quarta-feira, fevereiro 21, 2024

Ele há cada coisa!


Aprendi hoje que o "The New York Times", quando surgiu, em 1851, tinha um ponto final no título. 71 anos depois, foi decidido eliminar o ponto. E, pelas contas do jornal, pouparam com isso, a partir de então, cerca de US$ 5.500 dólares anuais em tinta. 

O que é que isto interessa? Nada, mas a vida é feita de pequenos nadas, como diria o Sérgio Godinho.

(Quando escrevi inicialmente este texto, tinha colocado 1871 em lugar do ano certo, que é 1851. Cheguei a ter a tentação de manter o erro, para permitir que viessem logo a jogo os cultores da picuinhice nas redes sociais, também conhecidos pelos "catrogas", sei lá bem porquê).

terça-feira, fevereiro 20, 2024

Gaza, a América e o resto


Ouvir aqui.

"A Arte da Guerra"


Entrou agora no seu quarto ano de emissão o "podcast" com imagem que, no "site" do "Jornal Económico", o jornalista António Freitas de Sousa e eu fazemos semanalmente, com a duração cerca de 30 minutos. 

O programa, que já vai no seu número 150, é dedicado a três temas da atualidade internacional e divide-se em outros tantos blocos, de cerca de 10 minutos cada. O António Freitas de Sousa, que está no Porto, coloca questões a que eu respondo, quase sempre de Lisboa. Temos sempre tido um ótimo "feedback", por parte de ouvintes atentos e fiéis ao que comentamos.

Nas últimas semanas, tinha optado por não divulgar nas redes sociais o "link" para o acesso ao programa. Recebi várias queixas... Assim, "back to square one"!

A senhora dona

Que diabo de mania deu na imprensa económica para estar sempre a falar da "dona da" quando querem referir-se a uma empresa que é detentora maioritária de outra! Vou sempre ao engano: acho que se trata de uma senhora rica...

Segurança

Nelson Lourenço é professor catedrático e especialista em temas de segurança. Desde há anos que com ele colaboro no GRES - Grupo de Reflexão Estratégica sobre Segurança, estrutura de que foi a "alma mater" e que, entre várias outras atividades, deu origem, em 2018, a um livro coletivo em que tive o gosto de participar.

Nesta quarta-feira, dia 21, no Grémio Literário, vou ter o prazer de intervir na apresentação da sua última obra, "Sociedade Global e Segurança - Modernidade, Complexidade e Incerteza".

No dia 11 de março

Não vi o confronto televisivo na noite de ontem. Acabei assim por não assistir a nenhum debate eleitoral. Leio que Pedro Nuno Santos bateu claramente Montenegro. Espero bem que isso tenha as devidas consequências. Quero acordar bem disposto no dia 11 de março.

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Holocausto

O Holocausto, nome por que passou a ser designado o genocídio praticado há cerca de 80 anos por um governo de extrema-direita alemã, que vitimou milhões de judeus alemães e de países ocupados, foi um crime praticado pela Alemanha e por alemães. A comunidade internacional, que solidariamente tem partilhado emocionalmente, ao longo de décadas, um persistente sentimento de horror por aquela barbárie, não pode, contudo, partilhar a menor responsabilidade por aquele massacre. Repito: o Holocausto foi e continua a ser exclusivamente um problema da memória alemã. Qualquer tentativa para fazer esquecer isto é uma falsificação da História. Quando se fala de Israel, não podemos de deixar de ter isto sempre presente.

Curiosidade

Depois da declaração inequívoca do governo de Israel, recusando liminarmente a solução dos dois Estados, estou curioso em perceber se a União Europeia, como um todo e por parte de cada país, mantem a sua determinação, sem mas nem meio mas, na obtençâo desse objetivo.

domingo, fevereiro 18, 2024

Baixa


Em 1912, Afonso Costa, na Baixa, não passava uma tarde sem dar uma saltada ao Kungfu Ramen. 

Música neles



Os debates

O que é que pode ser considerada uma vitória num debate televisivo eleitoral? Dado o objetivo do exercício, parece-me óbvio que, de entre os dois políticos, sai vitorioso aquele que, com a sua prestação, possa ter grangeado mais apoios do que os que tinha no início do debate. 

"Portugal e o futuro"


No dia 15 de fevereiro de 2024, apresentei no El Corte Inglés o livro "O general que começou o 25 de Abril dois meses antes dos capitães", de João Céu e Silva. 

Quem quiser ler o texto dessa apresentação pode fazê-lo aqui.

sábado, fevereiro 17, 2024

O grande teste

Um teste caricatural, mas que nunca falha, sobre se um determinado regime é democrático, é quem quer que seja ter o direito a se manifestar pacificamente, a propósito do que muito bem lhe apetecer, dizendo ou berrando tudo o que quiser, em frente à sede do poder político do país, sem correr o menor risco de ser preso ou incomodado.

Em Moscovo, pode-se?

Sá Nogueira (1961)



sexta-feira, fevereiro 16, 2024

Votar Chega

Quem for votar Chega sabe que irá votar num partido de extrema-direita. E, diga-se desde já, está no seu pleno direito. Votar na extrema-direita - mesmo que racista, xenófoba e demagogicamente populista, como é o Chega - é um direito que assiste aos cidadãos que fazem parte integrante da democracia em que vivemos. Algumas das pessoas que vão votar Chega não se consideram a si próprias de extrema-direita. Mas essas pessoas não podem querer fazer passar os outros por parvos: elas sabem muito bem que irão votar num partido de extrema-direita. Ponto.

Rússia

Putin é responsável pela morte de Navalny, mesmo que possa não ter ordenado a sua liquidação. A pena absurda que cumpria, pela tentativa de um mero exercício de direitos democráticos, conduziu-o a condições excecionais de prisão, lugar em que estas coisas se tornam possíveis.

É uma ilusão (ocidental) pensar que a morte de Navalny vai reforçar a oposição interna a Putin. Navalny era contra a invasão da Ucrânia, o que o colocava em conflito com uma opinião pública onde a guerra é (ainda) bastante popular, porque Putin a "vende" como existencial.

quarta-feira, fevereiro 14, 2024

É o dizes...

Não vejo debates televisivos, mas gostava imenso de ler por aqui pessoas cuja "lateralização" ideológica é conhecida surpreenderem-nos, assumindo que o seu candidato esteve mal e que, embora isso não lhes tivesse agradado, o adversário esteve melhor. Alguém? 

Ter um "flair"

Foi há cerca de 15 anos, em Paris. 

Uma colaboradora minha disse-me ter sido aproximada por um jovem francês, de origem portuguesa, que lhe vinha sugerir que a nossa embaixada pudesse dar o apoio institucional a uma estrutura ainda a ser criada, destinada a promover iniciativas luso-francesas em diversos domínios. Já não recordo pormenores do projeto, que, à partida, oferecia perspetivas interessantes. 

Acompanhado da minha colaboradora, tive um almoço com esse jovem, creio que na casa dos 30 anos. Era de terceira geração e, ao que recordo, já não falava português. Estava profundamente ligado ao então RPR, o partido de Nicolas Sarkozy. Era inteligente e muito bem falante. Transpirava ambição. Ao longo da conversa, que decorreu num ambiente simpático, ia deixando "cair" nomes de personalidades francesas importantes, de quem se dizia íntimo, manifestamente para se credibilizar. 

