois!


São três da manhã. E ainda há uns palermas que não acreditam no aquecimento global.

sábado, junho 24, 2023

A aventura Wagner

 


A luta dos chefes

Putin e a hierarquia militar russa estão do mesmo lado, em face da revolta do grupo Wagner. Isso protege Putin, em absoluto, de um golpe vindo do topo das forças armadas. Mas não, necessariamente, de uma revolta no seio dos militares, que levasse à queda de Shoigu e Gerasimov.

Os senhores da guerra

Pelo modo como alguns comandos russos de nível intermédio se comportarem, na sua interação no terreno com o grupo Wagner, se perceberá melhor o grau de autoridade da hierarquia militar.

Wagner

É provável que Putin consiga esmagar a revolta de Prigozhin e que o Wagner venha a desaparecer. Isso irá representar, contudo, a perda de um corpo militar muito eficaz, que foi de grande utilidade na Ucrânia e em cenários relevantes para a política externa russa.

Notícias da guerra

 

Pode ver aqui.

sexta-feira, junho 23, 2023

Vim à terra


 

O outro lado


A direita portuguesa - a direita assumida e que se pensa, não a que se travestiza de "centro-direita" ou de "liberal" - tem, desde há já algum tempo, a sua revista teórica, a "Crítica XXI". O objetivo declarado da iniciativa é combater o que assumem ser a persistente hegemonia das ideias da esquerda.

Só não desejo boa sorte aos diretores da revista, o meu amigo Jaime Nogueira Pinto e o historiador Rui Ramos, porque estaria a ser hipócrita. E eu não sou. Mas dou-lhes uma "ajuda": no meu vício de ler, prioritariamente, as coisas com que não concordo, ainda não perdi um número do "Crítica XXI".

Há dias, ao falar da revista a um amigo, esquerdalho radical e muito crítico das minhas incursões pela escrita dos "talassas" do burgo, ouvi-o comentar: "Devias deixar-te dessas coisas! Fiz agora uma assinatura do "The New Yorker". Aquilo é que são bons textos! A revista dos teus amigos "fachos", para parecer modernaça, devia chamar-se "The Santa Comber"... Teve graça!

Série Meireles - 5


"Ó Meireles! O submarino já foi um ar que lhe deu. Agarra-me é os escândalos! Olha, põe as rendas a abrir o alinhamento! E não deixes "morrer" o Galamba, com Santarém e o aeroporto. Ainda dá para uns diazitos. O calor não! Para muitos, aquilo é praia, é coisa positiva! Esquece!"

quinta-feira, junho 22, 2023

Resposta chata

Não procurem uma explicação para a maior cobertura dada à tragédia do submergível do que aos naufrágios no Mediterrâneo. Tal como para a diferenciada atenção aos mortos nas guerras, caso elas sejam fora ou dentro da Europa. É que podem encontrar uma resposta e ela não é agradável.

Olho por Alho!


Ontem, num post, usei a expressão "fino como um alho", para designar alguém dotado de um alto grau de esperteza ou perspicácia. Para não tornar demasiado pesada a linguagem usada neste blogue, apetece-me, por vezes, utilizar expressões mais "soltas" e populares. Foi o caso. Só que há quem esteja atento e nos ajude a corrigir os erros. Foi o caso do leitor Ferreira da Silva, de quem recebi este amável comentário: 

"Permita-me um pequeno aparte sobre este seu post. Esta expressão nortenha para caracterizar alguém "esperto" é "fino como o Alho". Este foi o Sr. Afonso Martins Alho um "esperto" comerciante do Porto que está registado toponimicamente no mais pequeno arruamento da Cidade, entre a Rua das Flores e a Rua de Mouzinho da Silveira."

Agradeço ao leitor esta nota sobre a rua do referido senhor Alho. E, explorando agora uma quase homofonia de proximidade, gostava de lembrar ao leitor Ferreira da Silva que, na única perpendicular à rua Afonso Martins Alho (a meu ver, essa sim!, a mais pequena artéria do Porto, embora sem nome), existiu, por muito tempo, uma estimável "casa de pasto", chamada "Adega do Olho", de cuja clássica tabuleta ele seguramente se recordará.

Olho por Alho! 

quarta-feira, junho 21, 2023

Luís Saias

Com quase cem anos, morreu ontem Luís Saias. É provável que o seu nome diga pouco a muita gente. Saias era um estimável democrata algarvio, deputado do PS, amigo de Mário Soares, que, para surpresa de muita gente, foi chamado para ministro da Agricultura e Pescas, no governo PS/CDS, em 1978.

Luís Saias esteve apenas sete meses no governo e, ao que consta, teria sido a sua política no setor o pretexto - há quem diga não ter sido essa a real razão - que o CDS encontrou para se dissociar daquele bizarro "acordo parlamentar de incidência governativa", como genialmente Jaime Gama então o qualificou à inédita aliança entre os socialistas e os democrata-cristãos.

