terça-feira, janeiro 30, 2024

O caso "República"


Um dos textos que integram o livro de Mário Mesquita recentemente publicado diz respeito ao conflito político e laboral que, em 1975, envolveu o jornal "República", onde ele próprio trabalhava. Na sequência desses acontecimentos, que se projetaram fortemente sobre o ambiente de crispação política que então atravessava o país, o "República" deixou de ser publicado.

Mário Mesquita favorece a tese de que o Partido Comunista Português, por não ter conseguido garantir o controlo editorial do jornal, onde a redação era maioritariamente afeta ao Partido Socialista, acabou por estimular um processo de confronto entre um setor dos trabalhadores e a direção do jornal, esta última acompanhada pelo corpo redatorial.

Na sessão de apresentação do livro que ontem teve lugar na Gulbenkian, interveio José Rebelo, professor universitário de jornalismo, que, sobre os acontecimentos, tem uma leitura radicalmente diferente da de Mário Mesquita, de quem aliás era amigo. 

Rebelo, à época, era o correspondente em Lisboa do diário francês "Le Monde", jornal que acompanhou então a sua visão dos factos e que, por esse motivo, entrou em público confronto com outros setores da opinião política em França, favoráveis a Mário Soares e ao Partido Socialista. Recordo que o caso "República" veio a ter uma imensa repercussão internacional.

Um dia, há muitos anos, após ter lido um anterior texto de Mário Mesquita sobre o conflito no "República", perguntei-lhe se ele sabia a origem de um dos livros que faziam parte da muito escassa bibliografia que ele então (como agora) citava sobre o assunto: "O Caso República -  documentos, entrevistas, comentários", edição de autor, Lisboa, 1975. 

(Provando que este mundo é muito pequeno, noto que o outro livro citado por Mário Mesquita na bibliografia tem como um dos co-autores o jornalista Carlos Pina, a quem, em 1973, sucedi como bibliotecário e diretor do jornal da Escola Prática de Administração Militar, "O Intendente".)

Mário Mesquita, nessa conversa comigo, que tenho ideia de ter sido no café Montecarlo, referiu que esse livro tinha chegado ao seu conhecimento através de Raul Rego, o último diretor do "República". Tanto ele como Rego consideravam aquela edição, de cuja orientação fortemente discordavam, "algo misteriosa". 

Procurei ajudar a tenuar essa impressão: os nomes "Francisco S. Costa" e "António P. Rodrigues" eram, afinal, Francisco Seixas da Costa e António Pinto Rodrigues, este último então ligado à indústria cinematográfica e genro do escritor e diretor bancário José Palla e Carmo ("José Sezinando", na literatura), que nos ajudou, junto do então BPA, com umas letras que demoraram a liquidar. É que aquela nossa edição "de autor" acabou por não ser um grande sucesso, e isto é um "understatement"...

1 comentário:

manuel campos disse...


Se não foi um grande sucesso quantos mais o terão comprado além de mim?

Até porque por aí, calculando as probabilidades destas coisas, livros que se perdem nas mudanças e nas heranças, quantos mais ainda existirão?

Vou ter que o procurar lá no meu "algures", ver o que escreveu um rapaz do meu tempo de seu nome Francisco S. Costa.

Tarde do dia de Consoada