A certo passo, aproveitando aquele momento que os franceses designam por "entre la poire et le fromage", perguntei-lhe o que me parecia essencial: como pretendia financiar a ideia. Pareceu-me ter ficado surpreendido: estava à espera de que essa fosse a nossa "parte" na concretização do seu projeto. E foi claro: contava com apoios oficiais portugueses e com a nossa influência junto de empresas, portuguesas ou luso-francesas, para levantar os fundos necessários ao seu projeto. Ele faria "o resto". Perguntei-lhe se, pela parte dele, e dados os elevados conhecimentos que tinha, também tencionava procurar mobilizar financiamentos, nomeadamente oficiais. Deixou claro que não tinha minimamente essa intenção. Concluí que, na sua família de ascendência portuguesa, nunca ninguém lhe tinha contado a história da "sopa da pedra". 

Fiquei com um mau pressentimento daquela conversa. O meu "flair" dizia-me para não ir por ali. E não fui. O assunto não andou para a frente. 

Passaram dois anos. Vi o nome do jovem luso-descendente envolvido num famoso escândalo de faturas falsas, ligado a campanhas políticas, que tinha como principal acusado o próprio presidente Nicolas Sarkozy. 

Hoje, saiu a sentença, ainda sujeita a recurso: Sarkozy é condenado a prisão efetiva e o nosso (então) jovem a 18 meses de pena suspensa. 

Lembrei-me daquele almoço na bela esplanada do "La Gare", em Paris. Restaurante que, ao que me dizem, já não tem esse nome. Tudo muda, não é?

"Perfilados de medo..."

Se a coragem fosse uma qualidade dos portugueses, o escândalo que se passa em certas áreas da justiça já teria levado a uma mais do que legítima pressão democrática para que quem tem responsabilidades constitucionais adotasse, de uma vez por todas, uma atitude firme. Mas não é.

Ato de convicção

 


Tentar, tentei

Fiz um esforço: tentar ver, pelo menos, um debate. Achei que o Mortágua-Ventura podia ser interessante. Aguentei quatro minutos. Passei ao Mezzo. 

segunda-feira, fevereiro 12, 2024

Os 25

Estão a aquecer os motores para a operação de diabolização do 25 de Abril que, quem detesta a data, vai desencadear, nos meses que aí vêm. O 25 de Novembro é, naturalmente, a "bala de prata" da operação, mas o 11 de Março, as FP-25 e as "maldades" do PREC estarão também no palco.

Formas

Não sei se Pedro Nuno Ssntos se apercebeu já da importância de estar a ser tratado, na comunicação e redes sociais, com subliminar familiaridade, por "Pedro Nuno". Se não se apercebeu da importância disso, pergunte ao Alberto João.

sábado, fevereiro 10, 2024

Rui Vilar


Comprei esta tarde, e acabei há pouco de ler, as "Memórias de dois regimes", uma entrevista de mais de 400 páginas, através da qual Rui Vilar nos descreve o seu trajeto pessoal e político. Com questões colocadas por António Araújo, Pedro Magalhães e Maria Inácia Rezola, que se nota terem feito um rigoroso "trabalho de casa", o livro constitui um interessante fresco do tempo de transição de um Estado Novo já em evidente declínio para dentro de um período revolucionário no qual Rui Vilar, com pouco mais de 30 anos, acabou por ser cooptado, quiçá inesperadamente, para lugares governativos de forte responsabilidade política e institucional. Para quem, como eu, acompanhou de perto esses tempos, se bem que situado em quadrantes à época nem sempre coincidentes com os do entrevistado, é muito curioso poder ser hoje "voyeur" retrospetivo das tensões existentes dentro do conselhos de ministros, das peculiaridades do caótico processo decisório da época, anotando de caminho a perspetiva de Rui Vilar, enquanto destacado observador-participante, sobre a dialética político-militar naquela volátil conjuntura. Para além disso, o livro traz-nos apontamentos curiosos sobre o nosso panorama bancário e económico-financeiro no período pré e pós - 25 de Abril, sobre a génese e natureza da Sedes, bem como comentários interrogativos em torno da atitude de algumas conhecidas personalidades, na diacronia dos dias convulsos da Revolução. O saldo deste exercício é o retrato de um social- democrata sereno, sem angústias ideológicas, de um tecnocrata com preocupações sociais, sempre teimosamente moderado no exercício de um obsessivo bom senso, que visivelmente não se deixou empolgar pelo sentido festivo da Revolução, no seio de um Estado em acelerada reconstrução, que acabou por servir com forte sentido cívico e democrático, marcado por alguma disfarçada mas legítima ambição. Deixo ao Rui e aos três condutores deste exercício de História oral um abraço de felicitações por este valioso contributo, bem oportuno neste ano de lembrar Abril.

P(N)S

Pedro Nuno Santos deve continuar a afirmar a sua indisponibilidade para resolver os problemas de governabilidade que surgem na direita portuguesa. Era só o que faltava que coubesse à esquerda ajudar a pôr ordem numa casa alheia em convulsão!

Para a credibilidade do sistema político, perante os seus eleitores, o pior que poderia acontecer era estes poderem começar a pensar que PS ou PSD eram rótulos e caras diferentes para uma mesma "receita" de políticas. O populismo anti-sistema ficaria encantado se isso acontecesse.

sexta-feira, fevereiro 09, 2024

Idade

Enquanto a juventude excessiva é um "defeito" que se cura com o tempo, é mais do que óbvio - e só não vê quem não quer ou a quem não der jeito ver - que a idade excessiva é um problema sem cura. É claro que é desagradável dizer ou ouvir dizer que Joe Biden está velho. Parece mesmo cruel e ofensivo, e releva de "idadismo", estar a atirar isto à cara do senhor. Mas quando alguém dirige o maior poder mundial e, com impressionante regularidade, mostra um comportamento físico errático e comete clamorosos lapsos, como confundir Macron com Mitterrand ou Scholz com Khol, é óbvio que isso legitima interrogações sobre a sua capacidade, não apenas para continuar a exercer o cargo mas, no caso vertente, de o poder renovar em bom estado físico e psíquico para os próximos quatro anos. Aí, surge de imediato o "whataboutism": mas, então, Trump não tem uma idade que se aproxima da de Biden? É verdade mas, ao dizer-se que Biden está velho e perigosamente decadente, isso não significa estar-se a optar por Trump. Os realistas clamarão logo: mas, se perdermos Biden, é Trump quem nos surge na soleira do poder em Washington! Então, pergunto eu, a opção é apenas entre ter um Biden caquético e "frail", a cair da tripeça, e, do outro lado do espelho, um Trump, quase tão idoso como ele e com ideias perigosas e mostras claras de insanidade política? Se assim tiver de ser, como parece que assim vai ser, só posso desejar a melhor sorte aos americanos e, de caminho, aos que deles dependem, isto é, a todos nós, pelo mundo. É que nem por ser uma inevitabilidade deixa de ser um facto irrecusável que Biden está perigosamente velho, fisicamente (pelo menos) decadente e, na minha opinião (que vale o que vale, até porque a minha idade já não anda muito longe da desses cavalheiros), obviamente sem a capacidade para ser, por muito tempo, um presidente minimamente eficaz dos EUA. Neste ponto desta discussão, aqui há uns tempos, surgiria uma voz sossegante a dizer: espera aí! nos EUA, há um, agora uma, vice-presidente. Ele ou ela podem sempre substituir o presidente. Eu pergunto: então por que é que, neste caso, ninguém fala nisso? Porque, mesmo que isso só seja dito a boca pequena, ninguém confia hoje minimamente nas capacidades de Kamala Harris para ocupar a Casa Branca. Poucos o dizem alto. Porquê? Pelo politicamente correto: porque é uma mulher e porque é de cor. Deixemo-nos de rodeios: é exclusivamente por isto que esta verdade não emerge. Kamala Harris concretizou o sonho "teórico" das feministas. Durante anos, estas diziam que, para haver uma igualdade entre homens e mulheres no acesso a lugares de topo, era preciso que houvesse mulheres incompetentes a chegarem a esses lugares. Porquê? Porque os lugares de topo, como é uma evidência, já estão cheios de homens incompetentes! Ora bem! Com Kamala Harris em vice-presidente, esse "sonho" foi cumprido. Já há uma mulher incompetente num lugar de topo. Mas, espera aí!, estás a dizer assim, com todas as letras, que a senhora é incompetente? Estou, claro. Se ela não fosse incompetente, e vista como tal, por que diabo de razão estariam as hostes democráticas tão empanicadas com a possibilidade de, no caso de Biden ter de se afastar, a senhora vir assumir a função presidencial? O mundo está perigoso, é o que é. Bom fim de semana.