No seu curto mandato, Luís Saias foi a Israel, com o objetivo de estabelecer programas de cooperação no setor agrícola. Vivia-se um tempo de aproximação entre Portugal e aquele país, então sob governo trabalhista. A visita de Saias era, creio, a segunda que um governante português fazia a Israel, depois de Salgado Zenha. À época, as relações entre os dois países eram ínfimas e não havia embaixadores mutuamente acreditados, embora Israel tivesse uma estrutura consular em Lisboa. Como responsável pelo "desk" do Médio Oriente e Magrebe, no setor económico do MNE, fui encarregado de integrar a comitiva do ministro.

Antes da partida da nossa delegação, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Victor Sá Machado, figura grada do CDS, chamou-me ao seu gabinete e transmitiu-me instruções bem precisas - e extremamente assisadas - sobre aquilo que, durante a visita, deveria ser dito, em nome de Portugal, sobre a questão israelo-árabe. Lembro que, de forma delicada, sugeri que talvez fosse melhor o colega de governo de Sá Machado ser o destinatário direto dessas instruções diplomáticas. Sá Machado sorriu: "Espero que você faça o seu melhor". E lá segui para Israel, com instruções políticas muito precisas, que um governante do CDS queria que um ministro do PS seguisse, comigo a servir de intermediário.

A visita correu de forma simpática. Na conferência de imprensa final, ao ser inquirido pelos jornalistas sobre algumas questões mais sensíveis, o nosso ministro respondeu em português. Eu ia traduzindo as perguntas e as respostas, ou melhor, interpretando criativamente estas últimas para inglês. No final, quando nos levantámos da mesa, Saias disse-me, um tanto desagradado: "Percebi que você não traduziu exatamente aquilo que eu disse". Tive uma imensa tentação de lhe responder: "Eu apenas disse em inglês aquilo que o senhor ministro deveria ter dito em português". Mas contive-me, por óbvias razões, e devo ter dado uma resposta elíptica. Julgo que Luís Saias, que era um homem prudente e sensato, terá percebido a dificuldade do meu papel naquela que terá sido a sua única viagem diplomática. 

Sanções "à la carte"

A União Europeia aprovou um novo pacote de sanções, desta vez abrangendo terceiros países que possam estar a ajudar a contornar as restrições impostas à Rússia. É a primeira vez que a UE aplica sanções extra-territoriais, isto é, a outros Estados para além do visado.

A ironia de tudo isto é pensar que, no passado, muitos países europeus condenaram, muitas vezes com alguma veemência, o abuso que era os Estados Unidos utilizarem este tipo de instrumento unilateral. Um desses países tem Lisboa como capital...

Mas a Europa, "fina como um alho", inovou. Os EUA sancionavam todo e qualquer estado que ousasse fugir à sua legislação. A UE anuncia que irá aprovar uma lista dos países a serem abrangidos. Talvez porque, com alguns, possa haver negócios que não convenha estragar...

Série Meireles - 4

"Ó Meireles! Antes do Galamba em S. Bento, a chutar para o lado o aeroporto que não vai para Santarém, faz subir no alinhamento o parecer milionário do secretário de Estado. Ele ainda não era secretário de Estado? Isso agora não interessa nada, como dizia a outra".

Guerra

Nas últimas semanas, há uma intensificação da difusão de filmes onde se observa a destruição pela Rússia de material militar oferecido pelo ocidente à Ucrânia. O óbvio objetivo é tentar levar o contribuinte que paga esse material a interrogar-se sobre a utilidade do seu esforço.

Aeroporto

Só quem pouco entende da política é que pode pensar que João Galamba, neste seu delicado tempo governativo, ao dizer o que disse sobre a implausibilidade da escolha de Santarém para o novo aeroporto, o fez por sua alta recreação, sem ser em estreita coordenação com António Costa.

E se a guerra mudar de figura?


Ver aqui.

terça-feira, junho 20, 2023

Ronaldo

Cristiano Ronaldo não ia durar sempre. O contraste entre a imagem do jogador que foi no passado e aquilo que hoje pode oferecer em campo é flagrante. Dito isto, o país deve ter um imenso respeito por quem, desde há duas décadas, leva o nome do seu futebol pelo mundo.

Belcanto no topo

É uma excelente notícia para Portugal o restaurante Belcanto ter sido agora considerado um dos 25 melhores restaurantes do mundo. José Avillez, a figura de referência da alta gastronomia portuguesa, está assim de parabéns. Este é o fruto do seu trabalho sustentado desde há bastantes anos.

Série Meireles - 3

"Ó Meireles! Agarra já esta, a abrir o alinhamento do telejornal! É uma nova polémica com o Galamba! E manda já a Sónia Vanessa a Santarém, ouvir, pelas ruas, a população "ofendida". Despacha-te!"

Conferência

  Todos os debates das Conferências de Lisboa são sintetizadas graficamente pelo génio de Daniel Perdigão, que "segue" e ilustra a...