domingo, fevereiro 04, 2024

Rui Patrício (1932-2024)


Acabo de saber da morte, no Brasil, de Rui Patrício, último ministro dos Negócios Estrangeiros da ditadura.

Rui Patrício fez, naquele país, uma destacada carreira de advocacia e na área empresarial, tendo-se igualmente mantido ligado a instituições da comunidade portuguesa.

Desde o tempo em que fui embaixador no Brasil, construí com Rui Patrício uma relação de grande simpatia, que se converteu em amizade. Chegámos a planear escrever um livro juntos, o que, por várias razões, acabou por não se concretizar. Encontrámo-nos bastante no Brasil, mas também em Paris e em Lisboa. Criei por ele um grande respeito e consideração, não obstante o fosso ideológico que nos separava, que nunca afetou o nosso convívio.

Recentemente tive o gosto de dedicar-lhe um livro que publiquei e em que ele é referido. Partilho uma imagem dele a lê-lo.

À família de Rui Patrício, em especial ao seu filho Miguel, deixo as minhas sentidas condolências.

5 comentários:

Nuno Figueiredo disse...

a urbanidade é um bem raro.

manuel campos disse...


“Des amis des deux côtés” é uma canção de Charles Aznavour, ainda que a letra tenha alguma coisa a ver com o Paraíso e o Inferno.
Mas como disse alguém: ír para o Paraiso é bom porque arranjo novos amigos, ír para o Inferno é também bom porque tenho lá os meus velhos amigos.

Ter amigos dos dois lados não é para todos, não chega aceitar os outros tal como são e pensam, é preciso que os outros também nos aceitem tal como somos e pensamos.
E aqui bate tudo, começa-se por não aceitar “o outro” e fica-se ofendido porque “o outro” não nos aceita em retorno.

Estamos assim num mundo cheio de gente triste, acrimoniosa, incapaz de um lampejo de ironia, alheia ao mais básico sentido de humor, sem qualquer empatia que não seja a derivada do seu interesse imediato, sempre muito séria nos seus desideratos de mudar o mundo e levar os outros ao bom caminho (que é o deles, isso nem se discute), incapazes de relativizar porque não perceberam nem nunca vão perceber que todas as opiniões devem ser ouvidas, se possível combatidas se para tal houver argumentos, antes de ser descartadas (o tal "não li e não gostei").
Gente que não percebe que a culpa é deles próprios.

Também eu tenho “Des amis des deux côtés” como o nosso caro Embaixador e, tal como ele creio que nos disse há tempos, se calhar mais de direita que de esquerda (e ainda bem).
Ainda bem porque, como já aqui disse mais de uma vez, do ponto de vista da política nacional ou internacional só aprendo com os que não pensam como eu, pois os que pensam como eu são tempo perdido, com esses só falo de comezainas (nos intervalos de as estar a mastigar, não se fala com a boca cheia).

O meu problema agora é outro e é também um desafio dos que gosto.
É que com o tempo, a idade, as mudanças num mundo que sempre foi perigoso mas de que 80 anos de paz na Europa nos tinham distraído, as confusões e trapalhadas ideológicas de tantos que defendem num ponto do globo precisamente o mesmo tipo de situações que combatem num outro ponto do globo, alguns desses conhecidos, que me achavam vagamente extremista de direita porque pensava de certo modo, agora me acham vagamente extremista de esquerda porque continuo a pensar o mesmo, sem nunca admitirem que me tinham ultrapassado pela esquerda há anos e recentemente me vêm ultrapassando pela direita.

Sou filho de alguém que, no tempo da “outra senhora”, tinha “Des amis des deux côtés” lá bem em cima, antes ajudou uns com o “apoio discreto” dos outros, depois ajudou os outros com o “apoio discreto” dos uns.
“That’s what friends are for”.

Dulcineia disse...

Eu era muito miúda quando ele partiu...mas ainda me recordo de o ouvir falar na TV...carregava no Rrrrrr.

Anónimo disse...

Só em jeito de curiosidade Rui Patricio é primo direito do maestro Antonio Victorino de Almeida.

RM disse...

Acabei de ler este seu livro, que achei verdadeiramente delicioso. Tendo tido uma vida profissional que me permitiu viajar bastante, e conhecer alguns dos países e realidades que descreve, passei algumas horas muito tranquilas, com alguma nostalgia à mistura.
E a propósito do último comentário acima, que aproveito por juntar o dito livro com o Dr. Rui Patrício, com quem partilho alguns familiares (não muito próximos, é verdade, serão primos de primos, mas não importa). E não resisto a contar uma coincidência engraçada, que me veio à memória a propósito da sua crónica “Mahler ou Godinho”.
A história diz respeito ao Maestro António Victorino de Almeida. Lembro-me de ele ter sido, nos anos 70, adido cultural na Embaixada de Portugal em Viena. E nessa altura ele tinha um programa na RTP, que era muito interessante, em que falava sobretudo de música. Num desses programas, filmado numa esplanada que ficaria junto a uma estátua de Brahms que se não me engano esțá localizada num dos Rings, próximo da Karlskirche, resolveu falar exactamente de Brahms. Não sei se ele teria conhecimento do livro da Françoise Sagan, mas ficou-me na memória a ideia que ele tentou passar de que Brahms era um compositor extremamente popular em Viena, e tentou prová-lo perguntando a um empregado do café “liebst du Brahms?”. Não me lembro da resposta, só retenho que o senhor se fartou de fazer salamaleques, no que me pareceu uma afirmação de concordância.

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