O Q


Sou de um tempo sereno em que um Q nunca era visto desacompanhado de um U, que o amparava sonante para outra vogal. Um dia, do outro lado do mundo, aterrou a Qantas. Pronto, era a exceção! Pois isso! Logo veio o Qatar. Agora, até os sacos de aspirador! Isto já não é o que era! 

Putin

Lá estive, por mais de duas horas, a ouvir a entrevista de Tucker Carlson a Putin. Sou um masoquista. A meio, confesso, adormeci por uns minutos. Voltei um pouco atrás e ouvi até ao fim. O que achei? Sem trazer nada de substancialmente novo, acho que é uma peça necessária. E confirmei que Carlson é um primário.

Ah! Pois é!

Agora que o novo presidente argentino avança com uma proposta legislativa para proibir o aborto no país, é uma bela ocasião para os liberais da paróquia reiterarem o seu habitual aplauso às medidas de Milei.

Folguedo

Quando os portugueses decidiram prescindir dos trajes - que eram bem "cobertos" - dos seus históricos Carnavais, poupando no tecido, como se faz no outro lado do Atlântico, deveriam ter-se lembrado que o clima da Sapucaí é diferente do de Torres ou de Ovar.

quinta-feira, fevereiro 08, 2024

Ficar do outro lado

... e então é assim: há aquela altura da (nossa) vida em que damos conta que o tipo que, desde há anos, em todas as reuniões, se costuma sentar do lado contrário ao nosso, está a falar num tom cada vez mais baixo e menos percetível. E não é que, por coincidência, se dá também o caso de ser progressivamente difícil ouvir o que diz um outro fulano, que se senta a seu lado? É nesta altura que nos vem à ideia a velha anedota da mãe e do passo trocado do soldado.

Uma pergunta

Às pessoas que, em Portugal, se mostram tão preocupadas com os abusos aos Direitos Humanos em várias partes do mundo apetece-me perguntar por que não se dispõem a lançar uma campanha pelo estrito cumprimento dos prazos das prisões preventivas e das diversas fases dos processos judiciais, aqui na terrinha.

Deus, pátria, família e o senhor doutor Salazar

 


"Cheira bem, cheira a Lisboa!"

Bolsonaro

Uma operação policial foi hoje desencadeada contra Jair Bolsonaro, inculpando-o nos atos sediciosos ocorridos no início do ano passado. É de desejar que uma ação que tem por alvo um antigo presidente da República esteja a ser levada a cabo com base em sólidas provas, para que não venha futuramente a deixar margem a quaisquer dúvidas de que possa ter tido na sua origem uma qualquer "vendetta", cavalgando a mudança do ciclo político. Por um legítimo e quiçá compreensível preconceito, podemos ser tentados a pensar que Bolsonaro não merece o benefício da dúvida. Mas a democracia tem regras. É essa, aliás, a sua imensa superioridade.

Excitações


 
Há pouco, numa conversa telefónica com um colega de profissão, falávamos de um livro recente de Gérard Araud, um diplomata francês que ocupou postos da maior relevância e que, nos últimos anos, tem vindo a colocar por escrito o fruto dessa sua longa experiência. Ambos havíamos conhecido e trabalhado com Araud e o meu colega comentou que lhe havia chegado que, nos meios da diplomacia francesa, houve quem estranhasse que, nesse livro memorialista, Araud só citasse, por uma única vez e ao de leve, o nome de Alain Dejammet, figura no entanto tutelar da sua carreira profissional. Isso estaria a ser visto por alguns como uma desconsideração para com a figura do prestigiado embaixador Dejammet. Com o que as pessoas se entretêm...

Não fui verificar se assim era, porque, no caos que hoje é a minha biblioteca, esse é um dos dois livros de Araud que não faço ideia onde para, embora tenha por única certeza que ainda não concluí a sua leitura. Mas, nisto, Araud está muito bem acompanhado, nas estantes e pilhas de livros cá por casa.

A que propósito vem isto? É que, há semanas, numa conversa com outro amigo, que não é diplomata mas que vive curioso com a vida dessa carreira que gostaria de ter tido, ele fez-me notar que, no livro que publiquei em novembro passado, eu me tinha "esquecido" de citar vários colegas e colaboradores, pessoas que ele sabia serem meus bons amigos. 

Nunca me tinha passado pela cabeça tal coisa! É que, ao contrário de Araud, que escreveu um livro de raíz, eu limitei-me a coletar textos já publicados no meu blogue, ao longo dos anos. São essas histórias, e só essas, que o livro encaderna. Não era possível estar a inventar episódios só para acomodar a simpatia, "a martelo", de uma referência. Mas, pensando melhor, posso imaginar que algumas pessoas possam ter partilhado idêntica estranheza.

quarta-feira, fevereiro 07, 2024

Do banco


Luís Montenegro quer ser substituído por Nuno Melo em próximos debates televisivos. Os seus oponentes não deveriam recusar a possibilidade de debater com outros integrantes da AD. Mas têm o direito de exigir ter, como interlocutor, Gonçalo da Câmara Pereira.

Uma questão

Certos canais de televisão colocam no ar comentadores de politica interna exclusivamente oriundos do mesmo lado do espetro político. Percebe-se que tal possa dar jeito à agenda política que pretendem favorecer, mas será que, jornalisticamente, isso não os envergonha?

terça-feira, fevereiro 06, 2024

Como eu vejo as coisas


Os debates, numa eleição com algumas caras novas na linha da frente, podem vir a ter alguma importância. Mas só alguma. Pressente-se que a esmagadora maioria dos eleitores já sabe bem em que "lado" vai votar. Alguns, da brigada azeda e biliosa tentada pelo "é preciso dar cabo disto tudo!", ainda estarão algo hesitantes entre o Chega ou o reforço do seu PSD de sempre, o único que sabem que pode oferecer-lhes o governo. Do outro lado do espetro, há quem hesite em renovar o voto no PS. Uns porque se sentem tentados a dar uma oportunidade ao Livre ou à nova liderança do Bloco. Outros, de um setor mais dado à prudência, é gente que ainda não percebeu bem se o novo líder pretende deslocar o partido do lugar onde tem estado e que, no fundo, lhes dava algum conforto. Pelo meio, há ainda outros que também se interrogam. Não houve, pelas bandas socialistas, algumas trapalhadas desagradáveis? Claro que sim, mas também há que lembrar, do outro lado da balança, que, na pandemia e na crise económica que lhe sucedeu, quando o país tremeu, o governo esteve onde devia estar, transmitiu a confiança e a segurança necessárias. E deixou as contas certas, o que não é de somenos. Está bem, mas não há ainda muitas outras coisas, nos serviços públicos, que continuam a correr menos bem? É bem verdade, mas também há que pensar que os professores e os médicos terão ido longe demais no seu egoísmo corporativo e isso, somado a outros fatores, não deixa de ter efeitos negativos na eficácia de serviços que deles dependem. Ou também acham que os polícias e os agricultores na rua, nesta precisa ocasião, é uma mera obra do acaso? Tudo considerado, contudo, sente-se que algumas pessoas ainda que não parecem decididas em transferir para Pedro Nuno Santos a confiança que um dia tiveram em António Costa. Mas será isso suficiente para as fazer mudar de "lado"? É que, quando olham para a alternativa potencial, imagino que algumas devam perder o apetite... Daí a importância da campanha, dos debates, para ajudar a um separar de águas, mesmo por cima do ruído dos debates. Esta é uma eleição que ainda vai ter muito mais demagogia, "fake news" e mentirolas gordas, com uma comunicação social (algumas televisões já nem disfarçam nada!) que, em grande parte, já juntou os trapinhos com o lado do costume e irá continuar a fazer títulos de arromba para tentar levar a água ao seu moínho. Enfim e no fim, que seja o que os eleitores quiserem, esperando eu, naturalmente, que uma maioria deles venha a querer o que eu quero. Mas que fique claro: se outra maioria decidir ir por um caminho diferente do meu, estará no seu pleno direito! Foi para isso, foi também para eles (mesmo para os que dele não gostam), que se (e o "se" aqui é reflexo) fez o 25 de Abril.

segunda-feira, fevereiro 05, 2024

Orgulho

Alguns comentadores devem ter mães que, chegados eles lá a casa, lhes devem dizer, orgulhosas: "Ó filho! Mas se tu, afinal, sabes mais do que aqueles senhores sobre o que é que se devia fazer e o que é bom para o país, não devias ser tu a mandar?" E dão-lhes pão com marmelada. 

Uma doença democrática


Acontece a muitos. Surge, a todo o momento, nas nossas famílias, aos nossos amigos, aos que mal cruzámos na vida. É uma doença democrática, que não escolhe classes. Agora, calhou a um rapaz da minha idade. "I wish the very best to His Majesty". Sinceramente.

Sala de espelhos


Conversa real, ouvida na sala de maquilhagem de uma televisão: "Tenho muita pressa. Estou quase a entrar para o ar". A maquilhadora, compreensiva: "Vou pôr-lhe só um pozinho, para lhe tirar o brilho!" Resposta da pessoa visada: "Não faça isso! Não me tire o brilho! Se perco o que me resta de brilho, ainda me acabam com a avença!" 

E os da coroa?

Não vejo muita gente a felicitar a liderança do PPM pela sua estrondosa vitória nos Açores, aliada a duas formações políticas que não vem ao caso referir. E, esta hora da madrugada, ainda continuo à espera de um direto da sede monárquica, para a necessária conferência de imprensa do líder.

domingo, fevereiro 04, 2024

Rui Patrício (1932-2024)


Acabo de saber da morte, no Brasil, de Rui Patrício, último ministro dos Negócios Estrangeiros da ditadura.

Rui Patrício fez, naquele país, uma destacada carreira de advocacia e na área empresarial, tendo-se igualmente mantido ligado a instituições da comunidade portuguesa.

Desde o tempo em que fui embaixador no Brasil, construí com Rui Patrício uma relação de grande simpatia, que se converteu em amizade. Chegámos a planear escrever um livro juntos, o que, por várias razões, acabou por não se concretizar. Encontrámo-nos bastante no Brasil, mas também em Paris e em Lisboa. Criei por ele um grande respeito e consideração, não obstante o fosso ideológico que nos separava, que nunca afetou o nosso convívio.

Recentemente tive o gosto de dedicar-lhe um livro que publiquei e em que ele é referido. Partilho uma imagem dele a lê-lo.

À família de Rui Patrício, em especial ao seu filho Miguel, deixo as minhas sentidas condolências.

A sigla

Ao observarem o comportamento recente dos agentes da PSP, os socialistas portugueses terão confirmado a imensa sabedoria da decisão que foi tomada, aquando da fundação do partido, de, ao contrário de todos os seus homólogos pelo mundo, não incluírem a nacionalidade no nome. 

PSP

Por estes dias, a hierarquia da Polícia de Segurança Pública deveria lembrar-se do esforço que a corporação tinha vindo a fazer para se credibilizar perante os portugueses, como instituição integrante e protetora da ordem democrática, apagando a imagem que tinha de força repressiva ao serviço da ditadura. E o mesmo vale para a GNR.

Não estraguem tudo! 

sábado, fevereiro 03, 2024

Porque hoje é sábado

Telefonema de um amigo, ao fim da manhã: "Hoje é o primeiro dia do resto da vida do teu blogue. Tens de comemorar com um post brilhante, que fique memorável. O que é que vais publicar?". Eu, ensonado (deitei-me tarde p'ra burro!): "Sei lá! Acho mesmo que hoje não vou publicar nada!". Resposta do meu amigo: "Não podes fazer isso! Tens uma responsabilidade para com o blogue!". Dei comigo a pensar: "O que é que me acontece se eu não publicar nada? Vou preso? Não me parece! Logo hoje! Deixa-me aproveitar, os polícias estão de baixa psicológica! Hoje ninguém me prende!". E fui jantar com amigos, que é o que se leva desta vida, não é?

sexta-feira, fevereiro 02, 2024

15 anos


Em 2 de fevereiro de 2009, este blogue publicava o seu primeiro texto. Faz hoje precisamente 15 anos. Desde então, todos os dias, por aqui é colocado um texto ou uma imagem, muitas vezes ambas as coisas. E assim continuará a ser, enquanto assim for. Obrigado a quantos me leem.

Autora do "quadro": a Carris


Ontem, coloquei por aqui uma imagem, pedindo que identificassem o autor da "obra".

Turner foi, a grande distância, o pintor referido como mais provável, pelos muitos comentadores, em diversas redes sociais. Outros nomes foram ainda sugeridos: Kroeger, Carlos Araújo, Beckman, Vieira da Silva, Susana Ayres, Mário Botas, Rothko, Domingos Sequeira, Constable, Goya, Victor Hugo, Noronha da Costa, Leonardo da Vinci, Tanya Hayes Lee.

Posso agora revelar esta coisa muito simples: trata-se das traseiras, bem sujas, de um autocarro da Carris, à descida da Calçada da Estrela, que ontem fotografei.

Não fiquem zangados! Ah! O prémio, que ninguém ganhou, era um passe da Carris...


Lapso ou censura


O jornal "Expresso" tem um património histórico de responsabilidade na vida democrática portuguesa que é incompatível com o cancelamento descarado do Partido Comunista Português que resulta desta imagem. Um pedido de desculpas ficar-lhe-ia bem.

ps - a retificação do erro e o pedido de desculpas surgiram. O "Expresso" esteve bem.

O meu fado


A rádio estava a dar o Francisco José no "Nem às paredes confesso". O taxista ia baixar o som mas eu disse que podia deixar. Perguntou-me se gostava de fado e eu disse que sim. Concordou comigo em que o Francisco José não era um verdadeiro fadista. Mas foi de opinião de que o Max talvez pudesse ser (interessante!). Qual a voz masculina de que eu gostava mais, perguntou. Fernando Maurício, claro, disse eu. Aleluia! Era o fadista preferido do taxista, "a Amália dos homens", como o qualificou. Voltei a estar de acordo. Vieram à baila Manuel de Almeida e Fernanda Maria. E a Beatriz da Conceição e o Carlos Ramos, com o imenso "Não venhas tarde!" E nós sempre de acordo, com uma pequena reticência minha à Ada de Castro, que ele apreciava muito. A rádio trazia, entretanto, o vozeirão da Lenita Gentil, no "Fado Malhoa". "É mais cançonetista", concordámos. E falou-se do "Faia", onde ela canta. E da falta que agora ali faz a alegria da Anita Guerreiro, que ele me disse estar a viver na Casa do Artista. E, falando do "Faia", reverenciámos a memória da grande Lucília do Carmo. Eu disse que a tinha visto, há dias, na RTP Memória, ao lado do Fernando Farinha, o "menino da Bica", que, ao contrário do Manuel de Almeida, afinal não tinha nascido na Bica, explicou-me o taxista. Acabámos a concordar em não gostar do Marceneiro, coisa que sei que poria o meu amigo Rui Vieira Nery furioso. A corrida, entre a Buchholz e a minha casa custou menos de seis euros. E valeu a pena.

Não disse ao taxista que, hoje à noite, vou apreciar Cristina Branco no CCB. E que, até ao dia 10 de março, ainda tenho esperança de conseguir ouvir esse tenor da nova AD que se chama Gonçalo da Câmara Pereira. Se, entretanto, vier a ser "libertado". Gostaria de ouvi-lo falar, não cantar. Livra!

quinta-feira, fevereiro 01, 2024

Matiné cultural


Vamos lá então ver como estão os nossos leitores em matéria de cultura estética. 

Quem é o autor do quadro de que destaquei este fragmento? 

Prometo um prémio a quem acertar.

50 Abris

 


É isto


 

O que eu penso

Depois do ataque terrorista do Hamas, passou a estar na moda dizer que havia uma guerra entre Israel e o Hamas. Isso acabou. O modo como Israel se comporta em Gaza e na Cisjordânia mostra, à evidência, que a guerra é entre Israel e os palestinos. Aliás, foi sempre assim. 

A frase


A frase, dita em tom alto, atravessou uns bons metros, cheios de gente, ainda no Grande Auditório, no final de um concerto (já agora, excelente!) na Gulbenkian, na noite de ontem: "Estou a ler o seu livro e estou a gostar muito!". Quem a disse, logo ecoado pela mulher, era uma figura pública bastante conhecida e reconhecida. Ao ver alguns olhares curiosos convergirem para mim, por uns segundos, quase que me senti tentado a pôr ar de "escritor". Passou rápido! Algumas caras estavam com jeitos de pensar: "Que diabo é que este tipo terá escrito?" Outras, de olhar mais indiferente, pareciam dizer: "Este tipo não tem aspeto de ter escrito nenhum livro de jeito". Outras, nem olharam, porque o bife no "Oh! Lacerda" já estava a arrefecer. Já passou!

quarta-feira, janeiro 31, 2024

O cheiro soviético


Desde há uns dias que Lisboa anda invadida, em certas horas, por um cheiro que vem sendo designado como "acre e de azeitonas". É esta a designação dada pelos "cheirólogos", ecoados pela nossa imprensa. No entanto, a origem do odor continua a ser um místério.

No primeiro dia em que se sentiu o tal cheiro pelas ruas, eu disse à minha mulher: "Não é o cheiro soviético"? Ela concordou.

Mas o que é o "cheiro soviético"? Trata-se de um cheiro que ambos detetámos em vários locais da então União Soviética, quando visitámos o país em 1980. Era um odor que surgia em diversos espaços públicos, que em tudo se assemelha ao que agora anda por Lisboa.

Com isto, não pretendo dizer que "os russos já andam por aí". Mas lá que o cheiro é o mesmo, lá isso é! 

terça-feira, janeiro 30, 2024

O caso "República"


Um dos textos que integram o livro de Mário Mesquita recentemente publicado diz respeito ao conflito político e laboral que, em 1975, envolveu o jornal "República", onde ele próprio trabalhava. Na sequência desses acontecimentos, que se projetaram fortemente sobre o ambiente de crispação política que então atravessava o país, o "República" deixou de ser publicado.

Mário Mesquita favorece a tese de que o Partido Comunista Português, por não ter conseguido garantir o controlo editorial do jornal, onde a redação era maioritariamente afeta ao Partido Socialista, acabou por estimular um processo de confronto entre um setor dos trabalhadores e a direção do jornal, esta última acompanhada pelo corpo redatorial.

Na sessão de apresentação do livro que ontem teve lugar na Gulbenkian, interveio José Rebelo, professor universitário de jornalismo, que, sobre os acontecimentos, tem uma leitura radicalmente diferente da de Mário Mesquita, de quem aliás era amigo. 

Rebelo, à época, era o correspondente em Lisboa do diário francês "Le Monde", jornal que acompanhou então a sua visão dos factos e que, por esse motivo, entrou em público confronto com outros setores da opinião política em França, favoráveis a Mário Soares e ao Partido Socialista. Recordo que o caso "República" veio a ter uma imensa repercussão internacional.

Um dia, há muitos anos, após ter lido um anterior texto de Mário Mesquita sobre o conflito no "República", perguntei-lhe se ele sabia a origem de um dos livros que faziam parte da muito escassa bibliografia que ele então (como agora) citava sobre o assunto: "O Caso República -  documentos, entrevistas, comentários", edição de autor, Lisboa, 1975. 

(Provando que este mundo é muito pequeno, noto que o outro livro citado por Mário Mesquita na bibliografia tem como um dos co-autores o jornalista Carlos Pina, a quem, em 1973, sucedi como bibliotecário e diretor do jornal da Escola Prática de Administração Militar, "O Intendente".)

Mário Mesquita, nessa conversa comigo, que tenho ideia de ter sido no café Montecarlo, referiu que esse livro tinha chegado ao seu conhecimento através de Raul Rego, o último diretor do "República". Tanto ele como Rego consideravam aquela edição, de cuja orientação fortemente discordavam, "algo misteriosa". 

Procurei ajudar a tenuar essa impressão: os nomes "Francisco S. Costa" e "António P. Rodrigues" eram, afinal, Francisco Seixas da Costa e António Pinto Rodrigues, este último então ligado à indústria cinematográfica e genro do escritor e diretor bancário José Palla e Carmo ("José Sezinando", na literatura), que nos ajudou, junto do então BPA, com umas letras que demoraram a liquidar. É que aquela nossa edição "de autor" acabou por não ser um grande sucesso, e isto é um "understatement"...

Mário Mesquita


Ontem, na Gulbenkian, falou-se de Mário Mesquita, que se foi desta vida vai para dois anos. Todos os pretextos são bons para recordar uma das figuras mais impolutas e retas da comunicação social portuguesa, um académico e um pensador, qualidades que se somavam a um trajeto jornalístico de grande valia. Desta vez, falou-se de um livro recém-publicado, que acolhe alguns dos seus estudos de grande interesse: "25 de Abril: a transformação nos 'media' ". Esta evocação contou com testemunhos de pessoas que se cruzaram com Mário Mesquita, antes e depois da Revolução e com a presença de algumas outras que, como eu, tinham grande apreço por Mário Mesquita.

segunda-feira, janeiro 29, 2024

"Friends in high places"


Durante a negociação do Tratado de Nice, que Portugal chefiou no primeiro semestre de 2000, uma das questões mais polémicas era o tema das "cooperações reforçadas", da "integração diferenciada" ou da "flexibilidade", como lhe queiram chamar. Trata-se da possibilidade de um grupo de Estados poder adotar certas políticas dentro da União, sem que os outros os sigam. Para simplificar: modelos similares à moeda única ou ao acordo de Schengen.

Graças à genialidade criativa de Josefina Carvalho, a diplomata portuguesa mais competente que alguma vez conheci em matérias institucionais europeias, e que por sorte então me coadjuvava na chefia da negociação, colocámos sobre a mesa um conjunto engenhoso de propostas sobre esse assunto. Portugal foi mesmo a "vedeta" dessa discussão, que António Guterres titulou à mesa do Conselho europeu. 

Lembrei-me disso, este fim de semana, no hotel de Seteais, que, há precisamente 24 anos, ocupámos para um exercício de reflexão de dois dias, envolvendo os negociadores de todos os Estados membros, e que tinha aquele tema no centro da agenda de trabalhos.

Por essa altura, algumas delegações revelavam particular interesse pelo assunto e ajudaram-nos a desenvolvê-lo. Uma dessas delegações foi a finlandesa, dirigida por um homem magnífico, com uma serenidade ártica, o embaixador Antti Satuli, um bom amigo infelizmente já desaparecido. Antti era coadjuvado por um diplomata muito jovem, entusiasta, inteligente e imaginativo, quase "latino" na atitude, que tinha com a nossa delegação uma relação de grande cordialidade e colaboração. Chamava-se Alexander Stubb. O tema da "flexibilidade" apaixonava-o. 

Em 2002, já eu estava colocado em Viena, envolvido em outras tarefas, recebi um pedido de Alexander Stubb pedindo-me para poder usar um artigo sobre o tema da "flexibilidade", que eu tinha publicado, em tempos, num jornal estrangeiro. Queria utilizá-lo num livro que ia publicar. Acedi com gosto e, meses depois, Stubb enviou-me o livro, editado em inglês, com uma carta muito simpática. Trocámos, depois disso, um ou dois emails e, como é da regra da vida, fomos perdendo o contacto.

Eu, contudo, não o perdi de vista. Ao longo dos anos, vi-o ser, sucessivamente, deputado europeu, ministro dos Assuntos Europeus, ministro das Finanças, ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro. 

No domingo passado, Alexander Stubb ganhou a primeira volta das eleições presidenciais na Finlândia, sendo muito possível que, daqui a dias, venha a ser o próximo chefe de Estado do seu país. 

Agora, por uma qualquer razão, veio-me à memória o título de um conhecido livro do jornalista britânico Jeremy Paxman: "Friends in high places"...

A NATO e a Revolução de Abril


Com o seu papel catalizador da reação ocidental à ação russa na Ucrânia, a NATO tem andado muito na baila. A possibilidade do regresso de Trump à presidência americana está a provocar algumas interrogações sobre o futuro da aliança de que Portugal faz parte desde 1949, em especial se se olhar para aquilo que foi o seu comportamento perante a segurança europeia, durante o seu primeiro, e até agora único, mandato. Logo veremos, até porque não há nada que, pela nossa parte, possa ser ser feito no sentido de alterar o rumo que as coisas vierem a ter.

Nestes 50 anos do 25 de Abril, deixo memória de um episódio que julgo curioso, ligado à NATO, passado entre agosto e setembro de 1974. Repito: há cerca de meio século.

Eu era então adjunto da Junta de Salvação Nacional, no palácio da Cova da Moura, ao fundo da avenida Infante Santo. Mal eu sabia que, 20 anos depois, e por um período de mais de cinco anos, passaria a tutelar aquele edifício, onde hoje continua a situar-se a sede da Secretaria de Estado dos Assuntos Europeus.

Pela pequena sala que nesse tempo partilhava com o então major, mais tarde general, José Manuel Costa Neves, que era chefe de gabinete de um dos membros da Junta, o general Galvão de Melo, passavam, com regularidade diária, muitos quadros superiores do MFA, vários elementos da sua Comissão Coordenadora, alguns deles membros militares do Conselho de Estado. Spínola já estava como presidente da República em Belém, Costa Gomes ocupava o andar térreo do palácio, que era o centro da manobra político-militar, desde 25 do mês de abril anterior.

Aqueles eram dias muito intensos, marcados pela emergência das primeiras grandes conflitualidades que atravessaram o MFA, com as diversas correntes militares a tomarem posições e a medirem forças, que haveriam de se tornar bem contrastantes na crise do 28 de setembro, dia que aliás não tardaria muito. 

O gabinete que eu partilhava fervilhava de conversas políticas. Eu, jovem oficial miliciano, por estar conjunturalmente incorporado nessa geografia de debate, passei a ter involuntário acesso a processos de discussão e decisão que estavam muito acima do meu estatuto militar e político. Mal me conhecendo, o José Manuel Costa Neves tinha optado por fazer plena confiança em mim e isso credibilitava-me para poder testemunhar trocas de impressões que, muitas vezes, tinham elevada confidencialidade e grande delicadeza. Tenho a plena consciência de nunca ter traído essa confiança.

Num desses dias, sentado à minha secretária, constatei que o tema da NATO era objeto de uma troca de impressões entre o José Manuel Costa Neves e outro elemento da Comissão Coordenadora do MFA. Comentavam que um outro oficial, que também integrava a Comissão Coordenadora e tinha assento no Conselho de Estado, anunciara a intenção de suscitar, numa próxima reunião desse Conselho, a questão de Portugal poder vir a abandonar a NATO, tese que defendia. 

Recordo que, ao tempo, o Conselho de Estado era um órgão político e para-constitucional da maior importância e visibilidade, no qual o presidente da República se apoiava. Os meus dois interlocutores estavam preocupados com o impacto que essa iniciativa do seu colega poderia viria a ter. À época, eu era uma espécie de "pré-diplomata": iria fazer concurso de ingresso na carreira diplomática nos meses subsequentes. Conhecedores da minha propensão para as questões internacionais, perguntaram a minha opinião sobre o assunto. Dei-lhes total razão, elencando motivos pelos quais considerava, não apenas inoportuna mas mesmo altamente delicada a abertura de uma discussão do tema, à luz dos nossos interesses estratégicos e da imagem de serenidade que a Revolução portuguesa se esforçava por projetar no exterior. 

Fiz-lhes ver duas coisas. A primeira é que era óbvio que a ideia da saída de Portugal da NATO seria amplamente derrotada no Conselho de Estado, onde estava muito longe de existir qualquer maioria nesse sentido. A segunda é que o simples facto de ser um membro da Comissão Coordenadora do MFA, um militar, a suscitar a questão, facto que logo chegaria ao conhecimento público, iria criar uma polémica que o equilíbrio de tensões correntes dentro das Forças Armadas bem dispensaria. Além disso, no mundo internacional, que então olhava para Portugal com grande atenção, o surgimento desse debate pela mão de um oficial superior iria colocar uma imensa dúvida sobre as intenções políticas do MFA.

"Tu é que podias falar com ele", disse-me a certo passo o José Manuel Costa Neves. Explicas-lhe isso mesmo que agora nos disseste. Pode ser que o convenças!". O outro militar concordou.

Fiquei um pouco perplexo. De certo modo, era um atrevimento um jovem oficial miliciano, como eu era à época, ir arguir junto de um oficial superior, então com fortes responsabilidades político-militares, as implicações geoestratégicas que uma questão daquela delicadeza poderia ter. Mas voluntariei-me para a tarefa.

Note-se que o ambiente no seio do MFA era então muito diverso daquilo que se pode imaginar. Eu, como muitos outros milicianos que por ali andavam, tinha grande à-vontade e tratava por tu algumas figuras cimeiras da Revolução, as quais, acredite-se ou não, e salvo algumas notórias exceções, alimentavam para connosco uma atitude de grande camaradagem, marcada por uma imensa informalidade, bem distante da rigidez hierárquica que imperava nos quartéis de onde vínhamos. 

E assim se planeou uma conversa entre mim e esse oficial superior, logo para o dia seguinte. Recordo-me que ela veio a ter lugar no gabinete que pertencia ao coronel, depois general, Franco Charais, membro da Comissão Coordenadora, que estava ausente de Lisboa nesse dia. Lembro-me bem do local porque eu próprio vim a ocupar esse belo gabinete, revestido a azulejos, como subdiretor-geral dos Assuntos Europeus, entre 1994 e 1995, antes de ingressar no governo.

Já não tenho bem presentes os pormenores da conversa que tive, mas ela terá espelhado o contraste entre um miliciano que pretendia mostrar-se realista (à época, eu estava longe de ser um moderado, mas era forçado pela razão a ser realista), que desenvolveu uma teoria favorável a equilíbrios geopolíticos que considerava importante preservar na conjuntura, perante um oficial, membro da um órgão de grande influência e visibilidade política, que então defendia uma postura de insensato radicalismo, próxima daquelas que alguma extrema-esquerda proclamava pelas ruas e paredes do país. 

Uma das peças do meu argumentário terá sido decisiva para frear o fulgor extremado do militar: lembrei-lhe que ele iria ficar numa clara minoria no seio da Comissão Coordenadora do MFA e, a partir dessa sua tomada de posição, passaria a ter menor audição junto desses seus pares, o que se tornava mais grave por se tratar de alguém que havia sido escolhido para o Conselho de Estado. Para além do facto de estar a atuar "sem rede" no âmbito do seu próprio ramo militar, porque ambos sabíamos que esse setor da Comissão Coordenadora do MFA era esmagadoramente desfavorável à sua posição. O homem ouviu-me com atenção, discutiu apenas alguns pontos e, para o que agora interessa, nunca chegou a suscitar a questão no Conselho de Estado. Eu tinha feito o que me tinha sido solicitado, que, neste caso, coincidia precisamente com o que pensava. A missão estava cumprida.

Uma nota final. Esse militar, depois de uma postura algo radical que ainda duraria alguns meses, acabaria por reverter por completo essa sua atitude política. Veio mesmo a ligar-se a uma deriva contra a Revolução, por meios sediciosos. É a vida! 

sábado, janeiro 27, 2024

Seteais




"No vão do arco, como dentro de uma pesada moldura de pedra, brilhava, à luz rica da tarde um quadro maravilhoso, de uma composição quase fantástica, como a ilustração de uma bela lenda de cavalaria e de amor. Era no primeiro plano o terreiro deserto e verdejante todo salpicado de botões amarelos; ao fundo o renque cerrado de antigas árvores com hera nos troncos, fazendo ao longo da grade uma muralha de folhagem reluzente; e, emergindo abruptamente dessa copada linha de bosque assoalhado, subia no pleno resplendor do dia, destacando vigorosamente num relevo nítido sobre o céu azul claro, o cume airoso da serra, toda cor de violeta-escura coroada pelo Palácio da Pena, romântico e solitário no alto com o seu parque sombrio aos pés, a torre esbelta perdida no ar, e as cúpulas brilhando ao sol como se fossem feitas de ouro…”

( Eça de Queiroz, "Os Maias" )

sexta-feira, janeiro 26, 2024

Isto

Um dia, se e quando viermos a ser uma sociedade decente, todos acabaremos por compreender que ser anti-semita, isto é, detestar os judeus, configura uma atitude criminosa perfeitamente equivalente a ser anti-árabe ou anti-islâmico. Até lá, somos o que somos. Os que o são, claro.

Ai PPD!

Nunca na vida me passou pela cabeça votar no PSD ou em qualquer partido de direita, mas confesso que, como cidadão, não deixa de me preocupar a crescente irrelevância da força política que representou, para a direita, aquilo que o PS foi sempre para a esquerda. É que essa deriva se faz em proveito da extrema-direita mais obscenamente xenófoba e racista ou, residualmente, de uma direita radical, populista e a-social, ambas representando o pior daquilo que a democracia portuguesa até hoje gerou. 

O espetáculo dos últimos dias foi, aliás, bem elucidativo. Perante o desfecho que, no caso judicial da Madeira, era mais do que óbvio, a liderança do PSD meteu os pés pelas contradições, tentando travar o insalvável, com uma total ausência de dignidade e frontalidade. Viu-se o resultado.

Isso veio somar-se, aliás, à extraordinária exibição do mais refinado oportunismo por parte de alguns dos seus militantes e deputados, que saltaram sem o menor pudor para o lado de quem lhes acenou com a possibilidade de um lugar à mesa do orçamento. Muitas pessoas ainda não interiorizaram bem o que isso revelou: que aquela gente, a começar pelo líder do partido da extrema-direita, que desde o início se passeia ou agora transita alegremente para ali, esteve, ao longo de muitos anos, a fingir que era democrata e que partilhava uma agenda cívica com um mínimo de decência, enquanto alinhava na militância ou esteve sentado na bancada parlamentar do PSD! O PSD não deve apenas ir dizendo, tentando convencer alguns, que não se coligará nunca com essa gente: devia estar a denunciar publicamente o seu repúdio perante as propostas dessa gente e da ideologia que lhe está subjacente. Por que o não faz?

A greve dos imigrantes


Há 14 anos, em França, um grupo de ativistas pelos direitos dos imigrantes lançou um movimento sob o lema "24 horas sem nós: um dia sem imigrantes". 

A ideia era simples: organizar uma greve de imigrantes naquele país, com vista a dar uma imagem de quanto a economia do dia-a-dia francês deles depende. Não tenho conhecimento do grau de sucesso da iniciativa e até duvido muito que ela se tenha concretizado de forma visível. 

Os imigrantes são, entre todos os assalariados, aqueles que, por regra, têm maior precariedade no seu vínculo laboral, vivem numa dependência económica que os torna presas fáceis do seu patronato e, finalmente, raramente têm uma consciência política capaz de os conduzir a ações reivindicativas desse género.

Esta iniciativa teve, pelo menos, o considerável mérito de levar a uma reflexão: o que seria das sociedades europeias contemporâneas sem o trabalho dos imigrantes?

quinta-feira, janeiro 25, 2024

Elvas


Acabo de ser informado que, em reunião camarária de ontem, o município de Elvas decidiu atribuir-me o título de Cidadão Honorário da cidade, como reconhecimento pelo papel que, em 2012, terei desempenhado, enquanto embaixador português junto da Unesco, no processo que conduziu à elevação da cidade a Património Mundial da Humanidade.

Fico imensamente reconhecido por este gesto, que se cumula à atribuição da medalha de ouro do município de Elvas, em 2013, juntamente com o professor Domingos Bucho, académico e historiador responsável pela preparação do dossiê de candidatura, com quem tive o privilégio de trabalhar na reunião do Comité do Património Mundial, em São Petersburgo, na Rússia, em 30 de junho de 2012. Para quem estiver interessado, deixo o relato dessa aventura negocial. Basta clicar aqui .

Já assumindo a minha qualidade de elvense honorário, convido-os a visitar aquela que é uma das mais belas e monumentais cidades de Portugal. Se não conhecem, não sabem o que perdem! 

quarta-feira, janeiro 24, 2024

Sem cravos em Capacabana


Há meses, fui convidado para ir ao Rio de Janeiro, no próximo mês de abril, para falar da Revolução portuguesa de 1974. Ingénuo, e em princípio, aceitei com imenso gosto o convite e até me preparava para ficar uns dias mais na cidade maravilhosa. Depois, caiu-me em cima a realidade do ano que agora começou: reuniões empresariais umas sobre as outras e alguns compromissos mais, que vou dando como inevitáveis. E lá foi à vida mais um regresso a Copacabana! Por quanto tempo vou manter esta ilusão de que ainda tenho todo o tempo à minha frente? Um dia, se calhar, vou ter de começar a pensar nisso. Até lá, não tenho tempo.

Portucale


No domingo passado, ao jantar, no Porto, voltei ao Portucale. Da última vez, há poucos anos, tinha comido assim-assim. Agora, saí mais satisfeito, numa boa relação qualidade-preço. A lista é farta, o pessoal atencioso e a vista, claro, continua deslumbrante. 

Estrangeiros


Hoje, à margem de uma reunião, comentava-se o facto dos portugueses tenderem a ser muito simpáticos com os estrangeiros: se, em grupo, há alguém que não fala português mas fala inglês, a tendência é toda a gente se expressar em inglês, para não deixar a pessoa isolada. Alguém comentou: "Isso é tudo muito bonito, mas só no início! Depois de dois copos, toda a gente desata a falar português e o desgraçado fica sozinho, a sorrir das graças que não compreende". Eu não concordei. Pela minha experiência é ao terceiro copo. Mas, pronto!, a divergência não é grave! 

Marcello Duarte Mathias


O diplomata e escritor Marcello Duarte Mathias escreve hoje, no JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, um artigo sobre o meu livro "Antes que me esqueça".

terça-feira, janeiro 23, 2024

Ali por cá


Chama-se Ali, é iraniano, vive por cá há dois anos e guia um Uber. Não conversámos sobre política, mas vi, pelo retrovisor, que lhe sorriram os olhos quando, a propósito das minhas poucas memórias do seu país, lhe falei de Farah Diba, a mulher do último Xá, uma senhora muito simpática com quem, por mais de uma vez, conversei em jantares em casa de uns amigos iranianos, em Paris. "Ah! A família Pahlavi!", reagiu, com o que me pareceu ser alguma nostalgia, embora admita poder estar enganado na minha perceção, formada no banco de trás do carro. Depois, passámos ao futebol. Ali era fã de Carlos Queirós, que treinou a seleção do seu país. Agora, ao que me disse, não há portugueses no futebol iraniano. Contei-lhe que, numa noite em Teerão, há vinte e tal anos, à saída de um jantar num "caravanserai", de uma mesa alguém perguntou de onde vinha o nosso grupo. Quando respondi que éramos portugueses, saltou logo de várias bocas dessa mesa: "Figo!". "Hoje seria 'Ronaldo!' ", disse-me Ali, com uma gargalhada saudável. À despedida, quis ter a simpatia de referir que Portugal tinha duas coisas muito boas: o clima e as pessoas. Só espero que o Ali, na sua vida por cá, não encontre razões para mudar de opinião. Sobre o clima, claro.

"Antes que me esqueça"


A editora informou que o meu livro "Antes que me esqueça" vai agora partir para uma terceira edição. Estão a caminho mais 1000 exemplares. 

Gosto de partilhar as boas notícias com os amigos.

Vizinhos do bem


Foi há pouco. A conversa ia animada, na mesa ao lado. Eram três jovens, na casa do vinte e tal anos: dois rapazes e uma rapariga muito bonita. Não recordo uma única palavra do que conversavam, em voz alta, num ambiente que apenas se pressentia ser de muito boa onda. Nós estávamos a cear no Snob, em frente um do outro. Conversávamos sobre os dias que aí vêm. A certa altura, passado o café, pedimos a conta. Ela foi colocada sobre a mesa e, quando nos preparávamos para pagar, o papel desapareceu. "Deve ter havido algum erro e foram retificar", pensámos. Não era assim: informaram-nos que os três jovens, que entretanto tinham saído, haviam pagado a nossa conta. E estavam a fumar, lá fora. Fomos ter com eles. O trio explicou: não nos conheciam, mas tinham achado graça à serenidade da nossa conversa a dois, ao facto de termos estado por ali a falar com atenção um no outro e, sensibilizados pelo ambiente de bem-estar que tinham deduzido existir entre nós, decidiram oferecer-nos o jantar. Ficámos sem saber o que dizer! O gesto era de uma simpatia tão rara, de uma generosidade tão tocante, que nos tinha feito ganhar a noite! Afinal, ainda há coisas muito boas na vida! 

Botão errado

Foi ontem à tarde, na Fundação José Saramago. A homenagem ao Nuno Júdice era no 4° andar. Distraidamente, carreguei no botão do 3° andar. Ia...